O Planeta dos Desaparecidos (Battle of the Worlds, Itália, 1961)


A “Works Editora” lançou em DVD no Brasil um pacote com vários filmes divertidos de baixo orçamento, numa coleção de Ficção Científica com produções principalmente dos anos 50 e 60 do século passado, feitas nos Estados Unidos, Itália e Japão. Desse pacote com 10 DVD´s e dois filmes em cada, temos “O Planeta dos Desaparecidos” (Battle of the Worlds, 1961), que divide o disco com “Destino: Espaço Sideral” (Assignment: Outer Space, 1960), ambos filmes italianos dirigidos por Antonio Margheriti.
Como materiais extras, temos apenas uma sinopse (ridícula de tão curta e superficial, que nem deveria existir), e as biografias curtas e inexpressivas do cineasta Antonio Margheriti e do ator inglês Claude Rains. Mas, em compensação, o texto informativo que vem na contra capa do DVD, de autoria de Edson Negromonte, tem grande qualidade e merece ser enaltecido.

A história, de autoria de Ennio De Concini, é simples, como a maioria dos roteiros carregados de exageros daquele período divertido do cinema fantástico. Mas, mesmo assim, esses roteiros sempre despertaram um interesse especial pela presença de naves espaciais, discos voadores, planetas desconhecidos, estações de pesquisa, instrumentos, equipamentos e vestuário futuristas, e todos os elementos tradicionais dos filmes bagaceiros de ficção científica do passado.
O célebre cientista Prof. Benson (Claude Rains) descobriu a princípio que um planeta está viajando pelo espaço e numa rota de colisão com a Terra. Apelidado por ele como “Forasteiro” (no inglês, “Outsider”), mais tarde e após uma análise com cálculos matemáticos complexos, o homem da ciência corrigiu a informação inicial e avisou que o planeta não deveria mais se chocar com o nosso mundo. Entretanto, sua aproximação traz como conseqüências grandes alterações climáticas ao redor do globo, entre tempestades, inundações e furacões.
E, após verificar que o planeta intruso permaneceu misteriosamente estacionado em órbita da Terra, a situação ficou ainda mais preocupante. O comando terrestre, que possui bases e estações de pesquisa estabelecidas na nossa lua e em Marte, e é liderado pelo Comandante Robert Cole (Bill Carter), decide interceptar o planeta enviando uma nave em missão de reconhecimento, a qual foi recebida com hostilidade pelo invasor com um ataque de uma frota de discos voadores.
Após interceptarem uma nave alienígena, que cai em solo terrestre, e descobrirem que são monitoradas à distância, sem pilotos, o Prof. Benson inventou uma forma de neutralizar os discos voadores e os oficiais decidiram fazer uma nova viagem ao planeta forasteiro, levando agora o famoso cientista com eles, além de sua assistente, Eve Barnett (Maya Brent), e seu noivo, o astrônomo Dr. Fred Steele (Umberto Orsini), entre outros. Lá chegando, a expedição descobriu em seu interior a existência de um imenso cérebro eletrônico responsável pelo controle do planeta, e que precisa ser desativado antes que uma guerra interplanetária tenha início e possa significar o fim da Terra.

Os sentimentos humanos são inconsistentes. Na verdade, eles são os únicos elementos inconsistentes em toda a natureza” – Prof. Benson, um cientista exageradamente abnegado e excêntrico

“O Planeta dos Desaparecidos” é uma “space opera” cujo roteiro tem muitos furos, algo que de certa forma já seria esperado num filme bagaceiro de FC. Alguns poucos exemplos que podem ser citados:
* o fato do cientista Prof. Benson ser tão rápido e infalível em seus cálculos, parecendo ser o único cientista capaz de uma série de descobertas sucessivas incríveis no mundo todo, além de demonstrar uma improvável autoridade sobre os oficiais do alto comando (claro que é bastante providencial ao roteiro que toda a trama deva girar em torno dele e do ator Claude Rains);
* os graves problemas climáticos que assolam a Terra por causa da proximidade do planetóide intruso, misteriosamente (e também de forma oportuna para o autor da história), não afetam a ilha onde está localizada a estação de observação e a casa do Prof. Benson, e de onde foi descoberta a chegada do “Forasteiro”;
* temos as presenças dispensáveis das duas principais mulheres do filme, Eve, a noiva do astrônomo Fred Steele, e Cathy (Carol Danell), esposa do Comandante Robert Cole, as quais não possuem função relevante na trama, parecendo mesmo que as atrizes foram escaladas para o elenco apenas para não faltarem belas mulheres no filme.

Os efeitos especiais compõem a parte mais divertida de “O Planeta dos Desaparecidos”, muito interessantes para a época de produção, há cerca de 50 anos atrás, com as maquetes dos foguetes espaciais terrestres e os discos voadores alienígenas, a representação da estação de pesquisa marciana, a ambientação do planeta “forasteiro”, a batalha espacial, etc. É extremamente curioso notar que dezesseis anos depois, em 1977, George Lucas revolucionou esses efeitos com o clássico “Star Wars”, e atualmente no início do século 21, com a crescente tecnologia de computação gráfica, todos esses efeitos especiais datados passaram logicamente a serem considerados hilários e toscos.
O italiano Antonio Margheriti (1930 / 2002) tem uma carreira extensa de quase 40 anos, dividido entre a direção, roteiro e produção, sendo que na maioria de seus filmes ele utilizou o pseudônimo Anthony Dawson. Ele dirigiu “Castle of Blood / Danza Macabra” (1964), com Barbara Steele, e “Cannibal Apocalypse” (1980), com John Saxon, entre outros.
Claude Rains (1889 / 1967) é um rosto conhecido no cinema fantástico, tendo estrelado filmes importantes como “O Homem Invisível” (1933, aqui ele é o cientista que descobre a invisibilidade, inspirado no livro de H. G. Wells), “O Lobisomem” (41, aqui faz o papel de Sir John Talbot, o pai do homem amaldiçoado pela licantropia), “O Fantasma da Ópera” (1943, como o personagem título da obra literária de Gaston Leroux) e “O Mundo Perdido” (1960, como o arrogante cientista e explorador Prof. Challenger, baseado no divertido livro de Sir Arthur Conan Doyle). Curiosamente, o ator italiano Giuliano Gemma, que ainda era desconhecido e interpretou apenas um papel pequeno nesse que é um de seus primeiros filmes, iria se tornar famoso mais tarde principalmente em diversos “spaghetti westerns”.

Se abrissem seu peito, achariam uma fórmula no lugar de seu coração
– Comandante Robert Cole, falando sobre o Prof. Benson

“O Planeta dos Desaparecidos” (1961) # 473 – data: 31/12/07
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O Planeta dos Desaparecidos (Battle of the Worlds / Il Pianeta degli Uomini Spenti, Itália, 1961). Duração: 83 minutos. Direção de Anthony Dawson (pseudônimo de Antonio Margheriti). Roteiro de Vassilij Petrov (pseudônimo de Ennio De Concini). Produção de Tommaso Sagone. Fotografia de Marcello Masciocchi. Música de Mario Migliardi. Edição de Jorge Serrallonga. Direção de Arte de Umberta Cesarano. Desenho de Produção de Giorgio Giovannini. Elenco: Claude Rains, Bill Carter, Umberto Orsini, Maya Brent, Jacqueline Derval, Renzo Palmer, Carlo D´Angelo, Carol Danell, Jim Dolle, Giuseppe Pollini, John Stacy, Aldo D´Ambrosio, Massimo Righi, Giuliano Gemma, Anna Maria Mustari.

A Bússola de Ouro (The Golden Compass, EUA / ING, 2007)


Com direção de Chris Weitz e baseado em livro de Philip Pullman, “A Bússola de Ouro” (The Golden Compass, 2007), que estreou nos cinemas brasileiros em 25/12/07, é o primeiro filme de uma trilogia.
Num mundo paralelo, as pessoas vivem com suas almas incorporadas em animais, em representações físicas chamadas “Daemons”. Nesse universo alternativo existe um império religioso conhecido como “Magistério” que tem a intenção de controlar a liberdade de todos os povos. Para combatê-lo surge uma menina, Lyra Belacqua (Dakota Blue Richards), que tem o poder de interpretar a leitura de um artefato mágico, a “bússola de ouro”, que revela a verdade sobre todas as coisas.
Ao seu lado está um grupo de protetores formado pelo explorador aeronauta Lee Scoresby (Sam Elliott), pela rainha das feiticeiras, Serafina Pekkala (Eva Green) e por um urso polar imponente de uma raça guerreira, Iorek Byrnison (voz de Ian McKellen, o mago Gandalf da trilogia “O Senhor dos Anéis”), além do cientista Lord Asriel (Daniel Craig), que pesquisa uma forma de se comunicar com os outros mundos paralelos estudando uma substância misteriosa chamada de “Pó”. A vilã fica por conta de Mrs. Coulter (Nicole Kidman), aliada do Magistério.
História complexa e repleta de elementos de pura fantasia, sendo necessária uma boa dose de concentração para assimilar todas as informações apresentadas ao espectador. Destaque para os belos efeitos especiais e a presença sempre valiosa do astro Christopher Lee, mesmo numa participação super rápida como um conselheiro do alto comando do Magistério.
Curiosidades: A atriz inglesa Clare Higgins, que faz o papel de uma gípsia chamada Ma Costa, participou dos dois primeiros filmes da cultuada franquia “Hellraiser”, inspirada na obra literária de Clive Barker. Sugiro assistir a versão original em inglês com legendas, pois é uma heresia não ouvir as vozes guturais de Christopher Lee e Ian McKellen.

“A Bússola de Ouro” (The Golden Compass, Estados Unidos / Inglaterra, 2007) # 472 – data: 30/12/07
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Sam´s Lake (Canadá / EUA / Coréia do Sul, 2005)


Em 2002 o cineasta canadense Andrew C. Erin escreveu e dirigiu um curta metragem de um pouco menos de trinta minutos chamado “Sam´s Lake”. Um típico “slasher movie” com jovens sendo perseguidos por um assassino numa floresta. Três anos depois, ele conseguiu transformar seu projeto num filme com cerca de uma hora e meia de duração, onde procurou desenvolver com mais liberdade sua idéia.
Um grupo de cinco jovens decide passar um final de semana bem afastado do agito da cidade, hospedando-se numa casa localizada numa floresta que tem um lago belíssimo. A casa pertence à família de Sam (Fay Masterson), uma jovem que perdeu os pais e mudou-se para a cidade, convidando seus amigos para alguns dias de descanso no silêncio de um lugar isolado. Seus amigos são os namorados Franklin (Stephen Bishop) e Melanie (Megan Fahlenbock), além de Kate (Sandrine Holt) e o rapaz gay Dominik (Salvatore Antonio). Todos eles enfrentam problemas em suas vidas conturbadas, desde a intolerância da sociedade, passando por brigas até histórias com passado traumático, e por isso tornaram-se uma pequena família.
Chegando lá, eles encontram Jesse (William Gregory Lee), uma amigo de infância de Sam, e juntos passam a noite em volta de uma fogueira contando relatos macabros, como uma lenda local sobre um jovem adolescente que matou a família, os pais e a irmã, num ato de vingança e loucura. Ele havia fugido de uma clínica psiquiátrica e vivido como um animal na floresta. Depois que o grupo de amigos decide se aventurar numa visita noturna à antiga casa onde ocorreu o massacre, a aparente tranqüilidade do local transforma-se num novo palco de mortes.
Com uma sinopse dessas, o que vem à mente é mais um filme “slasher” com os velhos clichês de sempre, ou seja, jovens que vão para uma casa no meio da floresta com uma lenda local sobre um assassino com paradeiro desconhecido. Tem até as tradicionais cenas com um cara esquisito (no caso, o dono de uma loja de conveniências), que tenta avisar os forasteiros sobre o perigo, a roda de amigos em volta da fogueira para contar histórias assustadoras, a visita imprudente dos jovens acéfalos ao local do crime sangrento, e até a descoberta de um diário secreto do assassino.
Mas, parece que o diretor inseriu todos esses elementos clichês de forma intencional, podendo servir como uma homenagem ao gênero ou talvez para desviar um pouco a atenção do espectador, fazendo-o pensar que se trata de apenas mais um “slasher” banal. Porém, há uma reviravolta no segmento final que é razoavelmente convincente, mudando o rumo dos acontecimentos, apesar de que a partir daí também uma nova sucessão de clichês vem à tona, com aquelas perseguições e correrias de sempre, além de um desfecho mais que previsível.
No final das contas, é uma produção de baixo orçamento com uma história trivial (acrescentando-se uma reviravolta, talvez o único ponto a favor), onde quase não há violência e as poucas cenas de mortes são filmadas “off-screen”.

“Sam´s Lake” (Sam´s Lake, Canadá / Estados Unidos / Coréia do Sul, 2005) # 471 – data: 29/12/07
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30 Dias de Noite (30 Days of Night, EUA, 2007)


Quando o homem se encontra com uma força que não pode destruir, ele destrói a si mesmo. Que praga são vocês.

30 Dias de Noite” (30 Days of Night, 2007) estreou nos cinemas brasileiros em 07/12/07, baseado numa história em quadrinhos de Steve Niles e filmado em locações na Nova Zelândia.
Um vilarejo gelado localizado no Alasca fica trinta dias sem a luz do sol durante o inverno, e seus habitantes tornam-se vítimas de um feroz grupo organizado de vampiros predadores que, sob a liderança de Marlow (Danny Huston), aproveitam a escuridão de um mês inteiro para se alimentarem dos humanos, que tentam sobreviver aos ataques, tendo à frente o xerife local, Eben Oleson (Josh Hartnett).
Os grandes destaques são o clima sufocante e o intenso sentimento de claustrofobia de um grupo encurralado de pessoas num lugar envolto em trevas e sem escapatória, enfrentando a fúria animalesca de vampiros sedentos por seu sangue, e as próprias criaturas da noite, extremamente violentas, que destroçam sem piedade suas vítimas e se comunicam num idioma próprio. Eles demonstram uma imensa distância daqueles vampiros aristocráticos e sedutores abordados mais frequentemente na literatura e cinema.

Levamos séculos para fazer com que acreditassem que nós somos um pesadelo. Não podemos dar uma razão para que suspeitem. Destruam todos!
Nota do Autor (02/11/10): Teve uma sequência em 2010 lançada no Brasil em DVD como “30 Dias de Noite 2: Dias Sombrios” (30 Days of Night: Dark Days), com a ambientação na cidade de Los Angeles.

“30 Dias de Noite” (30 Days of Night, EUA, 2007) # 470 – data: 26/12/07
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Mortos Que Matam (The Last Man on Earth, EUA / Itália, 1964)



O livro “Eu Sou a Lenda” (I Am Legend), de Richard Matheson, inspirou a produção de dois filmes muito interessantes: “A Última Esperança da Terra” (The Omega Man, 71), com Charlton Heston, e o anterior “Mortos Que Matam” (The Last Man on Earth, 64), com o ícone do horror Vincent Price.
Fotografado em preto e branco e com uma co-produção entre Estados Unidos e Itália, este último teve a participação do próprio Matheson como um dos roteiristas (sob o pseudônimo de Logan Swanson), e conta a história do cientista Robert Morgan (Price), que há 3 anos está sozinho no mundo, sendo o “último homem legítimo sobre a Terra”, após uma misteriosa epidemia espalhar um vírus desconhecido que transformou as pessoas em criaturas zumbificadas com características vampirescas, que somente saem de seus refúgios durante à noite. Ele é imune à praga, sente a dor de viver sozinho num mundo vazio, carrega a angústia de ter visto a mulher Virginia (Emma Danieli) e a filha pequena Kathy (Christi Courtland) serem afetadas pela contaminação, caminha de dia como uma “lenda” caçando e exterminando os infectados, cravando-lhes uma estaca no coração e carbonizando os corpos numa imensa vala, e se protege de noite escondendo-se em sua casa, resistindo ao constante ataque das criaturas. Porém, sua rotina muda quando em um de seus passeios diurnos pela cidade morta, ele encontra uma mulher, Ruth Collins (Franca Bettoia), que aparentemente não está infectada.
Um filme em preto e branco, produção européia dos anos 60 do século passado e com Vincent Price. Essa combinação de fatores desperta inevitavelmente uma atenção nos apreciadores do cinema fantástico do passado. Curiosamente, os ataques noturnos das criaturas infectadas contra a casa do cientista isolado serviram de inspiração para George Romero conceber o seu clássico absoluto “A Noite dos Mortos-Vivos” alguns anos depois, em 1968, nas seqüências envolvendo os zumbis tentando invadir a casa de campo que servia de refúgio para um grupo de sobreviventes.
O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Multi Media Group” com uma capa ridícula. Pelo menos houve uma compensação e corretamente mantiveram o mesmo título, “Mortos Que Matam”, que já era conhecido por aqui há muitos anos. Como materiais extras, temos as filmografias dos atores Vincent Price, Franca Bettoia e Emma Danieli, além do diretor italiano Ubaldo Ragona e do americano Sidney Salkow, mais conhecido por seus filmes de western. Tem ainda uma galeria com algumas fotos e um documentário apresentado pelo cultuado diretor e produtor William Castle (1914 / 1977), mostrando cenas comentadas de seus divertidos filmes lançados entre o final dos anos 50 e meados da década de 60 como “Mr. Sardonicus” (61), “The Old Dark House” (63), “Homicidal” (61), “Zotz!” (62), “Macabre” (58) e “House on Haunted Hill” (59). Castle ficou bastante conhecido pela criatividade em apresentar truques nas salas de cinema, com o objetivo de interagir com o público, como esqueletos que voam sobre as pessoas, cadeiras que trepidam e emitem pequenos choques elétricos, folhetos distribuídos aos espectadores onde eles podiam escolher o destino do protagonista, e várias outras campanhas de marketing incomuns. O mais curioso desses materiais extras é que William Castle não tem nenhuma relação com o filme “Mortos Que Matam”, mas de qualquer maneira o documentário é um grande presente, que acompanha o filme.

“Mortos Que Matam” (The Last Man on Earth / L´ Ultimo Uomo Della Terra, Estados Unidos / Itália, 1964) # 469 – data: 20/11/07
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Planeta Terror (Planet Terror, 2007) (segmento de "Grindhouse")


Infelizmente, o Brasil é um país que não trata o gênero horror com o devido respeito, e como conseqüência, nós que somos apreciadores desse gênero de cinema, acabamos sendo prejudicados. São muitos os erros cometidos pelos responsáveis na distribuição dos filmes por aqui, desde o esquecimento de produções importantes que não chegam ao país, sendo preteridas por porcarias que não acrescentam nada, passando pelos péssimos nomes que a maioria dos filmes recebe aos estrearem nos cinemas, e o tratamento ruim e amador com que todo o sistema de uma forma geral é trabalhado.
Mas, às vezes, somos surpreendidos com exemplos positivos como foi o caso de “Planeta Terror” (Planet Terror, EUA, 2007), dirigido por Robert Rodriguez, sendo o primeiro segmento de “Grindhouse” (a outra história é dirigida por Quentin Tarantino e se chama “Death Proof”). O título nacional foi bem escolhido, e o filme entrou em cartaz nos cinemas no dia 09/11/07, o que pode ser considerado um fato inusitado, uma vez que muitos outros filmes interessantes e com potencial, tiveram suas estréias canceladas e foram lançados diretamente no mercado de vídeo. É verdade que o filme teve uma passagem rápida nos cinemas, em poucas salas e horários, e o ideal seria que “Grindhouse” fosse exibido inteiro, de uma só vez, mas somente o fato de um filme com características tão toscas propositais, indo contra o esquema comercial que domina o mercado, já é algo a ser enaltecido. Pois encontramos desde chuviscos e tremedeiras na imagem, passando por falhas no som, até pedaços de filme faltando, tudo isso fazendo parte da homenagem dos realizadores ao cinema bagaceiro dos anos 70 do século passado, filmes sem compromisso com a lógica e que eram exibidos em salas vagabundas.
“Planeta Terror” é extremamente sangrento e exagerado, com uma história repleta de clichês onde um grupo de sobreviventes de uma contaminação tóxica luta por suas vidas contra uma legião de zumbis podres que querem devorá-los. Tiroteios, correrias, sangue, tripas, cabeças estouradas e mutilações para todos os lados. Vale destacar a presença no elenco de nomes como o cineasta Quentin Tarantino, o maquiador Tom Savini, e atores como Michael Biehn, Bruce Willis, Jeff Fahey, Josh Brolin e Michael Parks, todos claramente se divertindo muito em seus papéis.

“Planeta Terror” (Planet Terror, Estados Unidos, 2007) # 468 – data: 10/11/07
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Jogos Mortais IV (Saw IV, 2007)


Lançado nos cinemas brasileiros em 26/10/07, essa é uma daquelas franquias de horror que são muito populares e comentadas, tanto que todos os filmes foram exibidos nas telas grandes, devido ao satisfatório retorno comercial que a marca já garante aos produtores. O mesmo acontece de forma similar com outras franquias como “Premonição” e “Resident Evil”.
Nesse quarto filme, continua a idéia de uma trama complexa cheia de surpresas, reviravoltas e revelações, manipulando o espectador com pistas e convidando a interagir com os tais “jogos mortais” planejados por Jigsaw (Tobin Bell). Existe uma significativa relação de eventos com os filmes anteriores e qualquer informação adicional sobre a história poderá ser um importante “spoiler”. O que pode ser revelado sem comprometimento, é que a violência característica da série, com mortes sangrentas e criativas, continua com grande intensidade.
Mas, nota-se claramente a existência de muitas situações forçadas e que a combinação entre armadilhas, torturas e sangue já não funciona mais com a mesma eficiência, sinalizando para o fim da série como uma atitude de bom senso. Porém, não é o que provavelmente pensam os produtores, ao deixarem um enorme gancho para a continuidade com um quinto filme.

“Jogos Mortais IV” (Saw IV, Estados Unidos, 2007) # 467 – data: 02/11/07
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1408 (1408, 2007)


Com estréia nos cinemas brasileiros em 02/11/07, baseado em história do escritor Stephen King, dirigido pelo sueco Mikael Hafstrom e com astros como John Cusack e Samuel L. Jackson, “1408” (1408, EUA, 2007) é um filme empolgante e não perde tempo, mergulhando o espectador no mistério que envolve o quarto 1408 de um antigo hotel em New York, palco de suicídios e com fama de assombrado por fantasmas perturbados. Cusack é o escritor Mike Enslin, que decide passar uma noite no temido quarto 1408, mesmo sendo alertado das prováveis conseqüências pelo gerente do hotel, Gerald Olin (Jackson).
O final é de arrepiar, dando aquela sensação incômoda de desconfiança sobre a existência de muitas coisas inexplicáveis em nossa realidade.
A filmografia baseada na obra literária de Stephen King é imensa, mas a maioria dos filmes é considerada de pequena relevância, não igualando a qualidade de seus livros. Porém, “1408” é certamente um dos poucos exemplos significativos e que merece uma atenção especial.

Invasores (The Invasion, 2007)


O que é melhor? Um mundo humano com todas as nossas falhas e instintos de selvageria, com as guerras e violência que fazem parte de nossa essência como espécie, ou um mundo mais artificial onde as pessoas, infectadas por um vírus alienígena, transformam-se em seres sem emoções, prevalecendo a igualdade entre todos? A pergunta é difícil e talvez a melhor resposta seria uma mistura de ambos, e esse tema interessante é explorado no filme “Invasores” (The Invasion, 2007), que estreou nos cinemas brasileiros em 19/10/07, com direção do alemão Oliver Hirschbiegel, e com a bela Nicole Kidman liderando o elenco.
Inspirado no livro de Jack Finney, a mesma história já havia sido abordada antes em três filmes: em 1956 no clássico da ficção científica “Vampiros de Almas” (Invasion of the Body Snatchers), de Don Siegel e com Kevin McCarhty e Dana Wynter; em 1978 no excelente “Invasores de Corpos”, de Philip Kaufman e com Donald Sutherland, e em 1993 num filme mais trivial dirigido por Abel Ferrara.
Um ônibus espacial se desintegra na atmosfera no retorno de uma missão, trazendo um vírus do espaço com os destroços que chegaram à superfície, o qual ao entrar em contato com as pessoas espalhou uma contaminação de proporções colossais. O vírus age durante o sono transformando os infectados em pessoas estranhas e frias. Uma psiquiatra, Dra. Carol Bennell (Nicole Kidman), acompanhada do namorado, o médico Dr. Ben Driscoll (o inglês Daniel Craig, o agente James Bond de “Cassino Royale”), desconfia da mudança de comportamento das pessoas e juntos decidem investigar a misteriosa epidemia, enquanto tenta salvar da contaminação o filho pequeno, Oliver (Jackson Bond), que estava com o pai, Tucker Kaufman (Jeremy Northam), que não via há anos.
O filme é irregular. Tem alguns bons momentos de tensão e suspense, com a invasão se consumando aos poucos, infectando as pessoas progressivamente, mostrando a luta da Dra. Bennell em não se entregar à epidemia. Tem a presença da talentosa atriz Nicole Kidman, com experiência em outros ótimos filmes do gênero fantástico como “De Olhos Bem Fechados” (1999) e “Os Outros” (2001). Porém, existe um excesso de ação, com correrias e perseguições desenfreadas e barulhentas no tradicional estilo “hollywoodiano” que estão nitidamente deslocados na história.
O cineasta Oliver Hirschbiegel (do ótimo thriller “A Experiência”, 2001), teve sua estréia no cinema americano e decepcionou, sucumbindo aos padrões de um cinema mais comercial e convencional, assim como ocorreu também com os irmãos chineses Oxide Pang Chun e Danny Pang, criadores de grandes filmes orientais de horror com fantasmas perturbados e que falharam com o americano “Os Mensageiros” (The Messengers).
Sem contar que o final é péssimo e completamente diferente do perturbador, pessimista e memorável desfecho de “Invasores de Corpos”, na cena envolvendo Donald Sutherland e Veronica Cartwright. Aliás, essa atriz inglesa (que esteve em “Alien”, 79) apareceu agora no novo filme como Wendy Lenk, uma paciente da psiquiatra que foi a primeira pessoa a alertar a Dra. Bennell que algo estranho estava acontecendo.
Curiosamente, tive uma exibição particular no cinema, pois fui o único espectador numa sessão noturna na rede “Moviecom”, do Shopping Boavista, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, e a “invasão” somente houve no filme, pois a sala estava vazia...

“Invasores” (The Invasion / The Visiting / Invasion of the Body Snatchers, Estados Unidos, 2007) # 465 – data: 27/10/07
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Forças do Mal (Creepshow III, 2006)


“Creepshow” 1 (1982) e 2 (1987), com George Romero e Stephen King envolvidos no projeto, são filmes divertidos apresentando antologias com histórias curtas de horror, inspiradas nos quadrinhos da nostálgica editora americana “E.C. Comics”, da década de 1950. Quase vinte anos depois, em 2006, foi lançado o terceiro exemplar da franquia, sem Romero e King, e o resultado não poderia ser pior. “Forças do Mal” (Creepshow III) é um lixo em todos os sentidos.
São cinco histórias escritas e dirigidas pela dupla de incompetentes Ana Clavell e James Glenn Dudelson (da “Taurus Entertainment” e que foram também os responsáveis pelo crime em dirigir “Dia dos Mortos 2: O Contágio”, 2005). “Alice” (sobre um controle remoto que manipula realidades alternativas), “O Rádio” (sobre um rádio possuído por uma voz que incita a cometer assassinatos), “Uma Garota de Programa” (sobre uma prostituta “serial killer” que encontra um vampiro), “A Esposa do Professor Dayton” (sobre um cientista louco e sua noiva misteriosa) e “Cachorro-Quente Assombrado” (sobre um médico desleixado que é assombrado por um mendigo que morreu depois de comer um “hot dog” estragado) concorrem na disputa do prêmio de história mais idiota e ridícula.
Os argumentos são banais, as piadas são patéticas, o elenco é inexpressivo. Talvez as únicas coisas que se salvam são algumas poucas cenas sangrentas, especialmente no episódio “Alice”, onde a protagonista se transforma numa criatura pútrida e asquerosa. A distribuidora nacional, “Nova Filmes”, também dá um show de incompetência ao nomear o filme por aqui com o manjado título “Forças do Mal” e por colocar a propaganda enganosa na capa do DVD informando serem histórias baseadas na obra de Stephen King (se fossem de fato dele, o resultado obviamente seria outro infinitamente melhor). Não recomendável.

“Forças do Mal” (Creepshow III, Estados Unidos, 2006) # 464 – data: 14/10/07
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Resident Evil 3: A Extinção (Resident Evil: Extinction, 2007)


Terceiro filme da franquia baseada no videogame homônimo, tão popular que todos foram exibidos nos cinemas brasileiros e esse terceiro exemplar teve até cópias dubladas na exibição nas telas grandes, estreando em 05/10/07. “Resident Evil 3: A Extinção” (Resident Evil: Extinction, 2007) tem direção de Russell Mucalhy e na história retornam os personagens de Alice (Milla Jovovich), a heroína da série, habilidosa com armas e modificada geneticamente, e o herói policial Carlos Olivera (Oded Fehr), que trabalhava para a Umbrella Corporation e mudou de lado após ser traído pela empresa.
Eles se encontram novamente num comboio de caminhões liderado por Claire Redfield (Ali Larter), transportando sobreviventes do caos em que se transformou o mundo, invadido por mortos-vivos infectados por um vírus de laboratório. Eles tentam migrar para o Alasca, na esperança de encontrar um lugar seguro para viverem, e além da ameaça dos zumbis carnívoros, são perseguidos pela Umbrella, através do cientista Dr. Isaacs (Iain Glen), que faz experiências inescrupulosas para tentar domesticar os mortos e controlar a epidemia.
Ação, tiroteios, correrias, efeitos especiais, zumbis devoradores de carne humana, sangue... Tudo o que já se viu nos filmes anteriores e em muitos outros produzidos nos últimos anos. Apenas mais uma diversão passageira.

“Resident Evil 3: A Extinção” (Resident Evil: Extinction, França / Austrália / Alemanha / Inglaterra / EUA, 2007) # 463 – data: 14/10/07
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As Faces do Mal (Headspace, 2005)


Alex Borden (Christopher Denham) é um jovem com um passado trágico e que descobre aos poucos que sua inteligência é muito acima do normal, sofrendo também em paralelo por causa de terríveis dores de cabeça acompanhadas de pesadelos e visões macabras de demônios. Seu drama aumenta quando amigos e pessoas a sua volta passam a ser brutalmente assassinados.
Lançado em DVD no Brasil pela “California” em Maio de 2007, “As Faces do Mal” (Headspace, 2005), dirigido pelo iniciante Andrew van den Houten, é um filme de baixo orçamento que desperta no mínimo um interesse especial por causa do elenco formado por veteranos como Sean Young (de “Blade Runner” / 1982), Dee Wallace-Stone (de “Quadrilha de Sádicos” / 1977, “ET” / 1982 e “Cujo” / 1983) e o alemão Udo Kier (de “Suspiria” / 1977), apesar de apenas participações rápidas. A primeira interpreta a mãe no prólogo, e protagoniza uma cena sangrenta de grande impacto, Dee Wallace-Stone é a médica Dra. Denise Bell (ela tem aparecido ultimamente em inúmeros filmes menores de horror como “Hospital Maldito”, “Abominável” e “A Praga”), e Kier faz o papel de um padre, Rev. Karl Hartman, que também garante uma cena bastante dolorosa e carregada de sangue.
Além do elenco expressivo, outro fator positivo é a história que apresenta alguns bons momentos de suspense e tensão, entremeados com mortes violentas, ao explorar a complexa e misteriosa capacidade do cérebro humano, enfatizando que o “mal tem muitas faces”, como sugere uma das taglines promocionais do filme.

“As Faces do Mal” (Headspace, Estados Unidos, 2005) # 462 – data: 13/10/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 15/10/07)

Alma Negra (Dark Corners, 2006)


Uma mulher loira, Susan Hamilton (Thora Birch), que tem problemas de fertilidade e tenta engravidar, está tendo pesadelos horríveis onde se vê como uma morena, Karen Clarke, que trabalha como assistente de um legista na preparação de cadáveres para os funerais. Em paralelo, um brutal assassino em série conhecido como “Night Stalker” está matando mulheres de forma violenta, retalhando os corpos. O desafio está em desvendar o mistério envolvendo a identidade do assassino e a relação com os perturbadores pesadelos da jovem mulher, numa mistura de ficção e realidade e sucessão de eventos que se confundem a todo momento.
Alma Negra” (Dark Corners, 2006) tem direção e roteiro do estreante Ray Gower. O filme tem algum interesse, principalmente pela presença da bela Thora Birch interpretando aqui um papel duplo (como informação adicional, a atriz foi também protagonista do thriller “O Buraco”, da fantasia “Dungeons & Dragons” e do episódio “O Labirinto”, da ótima série de TV “Night Visions”). Além das ambientações completamente distintas dos dois mundos vividos por ela, o real e o dos pesadelos, conhecendo os “cantos escuros” da alma, com a revelação constante de detalhes que se interligam e confundem. A trilha sonora sinistra também é um destaque se adequando perfeitamente no clima mórbido e de mistério da história, que não é fácil de digerir, mas que ainda assim prende a atenção por instigar o espectador em descobrir o desfecho trágico.

“Alma Negra” (Dark Corners, Estados Unidos / Inglaterra, 2006) # 461 – data: 30/09/07
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A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968)


Um grupo de sete pessoas se refugia numa casa de campo isolada, cercados por uma legião de mortos-vivos que querem devorá-los”.


Essa é a ideia básica do roteiro do clássico em preto e branco de George A. Romero “A Noite dos Mortos-Vivos” (Night of the Living Dead, 1968). Ideia essa aproveitada em excesso por toda uma safra de filmes posteriores. O grupo é formado por Ben (Duane Jones), um vendedor que estava em serviço dirigindo uma camionete, Barbara (Judith O´Dea), que visitava o túmulo do pai num cemitério na pequena cidade de Willard, juntamente com o irmão Johnny (Russell W. Streiner, que foi um dos produtores do filme), além de um covarde pai de família, Harry Cooper (Karl Hardman, também produtor), sua esposa Helen (Marilyn Eastman) e a filha pequena Karen (Kyra Schon), que tiveram um acidente de carro e a menina foi mordida no braço. Completando ainda o grupo, temos o casal de namorados adolescentes Tom (Keith Wayne) e Judy (Judith Ridley), que passeavam planejando nadar num lago. Todos foram surpreendidos repentinamente por uma avalanche de crimes em massa, com os mortos não sepultados se reanimando nos hospitais, necrotérios e velórios, atacando os vivos e devorando suas vítimas, espalhando uma contaminação em escala crescente.
Um satélite explodido pela NASA na órbita da Terra, e que retornava de uma missão espacial ao planeta Vênus, carregava uma elevada quantidade de radiação. Ele poderia servir como um elemento especulador e misteriosamente como um componente ativador no cérebro das pessoas mortas, criando mutações e fazendo-as novamente caminhar entre os vivos à procura de carne, espalhando uma contaminação e instaurando o caos na civilização. A única forma de detê-los é com ferimentos na cabeça, destruindo as funções cerebrais, ou através da cremação.
O grupo de refugiados precisa superar primeiramente os conflitos internos, numa reação típica da raça humana quando as pessoas são acuadas e submetidas a uma forte pressão psicológica. Não faltam as inevitáveis brigas pela liderança das ações, com as diferenças de opiniões, transformando eles próprios em inimigos, para depois tentarem juntos combater a invasão dos mortos-vivos e lutarem pela vida, procurando chegar até alguma das estações de resgate montadas pelas autoridades para receber os sobreviventes.

“Aí vêm eles, erguendo-se do fundo dos túmulos, enchendo a noite de gritos, manchando a terra de sangue... Aí estão eles, caminhando ao ritmo da morte, limpando o sangue dos lábios...”

Podemos considerar que “A Noite dos Mortos-Vivos”, uma produção de baixo orçamento escrita por John Russo e George Romero, é o filme definitivo que inaugurou o tema sobre zumbis comedores de carne humana (curiosamente o termo “zumbi” nunca é citado ao longo do filme). Antes tivemos outros filmes que exploraram a ideia de mortos-vivos, principalmente o clássico “Zumbi Branco” (White Zombie, 1932), de Victor Halperin e com Bela Lugosi, lançado em VHS no Brasil, e uma espécie de refilmagem dessa mesma história, produzida pelo estúdio inglês “Hammer” em 1966, “Epidemia de Zumbis” (The Plague of the Zombies), de John Gilling e com Andre Morell, lançado em DVD por aqui pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”. Porém, esses filmes apresentaram um roteiro onde os mortos-vivos seriam trabalhadores reanimados por magia negra para servirem de escravos, algo mais distante das criaturas concebidas por George Romero, as quais atacavam os vivos para devorar suas carnes. Depois de “A Noite dos Mortos-Vivos”, veio uma infinidade de filmes com zumbis canibais espalhando sangue para todos os lados, destacando uma série de películas italianas sobre o tema, e especialmente do diretor Lucio Fulci.
O clássico de Romero recebeu também uma versão colorizada por computador (desnecessária e artificial, numa atitude tipicamente comercial), e teve uma ótima refilmagem em 1990 dirigida por Tom Savini, que é mais conhecido como um talentoso técnico em maquiagem (longe da modernidade do CGI). O filme de 1968 deu também início para uma cultuada franquia com outros filmes como “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 1978), “O Dia dos Mortos” (Day of the Dead, 1985), “Terra dos Mortos” (Land of the Dead, 2005), “Diário dos Mortos” (Diary of the Dead, 2007) e “A Ilha dos Mortos” (Survival of the Dead, 2009). Todos foram dirigidos pelo mestre Romero, que sempre aproveitou os roteiros para inserir inteligentes e pertinentes críticas sociais e elementos políticos como por exemplo a influência do consumismo desenfreado na sociedade, a intransigência e arrogância militar trazendo conseqüências catastróficas, e a injustiça e diferenças de classes sociais, mais evidenciadas ainda nos momentos de crise e caos.
Os destaques são muitos, mas um dos principais é a ousadia dos realizadores em filmar um desfecho trágico completamente fora do trivial e que deve ser enaltecido, surpreendendo o espectador. São poucos os filmes, principalmente os produzidos há meio século atrás, que apresentam finais perturbadores e inesperados. Outro exemplo que merece ser lembrado é “O Massacre da Serra Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), de Tobe Hooper, na seqüência final entre Leatherface e a “scream queen” Sally Hardesty (Marilyn Burns). Os finais de quase todos os filmes com mortos-vivos são sempre os mesmos (e essa revelação nem pode mais ser considerada “spoiler”), com a civilização humana sendo aniquilada inevitavelmente pela invasão dos zumbis, e no caso de “A Noite dos Mortos-Vivos”, o desfecho trágico é ainda outro, e nem por isso menos intenso e pessimista.

Entre a imensa quantidade de curiosidades, vale ressaltar algumas delas:
* Em 1985 foi lançado pela editora americana “Harmony Books”, um livro de referências escrito por John Russo, co-roteirista do filme, chamado “The Complete Night of the Living Dead Filmbook”. O livro é um verdadeiro compêndio com dezenas fotos e cartazes do clássico, além de preciosos depoimentos e entrevistas com os principais profissionais envolvidos no projeto, desde os próprios Romero e Russo, passando pelos produtores Karl Hardman e Russel Streiner, além do elenco. Um trabalho literário indispensável para os colecionadores. John Russo também lançou um livro com o roteiro do filme, lançado em Portugal pela coleção de horror “Pendulo”, número 27, da Editora “Europa-América”.
* O filme foi lançado em VHS no Brasil nos anos 90 pela “VTI”, com uma capa colorida ridícula e mal feita. Depois ele foi lançado em DVD por aqui em quatro oportunidades: primeiramente pela “Continental” e depois em 2007 por uma editora que distribuiu o filme nas bancas pela coleção “Clássicos do Horror” número 3, e pela “Cinemagia”, numa edição especial comemorativa dos 40 anos (mas com poucos extras não justificando o marketing feito pela distribuidora). Em 2009, a “NBO” lançou uma edição especial de colecionador, trazendo a versão colorizada por computador e a versão original em P&B como material extra.
* A família Cooper, que se refugiou no porão da casa de campo, fugindo dos zumbis, é formada por uma família verdadeira na vida real, pois Karl Hardman (que fez o patriarca Harry), é casado com Marilyn Eastman (interpretando a esposa Helen), e Kyra Schon é sua filha (fazendo o papel de adolescente Karen), deixando evidentes as condições limitadas de orçamento da produção, com o recrutamento de familiares para formar o elenco. Outro exemplo dessa dificuldade está no fato de que Judith Ridley, que interpretou a jovem Judy, também foi recrutada para o elenco por já ter trabalhado para Hardman como recepcionista.
* O escritor John Russo teve uma participação rápida no filme, fazendo o papel de um zumbi que é alvejado por Ben com uma barra de ferro esmagando sua cabeça.
* Entre os vários títulos alternativos que os realizadores pensaram para o filme, destacam-se “Monster Flick”, “Night of Anubis” e “Night of the Flesh Eaters”.

A Noite dos Mortos-Vivos” (Night of the Living Dead, 1968) # 460 – data: 30/09/07
www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 01/10/07)

A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, Estados Unidos, 1968). Direção de George A. Romero. Roteiro de John A. Russo e George A. Romero. Edição de George A. Romero. Produção de Russell W. Streiner e Karl Hardman. Fotografia de George A. Romero. Elenco: Duane Jones (Ben), Judith O’Dea (Barbara), Karl Hardman (Harry Cooper), Marilyn Eastman (Helen Cooper), Keith Wayne (Tom), Judith Ridley (Judy), Kyra Schon (Karen Cooper), Russel W. Streiner (Johnny), Charles Craig, Bill Heinzman, George Kosana, Frank Doak, Bill Cardille. 

Longa Distância (Long Distance, 2005)


A bela atriz Monica Keena (de “Freddy vs. Jason”) é a protagonista desse thriller sobre traição e assassinato, lançado em DVD no Brasil pela “California”. Ela é Nicole Freeman, uma estudante graduada que está trabalhando numa tese, e mora num prédio que foi uma escola no passado. Recentemente separada do namorado Chris Lundgreen, um fotógrafo com quem morava no apartamento, ela não imaginava as conseqüências de um telefonema errado que deu, surpreendendo um assassino no ato do crime. A partir daí, ela passou a receber constantes ligações do criminoso em série, que se identificou como Joe (Kevin Chapman), colocando-a num jogo psicológico de tensão crescente, enquanto outras vítimas eram brutalmente assassinadas. Para comandar as investigações, surge um detetive da polícia de Boston, Frank Halsey (Ivan Martin), e uma agente especial do FBI, Margaret Wright (Tamala Jones), uma psicóloga criminalista especializada na identificação do perfil de assassinos.
Longa Distância” (Long Distance, 2005) é um thriller comum na maior parte do tempo, parecido com tantos outros produzidos por aí, trazendo os conhecidos elementos do gênero, com alguns momentos de suspense, tensão psicológica, mortes (sem violência “on screen”), investigação policial e a utilização do telefone como meio de comunicação com o assassino. Porém, há um esforço do roteiro em apresentar uma reviravolta significativa próximo ao final (e qualquer informação adicional seria um “spoiler” comprometedor), que coloca o filme numa situação um pouco acima da média. Mas, de forma geral, é um típico filme daqueles que a TV Globo apresenta em sua tradicional sessão “Super Cine” dos Sábados à noite.

“Longa Distância” (Long Distance, Estados Unidos, 2005) # 459 – data: 07/09/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 13/09/07)

Morto em 3 Dias (Dead in 3 Days, Áustria, 2006)


Um assassino misterioso ataca um grupo de jovens motivado por um plano de vingança. Essa idéia ainda continua sendo explorada, e dessa vez por um “slasher” austríaco, dirigido por Andreas Prochaska. “Morto em 3 Dias” (Dead in 3 Days, 2006) foi lançado em DVD pela “California” e mostra uma turma de cinco estudantes na faixa dos 18 anos que estão festejando a formatura. O grupo é formado por dois casais de namorados, Nina (Sabrina Reiter) e Martin (Laurence Rupp), e Alex (Nadja Vogel) e Clemens (Michael Steinocher), além de Mona (Julia Rosa Stockl). Após receberem uma mensagem ameaçadora em seus telefones celulares, dizendo que morrerão em 3 dias, ocorre uma reviravolta em suas vidas obrigando-os a lutar pela sobrevivência, sendo perseguidos por um assassino, contando apenas com uma ajuda não muito eficiente da polícia que está investigando o caso, no comando do oficial Kogler (Andreas Kiendl).
O filme apresenta adolescentes que não são tão idiotas como os tradicionais filmes similares americanos, mas também não consegue fugir dos mesmos velhos clichês do gênero, principalmente no que diz respeito a situações forçadas do roteiro, bastante improváveis e inseridas na história apenas para facilitar o trabalho de quem escreveu (Thomas Baum, em parceria com o próprio diretor). Tem algumas mortes, mas nada marcante, com um destaque maior para uma cena de decapitação. A incompetência da polícia e as facilidades do assassino em suas ações são alguns dos fatores que fazem de “Morto em 3 Dias” outro “slasher” comum em meio a tantos que são produzidos, com a diferença de ser um filme vindo da Áustria, variando um pouco o já desgastado cinema de horror adolescente feito nos Estados Unidos.

“Morto em 3 Dias” (Dead in 3 Days / In 3 tagen bist du tot, Áustria, 2006) # 458 – data: 02/09/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 03/09/07)

Pirado no Espaço (Rocketman, 1997)


Pirado no Espaço” (Rocketman, 1997) é uma produção da “Walt Disney Pictures” e por isso mesmo já dá para imaginar como deve ser o filme: uma ingênua comédia infanto-juvenil, e nesse caso específico, com elementos de ficção científica.
Um gênio da informática (Harland Williams), mas também um cara patético e piadista, é convocado pela NASA para participar de um programa de treinamento para substituir um astronauta impossibilitado de viajar, numa missão inédita para o planeta vermelho Marte. Com ele fazem ainda parte da equipe de exploração espacial, um comandante convencido (William Sadler), uma bela geóloga (Jessica Lundy) e um chimpanzé. Porém, assim como ocorreu na realidade com uma das naves do projeto “Apolo”, a viagem para Marte tem também alguns problemas imprevistos como a ocorrência de uma forte tempestade na superfície do planeta que dificultou a partida de volta para a Terra, exigindo a ajuda da base em Houston, e as habilidades incomuns do astronauta trapalhão.
Cheio de piadas (algumas que até funcionam, e outras bem forçadas e sem graça), o filme tem direção de Stuart Gillard e é aquela típica diversão familiar, com uma história “bonitinha” de viagem espacial de pesquisas rumo ao desconhecido planeta Marte, em busca de encontrar provas de vida. Tem alguns momentos engraçados na fase de treinamento do protagonista, um nerd especialista em computadores, assim como durante a viagem, mas tem também várias situações banais que dão sono no espectador. No fim, apenas uma diversão ligeira e que se assiste apenas uma vez na vida. Lançado em VHS pela “Abril”.

“Pirado no Espaço” (Rocketman, Estados Unidos, 1997) # 457 – data: 26/08/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 28/08/07)

Gritos Mortais (Dead Silence, 2007)


São poucos os filmes que abordam o tema de bonecos de ventríloquo, que naturalmente podem ser considerados uma idéia muito interessante para se contar uma história de horror. O último episódio da antologia inglesa “Na Solidão da Noite” (Dead of Night, 1945), dirigido pelo brasileiro Alberto Cavalcanti, é o maior exemplo desse potencial (“o boneco influenciando a personalidade do ventríloquo”).
Gritos Mortais” (Dead Silence, 2007) prefere investir numa história de vingança (que apesar de clichê, ainda funciona) carregada de horror psicológico, elementos sobrenaturais e atmosfera sombria, deixando de lado os excessos de violência e sangue que tanto caracterizam o gênero.

“Gritos Mortais” (Dead Silence, Estados Unidos, 2007) # 456 – data: 11/08/07
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Espíritos 2 - Você Nunca Está Sozinho (Alone, Tailândia, 2007)


Espíritos 2 – Você Nunca Está Sozinho” (Alone, 2007) é outro filme oriental que foi exibido nos cinemas brasileiros (estreou em 24/08/07), juntando-se aos anteriores “Visões” (The Eye 2), “Shutter”, “Assombração” (Re-Cycle), “Almas Reencarnadas” (Reincarnation), e “Silk – O Primeiro Espírito Capturado”.
O nome nacional não poderia ser pior, pois além do ridículo e desnecessário subtítulo quilométrico, o filme não é continuação de “Shutter”, que também teve um nome brasileiro sensacionalista (“Espíritos – A Morte Está Ao Seu Lado”). A única relação entre eles é a presença dos mesmos realizadores, Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom.
Em “Alone”, novamente temos a ação aterrorizante de um fantasma em busca de vingança. Duas gêmeas siamesas são separadas cirurgicamente na adolescência, e uma delas morre. Muitos anos depois a sobrevivente, já casada e tentando ter uma vida normal, passa a ter a sensação incômoda de não estar mais sozinha, sendo atormentada por visões macabras de sua irmã.
Apesar da enorme quantidade de filmes orientais com o mesmo tema, mostrando fantasmas deformados assombrando os vivos, a fórmula ainda funciona, apesar do desgaste inevitável decorrente da exploração em excesso de algo que está se tornando clichê. Como características sempre presentes nesses filmes orientais de espíritos perturbados, não faltam boas cenas de sustos, muitas aparições sinistras, mortes e uma revelação importante para o desfecho da trama.

“Espíritos 2 – Você Nunca Está Sozinho” (Alone / Faet, Tailândia, 2007) # 455 – data: 26/08/07
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Monstros S.A. (Monsters, Inc., 2001)


Os filmes de animação, produzidos aos montes nos últimos anos, são teoricamente voltados para o público infanto-juvenil. Mas, analisando melhor, podemos dizer sem dúvida que funcionam também para os adultos. “FormiguinhaZ”, “Toy Story”, “Vida de Inseto”, “Procurando Nemo”, “Shrek”, “A Era do Gelo”, “Monstros S.A.”, são apenas alguns exemplos de animações super divertidas e para todas as idades. O último citado, cujo título original é “Monsters, Inc.” (2001), produzido pela parceria “Pixar / Disney”, teve uma versão em DVD lançada no Brasil em dois discos trazendo uma infinidade de materiais extras interessantes.
A história explora os tradicionais monstros que se escondem nos armários e se ocultam embaixo das camas para assustar as crianças enquanto dormem. Na verdade, eles vivem numa cidade chamada “Monstrópolis”, num universo paralelo interligado ao nosso através de portas dimensionais. Em seu mundo, os monstros precisam de energia para o aquecimento, movimentação de carros e máquinas e iluminação, a qual é obtida pelos gritos das crianças humanas quando assustadas por eles. James P. Sullivan (voz de John Goodman) é o principal monstro da poderosa empresa “Monstros S.A.”, e ajudado pelo engraçado parceiro Mike Wazowski (voz de Billy Crystal), eles formam a equipe recordista na obtenção de gritos de crianças e conseqüentemente de geração de energia. Porém, as coisas passam a se complicar quando acidentalmente uma menininha, que recebeu o apelido de Boo (voz de Mary Gibbs), entra no mundo dos monstros, causando enorme confusão, uma vez que as crianças são consideradas perigosas por trazerem contaminação, causando grande medo nos monstros. A partir daí, Sullivan e Mike viverão grandes aventuras para tentar levar Boo de volta ao seu mundo, enfrentando paralelamente um plano conspiratório do monstro rival Randall Boggs (voz de Steve Buscemi) e do diretor da empresa Henry J. Waternoose (voz de James Coburn), que querem impedir o fracasso da “Monstros S.A.”, cuja produção de energia tem caído significativamente com as crianças se assustando cada vez menos.
O filme é uma grande diversão, abordando a ideia dos monstros ocultos por trás dos armários, e seu roteiro está repleto de citações e homenagens ao mundo do cinema, como o restaurante “Harryhausen” (nome do cultuado criador de monstros na técnica “stop motion” em meados do século passado), e uma cena lembrando o blockbuster “Armageddon” (98), quando um grupo de heróis estão desfilando de forma imponente.

“Monstros S.A.” (Monsters, Inc., Estados Unidos, 2001) # 454 – data: 25/08/07
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Cadáveres (Unrest, 2006)


Um grupo de quatro estudantes de medicina, uma mulher, Alison Blanchard (Corri English), e três homens, Brian Cross (Scot Davis), Carlos Aclar (Joshua Alba) e Rick O’Connor (Jay Jablonski), estão trabalhando na dissecação do cadáver de uma mulher, sob a supervisão do Prof. Walter Blackwell (Derrick O’Connor). Eles descobrem que o cadáver é de Alita Covas (Marisa Petroro), uma arqueóloga americana que trabalhava em escavações no extremo norte do Brasil, e que após a descoberta de uma tumba misteriosa, teve uma morte violenta, com vários cortes pelo corpo. Quando Alison começa a ter visões e sentir vibrações sinistras por causa do cadáver, todos que tocam o corpo dissecado começam a morrer de forma trágica, obrigando a estudante a descobrir o mistério e lutar pela vida.
Cadáveres” (Unrest, 2006) foi dirigido, escrito e produzido por Jason Todd Ipson, e divulga como marketing a utilização de um cadáver real nas filmagens, mas isso não impede que se trate apenas de mais um filme convencional, com uma história explorando profanação de tumbas, possessão de espíritos atormentados e vingança sangrenta. Tem algumas mortes, mas nada que impressione.
Como destaque, tem uma cena incômoda envolvendo o mergulho do casal de heróis num tanque com cadáveres conservados num líquido asqueroso. Mas talvez a única coisa memorável seja a presença da bela atriz Corri English, e mais por sua beleza do que talento de interpretação. E é inevitável deixar de registrar a falta de uma melhor pesquisa do roteiro ao apresentar o Brasil (mais especificamente o Estado do Pará) como o local de descoberta de uma tumba asteca.
Foi lançado em DVD no Brasil pela “Focus” em 25/07/07, trazendo como materiais extras a opção de ver o filme com os comentários do diretor Jason Todd Ipson e do editor Mike Saenz, e uma pequena filmagem de bastidores.

“Cadáveres” (Unrest, Estados Unidos, 2006) # 453 – data: 18/08/07
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Pânico no Lago 2 (Lake Placid 2, 2007)


Pânico no Lago 2” (Lake Placid 2, 2007) é um exemplo típico daquelas continuações totalmente dispensáveis, desnecessárias e oportunistas. O original lançado em 1999 até tem um bom elenco com Bill Pullman, Bridget Fonda, Oliver Platt e Brendan Gleeson, e conta uma história interessante de crocodilo gigante assassino. Mas a seqüência é uma produção diretamente para a televisão (Sci-Fi Channel), utilizando locações na Bulgária, com uma história idêntica (apenas insinuando alguns elementos para amarrar o roteiro preguiçoso com o original), um elenco inexpressivo, efeitos vagabundos de CGI, e trazendo todos aqueles clichês ridículos de filmes similares.
Tem mais mortes, mas todas banais, mais crocodilos gigantes e novamente um grupo de adolescentes idiotas para servir de comida para eles. Claro que tem também um caçador rico e arrogante para tentar matar os animais, e um casalzinho patético de heróis (o xerife local e uma funcionária de um órgão ambiental do governo). Não falta o manjado problema de relacionamento entre pai (de novo o tal xerife) e o filho, e que será superado pelas adversidades, assim como temos que suportar as tradicionais piadas estúpidas o tempo todo (mesmo enquanto pessoas são destroçadas e devoradas por crocodilos). E para completar, tem aquele desfecho previsível e insignificante de sempre.
Só é indicado para aqueles que querem conhecer todos os tipos de filmes do gênero, mesmo os ruins e descartáveis.

“Pânico no Lago 2” (Lake Placid 2, Estados Unidos, 2007) # 452 – data: 12/08/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 16/08/07)

Veio do Espaço (It Came From Outer Space, EUA, 1953)


O diretor americano Jack Arnold (1916 / 1992) é sempre lembrado pelos fãs do cinema fantástico por causa de vários filmes cultuados produzidos durante os saudosos anos 50 do século passado, como “O Monstro da Lagoa Negra” e “O Incrível Homem Que Encolheu”. Sua estréia no gênero foi em 1953 com a primeira produção da história do cinema de Ficção Científica filmada em 3-D, “Veio do Espaço” (It Came From Outer Space), do estúdio “Universal”.

Com fotografia em preto e branco, roteiro de Harry Essex, inspirado na história “The Meteor” do veterano escritor americano Ray Bradbury, o filme mostra um casal de noivos, o astrônomo John Putnam (Richard Carlson) e a professora Ellen Fields (Barbara Rush), que testemunha a queda de um meteoro no deserto do Arizona, chocando-se violentamente contra o solo nas redondezas da pequena cidade de Sand Rock. Ao investigar de perto o misterioso objeto que “veio do espaço”, o homem descobre que se trata na verdade de uma nave extraterrestre, que fica soterrada após um desmoronamento de pedras na cratera formada por sua queda. O astrônomo observador de estrelas e sua noiva são desacreditados pela população local e pelos jornalistas sensacionalistas quando mencionam a chegada de alienígenas ao nosso planeta, sendo vítimas de gozações e calúnias de auto promoção, enfrentando também a intolerância do xerife Matt Warren (Charles Drake), que organiza um grupo armado para invadir o local da queda da nave.
O objeto voador pertence a uma civilização alienígena avançada tecnologicamente, que descobriu uma forma de viajar pelo espaço sideral, conhecendo novos mundos, mas um acidente fez com que caíssem na Terra, obrigando-os a entrarem em contato com os humanos na tentativa de obterem recursos para consertar a nave e poderem partir. Eles tem o poder de assumir a forma humana, transformando-se numa réplica fria e sem emoções de qualquer pessoa, como aconteceu com uma dupla de técnicos que faziam trabalhos na área para a manutenção de postes e linhas telefônicas, o veterano Frank Daylon (Joe Sawyer) e o jovem George (Russell Johnson). Os horríveis seres do espaço não são bem recebidos e sentem a desconfiança e o despreparo da raça humana em aceitá-los como uma civilização superior e com um visual aterrador, distante da aparência humanoide (os alienígenas tem apenas um olho central, além de tentáculos e outras características que os tornam monstruosos aos olhos humanos).

Analisando a história de mais de 100 anos do cinema fantástico, estou inclinado a escolher numa opinião totalmente subjetiva que os anos 50 (principalmente) e também a década seguinte, foram o período mais importante com a produção de filmes de Ficção Científica com elementos de Horror que ficaram marcados para sempre, explorando temas diversos e fascinantes como invasões alienígenas, exploração espacial, cientistas loucos em meio as suas experiências bizarras para o suposto bem da humanidade, homens transformados em monstros ameaçadores, expedições científicas rumo ao desconhecido, monstros atômicos gerados pelo descontrole da tecnologia nuclear, guerras interplanetárias... Em filmes como “O Monstro do Ártico” (51), “Destino: Lua” (51), “O Dia Em Que a Terra Parou” (51), “Colisão de Planetas” (52), “A Guerra dos Mundos” (53), “Os Invasores de Marte” (53), “Vinte Mil Léguas Submarinas” (54), “O Mundo em Perigo” (54), “O Monstro da Lagoa Negra” (54), “O Monstro do Mar Revolto” (55), “Tarântula” (55), “Vinte Milhões de Léguas a Marte” (55), “Guerra Entre Planetas” (55), “Godzilla” (56), “A Invasão dos Discos Voadores” (56), “Planeta Proibido” (56), “Vampiros de Almas” (56), “Emissário de Outro Mundo” (57), “O Começo do Fim” (57), “O Incrível Homem Que Encolheu” (57), “A Bolha” (58), “Guerra dos Satélites” (58), “A Mosca da Cabeça Branca” (58), “O Horror Vem do Espaço” (58), “O Monstro de Mil Olhos” (59), “Viagem ao Centro da Terra” (59), “Quarta-Dimensão” (59), e muitos outros mais. E dentro dessa lista interminável de pérolas do cinema fantástico dos anos 50, temos o divertido “Veio do Espaço”.

Entre as várias curiosidades e observações interessantes sobre o filme, podemos citar:
* Temos três outros títulos originais alternativos, “Atomic Monster”, “Strangers From Outer Space” e “The Meteor”.
* Foram apresentadas duas concepções visuais dos alienígenas para a aprovação dos executivos da “Universal”, e aquela que foi rejeitada inicialmente foi aproveitada depois como o monstro mutante de “Guerra Entre Planetas”, lançado dois anos depois.
* A ideia apresentada pelo filme mostrando os alienígenas se transformando em cópias de pessoas, assumindo a forma humana, num tratamento claro do roteiro evidenciando atitudes de xenofobia, também foi utilizada como o argumento básico de outras preciosidades da FC como “O Dia em Que Marte Invadiu a Terra” (The Day Mars Invaded Earth, 62) e “Vampiros de Almas” (Invasion of the Body Snatchers, 56), de Don Siegel, que teve sua história baseada na obra do escritor Jack Finney, considerada como uma analogia política gerada pelos efeitos perturbadores da guerra fria e a paranoia americana de invasão comunista soviética (apesar que o próprio autor não confirma essa intenção quando escreveu o livro).
* Outra ideia interessante abordada em “Veio do Espaço” é a intenção dos alienígenas em tentar reparar os problemas da nave que ocasionaram a queda, para poderem partir de nosso planeta o mais rápido possível, algo que também aconteceu em “Escravos da Noite” (Night Slaves, 1970), com James Franciscus, onde os moradores de uma pequena cidade são manipulados e escravizados por alienígenas que os utilizam como mão de obra para consertar sua nave avariada.
* “Veio do Espaço” é um dos poucos filmes dentro da temática de “invasão alienígena” que retrataram as criaturas do espaço como pacíficas, assim como em “O Dia Em Que a Terra Parou”, de 1951. A maioria dos filmes de FC similares fizeram questão de enfatizar os extraterrestres como hostis e ameaçadores para a raça humana.
* Em 1996, foi lançada uma desnecessária e oportunista continuação, produzida especialmente para a televisão e dirigida por Roger Duchowny. Recebeu o nome original de “It Came From Outer Space II”.
* Em 2004, o escritor Ray Bradbury, autor da história original que inspirou a produção de “Veio do Espaço”, publicou um livro intitulado “It Came From Outer Space”, reunindo suas versões para o roteiro do filme dos anos 50. Bradbury teve várias de suas histórias adaptadas em filmes interessantes como “O Monstro do Mar” (53), “Fahrenheit 451” (66) e “O Homem Ilustrado” (69).

“Veio do Espaço” / "A Ameaça Que Veio do Espaço" (It Came From Outer Space, Estados Unidos, 1953) # 451 – data: 25/07/07
www.bocadoinferno.com.br / www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 26/07/07)

Veio do Espaço / A Ameaça Que Veio do Espaço (It Came From Outer Space, Estados Unidos, 1953). Universal. Preto e Branco. Duração: 81 minutos. Direção de Jack Arnold. Roteiro de Harry Essex, baseado na história “The Meteor”, de Ray Bradbury. Produção de William Alland. Fotografia de Clifford Stine. Música de Irving Gertz e Henry Mancini. Edição de Paul Weatherwax. Direção de Arte de Robert Boyle e Ruby R. Levitt. Efeitos Especiais de Roswell A. Hoffman e David S. Horsley. Elenco: Richard Carlson (John Putnam), Barbara Rush (Ellen Fields), Charles Drake (Xerife Matt Warren), Joe Sawyer (Frank Daylon), Russell Johnson (George).

Os Mensageiros (The Messengers, 2007)


A “Ghost House Pictures” é uma produtora que tem entre seus proprietários o cineasta Sam Raimi, mais conhecido pelas novas gerações por causa da série de filmes do “Homem-Aranha”, e pelos apreciadores do cinema de horror, graças ao sangrento e indispensável “The Evil Dead” (1982). Porém, sua empresa tem sido responsável por alguns trabalhos muito fracos como “O Pesadelo” (Boogeyman, 2005), que incrivelmente tem até uma sequência anunciada, e “Os Mensageiros” (The Messengers), que tem previsão de estréia nos cinemas brasileiros em 14/09/07 (Imagem Filmes), e que se tratam de filmes muito distantes em termos de violência e ousadia quando lembramos do cultuado filme que deu início à carreira de Sam Raimi e que eternizou o carismático ator Bruce Campbell na memória dos fãs.

Uma família de Chicago formada pelo pai Roy Solomon (Dylan McDermott), a esposa Denise (Penelope Ann Miller), a filha adolescente Jessica (Kristen Stewart) e o pequeno Ben (interpretado pelos irmãos gêmeos Evan e Theodore Turner), se muda para uma casa de campo em Dakota do Norte para recomeçar a vida após a perda do emprego do pai e do acidente de carro que fez com que o caçula perdesse a capacidade de falar (Jessica estava dirigindo alcoolizada). Lá chegando, o endividado Roy recebe a incômoda visita de Colby Price (William B. Davies, o eterno “canceroso” da série de TV “Arquivo X”), que representa uma empresa imobiliária, e também conhece o misterioso John Burwell (John Corbett), que surge do nada e passa a ajudar o novo fazendeiro na plantação e colheita de girassol.
Porém, o foco principal é direcionado para Jessica, que enfrenta problemas de adaptação ao novo lar, no meio do mato, além de ter visões e experiências desagradáveis com fantasmas atormentados que habitam o local e que escondem um segredo terrível do passado da casa, com uma tragédia envolvendo os moradores anteriores.

Uma definição rápida e objetiva que vem à mente logo depois de assistir “Os Mensageiros” é que se trata de apenas mais um filme “convencional”, igual a tantos outros produzidos a todo momento. Lembra muito o enredo de “Garganta do Diabo” (Cold Creek Manor, 2003), e talvez o único pequeno diferencial (mais pelo lado da curiosidade) esteja na presença dos irmãos Oxide Pang Chun e Danny Pang na direção. Eles, que nasceram em Hong Kong e são os mesmos criadores da franquia “The Eye” (Gin Gwai), além do interessante “Assombração” (Re-Cycle / Gwai Wik). Ou seja, temos novamente a incursão de cineastas orientais (especializados em histórias de espíritos revoltados), em filmes americanos, algo que também está se tornando comum (veja como exemplo a franquia “O Grito” ou “The Grudge”, da próprio estúdio “Ghost House”, que escalou o japonês Takashi Shimizu para a direção).
Em “Os Mensageiros” temos a mesma e cansativa história de fantasmas perturbados em busca de vingança, o vilão punido por seus crimes, e um desfecho insuportável de tão conveniente, com tudo se encaixando perfeitamente, numa idéia que nos remete àqueles filmes com finais do tipo “... e todos viveram felizes para sempre...”. Não há sangue nem violência, apenas uma história trivial com cenas discretas de suspense envolvendo aparições sinistras de fantasmas (que não surtem mais efeito). O filme não tem potencial para exibição nos cinemas, e poderia apenas ser distribuído no mercado de vídeo, mas ao contrário, os executivos que definem o tratamento que o Horror deve ter no Brasil, preferem boicotar “O Retorno dos Malditos” (The Hills Have Eyes 2), que apesar da história banal, tem mortes violentas para todos os lados, e “O Albergue 2” (The Hostel 2), cancelando sumariamente suas exibições nas telas grandes, optando apenas pelo lançamento diretamente em DVD.

“Os Mensageiros” (The Messengers, Estados Unidos / Canadá, 2007) # 450 – data: 20/07/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/07/07)

O Homem Invisível (The Invisible Man, 1933)




“Repentinamente eu imaginei o poder que possuía, o poder para ordenar, para fazer o mundo rastejar aos meus pés”

O escritor inglês H. G. Wells (1866/1946) foi o autor de uma infinidade de livros de Ficção Científica e Horror que além de se tornarem muito conhecidos e cultuados, serviram de inspiração para a produção de inúmeros filmes. Obras como “A Guerra dos Mundos”, “A Ilha do Dr. Moreau”, “A Máquina do Tempo”, “Os Primeiros Homens na Lua”, “O Alimento dos Deuses”, tiveram várias versões adaptadas para o cinema. O Homem Invisível” (The Invisible Man, 1933) é outro exemplo de filme baseado em um livro homônimo de Wells. A direção é de James Whale (1896/1957), o mesmo cineasta de clássicos como “Frankenstein” (31) e a continuação “A Noiva de Frankenstein” (35), a produção é do famoso estúdio “Universal”, e o elenco é liderado pelo ator inglês Claude Rains (1889/1967), de filmes como “O Lobisomem” (41), “O Fantasma da Ópera” (43), e “O Mundo Perdido” (60). Aliás, Rains ganhou o papel após o diretor James Whale descartar o grande Boris Karloff, alegando que queria um ator com uma voz mais “intelectual”, tanto que seu rosto praticamente não aparece no filme e sua voz passou a ser reconhecida pelo público.
O filme ajudou a imortalizar o “cientista louco” que se transformou em um “homem invisível” como mais um personagem marcante no imaginário popular, entrando para a galeria dos vilões famosos do cinema fantástico, sendo visto numa grande quantidade de filmes, ou inspirando outros personagens similares. Basta lembrar rapidamente de filmes recentes de orçamentos milionários que abordaram o tema como “A Liga Extraordinária” (2003), onde o cientista transparente Rodney Skinner (feito por Tony Curran) havia sido convocado para integrar uma liga formada apenas por pessoas com dons diferenciados que teriam um objetivo especial, e “Quarteto Fantástico” (2005), sendo que nesse caso temos uma “mulher invisível” (a belíssima Jessica Alba).
 
Em “O Homem Invisível”, o Dr. Jack Griffin (Claude Rains) é um cientista que está obcecado em ganhar fama e respeito no meio científico, e consegue criar uma fórmula química que testada em si mesmo, transformou-o em invisível. Desesperado em encontrar um antídoto e poder voltar ao normal, controlando os efeitos do experimento, ele se refugia num hotel vagabundo numa pequena cidade do interior, tentando trabalhar sem interferência externa. Porém, após ser constantemente importunado, e somando-se ao fato da droga experimental ter afetado significativamente sua mente evidenciando sinais de psicopatia, o cientista decide se vingar do mundo utilizando a vantagem da invisibilidade para aterrorizar e instaurar um pânico geral nas pessoas, com a ocorrência de assassinatos e acidentes, onde nem mesmo a presença acolhedora da bela noiva Flora (Gloria Stuart), filha de seu chefe, Dr. Cranley (Henry Travers), consegue convencê-lo a parar com os crimes e ideias mirabolantes de poder.
Ele tenta se unir ao antigo parceiro de trabalho, Dr. Arthur Kemp (William Harrigan), solicitando sua ajuda para superar as dificuldades geradas por ser invisível, pois sua nova condição de um homem fora do comum também trouxe obstáculos a serem enfrentados como o fato de precisar aguardar um certo tempo até os alimentos serem digeridos e tornarem-se invisíveis, ou evitar tomar chuva porque a água poderia ser vista nos cabelos molhados ou sobre os ombros, ou ainda a poluição poderia denunciar uma silhueta preta, um nevoeiro poderia transformá-lo numa bolha visível, as unhas das mãos e pés teriam que ser higienizadas a todo momento para impedir que a sujeira possa ser vista, etc. Mas, assustado com as ideias criminosas de um cientista invisível com a mente perturbada, o Dr. Kemp tenta denunciá-lo à polícia e o Inspetor Lane (Donald Stuart) convoca um batalhão de policiais para tentar capturá-lo e livrar o mundo de sua ameaça.

“Eu acho que irei iniciar um reino de terror”

O filme foi lançado no Brasil em VHS pela “Continental” e também foi distribuído no formato DVD pela “Universal”. Tem apenas 71 minutos de duração, a fotografia é em preto e branco e os efeitos especiais de invisibilidade do cientista são incrivelmente bem feitos, tendo em vista a época da produção, no início da década de 1930. A história não perde tempo em grandes explicações, e o filme já começa com o cientista coberto por bandagens, roupas grossas e óculos escuros para esconder o fato de ser invisível. Ou seja, ele já se transformou num monstro após servir de cobaia para suas próprias experiências. Sua mente inicia um processo crescente de deterioração, ficando confuso e atormentado com os acontecimentos, e logo ele já é um criminoso caçado pela sociedade. É extremamente interessante como o protagonista passa rapidamente de um homem da ciência à procura de uma descoberta que beneficie a humanidade, para um criminoso insano que somente enxerga as vantagens que teria sendo um homem invisível, cometendo assassinatos impunemente, roubando bancos e causando acidentes trágicos. Essa ideia é como uma espécie de aviso de H. G. Wells alertando sobre os perigos das descobertas científicas.
Curiosamente, temos vários momentos hilários na sequência passada no hotel, graças à performance da atriz veterana Una O’Connor (que faz o papel da Sra. Jenny Hall, proprietária da pousada) e seus característicos gritos agudos, os quais seriam posteriormente também ouvidos dois anos depois em “A Noiva de Frankenstein”, quando ela encontra a famosa criatura formada de pedaços de cadáveres, e presenteia o espectador com seus cômicos gritos estridentes. Outra curiosidade que sempre é comentada é o incrível vacilo que os realizadores de “O Homem Invisível” cometeram numa cena de grande importância para a história, quando o cientista invisível caminha pela neve deixando suas pegadas denunciadoras no caminho, porém o rastro não tem o formato de um pé humano, apenas de um sapato, desconsiderando o óbvio fato que ele deveria estar descalço.  
A popularidade alcançada por “O Homem Invisível” despertou a atenção da “Universal” para a produção de outros cinco filmes dentro do mesmo universo ficcional. Vieram então “A Volta do Homem Invisível” (The Invisible Man Returns, 40), de Joe May e roteiro de Curt Siodmak, estrelando o ícone Vincent Price em mais um de seus inúmeros papéis de vilão; “The Invisible Woman” (40), também escrito por Siodmak, com o cientista interpretado por John Barrymore transformando a atriz Virginia Bruce em invisível através de uma máquina; “Invisible Agent” (42), novamente com roteiro de Siodmak e com Peter Lorre; “The Invisible Man’s Revenge” (44), escrito por Bertram Milhauser, e finalmente a comédia “Abbott and Costello Meet the Invisible Man” (51). Vincent Price também fez uma participação especial e super rápida emprestando sua voz para o homem invisível na cena final da comédia “Abbott e Costello Encontram Frankenstein” (48).
Na televisão, as duas principais séries que abordaram o tema são produções americanas. “The Invisible Man” (1975/76), da NBC, com David McCallum sendo um agente invisível do governo americano que destrói a fórmula química para que os militares não fizessem um uso indevido dela, e “Gemini Man” (76), com Ben Murphy se transformando em invisível graças a uma modificação nas moléculas do DNA após um acidente que explodiu um laboratório secreto do governo, sendo que ele tem a vantagem de controlar o efeito, revertendo o processo sempre que desejar com o auxílio de um instrumento que carrega preso no pulso.
Além das cultuadas produções da “Universal” e das populares séries de TV, a filmografia que utiliza as idéias de Wells e seu “homem invisível” é imensa, com muitos outros filmes, mas nada significativo o suficiente para merecer alguma citação especial.           

O Homem Invisível” (The Invisible Man, Estados Unidos, 1933) # 449 – data: 03/07/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 04/07/07)

O Homem Invisível (The Invisible Man, Estados Unidos, 1933). Universal. Preto e Branco. Duração: 71 minutos. Direção de James Whale. Roteiro de R. C. Sheriff e Philip Wylie, baseado em livro de Herbert George Wells. Produção de Carl Laemmle Jr.. Fotografia de Arthur Edeson. Direção de Arte de Charles D. Hall. Efeitos Especiais de John P. Fulton. Elenco: Claude Rains (Dr. Jack Griffin), Gloria Stuart (Flora Cranley), William Harrigan (Dr. Arthur Kemp), Donald Stuart (Inspetor Lane), Henry Travers (Dr. Cranley), Forrester Harvey (Herbert Hall). 

Era dos Mortos (Brasil, 2007)


A Era dos seres humanos chegou ao fim

A temática dos mortos-vivos sempre esteve em evidência no cinema de horror, com filmes sendo produzidos de forma constante. Parece que a idéia, mesmo explorada à exaustão, continua despertando o interesse do público e a atenção de cineastas. “Era dos Mortos” é uma produção independente nacional (do interior de Minas Gerais), dirigida por Rodrigo Brandão e que conta novamente uma história apocalíptica com o caos se espalhando entre a humanidade depois que os mortos voltam a caminhar entre os vivos, disseminando uma contaminação gigantesca de consequências devastadoras.

O roteiro é super simples, sem a intenção de investir em explicações. O que importa mesmo é que o mundo foi tomado pelos zumbis e “a era dos seres humanos está chegando ao fim”, conforme anuncia uma tagline de divulgação. Sobre a sinopse, nada melhor do que reproduzir o breve texto escrito na contra capa do DVD: “Era dos Mortos segue dentro de uma epidemia de zumbis, a trajetória de um cara e das pessoas que ele encontra pelo caminho. Só que eles não formam um grupo de sobrevivência e se ajudam, na verdade acontece o contrário.

O filme é uma média metragem de 50 minutos de duração, e o DVD traz como um dos destaques entre os diversos materiais extras um interessante documentário sobre os bastidores da produção, com vários depoimentos do diretor Rodrigo Brandão, do ator Weiller Rodrigues, do técnico em maquiagem Filipe Vidal, entre outros, onde revelam as dificuldades em filmar as cenas externas devido ao movimento das pessoas e carros, curiosidades sobre a concepção das maquiagens dos mortos-vivos, os efeitos para a simulação de sangue e tripas, as dificuldades em reunir os atores para as filmagens, etc. Ainda na parte dos extras, temos uma galeria de fotos, teaser, trailer, e o ótimo videoclip “Infected”, da banda de metal extremo “DxOxRx” (Disorder of Rage), de Mogi das Cruzes/SP.
Mas o melhor de tudo e que merece ser enaltecido e reverenciado foi a excepcional e bem sucedida idéia original da produção de uma história em quadrinhos que conta eventos relacionados à origem de determinados personagens do filme. Ou seja, o filme é complementado por revelações da HQ, desenhada por Micael Holderbaum (Mhick), a partir de roteiro dele em parceria com o diretor Rodrigo Brandão. Três HQ´s podem ser conferidas diretamente no DVD: “Dor!”, “Coragem!” e “Loucura!”, que estão interligadas ao roteiro do filme, completando situações que são apenas sugeridas na película. Os desenhos e as histórias são ótimos e não decepcionarão os fãs de quadrinhos.
Em “Era dos Mortos” vale ressaltar alguns pontos positivos: Os poucos diálogos e todos audíveis, além da boa idéia da colocação de legendas para eventualmente auxiliar na compreensão (para um filme de mortos-vivos transformando o mundo numa tragédia caótica, bastam as imagens dos personagens caminhando num ambiente de desolação). A atmosfera obscura de uma civilização em ruínas. As maquiagens produzidas com garra e idealismo (devido à limitação dos recursos disponíveis). A grande quantidade de atores fazendo papéis de zumbis (sempre é difícil conseguir reunir muitas pessoas num projeto independente). A decisão acertada numa trilha sonora que também tem metal extremo. As cenas violentas de ataques dos mortos-vivos, não poupando ninguém (destaco a presença de uma criança zumbi). E principalmente, o pessimismo no desfecho sangrento e sem esperanças de recuperação para a humanidade (e isso nem pode mais ser considerado um “spoiler”, pois já é uma espécie de marca registrada em todos os filmes desse subgênero do cinema de horror). De negativo, não posso deixar de citar o fato da pouca ou quase inexistente presença de mulheres no elenco, e nem é necessário dizer o quanto elas são sempre imprescindíveis.
Mas, de uma forma geral, e principalmente pela fantástica idéia de unir filme e quadrinhos, “Era dos Mortos” é uma ótima recomendação para todos que apreciam e apoiam os filmes independentes de horror produzidos em nosso país. Que venham mais outros projetos similares...
Para comprar o DVD acesse: http://www.eradosmortos.com.br

“Era dos Mortos” (Brasil, 2007) # 448 – data: 24/06/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/06/07)

Farsa Diabólica (Seance on a Wet Afternoon, 1964)


A editora “NBO” lançou no Brasil com um preço popular o DVD de “Farsa Diabólica” (Seance on a Wet Afternoon, Inglaterra, 1964), de Bryan Forbes e com Richard Attenborough e Kim Stanley no elenco. Fazendo parte de uma coleção da editora chamada de “Classic Collection”, temos apenas como materiais extras uma breve sinopse e rápidas biografias do diretor Bryan Forbes e da talentosa atriz Kim Stanley.

Na história, ambientada em Londres, Myra Savage (Kim Stanley) é uma mulher que afirma ter poderes mediúnicos e organiza sessões espíritas. Ela é casada com Billy (Richard Attenborough), e o casal é obrigado a viver com a incômoda lembrança da morte de seu filho Arthur ao nascer. Para ganhar dinheiro e fama como médium profissional, Myra manipula seu marido para juntos organizarem um plano de seqüestro de uma pequena menina, Amanda (Judith Donner), filha de um rico empresário, Sr. Clayton (Mark Eden) e sua esposa (interpretada por Nanette Newman). Com a garota em seu poder, ela planeja fazer uma sessão espírita onde revelaria informações sobre o paradeiro de Amanda para a família. Porém, Myra tem que também se livrar de uma investigação policial, ao mesmo tempo em que apresenta sinais de psicopatia em seus atos, colocando em risco o plano perfeito.

Com fotografia em preto e branco e roteiro do próprio Bryan Forbes, baseado em livro de Mark McShane, “Farsa Diabólica” é aquele típico filme de suspense com uma narrativa pausada, onde os acontecimentos são apresentados lentamente despertando uma atenção crescente no espectador em descobrir os próximos passos da história. Não é recomendável para quem espera ação, correrias ou reviravoltas constantes. Ao contrário, é indicado para aqueles apreciadores de um cinema que explora um clima de suspense psicológico, onde somos convidados a desvendar a mente da protagonista, magnificamente interpretada por Kim Stanley, que manipula com habilidade a fraqueza de seu marido que faz o trabalho “sujo”, papel também feito com maestria por Richard Attenborough. O desafio é descobrirmos se Myra tem realmente a capacidade de se comunicar com espíritos, ou se ela é farsante, ou apenas uma mulher comum quer ser feliz com o marido, ou se é perigosa e psicótica em sua aparente forma tranqüila de agir.

“Farsa Diabólica” (Seance on a Wet Afternoon, Inglaterra, 1964) # 447 – data: 23/06/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/06/07)