Era dos Mortos (Brasil, 2007)


A Era dos seres humanos chegou ao fim

A temática dos mortos-vivos sempre esteve em evidência no cinema de horror, com filmes sendo produzidos de forma constante. Parece que a idéia, mesmo explorada à exaustão, continua despertando o interesse do público e a atenção de cineastas. “Era dos Mortos” é uma produção independente nacional (do interior de Minas Gerais), dirigida por Rodrigo Brandão e que conta novamente uma história apocalíptica com o caos se espalhando entre a humanidade depois que os mortos voltam a caminhar entre os vivos, disseminando uma contaminação gigantesca de consequências devastadoras.

O roteiro é super simples, sem a intenção de investir em explicações. O que importa mesmo é que o mundo foi tomado pelos zumbis e “a era dos seres humanos está chegando ao fim”, conforme anuncia uma tagline de divulgação. Sobre a sinopse, nada melhor do que reproduzir o breve texto escrito na contra capa do DVD: “Era dos Mortos segue dentro de uma epidemia de zumbis, a trajetória de um cara e das pessoas que ele encontra pelo caminho. Só que eles não formam um grupo de sobrevivência e se ajudam, na verdade acontece o contrário.

O filme é uma média metragem de 50 minutos de duração, e o DVD traz como um dos destaques entre os diversos materiais extras um interessante documentário sobre os bastidores da produção, com vários depoimentos do diretor Rodrigo Brandão, do ator Weiller Rodrigues, do técnico em maquiagem Filipe Vidal, entre outros, onde revelam as dificuldades em filmar as cenas externas devido ao movimento das pessoas e carros, curiosidades sobre a concepção das maquiagens dos mortos-vivos, os efeitos para a simulação de sangue e tripas, as dificuldades em reunir os atores para as filmagens, etc. Ainda na parte dos extras, temos uma galeria de fotos, teaser, trailer, e o ótimo videoclip “Infected”, da banda de metal extremo “DxOxRx” (Disorder of Rage), de Mogi das Cruzes/SP.
Mas o melhor de tudo e que merece ser enaltecido e reverenciado foi a excepcional e bem sucedida idéia original da produção de uma história em quadrinhos que conta eventos relacionados à origem de determinados personagens do filme. Ou seja, o filme é complementado por revelações da HQ, desenhada por Micael Holderbaum (Mhick), a partir de roteiro dele em parceria com o diretor Rodrigo Brandão. Três HQ´s podem ser conferidas diretamente no DVD: “Dor!”, “Coragem!” e “Loucura!”, que estão interligadas ao roteiro do filme, completando situações que são apenas sugeridas na película. Os desenhos e as histórias são ótimos e não decepcionarão os fãs de quadrinhos.
Em “Era dos Mortos” vale ressaltar alguns pontos positivos: Os poucos diálogos e todos audíveis, além da boa idéia da colocação de legendas para eventualmente auxiliar na compreensão (para um filme de mortos-vivos transformando o mundo numa tragédia caótica, bastam as imagens dos personagens caminhando num ambiente de desolação). A atmosfera obscura de uma civilização em ruínas. As maquiagens produzidas com garra e idealismo (devido à limitação dos recursos disponíveis). A grande quantidade de atores fazendo papéis de zumbis (sempre é difícil conseguir reunir muitas pessoas num projeto independente). A decisão acertada numa trilha sonora que também tem metal extremo. As cenas violentas de ataques dos mortos-vivos, não poupando ninguém (destaco a presença de uma criança zumbi). E principalmente, o pessimismo no desfecho sangrento e sem esperanças de recuperação para a humanidade (e isso nem pode mais ser considerado um “spoiler”, pois já é uma espécie de marca registrada em todos os filmes desse subgênero do cinema de horror). De negativo, não posso deixar de citar o fato da pouca ou quase inexistente presença de mulheres no elenco, e nem é necessário dizer o quanto elas são sempre imprescindíveis.
Mas, de uma forma geral, e principalmente pela fantástica idéia de unir filme e quadrinhos, “Era dos Mortos” é uma ótima recomendação para todos que apreciam e apoiam os filmes independentes de horror produzidos em nosso país. Que venham mais outros projetos similares...
Para comprar o DVD acesse: http://www.eradosmortos.com.br

“Era dos Mortos” (Brasil, 2007) # 448 – data: 24/06/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/06/07)

Farsa Diabólica (Seance on a Wet Afternoon, 1964)


A editora “NBO” lançou no Brasil com um preço popular o DVD de “Farsa Diabólica” (Seance on a Wet Afternoon, Inglaterra, 1964), de Bryan Forbes e com Richard Attenborough e Kim Stanley no elenco. Fazendo parte de uma coleção da editora chamada de “Classic Collection”, temos apenas como materiais extras uma breve sinopse e rápidas biografias do diretor Bryan Forbes e da talentosa atriz Kim Stanley.

Na história, ambientada em Londres, Myra Savage (Kim Stanley) é uma mulher que afirma ter poderes mediúnicos e organiza sessões espíritas. Ela é casada com Billy (Richard Attenborough), e o casal é obrigado a viver com a incômoda lembrança da morte de seu filho Arthur ao nascer. Para ganhar dinheiro e fama como médium profissional, Myra manipula seu marido para juntos organizarem um plano de seqüestro de uma pequena menina, Amanda (Judith Donner), filha de um rico empresário, Sr. Clayton (Mark Eden) e sua esposa (interpretada por Nanette Newman). Com a garota em seu poder, ela planeja fazer uma sessão espírita onde revelaria informações sobre o paradeiro de Amanda para a família. Porém, Myra tem que também se livrar de uma investigação policial, ao mesmo tempo em que apresenta sinais de psicopatia em seus atos, colocando em risco o plano perfeito.

Com fotografia em preto e branco e roteiro do próprio Bryan Forbes, baseado em livro de Mark McShane, “Farsa Diabólica” é aquele típico filme de suspense com uma narrativa pausada, onde os acontecimentos são apresentados lentamente despertando uma atenção crescente no espectador em descobrir os próximos passos da história. Não é recomendável para quem espera ação, correrias ou reviravoltas constantes. Ao contrário, é indicado para aqueles apreciadores de um cinema que explora um clima de suspense psicológico, onde somos convidados a desvendar a mente da protagonista, magnificamente interpretada por Kim Stanley, que manipula com habilidade a fraqueza de seu marido que faz o trabalho “sujo”, papel também feito com maestria por Richard Attenborough. O desafio é descobrirmos se Myra tem realmente a capacidade de se comunicar com espíritos, ou se ela é farsante, ou apenas uma mulher comum quer ser feliz com o marido, ou se é perigosa e psicótica em sua aparente forma tranqüila de agir.

“Farsa Diabólica” (Seance on a Wet Afternoon, Inglaterra, 1964) # 447 – data: 23/06/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/06/07)

Extermínio 2 (28 Weeks Later, 2007)


Em 01/06/07 estreou nos cinemas brasileiros “Extermínio 2” (28 Weeks Later, 2007), dirigido pelo espanhol Juan Carlos Fresnadillo (de “Intacto”, 2001), e com a dupla Danny Boyle e Alex Garland na produção executiva, além do talentoso ator escocês Robert Carlyle na liderança do elenco.

Como sugere o título original, 28 semanas depois dos acontecimentos do primeiro filme, “Extermínio” (28 Days Later, 2002), dirigido por Boyle e escrito por Garland, a contaminação do vírus na Inglaterra estava sob controle, não se espalhando para outros países. Os infectados haviam morrido de fome e o exército americano estava trabalhando em Londres para impedir a propagação da praga e permitir aos poucos o retorno dos moradores que fugiram da epidemia, mas inicialmente apenas para viverem numa área isolada, que seria o ponto de partida para o início da reconstrução da cidade após o caos disseminado pelo vírus da raiva.
Entre os principais personagens temos Don (Robert Carlyle), um homem que vive na área de segurança e que tem uma espécie de cargo de zelador do local. Ele aguarda a chegada de seus filhos, Andy (Mackintosh Muggleton) e Tammy (Imogen Poots), e guarda na cabeça a perturbadora lembrança de sua esposa Alice (Catherine McCormack) sendo atacada pelos infectados. Porém, a aparente calmaria do lugar se transforma radicalmente quando o vírus consegue se infiltrar no refúgio espalhando novamente o caos absoluto entre os civis e militares. Um grupo formado pelo jovem casal de irmãos, um atirador de elite, Sargento Doyle (Jeremy Renner), e uma médica do exército, tenta escapar da área de segurança, tendo que para isso combater tanto os infectados que querem rasgar suas carnes e saborear o sangue, como os militares americanos que são orientados a conter a nova epidemia a qualquer custo, mesmo que seja necessário matar pessoas inocentes e ainda livres do vírus.

São produzidas tantas porcarias no cinema de horror atualmente que o lançamento de “Extermínio 2” é um alívio imenso para quem procura um filme significativo no gênero. O original de 2002 já era ótimo e tinha colocado seu nome na lembrança dos apreciadores do cinema de horror como um grande filme abordando o tema do caos espalhado na humanidade pela ação de uma praga de proporções colossais com uma disseminação de velocidade descomunal. As vítimas eram infectadas por um vírus da raiva e passavam a atacar violentamente todos que cruzassem seu caminho, à procura incessante de carne e sangue, e com isso espalhando a contaminação.
“Extermínio 2” é um daqueles filmes que felizmente existem para honrar o cinema de horror, mostrando sangue, tripas, atrocidades, mortes, violência e loucura em doses generosas e numa história inteligente onde não parece mesmo existir esperança para a humanidade. Curiosamente, assim como ocorreu também com “Terra dos Mortos” (Land of the Dead, 2005), o quarto filme da série de George Romero, o filme teve uma passagem irregular nos cinemas, sendo exibido em poucas salas e horários, obrigando um esforço adicional para tentar não perdê-lo nas telas grandes. A violência de seu conteúdo certamente contribuiu para essa dificuldade.
Entre os vários destaques, vale registrar:
* os movimentos super rápidos da câmera na cena inicial do ataque dos infectados contra um grupo de sobreviventes escondidos numa cabana, aumentando ainda mais uma sensação inquietante no espectador, já previamente consolidada graças aos acontecimentos da história (grupo isolado lutando pela sobrevivência num confronto com criaturas que querem devorá-lo vivo);
* a fuga desesperada do personagem de Robert Carlyle, correndo sozinho por um campo, sendo perseguido por uma legião de infectados furiosos que surgem em número cada vez maior do alto das colinas, ávidos por destroçar seu corpo em pedaços;
* a magnífica trilha sonora, se encaixando perfeitamente no clima depressivo de desolação das cenas violentas de combate entre os infectados e os militares;
* a seqüência extremamente sangrenta envolvendo um helicóptero e um grupo de infectados (e que talvez possa até ser uma homenagem ao clássico “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 1978), de George Romero;
* uma outra seqüência passada no interior do metrô totalmente escuro, com os sobreviventes em fuga caminhando sem enxergar nada, utilizando apenas como referência a mira telescópica de um rifle, podendo encontrar a morte a qualquer momento através de um ataque de infectados;
* a atuação brilhante do experiente ator Robert Carlyle (de “Mortos de Fome” / 1999, e “Eragon” / 2006), tanto nas cenas dramáticas, quanto nos momentos em que expressa uma fúria primitiva;
* a declaração de “código vermelho” pelo exército americano, autorizando um bombardeio aéreo contra a área de segurança, com bombas incendiárias de grande poder de destruição, em efeitos bem produzidos e convincentes;
* a totalmente perturbadora característica dos infectados, que possuem extrema ferocidade e agilidade nos movimentos, além de utilizarem muita violência em seus ataques, não faltando por isso cenas carregadas de “gore”;
* o desfecho sempre apocalíptico, que já é uma marca registrada nos filmes sobre pragas assolando a humanidade, que nos faz pensar na impossibilidade de conter o caos.

“Extermínio 2” (28 Weeks Later, Inglaterra, 2007) # 446 – data: 17/06/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 18/06/07)

Trem da Morte (Dead Rail / Alien Express, 2005)


Trem da Morte” (Dead Rail / Alien Express, 2005) é uma produção para a televisão e que foi lançada em DVD no Brasil pela “FlashStar”, trazendo como material extra apenas uma pequena galeria de fotos. Após ver o filme, a melhor e mais apropriada definição para ele seria “uma tralha dos tempos modernos”, pois é incrivelmente curioso o fato de uma produção de 2005 ser tão ruim, com uma história tão banal, com um elenco tão inexpressivo e principalmente com efeitos tão toscos, sendo tudo isso levado a sério por seus realizadores.

Um trem moderno de propriedade de um político influente, o arrogante e prepotente Senador Frank Rawlings (Barry Corbin), candidato para a Presidência dos Estados Unidos, está transportando ele e sua comitiva para uma convenção onde fará um discurso. Na equipe de apoio destaca-se a bela Rosie Holden (Amy Locane), responsável pelas relações públicas do político, o chefe de segurança Phil Lawrence (Michael Flynn), o agente do serviço secreto Peter Johnson (Todd Bridges), um executivo egoísta e inconveniente, Paul Fitzpatrick (Steven Brand), e um funcionário do trem, Sam (Joseph Hamilton).
Porém, um acidente com um carro que iria atravessar a linha do trem quando foi atingido por um meteorito incandescente, fez com que a viagem fosse interrompida. Para investigar o misterioso incêndio do automóvel, foi chamado o policial Vic Holden (Lou Diamond Phillips), marido de Rosie e que estava separado dela por causa de desentendimentos na relação.
Quando o trem retoma a viagem, um terrorista ameaça a segurança de todos a bordo com uma bomba, enquanto paralelamente misteriosos assassinatos ocorrem entre os passageiros, que são vítimas de criaturas alienígenas carnívoras super ágeis e violentas, que vieram no meteorito e utilizam como arma uma gosma verde altamente corrosivo para a pele humana. Depois que o policial Vic consegue entrar no trem numa manobra arriscada envolvendo um helicóptero, e descobre que os maquinistas foram assassinados, sua missão é tripla: impedir a ação do terrorista (que é o menor dos problemas), evitar que o trem desgovernado cause uma tragédia mortal para todos (que é um grande problema, mas ainda assim não é o maior deles), e combater uma invasão alienígena hostil com pequenas criaturas assassinas, cujo líder é interpretado pelo dublê Derrick Costa, que gostaram do sabor da carne e sangue humanos (esse é definitivamente o problema principal).

A direção é de Turi Meyer e o roteiro é de Brian Smith, a partir de uma idéia básica de Tom Alexander, o que não significa absolutamente nada, pois não passam de nomes aleatórios. A história é uma mistura de eventos que procura explorar terrorismo, de forma secundária na trama, com um atentado contra um importante político; ação e aventura, com um trem desgovernado em rota de colisão com um outro trem carregado com lixo nuclear, podendo causar uma explosão catastrófica; além de horror e ficção científica, com uma invasão de monstros extraterrestres vindos do espaço na queda de um meteorito, e que possuem dentes afiados ansiosos para rasgar a carne humana, sendo formados por gás metano em sua estrutura, e que explodem ao serem alvejados por disparos de armas de fogo. Em meio a tudo isso está um policial metido a herói e salvador de todos, que é interpretado pelo decadente Lou Diamond Phillips, um ator de qualidade sofrível e fadado a fazer sempre filmes bagaceiros.
O elenco é amador, ninguém se salva. Amy Locane (cujo nome está na capa do DVD e esse fato não faz nenhuma diferença) é apenas uma atriz muito bonita, porque de resto, é péssima no ofício de interpretação, e em “Trem da Morte” ela está completamente patética na pele da ex-mulher do policial e que ainda está apaixonada por ele. E quanto ao Lou Diamond Phillips (e os produtores também colocaram seu nome na capa do DVD achando que significaria alguma coisa), parece que ele está aceitando participar de qualquer porcaria, e sua atuação como o herói é igualmente insignificante.
Mas o pior de tudo é mesmo os efeitos especiais que chegam a ser engraçados de tão medonhos. O trem é nitidamente uma maquete e a cena do acidente do helicóptero é um dos maiores exemplos de CGI vagabundo ao extremo. As criaturas alienígenas são bizarras de tão simples e não convincentes, e nas cenas onde elas explodem é muito difícil impedir um riso involuntário. Muitas cenas estão escuras de forma proposital para disfarçar a pobreza dos efeitos. É verdade que tem algumas mortes violentas, com sangue e tripas dilaceradas das vítimas, mas tudo bem discreto por se tratar de uma produção para a televisão, e nada que mereça ficar em nossa memória por um segundo sequer depois de vistas.
Existem diálogos tão imbecis que são inacreditáveis dentro de uma história supostamente séria sobre um trem desgovernado e uma invasão alienígena. Um pequeno exemplo é a frase de Rosie para Vic, após ouvir um intenso tiroteio quando ele consegue retornar de uma missão de reconhecimento num vagão infestado de monstrinhos espaciais: “Ainda bem que retornou, pois você não pode morrer, pelo menos não agora”. Dentro da cabeça da mulher podemos imaginar um pensamento mais ou menos assim: “Depois que essa confusão terminar, pode morrer à vontade, pois quero que você se foda...”.
“Trem da Morte” é exatamente aquele tipo de filme ruim que quer contar uma história séria, mas que só consegue colaborar para uma imagem preconceituosa do cinema de horror e ficção científica, graças ao roteiro ridículo, elenco péssimo e efeitos toscos, fazendo desse precioso gênero artístico motivo de comentários depreciativos por parte de quem não é do ramo.
Mas, finalizando essa breve resenha e para não ser injusto, eu tenho que enaltecer um detalhe importante no filme que o salva da banalidade total: o final é interessante, conseguindo passar uma sensação de incômodo ao tentar fugir do convencional e transmitir uma idéia pessimista.

“Trem da Morte” (Dead Rail / Alien Express, Estados Unidos, 2005) # 445 – data: 07/06/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 11/06/07)

Portão do Cemitério (Cemetery Gates, 2006)


O demônio da Tasmânia comerá qualquer carne, viva ou morta. Pode correr mais do que um ser humano. É uma das mais ferozes criaturas da Terra. Consegue matar 17 pessoas em 90 minutos. E só quer brincar... com seu cadáver.

Após descobrir que a equipe de produção de “Portão do Cemitério” (Cemetery Gates, 2006) é a mesma do péssimo “Hospital Maldito” (Boo), feito no ano anterior, imediatamente imaginei que se trataria de outro filme ruim. Depois de assistir, tive uma surpresa: o filme ainda é pior do que imaginava. E a decepção é ainda maior pois os produtores David E. Allen, Brian Patrick O’Toole e Harmon Kaslow têm em seus currículos o excelente e divertido “Cães de Caça” (Dog Soldiers, 2002).

Dois ativistas ecológicos invadem um laboratório que fazia experiências com animais e roubam uma caixa enorme com um bicho dentro, na intenção de libertá-lo numa floresta que fica próxima de um cemitério criado para as vítimas de um desastre que matou centenas de mineiros há muitos anos atrás. O animal é um demônio da Tasmânia que foi modificado geneticamente, aumentando de tamanho e ferocidade. Um acidente no transporte liberta a criatura que foge para a floresta e inicia sua coleção de vítimas, dilacerando violentamente a carne de quem cruza seu caminho.
Em seu encalço está o cientista responsável pelo desenvolvimento da fera, Dr. Kevin Belmont (Reggie Bannister), que juntamente com sua assistente Dra. Christine Kollar (Aime Wolf), tentam capturar o monstro antes da carnificina. O homem da ciência alegava que pelo fato do animal comer carne viva ou morta, havia desenvolvido um forte sistema imunológico, e que poderia descobrir estudando esse fato em experiências genéticas, uma provável cura para o câncer e a aids (todo “cientista louco” alega que suas pesquisas são para o bem da humanidade...).
E entre os candidatos para uma morte violenta nas garras do enorme bicho carnívoro, temos um grupo de jovens fúteis que vão até o cemitério para filmar um vídeo bagaceiro. São eles, Hunter Belmont (Peter Stickles), que é filho do cientista; sua namorada Kym (Nicole DuPort), além de outros quatro colegas de faculdade, a loira gostosa August (Kristin Novak), e os acéfalos Matt (Chris Finch), Tony (Ky Evans) e Enrique (John Thomas).

“Portão do Cemitério” foi lançado em DVD no Brasil pela “Europa” em Dezembro de 2006. Dirigido por Roy Knyrim a partir de roteiro de Brian Patrick O’Toole, inspirado em história de Pat Coburn e J. Victor Renaud, o filme consegue a façanha de apresentar um grupo de jovens tão banais que dificilmente serão superados em outros filmes. Entre eles, destaca-se no quesito “futilidade” a burrinha August, que adora exibir os peitos, mas que tem mesmo como único atributo favorável o belo corpo, pois de resto seu cérebro não deve ser maior que uma bola de gude, e quando ela fala consegue tornar-se mais insignificante que uma pedra abandonada no chão.
Os responsáveis pela história provavelmente fizeram o mesmo que os personagens que criaram: fumaram muita maconha enquanto escreviam, pois a maioria dos diálogos é ridícula ao extremo. Vou citar apenas uma frase da já citada “anta” August, logo depois que descobre que participará de um vídeo caseiro sobre zumbis, filmado pelos amigos, e que é mais ou menos assim: “Eu adoro filmes de zumbis. Só gostaria de saber quem vai me comer...”. E essa missão ficou para o marsupial deformado...
O roteiro faz questão de inserir vários personagens apenas para servirem de alimento para o demônio da Tasmânia mutante, pois são 17 vítimas dilaceradas pelo bicho, como revela a narração de um trailer de divulgação, e eu confirmei esses números fazendo uma contagem de todas as mortes. Não posso deixar de citar em especial os dois homens totalmente drogados que vão até a floresta tentar um contato “espiritual” com os animais. Eles são Doug e Michael, interpretados pelos conhecidos técnicos em maquiagem Howard Berger e Gregory Nicotero, respectivamente, e que parecem estar se divertindo muito fazendo o papel de idiotas chapados. Eles só não imaginavam que teriam seus corpos rasgados violentamente por uma fera que só está interessada em devorar suas carnes. Tem também um velho pescador, Ed (Aristide Sumatra), que está sempre com um sorriso idiota na boca, além dos dois filhos do coveiro bêbado John Martin (Bill Lloyd), os patéticos Earl (Karol Garrison) e Dale (Damian Lea), que provavelmente causariam indigestão na criatura (nem para isso eles serviriam...).
Por outro lado, para aqueles que esperam sangue e mutilações (mesmo através de efeitos toscos e bizarros), temos muitos litros de sangue jorrando para todos os lados, além de corpos brutalmente destroçados, desmembramentos, cabeças arrancadas e tripas espalhadas. Mas, esse excesso de violência já é algo tão comum no cinema de horror, que tem deixado de ser um fator diferencial, pois os fãs têm procurado justamente encontrar mais qualidade nos roteiros, algo que no caso de “Portão do Cemitério”, definitivamente foi deixado de lado.

“Portão do Cemitério” (Cemetery Gates, Estados Unidos, 2004) # 444 – data: 04/06/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 05/06/07)