O Túnel do Horror (1983 / 87 / 95)


Dizem que uma grande jornada começa com um passo único. Porém, para os cineastas a jornada tem sempre sido árdua. Os filmes a seguir são dedicados aos jovens, brilhantes talentos, trabalhando em escolas de cinema e garagens por todo o mundo, que devotaram suas vidas e energia para os curtas metragens. Dando a nós, o público telespectador, muitas horas de prazer e entretenimento que tanto nós apreciamos. Estes filmes são um trabalho de amor dos diretores. É o primeiro passo deles.

Com essa introdução escrita inicia-se “O Túnel do Horror”, uma antologia com três episódios curtos de horror, sendo um deles baseado na obra literária de Stephen King. O filme foi lançado no Brasil no final de Janeiro de 2005 no formato VCD através da revista “VCD Collection” ano 1 número 2, da “Editora Van Blad”. Antes, já havia sido lançado por aqui no formato VHS pela extinta “Mundial Filmes”.
A primeira história é “Discípulos do Corvo” (Disciples of the Crow, 1983, 20 minutos), dirigido por John Woodward, baseado no conto “As Crianças do Milharal” (Children of the Corn), do livro “Sombras da Noite” (Night Shift), de Stephen King, e que também foi filmado em 1984 como “Colheita Maldita”.
As outras duas histórias são “O Quarto 321” (The Night Waiter, 1987, 15 minutos), dirigido, escrito, produzido e editado por Jack Garrett, e “A Hora da Morte” (Killing Time, 1995, 30 minutos), com direção de Damian Harris e roteiro dele em parceria com Patrick Aumont, baseados no conto “The Late Shift”, de Dennis Etchison, e que tem no elenco o ator Eric Stoltz em início de carreira, ele que se destacaria posteriormente transformando-se num rosto mais conhecido pelo público.
São três episódios explorando temas sobrenaturais como uma pequena cidade dominada por uma obscura seita religiosa formada por crianças; um jovem garçom que tem uma experiência macabra num quarto assombrado de um hotel; e um roteirista de quadrinhos que enfrenta problemas com seu editor para vender suas histórias e que passa a misturar ficção e realidade, se envolvendo com uma bizarra conspiração de zumbis.

Discípulos do Corvo
Profane a terra e isto te vomitará dela!

A ação inicia-se em Outubro de 1971, onde numa pequena cidade americana do Estado de Oklahoma chamada Jonah, um grupo de crianças lideradas pelo misterioso garoto Billy (Steven Young), se une através de uma estranha seita religiosa maligna que venera o milho e o corvo como sagrados e onde “O Senhor é aquele que caminha atrás das fileiras”. Eles planejam silenciosamente uma conspiração que consiste em eliminar todos os adultos da cidade através de uma chacina.
Passados doze anos, em 1983, a cidade está deserta e só é habitada por crianças. Um casal que sempre está brigando, Vicky (Eleese Lester) e Burt (Gabriel Folse), estão viajando de carro nas proximidades e atropelam um menino no meio da estrada. Com o corpo no porta-malas eles decidem ir até a cidade mais próxima para relatar às autoridades o acidente. Porém, chegando em Jonah, encontram uma cidade estranhamente deserta a abandonada há vários anos, e quando Burt entra numa igreja é surpreendido por um grupo de adolescentes e crianças armadas com machados e foices que não gostam de forasteiros, liderados pelo mesmo garoto Billy, agora mais velho e mais perigoso ainda (interpretado pelo diretor John Woodward).

O Quarto 321
Existe um hotel no centro da cidade, perto da baía. É um lugar antigo. É bonito e tudo mais, mas cheira a mofo. A propósito, eu trabalhei lá só por uma noite. E vocês sabem? Foi a pior noite da minha vida...

Essas são as palavras do jovem Walter Tallen (Brian Caldwell), um estudante que para pagar a escola decide trabalhar como copeiro no turno da noite de um grande hotel chamado “Bay View”. Em sua primeira noite de trabalho, ele conhece o gerente Terry (Ray Adamski), que gosta de ser brincalhão e conta uma história de fantasmas sobre um casal morto há mais de quarenta anos atrás no quarto 321, que ficou fechado por todo esse tempo e tem fama de assombrado.
O jovem garçom diz não acreditar em fantasmas, mas não consegue evitar um certo desconforto com a história e principalmente depois de ouvir e ver eventos estranhos sobre o tal quarto 321. Porém, pensando ser apenas mais uma brincadeira do gerente, o copeiro não imaginaria a bizarra experiência que estava por testemunhar.

A Hora da Morte
Em todas as mentes existe uma linha que separa o que é visto do que é imaginado. É escura e, na maioria das vezes, intocável. Muitos dizem que ela é perigosa, mas eu busco essa linha dentro de mim à procura do que me amedronta, do que irá assustá-lo. Até que como uma foto, ela surge das trevas, num sonho, e eu transformo em história.

Dessa forma, o roteirista de histórias em quadrinhos Macklin (Stephen Nichols) procura encontrar inspiração para escrever suas histórias e tentar vendê-las. Porém, seu editor Kessler (Leslie Morris), apesar de gostar delas, ainda alega que não são suficientes para assustar realmente o público que procura emoções fortes.
Decepcionado, o escritor retorna para sua casa, onde vive com um amigo fotógrafo chamado Whitey (Del Zamora). Juntos, durante a madrugada, eles decidem ir numa loja de conveniências para comprar cigarros e comida. Lá, eles encontram Eileen (Danna Garen), que está trabalhando como atendente e que já foi namorada de Whitey no passado. Porém, o comportamento dela é suspeito, parecendo uma zumbi, com profundas olheiras e movimentos frios.
A partir daí, uma sucessão de eventos estranhos passam a acontecer na vida do escritor Macklin, misturando ficção com realidade, e principalmente após a morte misteriosa de seu amigo Whitey, ele se depara com uma perigosa conspiração envolvendo mortos-vivos e uma obscura agência de empregos.
Curiosamente, o gerente da loja de conveniências é interpretado por Eric Stoltz, um nome mais conhecido no cinema.

Todos os três episódios possuem alguns elementos em comum. A começar por um nível de qualidade muito semelhante, e que pode ser classificado entre mediano e baixo. São todos trabalhos iniciantes de estudantes de cinema, com características amadoras de produção e poucas pessoas que fazem de tudo. E todos exploram argumentos básicos de horror, apresentando situações sobrenaturais. Porém, falta claramente mais energia e intensidade de horror nas histórias, cujas idéias são até boas, mas que não conseguiram estabelecer a interação necessária com quem está assistindo. Ou seja, são apenas mais três contos simples de horror que não despertam grande interesse. Mas, independente disso, os resultados finais devem ser enaltecidos devido ao trabalho idealista de seus realizadores, que com orçamentos minúsculos ou quase inexistentes, tentaram contar suas histórias fantásticas da melhor forma possível.
Para os colecionadores, certamente vale a aquisição do VCD de “O Túnel do Horror”, seja por curiosidade, ou principalmente, por se tratar de filmes curtos que não fazem parte da badalação que envolve as grandes produções. A revista “VCD Collection” cometeu vários deslizes graves ao revelar informações em excesso das histórias dos episódios, além de não informar que apenas um deles é baseado em Stephen King. Sem contar aquelas frases forçadas escolhidas para a divulgação, as quais são tão ruins e horrorosas (no mau sentido), que nem devem ser levadas a sério. Coisas do tipo “O Melhor do trash movie do mestre do horror.” (escrita na capa da revista), ou ainda “Quando o ruim fica bom. O melhor do trash.” (que está na capa do VCD).

“O Túnel do Horror” (Night Shift Collection, 1983 / 87 / 95) # 298 – data: 09/02/05 – avaliação geral: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 16/01/06)