Império Submarino (1936)


Para concorrer com a audiência do público por causa do seriado “Flash Gordon”, produzido pela “Universal”, o estúdio “Republic” logo tratou de fazer o seu próprio seriado com características similares. Daí nasceu “Império Submarino” (Undersea Kingdom, 1936), uma aventura de ficção científica em 12 capítulos semanais em preto e branco. Ambos os seriados são parecidos entre si, trazendo elementos comuns em suas histórias, alterando a ambientação do espaço sideral de “Flash Gordon” para o fundo do mar, em torno da lendária civilização perdida de “Atlântida”.

Em “Império Submarino”, a ocorrência misteriosa de terremotos nos Estados Unidos está chamando a atenção do cientista e inventor Prof. Norton (C. Montague Shaw), que está sugerindo que a origem vem do fundo do mar. Ele reúne uma equipe para uma expedição viajando num submarino atômico construído com seu projeto. O grupo de exploradores é formado ainda pelo atleta e oficial da Marinha Ray Corrigan (Crash Corrigan) e por uma jornalista à procura de uma boa reportagem, Diana Compton (Lois Wilde). Completa a equipe o pequeno Billy (Lee Van Atta), filho do Prof. Norton, e que entrou no submarino escondido.
Uma vez submersos, eles são atraídos por um raio invisível e chegam ao continente perdido de Atlântida, que está protegido do oceano por um teto formado por um misterioso elemento químico. Lá, eles navegam por um mar interior e desembarcam numa terra em guerra, dividida entre dois grupos opositores: os “capas brancas”, homens liderados pelo alto sacerdote Sharad (William Farnum), e os “capas negras”, que vivem numa torre metálica na base de uma montanha, governados pelo ditador Unga Khan (Monte Blue), que deseja subir ao mundo superior e conquistar os povos da superfície à força, destruindo-os se necessário.
O grupo de viajantes, liderado pelo herói Crash Corrigan, passa a enfrentar uma série de aventuras, participando ativamente do conflito em Atlântida e tentando evitar que o tirano Unga Khan possa chegar à superfície do planeta e dominar as cidades com destruição em massa, uma vez que ele está amparado por uma tecnologia bélica que inclui robôs armados e veículos especiais de guerra, e ainda conta com a ajuda forçada do Prof. Norton (pois sua mente foi manipulada numa máquina de transformação), para criar foguetes capazes de transportar sua torre até o mundo superior.

O seriado é até divertido desde que sejam observados alguns detalhes:
Primeiro, a história é exageradamente ingênua e previsível, cheia de clichês, onde temos os “bons” e “maus” muito bem definidos. Não falta o mocinho (Crah Corrigan), o vilão (Unga Khan), o pacificador (Sharad), o cientista (Prof. Norton), a mocinha (a repórter Diana, a única mulher de todo o elenco, pois em Atlântida estranhamente não apareceu nenhuma outra), e o menino corajoso (Billy, para representar a audiência infanto-juvenil). Temos as tão tradicionais cenas de lutas corporais, perseguições a cavalo e confrontos de espadas.
Segundo, as situações absurdas e inverossímeis são muitas e acontecem durante todo o seriado, com os roteiristas apenas interessados em facilitar seu próprio trabalho, não gastando energia em explicações lógicas ou mais próximas da realidade.
Terceiro, os efeitos especiais são bastante toscos. Naquela época poderiam ser até impressionantes, mas é curioso notarmos como hoje são hilários. Porém, valem por representarem um período onde os recursos ainda eram muito limitados.
Relevando tudo isso, e ainda procurando valorizar alguns pontos positivos de um cinema fantástico produzido há 70 anos atrás, “Império Submarino” pode garantir algum entretenimento. Temos os “modernos” (para a época) equipamentos apresentados, como o submarino nuclear, o carro blindado, os robôs (chamados de “volkites” e que acabam sendo engraçados por parecem homens de lata), o avião bala, as armas atômicas, a placa refletora (uma tela precursora da televisão), a torre metálica (uma estrutura voadora similar a um foguete, repleta de equipamentos científicos que poderiam conquistar os povos da superfície), o propulsor lançador de bombas, a máquina transformadora de mentes, o campo magnético que serve como um escudo protetor da torre, os painéis e controles remotos repletos de alavancas, botões, instrumentos e luzes piscando, etc.
Curiosamente, o ator Lon Chaney Jr., que aqui interpretou o Capitão Hakur, um oficial da cavalaria dos “capas negras”, pouco tempo depois ficaria famoso pelo papel da fera no clássico “O Lobisomem” (The Wolf Man, 41), da “Universal”, além de ser muito lembrado pelos fãs como o filho do lendário ator do cinema mudo de horror Lon Chaney, e por sua participação em diversos outros filmes do gênero fantástico e western.

A “Works Editora”, especializada na distribuição de filmes antigos de horror em DVD no Brasil, lançou o seriado “O Império Submarino” em 12 capítulos divididos em 2 discos, num total de quase quatro horas de filme. No primeiro disco temos os capítulos 1 a 5: “No Fundo do Mar” (Beneath the Ocean Floor); “A Cidade Submarina” (The Undersea City); “Arena da Morte” (Arena of Death); “A Vingança dos Volkites” (Revenge of the Volkites); “Prisioneiros de Atlântida” (Prisoners of Atlantis). Já o segundo disco traz os episódios 6 a 12: “O Carro Blindado Ataca” (The Juggernaut Strikes); “A Armadilha Submarina” (The Submarine Trap); “Dentro da Torre Metálica” (Into the Metal Tower); “Morte no Ar” (Death in the Air); “Atlântida Destruída” (Atlantis Destroyed); “Morte Flamejante” (Flaming Death) e “Subida ao Mundo Superior” (Ascent to the Upperworld). Sendo que o primeiro capítulo tem 30 minutos, e todos os demais variam entre 16 e 20 minutos cada.

“O Império Submarino” (Undersea Kingdom, 1936) # 412 – data: 10/12/06 – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 11/12/06)

“O Império Submarino” (Undersea Kingdom, Estados Unidos, 1936). Republic Pictures. Preto e Branco. Direção: B. Reeves Eason e Joseph Kane. Roteiro: Oliver Drake, Maurice Geraghty, John Rathmell. Produção: Nat Levine. Elenco: Ray Corrigan, Lois Wilde, Monte Blue, William Farnum, Booth Howard, Raymond Hatton, C. Montague Shaw, Lee Van Atta, Smiley Burnette, Lon Chaney Jr.

Hellraiser - O Retorno dos Mortos (2005)


“Não pense nem por um segundo que você não está em perigo!” – Pinhead

Em Outubro de 2005, a “Europa Filmes” lançou em DVD no Brasil o sétimo filme da franquia “Hellraiser”, com o subtítulo de “O Retorno dos Mortos” (“Deader” no original, que significa algo como “Zumbi”). Esse episódio tem direção de Rick Bota (que também fez as partes 6 e 8), o roteiro é de Neal Marshall Stevens e Tim Day, e traz novamente Doug Bradley no papel que o imortalizou na galeria dos monstros modernos do Horror, o cenobita “Pinhead”, além da bela Kari Wuhrer (de “Malditas Aranhas!”), como uma jornalista investigativa que se infiltra num submundo perigoso, cercado de eventos sobrenaturais.

Ela é Amy Klein, jornalista bem sucedida na Inglaterra, conhecida por trabalhar em matérias onde enfrenta situações de risco como uma investigação com um grupo de jovens viciados em crack. Seu chefe Charles (Simon Kunz), convida-a a viajar para Bucareste, a capital da Romênia, para investigar a origem de uma fita de vídeo VHS enviada à redação do jornal por Marla (Georgina Rylance), que mostra cenas de uma seita de jovens liderada por Winter (Paul Rhys). Eles praticam o suicídio e retornam misteriosamente da morte. A repórter aceita o desafio e entra em contato com um universo de horror que lhe traz lembranças de um passado traumatizante na infância, e descobre segredos que abrem portas para uma dimensão de dor, de onde pode não retornar mais.

Entre as várias e enormes franquias do cinema de horror (“Halloween”, “Sexta-Feira 13”, “A Hora do Pesadelo”, “Grito de Horror”, “Brinquedo Assassino”, etc), a que mais aprecio é “Hellraiser”, e os motivos são basicamente por causa do escritor Clive Barker (autor da história original e criador dos personagens), das fortes cenas de violência, com torturas sangrentas com ganchos e correntes rasgando a carne das vítimas, e pelos cenobitas liderados por Pinhead, seres infernais que habitam uma dimensão paralela que venera a dor sem limites e o sofrimento eterno. E os quatro primeiros filmes da série formam um ciclo interessante que procura amarrar toda a história, revelando detalhes desde a origem da misteriosa caixa que permite entrar nessa dimensão caótica até quem são realmente os cenobitas.
Em “O Retorno dos Mortos”, parece que não existe mais potencial a ser explorado nesse universo ficcional, e os executivos da indústria de cinema deixam evidente a intenção em insistir na franquia para faturar com a marca já consagrada. Esse sétimo episódio é confuso, numa mistura exagerada de ilusão e realidade e os interesses maiores ficam resumidos quase que exclusivamente à presença maligna e sempre imponente de Pinhead, que ainda assim aparece pouco em cena (sua primeira aparição só acontece com vinte e cinco minutos de projeção), e pelas cenas sangrentas, que são uma característica da série e que aqui continuam, apesar de menor quantidade quando comparado aos filmes 2 e 3, por exemplo. Temos cabeça estourada à bala, corpo despedaçado por correntes, facadas e sangue espalhado para todos os lados. Fora isso, é apenas outro filme convencional em meio a tantos que são produzidos anualmente, do qual esperava-se mais por se tratar de um episódio de “Hellraiser”. E é justamente nesse ponto a falha maior do filme, pois ele originalmente não foi escrito para fazer parte da mitologia da série, sendo depois adaptado pelos roteiristas através de uma relação de parentesco entre o líder da seita Winter e o fabricante de brinquedos que construiu a misteriosa caixa que permite abrir as portas do inferno.

“Hellraiser” (1987) é o primeiro filme de uma extensa franquia com mais sete episódios: “Hellbound – Hellraiser II” (88), de Tony Randel; “Hellraiser III – Hell on Earth” (92), de Anthony Hickox; “Hellraiser IV – Bloodline” (96), de Alan Smithee (Kevin Yagher) e Joe Chappelle (não creditado); “Hellraiser V – Inferno” (2000), de Scott Derrickson; e os últimos três com direção de Rick Bota, “Hellraiser VI – Hellseeker” (2002), “Hellraiser VII – Deader” e “Hellraiser VIII – Hellworld” (ambos de 2005). Todos os filmes foram estrelados por Doug Bradley como o líder dos cenobitas “Pinhead”.

“Hellraiser: O Retorno dos Mortos” (Hellraiser: Deader, Estados Unidos / Romênia, 2005) # 411 – data: 02/12/06 – avaliação: 5 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 05/12/06)

Horror Hotel (Horror Hotel / The City of the Dead, Inglaterra, 1960)


O filme tem Christopher Lee, fotografia em preto e branco, produção inglesa de 1960, e uma constante atmosfera sinistra numa história de bruxaria. A combinação desses elementos só poderia ter como resultado mais um item indispensável para os apreciadores do cinema de horror: “Horror Hotel” (The City of the Dead), dirigido por John Llwellyn Moxey e com roteiro de George Baxt, a partir de uma história de Milton Subotsky.

O prólogo é ambientado em 3 de Março de 1692, na pequena cidade americana de Whitewood, Massachusetts, onde uma feiticeira, Elizabeth Selwyn (Patricia Jessel), é condenada a morrer dolorosamente na fogueira, queimando viva na estaca e sentindo sua carne crepitar no fogo purificador. Seu cúmplice na magia negra, Jethrow Keane (Valentine Dyall), consegue escapar da sentença dos inquisidores apenas alegando inocência, mas secretamente ele revela sua identidade ao solicitar a ajuda de Lucifer para salvar a alma da bruxa.
A ação passa para centenas de anos depois, onde o sinistro historiador e professor Alan Driscoll (Christopher Lee) está ministrando uma palestra sobre bruxaria, e consegue convencer uma de suas alunas, Nan Barlow (Venetia Stevenson), a utilizar suas férias numa viagem de pesquisas sobre o assunto, sugerindo para ela ir até a cidade de Whitewood, e se hospedar no único hotel existente, o “Ravens Inn”, de propriedade da misteriosa Sra. Newless (também interpretada por Patrícia Jessel).
Uma vez hospedada na cidade, a jovem estudante decide explorar o local e ao tentar visitar uma igreja, recebe um aviso assustador de um padre cego, Reverendo Russell (Norman Macowan) para partir imediatamente, pois sua vida corre perigo. Após ela desaparecer misteriosamente, a neta do padre, Patrícia Russell (Betta St. John), que administrava um antiquário, decide procurar o irmão da moça, o professor de ciências Richard Barlow (Dennis Lotis), que juntamente com o namorado de Nan, Bill Maitland (Tom Naylor), partem para a cidade.
Lá, eles descobrem as atividades de uma seita de satanistas que fazem sacrifícios de jovens garotas em duas datas por ano, em eventos conhecidos como “Candleman Eve” e “Witch Sabbath”, onde eles ridicularizam os rituais da igreja e reforçam o pacto com o demônio para se manterem eternos.

A seqüência inicial de “Horror Hotel” é certamente um dos destaques do filme, reproduzindo uma cena comum no século XVII, onde mulheres eram impiedosamente queimadas vivas na estaca, acusadas de bruxaria por fanáticos religiosos. Na época, a maioria absoluta era formada por pessoas inocentes que sofriam na carne a dor do fogo imposta por inquisidores equivocados. Mas, no filme a vítima revelou sua identidade e jurou vingança com a ajuda do demônio.
Outro destaque também é o incessante clima sinistro que envolve a pequena cidade de Whitewood, sempre coberta por uma névoa fantasmagórica, parecendo ocultar um mal opressor, somando-se aos misteriosos habitantes encarando de forma hostil os forasteiros que chegam.
Christopher Lee está jovem (na época tinha 38 anos), em um de seus primeiros filmes depois de ser descoberto no final da década de 1950 como um ator de grande potencial e carisma para personagens tiranos e vilões, fazendo aqui um enigmático historiador de ocultismo. Ele que ficou eternamente associado ao papel do lendário conde vampiro “Drácula”, numa infinidade de filmes, principalmente da “Hammer”.

“Horror Hotel” é um filme com fotografia em preto e branco, curto (apenas 76 minutos), tem Christopher Lee na liderança do elenco e foi a primeira produção do estúdio inglês “Amicus”, que na época tinha o nome de “Vulcan Productions”. Criado por Milton Subotsky e Max J. Rosenberg, a “Amicus” tornou-se a maior rival da poderosa e cultuada produtora “Hammer”, fazendo filmes como “Grite, Grite Outra Vez” (Scream, Scream Again, 69), “O Soro Maldito” (I, Monster, 72), “A Fera Deve Morrer” (The Beast Must Die, 74), e as antologias de contos “As Torturas do Dr. Diabolo” (Torture Garden, 67), “A Casa Que Pingava Sangue” (The House That Dripped Blood, 70), “Contos do Além (Tales From the Crypt, 72), “Asilo Sinistro” (Asylum, 72), “A Cripta dos Sonhos” (Vault of Horror, 73), “Vozes do Além” (From Beyond the Grave, 73), entre outros.
Na Inglaterra, o filme é conhecido pelo nome original “The City of the Dead”, e nos Estados Unidos ele recebeu o título alternativo de “Horror Hotel”. E para a satisfação dos colecionadores e fãs de filmes antigos, essa preciosidade foi lançada em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, sem materiais extras.

“Horror Hotel” (Horror Hotel / The City of the Dead, Inglaterra, 1960) # 410 – data: 12/11/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 13/11/06)

O Lobisomem no Quarto das Garotas (1962)



Aviso! Esse filme é apenas para pessoas com nervos de aço!” – frase de efeito, reproduzida do trailer

O misterioso Dr. Julian Olcott (o austríaco Carl Schell) é um médico com um passado misterioso que é contratado para trabalhar como professor de ciências numa escola reformatória somente para moças. Porém, ele não imaginava os problemas que iriam surgir e abalar a reputação da instituição quando durante certa noite de lua cheia, uma das garotas, Mary Smith (Mary McNeeran), que mantinha um romance secreto com um outro professor, Sir. Alfred Whiteman (Maurice Marsac), é encontrada morta com os olhos arregalados de pavor e com o pescoço violentamente dilacerado. A investigação policial sugere um ataque de lobo, já que esses animais habitam a floresta que circunda a escola, enquanto uma amiga da vítima, a jovem Priscilla (a polonesa Barbara Lass), alega que ela não foi assassinada por animais, despertando o medo entre as estudantes e criando uma lista de suspeitos na escola.

Confesso que depois de ver o apelativo nome do filme, “O Lobisomem no Quarto das Garotas” (Lycanthropus / Werewolf in a Girl´s Dormitory, 1962), imaginei se tratar de uma bomba daquelas totalmente descartáveis. Porém, para minha surpresa, o filme, com todas as suas falhas, pode ainda assim ser classificado naquele grupo de bagaceiras divertidas, procuradas apenas pelos colecionadores de filmes que sejam os mais bizarros e desconhecidos possíveis, ou seja, com produção paupérrima, elenco amador, roteiro despretensioso e efeitos toscos (nesse caso, a maquiagem do lobisomem).
Com direção do italiano Paolo Heusch (creditado com o pseudônimo de Richard Benson), o roteiro de Ernesto Gastaldi (sob o pseudônimo de Julian Berry), procura contar uma história de mistério, assassinatos e suspense, tentando estabelecer uma interação com o público para descobrir a identidade do autor dos crimes. Porém, falha em não explorar devidamente uma investigação policial (a participação do detetive é inexpressiva), deixando esse trabalho praticamente nas mãos dos próprios suspeitos, cuja lista vai desde professor recém chegado à escola, Julian Olcott, que no passado trabalhou na pesquisa de um antídoto para reverter o processo de transformação do lobisomem, seu companheiro de ofício, o adúltero Sir. Alfred Whiteman, passando pelo respeitável diretor do reformatório, Sr. Swift (o polonês Curt Lowens), e indo até o esquisito zelador Walter Jeoffrey (Luciano Pigozzi, creditado como Alan Collins), e o silencioso porteiro Tommy (Joseph Mercer).
O roteiro superficial também não explora as possíveis origens e motivos que levaram um homem a se transformar numa fera assassina, passando a idéia que um lobisomem não seria algo extraordinário, pelo contrário, seria algo comum que faz parte do cotidiano e que não surpreenderia ninguém (fato comprovado quando o assunto é abordado pela primeira vez, com uma naturalidade que deveria ser inexistente). Outro ponto fraco na história é que um espectador um pouco mais atento logo desconfia qual a identidade da fera, tornando o desfecho previsível. Mas, a despeito disso tudo, o filme é até recomendável a título de curiosidade e principalmente por apresentar todas as características de uma produção “B” despretensiosa. Eu prefiro bagaceiras como essa em vez de bombas dispensáveis como “Amaldiçoados” (Cursed, 2005), de Wes Craven, um lixo produzido com muito dinheiro e uma tecnologia moderna à disposição, mas que não evitaram o péssimo resultado final.

“O Lobisomem no Quarto das Garotas” foi filmado em preto e branco, tem apenas 83 minutos, e foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD o filme “Criatura Sangrenta” (Blood Creature / Terror is a Man, 1959), com história baseada em “A Ilha do Dr. Moreau”, de H. G. Wells (não creditado).

“O Lobisomem no Quarto das Garotas” (Lycanthropus / Werewolf in a Girl´s Dormitory, Itália / Áustria, 1962) # 409 – data: 05/11/06 – avaliação: 5,5 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/11/06)

A Besta da Caverna Assombrada (1959)


Uma quadrilha de assaltantes formada pelo líder Alex Ward (Frank Wolff), sua amante Gypsy Boulet (Sheila Carol), e dois comparsas, Marty Jones (Richard Sinatra) e Byron Smith (Wally Campo), planejam roubar ouro de um banco de uma pequena cidade no Estado americano de Dakota. Para isso, eles se hospedam numa estação de esqui no meio das montanhas geladas e carregadas de neve. O plano ainda consiste na explosão de uma mina com uma bomba para desviar a atenção das pessoas da região enquanto roubam barras de ouro do banco da cidade.
Fugindo para uma cabana isolada nas montanhas, de propriedade do instrutor de esqui Gil Jackson (Michael Forest), o grupo aguarda um resgate de avião para o Canadá, porém eles não imaginavam que a explosão na caverna despertou a ira de uma criatura monstruosa parecida com uma aranha, repleta de tentáculos peludos e que se alimenta do sangue de suas vítimas, que ficam imobilizadas e presas em teias. Agora, além de enfrentar problemas de relacionamento entre eles (a única mulher do bando está querendo abandonar a carreira de crimes e inevitavelmente se apaixona pelo “garoto natureza” Gil), e de tentar colocar em prática o plano de fuga com o ouro roubado, eles terão também que lutar por suas vidas contra a fúria da “besta da caverna assombrada”.

A Besta da Caverna Assombrada” (Beast From the Haunted Cave, 1959) é mais uma bagaceira de orçamento paupérrimo da nostálgica década de 50 do século passado, produzido pelos irmãos Corman (Gene e Roger, este último mais conhecido como o “Rei dos Filmes B”), e com direção de Monte Hellman a partir de um roteiro de Charles B. Griffith. Com pouco mais de 70 minutos de duração, o filme tem um nome chamativo, mas na verdade a história é bem superficial e decepcionante não despertando grande interesse, servindo praticamente apenas como um pretexto para mostrar os ataques de um monstro assassino (interpretado por Christopher Robinson), que habitava a escuridão de uma caverna.
As cenas com a criatura são poucas e quando ela aparece, suas ações são muito rápidas e de visualização prejudicada pela fotografia escura demais, exceto pela seqüência final dentro de seu próprio ambiente, onde ocorre um sangrento confronto entre o monstro vampiro e os assaltantes de banco, com um desfecho tradicional e totalmente previsível.
Vale conhecer como curiosidade, por se tratar de mais uma daquelas tranqueiras produzidas em preto e branco há quase meio século atrás, com produção executiva do cultuado Roger Corman, e pela fera absurda do título.

“A Besta da Caverna Assombrada” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD o divertido “O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The Brain That Wouldn´t Die, 1962), dirigido por Joseph Green e com Jason Evers, Virginia Leith e Leslie Daniels.

“A Besta da Caverna Assombrada” (Beast From the Haunted Cave, Estados Unidos, 1959) # 407 – data: 29/10/06 – avaliação: 5 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/10/06)

O Sacrifício (2006)


Uma tendência notória na indústria de cinema é a produção de refilmagens. E o clássico “O Homem de Palha” (The Wicker Man, 1973), dirigido por Robin Hardy a partir do roteiro de Anthony Shaffer, e com Christopher Lee, Edward Woodward e Ingrid Pitt, não escapou dessa tendência e serviu de inspiração para um filme de 2006, distribuído no Brasil pela “California Filmes”, recebendo o péssimo nome “O Sacrifício” (o título já é uma espécie de “spoiler”), e que estreou nos cinemas em 27/10/06, com direção e roteiro de Neil LaBute, e com Nicolas Cage e Ellen Burstyn.

Um policial, Edward Malus (Nicolas Cage), recebe uma carta da noiva Willow (a australiana Kate Beahan, que esteve numa ponta em “Dominação”), que o havia abandonado sem explicações anos antes, solicitando sua ajuda para encontrar a filha desaparecida, a pequena Rowan (Erika Shaye-Gair). Ele decide atender o chamado e viaja de hidro avião para o local onde ela vive, uma ilha particular isolada na costa dos Estados Unidos, um lugar misterioso que é dominado por uma sociedade matriarcal que pratica estranhos cultos religiosos pagãos, e que tem a liderança da poderosa Lady Summersisle (Ellen Burstyn, de “O Exorcista”). Lá chegando, o oficial da polícia encontra muita dificuldade na investigação à procura da menina, enfrentando a falta de cooperação dos moradores e descobrindo perigosos mistérios que envolvem a ilha.

Para quem não conhece o original “O Homem de Palha”, assistir a refilmagem “O Sacrifício” até pode garantir alguns momentos de diversão, uma vez que o filme possui pontos ao seu favor que despertam interesse, principalmente o ótimo elenco liderado por Nicolas Cage, um ator consagrado, e por Ellen Burstyn, atriz veterana igualmente renomada, além da presença da beleza escultural de Leelee Sobieski (de “Perseguição” e “A Casa de Vidro”). Entretanto, se fizermos uma comparação com o filme de 1973, a refilmagem acaba sendo inevitavelmente inferior, apesar de tentar manter-se fiel em algumas seqüências.
O diretor e roteirista Neil LaBute optou por alterações significativas e uma liberdade de criação excessiva como a decisão de incluir um prólogo e epílogo desnecessários, a presença de abelhas como parte importante da trama, escolher uma mulher como líder dos aldeões (no original, o papel ficou para Christopher Lee, numa interpretação magistral como de costume), criar um grau de parentesco entre o policial e a mulher que o chamou para investigar o sumiço da filha, e principalmente contar uma história muito menos ousada que o original sob o ponto de vista do sexo e rituais pagãos. O filme de Robin Hardy, produzido 33 anos antes, se destacou justamente por explorar questões sexuais sem falsos moralismos, mostrando de forma despudorada casais se relacionando sexualmente no meio das ruas à noite, e enfatizando os rituais obscuros com mulheres dançando nuas, além dos ensinamentos para as crianças nas escolas, evidenciando a importância do pênis como símbolo de fertilidade. E um detalhe importante é que quem já conhece o original, conseqüentemente sabe por antecipação o resultado da investigação do policial, a conspiração envolvendo a garota desaparecida e a revelação do mistério sobre os habitantes da ilha e suas crenças exóticas, e isso certamente amenizará boa parte do impacto do memorável desfecho com o “Homem de Palha”.
Curiosamente, o diretor LaBute, numa atitude elogiável, homenageou o músico da banda de punk rock “Ramones”, Johnny Ramone, que faleceu vítima de câncer, colocando uma dedicatória nos créditos finais.

“O Sacrifício” (The Wicker Man, Estados Unidos / Alemanha, 2006) # 406 – data: 29/10/06 – avaliação: 5,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/10/06)

O Ataque das Sanguessugas Gigantes (1959)


“Das escuras cavernas submersas surgem monstruosas criaturas aquáticas! Esfomeadas por vítimas humanas!”

Com produção executiva do especialista Roger Corman, produção de seu irmão Gene Corman e direção de Bernard L. Kowaski, “O Ataque das Sanguessugas Gigantes” (Attack of the Giant Leeches / Demons of the Swamp, 1959) é mais uma daquelas tranqueiras produzidas numa época de paranóia nuclear, que motivou uma infinidade de filmes explorando os efeitos nocivos da radiação sobre animais, sendo nesse caso sanguessugas que vivem num pântano, e que se tornam monstruosas e assassinas.

Um pescador, Lem Sawyer (George Cisar), encontra uma criatura estranha nadando num pântano e descarrega seu rifle tentando matá-la. Na cidade, ninguém acredita em sua história até que ocorrem misteriosos desaparecimentos, entre lês um casal de amantes formado pela bela Liz Walker (Yvette Vickers) e Cal Moulton (Michael Emmet), apesar de o marido traído da moça, o obeso Dave Walker (Bruno VeSota), ser acusado de suas mortes. A partir daí, um guarda florestal, Steve Benton (Ken Clark), inicia uma investigação sobre o paradeiro das prováveis criaturas assassinas, percorrendo todo o pântano e explorando em cavernas submersas, contando com a ajuda de sua noiva Nan (Jan Shepard) e do pai dela, o médico Dr. Greyson (Tyler McVey), e também enfrentando a desconfiança do xerife local Kovis (Gene Roth).

O filme tem todos aqueles elementos e clichês característicos do cinema bagaceiro dos anos 50 e 60 do século passado, ou seja, o enorme título sonoro e sensacionalista (“O Ataque das Sanguessugas Gigantes”); a produção paupérrima com monstros toscos (atores vestindo fantasias de borracha, nesse caso simulando sanguessugas mutantes de tamanho descomunal); a duração curta (aqui temos apenas 62 minutos de projeção); a fotografia em preto e branco, bastante escura para esconder as falhas da produção; o roteiro superficial (de Leo Gordon, habitual colaborador da “American International Pictures”), que explora o efeito da radiação de testes nucleares com foguetes em animais na região (aqui temos um pântano contaminado que transforma simples sanguessugas em monstros gigantes e sedentos por sangue humano); personagens arquetípicos como o sempre presente homem da ciência (o médico Dr. Grayson, responsável pelas teorias que explicam a origem das criaturas), o mocinho (o guarda florestal Steve, que combate a ameaça mortal das sanguessugas), sua noiva e par romântico (Nancy, filha do Dr. Grayson), o xerife (Kovis, bonachão e caipira), que obviamente é descrente sobre qualquer explicação fora do normal para a causa das mortes misteriosas na região; e o tradicional desfecho previsível onde sempre sabemos com muita antecedência o destino das criaturas assassinas, quem serão as vítimas e quem serão os heróis responsáveis pela eliminação da ameaça.
Mas, são justamente todos esses clichês absurdos que fazem desses filmes bagaceiros uma diversão impagável, comprovando o motivo de serem cultuados por uma legião de admiradores do cinema “trash” ao longo dos tempos. O segredo para embarcar nessas histórias absurdas com monstros ridículos é apenas relaxar e divertir-se. E é curioso notar como essa fórmula é utilizada até os dias atuais em inúmeras tranqueiras produzidas em pleno início de século 21, nos filmes abordando a temática de animais mutantes que ameaçam a humanidade, com poucas diferenças em relação ao que se fazia em meados do século anterior.

“O Ataque das Sanguessugas Gigantes” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD outro filme igualmente tosco, “A Mulher Vespa” (The Wasp Woman, 1960), com direção e produção do cultuado “Rei dos Filmes B” Roger Corman e elenco liderado por Susan Cabot, Anthony Eisley (creditado como Fred Eisley) e Barboura Morris.

“O Ataque das Sanguessugas Gigantes” (Attack of the Giant Leeches, Estados Unidos, 1959) # 404 – data: 22/10/06 – avaliação: 6 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/10/06)

A Mulher Vespa (The Wasp Woman, 1960)


“Uma rainha da beleza de dia, uma vespa rainha voraz à noite!”

O produtor e diretor americano Roger Corman é um profissional que tem seu nome eternamente gravado dentro do gênero fantástico por causa de seus inúmeros filmes de baixo orçamento, principalmente aqueles realizados entre os meados da década de 1950 até o final dos anos 60. Sua maior especialidade é a de fazer filmes com agendas apertadas, correndo contra o tempo com o mínimo de recursos disponíveis, aproveitando e reciclando cenários, demonstrando uma habilidade e talento incomum que lhe garantiu o título de “Rei dos Filmes B”, tendo sua obra cultuada por uma legião de fãs de filmes bagaceiros. Ele também é conhecido por oferecer a oportunidade do lançamento das carreiras de personalidades que se consagraram como os diretores Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Peter Bogdanovich, e os atores Jack Nicholson, Robert DeNiro e Ellen Burstyn.
Entre as muitas divertidas tranqueiras de sua filmografia como cineasta está o inusitado “A Mulher Vespa” (The Wasp Woman, 1960), cuja simples menção do nome já desperta inevitavelmente aquela curiosidade para os apreciadores de filmes exóticos e com roteiros absurdos, onde não falta o cientista louco, a mulher que ambiciona a juventude eterna e um monstro mutante assassino.

Também produzido por Corman, com fotografia em preto e branco e duração curta de aproximadamente 71 minutos, o bizarro roteiro de Leo Gordon a partir de uma história de Kinta Zertuche mostra uma poderosa proprietária de uma empresa de cosméticos, Janice Starlin (Susan Cabot), que está preocupada com a crescente queda de vendas de seus produtos. Temendo perder todo o patrimônio que conquistou ao logo dos anos de muito trabalho, ela foi convencida pelos executivos da empresa que sua imagem distante da juventude pode ser um dos motivos do desinteresse do público.
Em paralelo, um cientista que faz pesquisas com enzimas de vespas e que vem obtendo bons resultados de rejuvenescimento em experiências com insetos e animais, Dr. Eric Zinthrop (Michael Mark), é demitido por seus patrocinadores e apresenta seu trabalho para a Srta. Starlin, que uma vez à procura de manter sua juventude, aceita servir de cobaia humana para as experiências do cientista, deixando preocupados seus amigos e companheiros de trabalho como a secretária Mary Dennison (Barboura Morris) e o namorado dela Bill Lane (Anthony Eisley, creditado como Fred Eisley), além do cientista Arthur Cooper (William Roerick).
Uma vez animada com a possibilidade de resultados bem sucedidos, a mulher tenta secretamente acelerar o processo injetando em si mesma uma quantidade exagerada da solução química, ocasionando com isso uma terrível mutação, transformando-se num monstro grotesco e incontrolável, que passa a atacar as pessoas que atravessam seu caminho, procurando se alimentar do sangue de suas vítimas.

Com um roteiro desses, é óbvio que devemos assistir o filme de forma totalmente descontraída, esperando ver uma tranqueira em todos os sentidos, desde os absurdos da história até a falta de recursos de uma produção de baixo orçamento, que obrigou seus realizadores a trabalhar com efeitos bizarros na concepção da criatura mista de mulher e vespa, uma maquiagem tão tosca que se na época (há quase meio século atrás) poderia causar medo, espanto e repulsa nos espectadores, manipulando suas emoções perante um filme de horror, nos dias atuais da modernidade do século 21, causaria acessos de risos no público. Esse é mais um dos motivos que comprova que devemos ver o filme sem exigência e procurando apenas se divertir com a precariedade da produção, respeitando os esforços dos envolvidos no projeto, principalmente o cultuado diretor e produtor Roger Corman. Tanto que a “mulher vespa” aparece pela primeira vez na tela somente com 50 minutos de filme, ou seja, bem próximo do fim da projeção, e com participações rápidas no ataque às suas vítimas. E, apesar do desfecho previsível e das poucas mortes, “A Mulher Vespa” é um “trash” que garante a diversão.

Seguem algumas curiosidades que merecem registro:
* o próprio Roger Corman (ainda bem jovem) aparece numa ponta super rápida não creditada como um médico no hospital. Aliás, ele costuma usar esse expediente em vários de seus filmes, participando de forma discreta, assim como em filmes de outros amigos também como aconteceu em “Trilogia do Terror” (Body Bags, 1993), de John Carpenter e Tobe Hooper, onde Corman também interpretou um médico no episódio “Olho”.
* “A Mulher Vespa” recebeu outros nomes alternativos originais como “Insect Woman” e “The Bee Girl”.
* Ao contrário do que aparece no cartaz promocional e sensacionalista que traz uma interessante ilustração com uma vespa gigante com rosto de mulher atacando um homem, no filme o monstro é uma mulher de tamanho natural com a cabeça e patas de vespa, algo bem mais fácil para ser reproduzido pela equipe de produção e de custo reduzido. Algo similar aconteceu com “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly, 1958), que mostrou um cientista que sofreu um acidente em sua experiência de teletransporte e transformou-se num monstro com a cabeça e uma das patas de mosca.
* Em 1995 foi produzida uma refilmagem diretamente para a televisão, com direção de Jim Wynorski, produção executiva de Roger Corman e com Jennifer Rubin e Doug Wert no elenco.
* Para a satisfação dos colecionadores de filmes de horror, “A Mulher Vespa” foi lançado no Brasil em DVD pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, numa coleção chamada “Sessão da Meia-Noite”, que inclui outras tranqueiras divertidíssimas da mesma época. Filmes que eram exibidos com freqüência nos drive-in´s americanos. O mesmo DVD de “A Mulher Vespa” traz também “O Ataque das Sanguessugas Gigantes” (Attack of the Giant Leeches, 1959), de Bernard L. Kowalski e com Ken Clark e Yvette Vickers, e apresenta como materiais extras os respectivos trailers legendados em português.

“A Mulher Vespa” (The Wasp Woman, Estados Unidos, 1960) # 403 – data: 21/10/06 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/10/06)

Jack-O: Demônio do Halloween (1995)


O Homem-Abóbora roubará a sua alma, acabará com ela e depois a engolirá. E alguns minutos antes que você morra, o Homem-Abóbora roubará seus olhos

Aproveitando o mês sugestivo de Outubro para lançamento de filmes de horror com temática sobre “Halloween”, a “nbo Editora” lançou nas bancas o DVD de “Jack-O: Demônio do Halloween” (Jack-O-Lantern, 1995). O filme acompanha a revista “DVD Premium” ano 5, número 60, ao preço de R$ 14,90. E traz como materiais extras uma sinopse, um trailer legendado, as biografias breves do cineasta Steve Latshaw e da atriz Linnea Quigley, uma pequena filmagem de cenas de bastidores com 5 minutos de duração (“On Location With Jack O´Lantern”), e a opção de ver o filme com os comentários de Steve Latshaw e do produtor executivo Fred Olen Ray, com legendas em português. Aliás, ao longo dos comentários eles se atacam e se criticam várias vezes, num tom de brincadeira e escracho, bem no clima “trash” do filme.

A história é sobre um lendário demônio do “Halloween” chamado “Jack-O”, que tem cabeça de abóbora e está armado com uma foice. Uma vez invocado no passado pelo feiticeiro maligno Walter Machen (o grande John Carradine, falecido em 1988 e recuperado aqui com imagens de arquivo e sem dizer uma só palavra, com um outro ator dublando sua voz), o demônio ressurge nos tempos modernos para se vingar dos descendentes da família Kelly, que havia sido responsável por sua derrota e condenação ao inferno. O alvo do ser sobrenatural agora é assombrar um garoto de nove anos chamado Sean (Ryan Latshaw, péssimo ator mirim e participando do filme provavelmente apenas por ser filho do diretor) e todos ao redor dele como a bela babá Carolyn Miller (a screen-queen Linnea Quigley). Quando chega a véspera da festa do “Halloween”, a bizarra criatura começa a atacar todas as vítimas que atravessam seu caminho.

“Jack-O: Demônio do Halloween” é o título escolhido para o lançamento do DVD de banca e cada vez que é exibido por aqui recebe um nome diferente, sendo também conhecido como o título picareta de “Halloween – A Maldição Está de Volta”. O filme é uma produção de baixo orçamento, uma tranqueira indicada apenas aos colecionadores de filmes de horror, independente de sua qualidade. O mais curioso é a tentativa da “nbo Editora” em ludibriar os fãs indicando na capa do DVD as absurdas frases de efeito do tipo “Um autêntico clássico do terror!” ou “Um dos filmes mais assustadores de todos os tempos”. Talvez o filme até assuste mesmo, mas de tão ruim. Desde os efeitos especiais grotescos, passando pelo vilão com cabeça de abóbora que não dá para levar a sério, e a história banal e óbvia demais.
Com duração de 85 minutos, o roteiro de Patrick Moran (que também interpretou o demônio “Jack-O”) é superficial, cheio de furos e carregado de clichês. O elenco é inexpressivo ao extremo e os únicos destaques são a presença de John Carradine como um mago sinistro numa pequena ponta, de Cameron Mitchell (astro de diversos filmes divertidos de western e da série de TV “Chaparral”) como o Dr. Cadáver, o apresentador de um programa de TV sobre filmes bagaceiros de horror, e da musa Brinke Stevens, como uma bruxa que também não fala nada e aparece numa cena rápida. Os outros atores são medíocres, tanto os pais de Sean, David (Gary Doles) e Linda (Rebecca Wicks), como Vivian Machen (Catherine Walsh), a última descendente do feiticeiro que invocou “Jack-O”, e Julie (Rachel Carter), a irmã gostosa da babá Carolyn. Falando nela, nem mesmo Linnea Quigley se salva (aliás, a mulher é bem bonita e pode até ser cultuada pelos fãs, mas na arte de interpretar ela não consegue convencer). E é engraçado notar como nos comentários do diretor Steve Latshaw sobre o filme, ele elogia os atores enfatizando suas qualidades (sinceramente, não sei quais qualidades ele está se referindo).
Curiosamente, o próprio diretor faz uma ponta como um instalador de TV a cabo que é vítima do demônio “cabeça de abóbora”, sentindo na garganta a lâmina de sua foice. E boa parte das filmagens foi realizada no interior de sua casa e nos arredores (jardins sinistros de um amigo), incomodando os vizinhos nas cenas noturnas. Provavelmente, eles gostariam de invocar “Jack-O” para se vingarem do cineasta...

“Jack-O: Demônio do Halloween” (Jack-O-Lantern, Estados Unidos, 1995) # 402 – data: 15/10/06 – avaliação: 2 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 16/10/06)

A Volta dos Mortos-Vivos: Necrópolis (2005)


Em 1985, Dan O´Bannon dirigiu “A Volta dos Mortos-Vivos” (The Return of the Living Dead), um divertido filme de zumbis com elementos de humor negro, revelando a “rainha do grito” Linnea Quigley (a punk nua no cemitério), tornando-se uma referência da produção de horror daquela década e que transformou-se numa obra cultuada pelos fãs do gênero. Inevitavelmente, gerou uma franquia com mais quatro filmes que não mantiveram o mesmo interesse do original. Vinte anos depois, o cineasta Ellory Elkayem (da divertida paródia “Malditas Aranhas!”), foi o responsável por dois filmes rodados de uma só vez, as partes 4 (com o subtítulo “Necropolis”) e 5 (“Rave From the Grave”), ambas lançadas em DVD no Brasil pela “FlashStar”.

Em “Necropolis”, um grupo de estudantes descobre que uma poderosa empresa química de tecnologia está fazendo experiências com cobaias humanas e um produto químico capaz de reanimar cadáveres. Quando um deles sofre um acidente de moto e é transferido ilegalmente do hospital para a empresa, eles decidem resgatá-lo, invadindo o centro de pesquisas e descobrindo a existência de uma legião de zumbis aprisionados. Uma falha no sistema de segurança permite que os mortos-vivos saiam de suas celas, instaurando o caos e obrigando os jovens a lutarem desesperadamente por suas vidas.

Se eu tivesse que escolher uma única palavra para definir o que é “A Volta dos Mortos-Vivos: Necrópolis” essa palavra seria “lixo”. Porém, não um lixo divertido, e sim algo descartável. Os problemas principais do filme são o péssimo roteiro, com uma imensidão de furos grotescos que desafiam a inteligência do espectador, e o elenco completamente inexpressivo, formado por atores desconhecidos e irrelevantes como Aimee-Lynn Chadwick, Cory Hardrict, John Keefe, Jana Kramer, Diana Munteanu e Alexandru Geoana. Até o experiente Peter Coyote está totalmente deslocado, fazendo o papel de um vilão cientista “louco” responsável pelas experiências bizarras com zumbis, e que quando foi perguntado sobre o motivo dessas experiências, ele apenas respondeu que era para dominar o mundo, num clichê tão ridículo que é inacreditável como o roteirista (que não vale a pena nem citar o nome) demonstrou preguiça em tentar desenvolver uma história com um mínimo de coerência.
Eu teria uma infinidade de outros exemplos para serem citados atestando a péssima qualidade do roteiro, que faria com que essa breve resenha não tivesse mais fim, mas vale registrar alguma coisa para compensar meu esforço em ver o filme. Os personagens são aqueles tipos óbvios que sempre marcam presença em filmes tranqueiras, onde temos o mocinho herói, seu melhor amigo que irá voltar-se contra ele por causa da perda da namorada, o especialista em computadores, a vadia gostosa e exibicionista, o metido a valentão que gosta de resolver as coisas na porrada, e outros que não despertam nenhuma empatia incitando-nos apenas a torcer por suas mortes dolorosas. É impressionante como o grupo de estudantes consegue facilmente invadir uma poderosa empresa de pesquisas e os guardas de segurança somente aparecerem quando é para oferecerem seus cérebros aos zumbis. É também uma grande piada testemunharmos a transformação de um dos jovens em morto-vivo e em vez dele balbuciar apenas a palavra “cérebro” como todos os outros zumbis idiotas, ele tem a capacidade diferenciada de dialogar tranqüilamente quando quer e de forma ameaçadora em tom de vingança quando lhe convém contra o mocinho da história, apenas para facilitar o trabalho acomodado do roteirista na criação de uma cena de confronto entre eles.

Os efeitos especiais nas cenas de mortes (com os tradicionais disparos de projéteis na cabeça) e a maquiagem dos zumbis comedores de cérebros são razoáveis, mas isso não garante grandes méritos uma vez que é apenas mais um trabalho trivial, similar ao que já foi visto em inúmeros outros filmes. Ou seja, “Necrópolis” não acrescenta nada para a franquia “A Volta dos Mortos-Vivos” (que nem deveria existir, ficando apenas no filme original), e nem para o subgênero “zumbis”. É um filme dispensável e que só contribui para criar uma imagem pejorativa do cinema de horror, que ao contrário disso, é um gênero artístico fascinante e que merece mais respeito. Ainda bem que está surgindo uma nova safra de ótimos cineastas como o inglês Neil Marshall (“Cães de Caça” / “Abismo do Medo”), o francês Alexandre Aja (“Alta Tensão” / “Viagem Maldita”) e o americano Eli Roth (“Cabana do Inferno” / “O Albergue”), entre outros, para honrar um pouco os fãs com filmes mais violentos e perturbadores.

“A Volta dos Mortos-Vivos: Necrópolis” (Return of the Living Dead: Necropolis, Estados Unidos, 2005) # 401 – data: 12/10/06 – avaliação: 2 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 14/10/06)

Abismo do Medo (The Descent, Inglaterra, 2005)


Em 2002, Neil Marshall presenteou os fãs do cinema de horror com o cultuado “Cães de Caça” (Dog Soldiers), uma história violenta de lobisomens com divertidos elementos de humor negro. Três anos depois, o mesmo cineasta lançou sua contribuição aos filmes sobre ambientes carregados de claustrofobia com “Abismo do Medo” (The Descent), que chegou nos cinemas brasileiros em 22/09/06, distribuído pela “California Filmes”.
Na história, um grupo de seis mulheres se aventura por uma caverna à procura de diversão e elas são surpreendidas por um pequeno desmoronamento que impede o retorno à superfície pela mesma entrada. O grupo é formado pela líder Juno (Natalie Jackson Mendoza), ao lado das companheiras Sarah (Shauna Macdonald), que teve uma experiência traumática num acidente fatal com sua filha pequena Jessica (Molly Kayll), Beth (Alex Reid), Rebecca (Saskia Mulder), Sam (MyAnna Buring) e Holly (Nora-Jane Noone).
Após o imprevisível tremor, elas são obrigadas a procurar uma saída alternativa, enfrentando uma série de obstáculos como a escuridão opressora, o medo do confinamento, e a passagem por locais apertados com o terrível sentimento de claustrofobia de um ambiente desconhecido e soterrado. Contudo, elas não imaginariam que o maior problema a ser enfrentado seria outro ainda pior: a improvável possibilidade de encontrarem formas grotescas de vida parecidas com homens, porém não humanas, vivendo primitivamente nas profundezas dos infindáveis fossos, com características extremamente violentas e carnívoras, e que estariam interessadas diretamente em saborear suas carnes.
“Abismo do Medo” é um dos grandes filmes de horror que foram exibidos nos cinemas brasileiros em 2006, ao lado de “Wolf Creek – Viagem ao Inferno”, “Espíritos – A Morte Está Ao Seu Lado” (Shutter), “O Albergue” (Hostel), “Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes) e outros, provando ser um ano bem favorável ao cinema de horror.
Dirigido e escrito por Neil Marshall, o filme tem todos os elementos necessários para deixar o espectador tenso, manipulando suas emoções, fazendo-o testemunhar desde a deterioração progressiva do relacionamento das mulheres, obrigadas a lutarem por suas vidas num local fechado, até o confronto brutal com criaturas bizarras que querem o sangue dos invasores de seu território e destroçar seus corpos frágeis com garras afiadas.
Altamente recomendável para quem procura tensão, violência, sangue em profusão e um desfecho depressivo.
N.A.: Em 2009 foi lançado em DVD no Brasil a continuação “Abismo do Medo 2” (The Descent: Part 2), mostrando eventos imediatamente posteriores ao desfecho do filme original, com o retorno das atrizes Natalie Jackson Mendoza e Shauna Macdonald.

“Abismo do Medo” (The Descent, Inglaterra, 2005) # 400 – data: 29/09/06 – avaliação: 9 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/09/06)

À Meia Luz (versões de 1940 e 44)

 

    Para quem aprecia cinema antigo, com fotografia em preto e branco, roteiro sem violência ou elementos sobrenaturais, mas com um suspense sutil, discreto e bem construído, uma dica pode ser conhecer ambas as versões de “À Meia Luz” (Gaslight), com história baseada na peça teatral de Patrick Hamilton. O primeiro filme é inglês de 1940, menos conhecido, dirigido por Thorold Dickinson e estrelado por Anton Walbrook e Diana Wynyard. Já o filme seguinte é americano de 1944, muito mais badalado, produzido pela “MGM”, dirigido por George Cukor e com um elenco formado por astros famosos como Charles Boyer, Ingrid Bergman, Joseph Cotten e Angela Lansbury (em seu primeiro filme). Logicamente que ambos os filmes possuem sua própria liberdade de criação artística e existem pequenas diferenças, mas de uma forma geral, os roteiros são bem parecidos, trazendo vários elementos comuns.   
  

             Versão de 1940


Ambientada na Londres do início do século XX, “À Meia Luz” começa com um assassinato brutal de uma senhora idosa, Alice Barlow (Marie Dexter), dentro de sua própria casa, a número 12 de “Pimlici Square”. O crime não foi desvendado pela polícia e o local perdeu seu valor imobiliário, sendo que demorou vinte anos para a casa ser ocupada novamente. E os novos moradores são o casal Mallen, formado por Paul (Anton Walbrook) e Bella (Diana Wynyard), que contrataram duas arrumadeiras, Elizabeth (Minnie Rayner) e a jovem Nancy (Cathleen Cordell).

Porém, o casal enfrenta constantes crises conjugais, onde o marido possessivo tem que lidar com uma aparente doença em sua esposa, que supostamente se apossa de objetos da casa e os esconde, além de ter alucinações e sonhos estranhos, com sintomas que parecem evidenciar um processo progressivo de insanidade. Por isso, ela não sai de casa, sendo sempre submissa ao marido e imagina ver coisas como a misteriosa variação de intensidade da luz movida a gás de seu quarto (daí o título original), ou ouvir passos no andar de cima de sua casa imensa. Por outro lado, Paul parece cada vez mais impaciente com a esposa, acusando-a de pequenos furtos e vestígios de loucura, perturbação e desequilíbrio emocional. Ele também sai toda noite de forma misteriosa e demonstra uma atração pela empregada Nancy.

Em paralelo, um ex-policial que esteve envolvido na investigação da morte da Sra. Barlow muitos anos antes na fatídica casa número 12, e que depois de aposentado tornou-se proprietário de um estábulo próximo, Sr. B. G. Rough (Frank Pettingell), se interessa pelos novos moradores e vizinhos e por curiosidade inicia uma investigação pessoal da identidade deles, vasculhando o passado da casa e detalhes sobre o terrível assassinato que marcou o local. Ajudado eventualmente por um empregado de seu comércio, o jovem Cobb (Jimmy Hanley), que fez amizade com a arrumadeira Nancy, e utilizando suas habilidades adquiridas quando era policial, o Sr. Rough entra em contato com um primo de Bella Mallen, o Sr. Vincent Ullswater (Robert Newton), e descobre pistas importantes que podem revelar o perigoso mistério envolvendo o crime da Sra. Barlow, a enorme casa e os novos moradores.


Essa versão inglesa de 1940 de “À Meia Luz” tem uma produção modesta, metragem curta (apenas 84 minutos), atores pouco conhecidos e é bem menos famosa que a premiada produção americana de quatro anos depois. Mas, independente desse fato, o filme tem seu valor como um bom exemplo de suspense que procura de forma sutil desenvolver uma história de assassinato, loucura e mistério, sem exageros e sem o uso de ação desenfreada e cortes bruscos, utilizando apenas situações sugeridas, como ruídos misteriosos e luzes que falham e diminuem de intensidade. 

Ao seu favor e no meu ponto de vista, o filme tem duas vantagens sobre a produção americana: o ator Anton Walbrook tem uma interpretação mais convincente como um marido possessivo que quer enlouquecer a esposa (em relação ao colega de profissão Charles Boyer, apesar dele ser muito mais famoso e renomado e de ter inclusive sido indicado ao “Oscar” por sua atuação), e também por apresentar um início (com a morte de Alice Barlow) e desfecho (com a revelação do mistério) bem mais intensos e apropriados para o contexto da história. 


Versão de 1944


Uma famosa cantora e atriz, Alice Alquist, é misteriosamente assassinada em sua casa, a número 9 de “Thornton Square”, em Londres. A polícia não consegue descobrir o autor do crime e seus motivos, e a sobrinha da cantora, Paula (Ingrid Bergman), fica abalada pelo acontecimento trágico, se mudando para a Itália, onde passa a ter aulas de canto de ópera com o renomado Maestro Guardi (Emil Rameau).

Lá, ela se apaixona pelo pianista Gregory Anton (Charles Boyer), e rapidamente eles se casam e vão morar na Inglaterra, na mesma casa onde a tia de Paula foi assassinada 10 anos antes. Para servi-los, eles contratam a cozinheira Elizabeth (Barbara Everest) e a jovem arrumadeira Nancy (Angela Lansbury, na época com 17 anos, completando 18 durante as filmagens).

A partir daí, os problemas têm início com o agravamento progressivo do relacionamento do casal, com o marido Gregory insinuando de forma cada vez mais crescente que sua esposa pudesse estar perdendo a sanidade, ao esconder objetos, ouvir passos no sótão, sofrer supostas alucinações com a luz movida a gás variando aleatoriamente de intensidade, e outras anormalidades. 

As únicas pessoas que tentam um contato amigável com Paula são uma vizinha idosa, solteirona e bastante curiosa, a Srta. Thwaites (Dame May Whitty), e um investigador de polícia, Brian Cameron (Joseph Cotten), que conta com a ajuda eventual de um policial que faz a ronda noturna do local, Williams (Tom Stevenson), cujo fato de ter um pequeno romance com a empregada Nancy propicia com que obtenha informações interessantes do que se passa na casa dos patrões dela. O detetive decide então fazer uma investigação particular sobre o passado da casa com o assassinato de Alice Alquist e a relação com sua sobrinha Paula e o misterioso marido Gregory, que possui um comportamento estranho e suspeito.  


A versão americana de 1944 é muito mais conhecida que a antecessora feita pelos ingleses. O filme tem uma produção caprichada, metragem maior (114 minutos), um diretor conceituado e um elenco expressivo. Esses quesitos favoráveis são motivos mais do que suficientes para despertar o interesse e atenção do público, garantindo um sucesso comercial. Foi também o responsável pela premiação de um “Oscar” para a atriz Ingrid Bergman, por sua performance como a esposa atormentada que estaria perdendo gradativamente o controle de sua mente. E realmente, sua interpretação é magnífica, muito superior à de Diana Wynyard no filme de 1940, tanto que ela, preparando-se para o papel, estudou detalhadamente as expressões faciais e movimentos dos olhos de pessoas com reais problemas de loucura e internadas em manicômios. Além disso, outro mérito do filme, graças ao cuidado da produção, foi o de garantir mais um “Oscar” para a equipe, dessa vez na direção de arte voltada para a decoração dos ambientes interiores. 

Por outro lado, de forma desfavorável em relação ao filme inglês, faltou mais ousadia no roteiro dessa versão de 1944, principalmente na decisão de não mostrar o assassinato de Alice Alquist (que é a premissa básica para toda a história), e pela opção de escolher um final convencional demais e bem menos dramático que no filme anterior.

Para a satisfação dos colecionadores, a “Warner Brothers” lançou no mercado brasileiro de DVD ambos os filmes num único disco, com o “lado A” trazendo a versão mais famosa (1944) e no “lado B” a versão inglesa de 1940, num esquema similar que também foi feito com as versões de 1932 e 41 de “O Médico e o Monstro”, e com as versões de 1933 e 53 de “Museu de Cera”. 

O DVD com as duas versões de “À Meia Luz” traz materiais extras apenas referentes ao filme de 1944: um documentário legendado de 13 minutos intitulado “Reflexões sobre À Meia Luz” (Reflections on Gaslight), apresentado por Pia Lindstrom, filha de Ingrid Bergman; um trecho também legendado da cerimônia de premiação do “Oscar” de 1944, destacando o melhor ator (Bing Crosby, recebendo a estatueta das mãos de Gary Cooper), a melhor atriz (Ingrid Bergman, recebendo de Jennifer Jones) e a melhor atriz infantil (Margaret O´Brien, recebendo do diretor Mervin Leroy), com a narração de John B. Kennedy; e finalizando com um trailer promocional de dois minutos de duração e sem legendas em português.   


(RR – Escrito originalmente em 09/2006 e revisado em 02/2024)


“À Meia Luz” (Gaslight, Inglaterra, 1940) # 398 – data: 08/09/06 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
“À Meia Luz” (Gaslight, Estados Unidos, 1944) # 398 – data: 08/09/06 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
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blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 08/09/06)








O Som do Trovão (A Sound of Thunder, EUA / Alemanha / República Tcheca, 2005)


No ano 2055, uma nova tecnologia foi inventada que poderia mudar o mundo, ou destruí-lo. Um homem chamado Charles Hatton a usou para ganhar dinheiro.

                A primeira ideia que vem à cabeça depois de ver “O Som do Trovão” (A Sound of Thunder), é um questionamento sobre por que esse filme não foi exibido em nossos cinemas, sendo apenas lançado diretamente no mercado de DVD (pela “Europa”, em Março de 2006). Pois o filme reúne alguns elementos favoráveis do ponto de vista comercial, tendo um bom potencial para entrar em cartaz nas salas de exibição, ou seja, é uma super produção de 80 milhões de dólares, um típico filme pipoca com ação, aventura, e muitos efeitos especiais numa história de Ficção Científica e viagem no tempo. Por outro lado, filmes insignificantes como “Amaldiçoados” (Cursed), de Wes Craven, são exibidos nos cinemas quando deveriam ir direto para o vídeo. Isso apenas é mais uma das incoerências cometidas pelas distribuidoras responsáveis pelos filmes que chegam ao Brasil.
                Em “O Som do Trovão”, a ação é ambientada em 2055, época em que o Homem já havia criado uma forma de viajar no tempo. Um empresário rico e sem escrúpulos, Charles Hatton (Ben Kingsley), é dono de uma agência que faz viagens ao passado, a “Time Safari”, proporcionando aos seus clientes uma pequena e rápida, porém bastante convincente e real, turnê para o passado da humanidade, voltando 65 milhões de anos no tempo, em plena época dos dinossauros. Qualquer pessoa, depois de pagar uma quantia imensa em dinheiro, poderia participar de uma expedição e abater um alossauro em seu habitat natural (meticulosamente escolhido), pouco antes dele se atolar num pântano ou ser carbonizado na erupção de um vulcão.
                A expedição era sempre repetida com precisão para os vários clientes diferentes, sob a liderança do cientista Dr. Travis Ryer (Edward Burns), que contava com o auxílio de outros profissionais em sua equipe como a jovem Jennifer Krase (Jemima Rooper), responsável por registrar a caçada, Marcus Payne (David Oyelowo), o oficial de segurança, e o Dr. Lucas (Wilfried Hochholdinger), o médico que monitora as condições físicas dos clientes. Participa também das expedições um agente a serviço do governo (Departamento de Regulamentação Temporal), Clay Derris (August Zirner), cuja função é fiscalizar as ações para impedir que alguma interferência no passado possa gerar alguma conseqüência grave no tempo seguinte.
                E é justamente isso que acontece quando após um acidente numa das expedições, ocorre uma série de efeitos turbulentos no presente desestabilizando a vida como conhecemos e colocando em risco o planeta. Confirmando uma ameaça prevista pela cientista Dra. Sonia Rand (Catherine McCormack), a criadora do super computador que faz os cálculos de viagem no tempo, e que se une ao Dr. Ryer para tentar reverter o processo e colocar as coisas novamente em seu curso normal. Enfrentando uma infinidade de perigos como ondas de choque que modificam todo o processo evolutivo, e um mundo hostil infestado de plantas e animais mutantes como macacos dinossauros, morcegos monstruosos e serpentes aquáticas.
                Com direção de Peter Hyams (de “A Relíquia” e “Fim dos Dias”) e história inspirada por um conto do cultuado escritor de Ficção Científica Ray Bradbury, “O Som do Trovão” é uma aventura de viagem no tempo explorando as conseqüências graves causadas quando algum evento do passado (por menor que seja e mais insignificante que pareça) é inadvertidamente alterado, podendo culminar com a destruição do mundo que conhecemos. Dentro dessa ideia interessante, que sempre tem um potencial para o entretenimento, somos convidados a acompanhar a trajetória de um grupo de cientistas para tentar reparar um erro cometido e anular o efeito devastador de um evento alterado no tempo.
                Os efeitos especiais são uma atração à parte, mostrando desde a rotina de uma enorme cidade futurista, com seus belos e imensos prédios e tráfego intenso de carros, passando pela recriação de um ambiente pré-histórico de milhões de anos no passado habitado por dinossauros, até um mundo caótico dominado por uma realidade alternativa onde vivem criaturas mutantes desconhecidas por nós.
                Por outro lado, e servindo apenas para evidenciar que estamos vendo um filme comercial que privilegia exclusivamente um tipo de diversão simples e sem compromisso, temos aqueles conhecidos desfiles de clichês e situações absurdas, como por exemplo a queda do casal de cientistas, que para fugirem de uma invasão de insetos no apartamento da Dra. Rand, se jogam pela janela e caem de uma altura significativa por cima de algumas árvores e não sofrem nem um arranhão. Além do desfecho previsível que sempre tem que existir para satisfazer a maioria do público (faço parte da minoria e preferiria de vez em quando um pouco de ousadia dos roteiristas com um desfecho mais pessimista e diferente do trivial).
                Uma curiosidade interessante é quando o empresário Charles Hatton faz um discurso padrão para seus clientes nas viagens no tempo encorajando-os no desafio que enfrentarão ao confrontar um dinossauro real, citando eventos importantes na história da humanidade como Cristóvão Colombo ter descoberto a América, Neil Armstrong ter pisado na Lua, e de “Brubaker ter chegado em Marte” (será uma previsão?)... Aliás, Brubaker é o nome do comandante de uma expedição fraudada para Marte no thriller de FC “Capricórnio Um” (Capricorn One, 1978), dirigido também por Peter Hyams.

                Outra curiosidade é que as filmagens ocorreram em 2002 em Praga, na República Tcheca, e o filme deveria ter sido lançado em 2003. Mas, como aconteceram várias inundações naquele país europeu, os cenários foram danificados e os trabalhos de filmagens atrasaram muito, com o lançamento apenas em 2005.

1 – Não mude nada. 2 – Não deixe nada para trás. 3 – Não traga nada de volta.” – regras básicas que devem ser respeitadas em viagens no tempo

“O Som do Trovão” (A Sound of Thunder, Estados Unidos / Alemanha / República Tcheca, 2005) # 399 – data: 10/09/06 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com.br / blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 10/09/06)

Alta Tensão (França, 2003)


O cinema de horror dos últimos anos definitivamente voltou a explorar a violência de forma altamente perturbadora, numa linha parecida com aquela utilizada por muitos filmes insanos principalmente da década de 70. Pois, nesse início de século 21 já tivemos muitos exemplos de filmes que não poupam o público de cenas carregadas de atrocidades.
Alta Tensão” (Haute Tension) é um filme francês de 2003, dirigido pelo jovem cineasta Alexandre Aja (o mesmo da igualmente violenta refilmagem “Viagem Maldita”), e que foi lançado em DVD por aqui pela “Europa”. O filme é cru, visceral, insano, ousado, ofensivo, sangrento, só para citar alguns adjetivos pertinentes. Tem cenas fortes que inclui decapitação, uma vítima com o pescoço brutalmente dilacerado, uma outra com a carne destroçada por uma motosserra circular, e tudo filmado de forma incrivelmente realista, isso graças ao trabalho eficiente da equipe de efeitos especiais, liderada por um especialista nesta arte, o italiano Gianetto de Rossi, freqüente colaborador do cultuado cineasta Lucio Fulci.
O apreciador do cinema mais extremo não tem do reclamar, tendo em vista que muitos filmes perturbadores têm chegado ao circuito comercial no Brasil, seja diretamente no mercado de vídeo ou exibidos nas salas de projeção, estando à disposição de todos, desde o australiano “Wolf Creek – Viagem ao Inferno”, passando pelos americanos “O Albergue” e “Viagem Maldita” (todos lançados nos cinemas), até o inglês “Plataforma do Medo” e esse francês “Alta Tensão”, que foram direto para as locadoras de vídeo, somente para citar alguns casos onde prevalece o vermelho do sangue manchando as lentes das câmeras.

A história é simples e resume-se basicamente em duas belas jovens, Marie (Cécile de France) e sua amiga Alexia (Maiwenn Le Besco), que estão viajando de carro para a casa dos pais desta última, que fica localizada bem afastada numa região rural. O objetivo delas é poder aproveitar a tranqüilidade do ambiente do campo para estudar. Mas o que elas não imaginariam é que durante a noite, um homem rude, cruel e maníaco, sem maiores explicações, iria aparecer no sítio e invadir a casa instaurando um verdadeiro horror em seu estado mais absoluto, atormentando seus moradores com o uso de extrema violência, espalhando sangue e dor para todos os lados.

O filme tem poucos personagens e diálogos, e muito suspense nas cenas de perseguição em filmagens noturnas, com ênfase no confronto entre o assassino e uma sobrevivente da chacina, além também de uma reviravolta final que procura dar sentido aos eventos mostrados logo no início da história, tentando surpreender o espectador.
A trama pode até ser considerada banal e já vista em inúmeros filmes anteriores, mas a maior qualidade de “Alta Tensão” reside no fato do psicopata aparentar ser uma pessoa normal como outra qualquer, com a incrível diferença que é um assassino frio e ultra violento, não precisando ter o rosto deformado, usar máscara ou apresentar poderes sobrenaturais para demonstrar o quanto é insano e temível. É um homem maldito que age naturalmente, não poupando suas vítimas de mortes violentas. Não há sangue escorrendo durante toda a projeção, como por exemplo em “The Evil Dead” ou “Fome Animal”, mas nos momentos onde ocorrem as mortes, o roteiro faz questão de evidenciar a violência e a terrível dor das vítimas.
Resumindo, o cinema de horror e filmes como “Alta Tensão” são fascinantes justamente por conseguirem incomodar e perturbar o espectador levando-o a analisar e refletir sobre o quanto selvagem, insana e irracional pode ser a raça humana, e que nosso mundo deve mesmo ser apenas um inferno de algum outro planeta (confirmando uma idéia do escritor Aldous Huxley).

“Alta Tensão” (Haute Tension, França, 2003) # 397 – data: 30/08/06 – avaliação: 9,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/08/06)

Assombração (2006)


Para a sorte e satisfação dos apreciadores do cinema de Horror, as produções orientais do gênero (oriundas de países como Japão, China, Coréia do Sul, Hong Kong e Tailândia), estão chegando com bastante intensidade ao Brasil, invadindo principalmente o mercado de vídeo, e até com algumas delas entrando em cartaz nos cinemas, distribuídas pela “PlayArte”.
Já tivemos a exibição nas telas grandes brasileiras de filmes interessantes sobre fantasmas como “Visões” (The Eye 2) e “Espíritos – A Morte Está Ao Seu Lado” (Shutter), ambos de 2004. E agora estreou nos cinemas em 04/08/06 o filme “Assombração” (Gwai Wik / Re-Cycle, Hong Kong / Tailândia, 2006), dirigido pelos irmãos Oxide e Danny Pang e com a mesma bela atriz de “The Eye – A Herança”, Angelica Lee Sinje, numa história povoada de elementos perturbadores de horror como ambientes desoladores, espíritos atormentados, suicidas desorientados, mortos errantes e esquecidos, bebês abortados e todo tipo de habitantes de um mundo de pesadelo.

A jovem escritora Chu Xun (Angelica Lee Sinje), conquistou um grande sucesso entre os leitores com um livro que trata de uma história de amor que teve inspiração em sua própria experiência pessoal com uma paixão do passado, e que deixou marcas profundas em sua vida. Para incitar a curiosidade em seus fãs, seu agente Lawrence (Lawrence Chou), anuncia o próximo livro da autora num evento para a imprensa, revelando a mudança de temática para uma história sobrenatural sobre fantasmas, e que também poderia ter elementos baseados em sua vida real.
Quando Chu Xun inicia o trabalho com o livro, ela encontra muitas dificuldades de criação para começar a história, e seus problemas aumentam ainda mais quando passa a ter visões estranhas em sua casa, com o surgimento da silhueta de uma misteriosa mulher que se parece com a protagonista de seu novo livro, originando uma sucessão de eventos confusos em sua mente, dificultando separar a realidade da ficção e culminando com uma incrível viagem que ela faz por um mundo onírico dominado por um horror em estado absoluto.

“Assombração” é uma verdadeira viagem pelo inferno, por um mundo de desolação e pesadelo. Uma jornada tortuosa e obscura feita pela escritora Chu Xun, obrigada a passar por locais devastados e esquecidos pelo tempo como um parque de diversões sinistro, ou uma biblioteca repleta de livros velhos e cheios de poeira, ou uma dimensão coberta de brinquedos antigos e abandonados, ou uma região com uma ponte transitada por zumbis desorientados, ou uma caverna habitada por fetos e bebês deformados, ou uma floresta fantasmagórica com enforcados para todos os lados, ou ainda um triste cemitério com os mortos ao lado de suas lápides, lamentando por terem sido esquecidos e abandonados pela eternidade. E para encontrar uma saída desse universo caótico, ela teria que chegar até uma região chamada de “Transição”. Para sair do pesadelo, ela tem a ajuda de uma misteriosa garotinha de oito anos que encontrou pelo caminho e que conhece alguns dos segredos desse mundo desolador, e cada passagem deve ser percorrida em pouco tempo, pois rapidamente as várias dimensões macabras recebem uma espécie de “reciclagem” e tudo que estão nelas é desintegrado e destruído.
O filme tem boas doses de sustos, uma especialidade do cinema oriental, efeitos especiais eficientes (que não fica para trás dos americanos, que gostam de investir nesse quesito), um roteiro que desperta a atenção do espectador, incitando a participar da jornada sobrenatural da escritora, e um desfecho interessante, além de toda a ambientação convincente de um mundo povoado por fantasmas e criaturas perdidas em meio a um cenário de depressão. Outros fatores positivos são o ótimo trailer de divulgação, que reuniu imagens interessantes do filme e que aguçaram a curiosidade em conhecer a história, o também ótimo pôster principal, mostrando a escritora perdida num ambiente lúgubre e perseguida por uma legião de espíritos putrefatos, e também a criativa tagline promocional “Como fugir de um pesadelo criado por você mesmo?”.
Porém, temos um ponto desfavorável: após uma revelação importante sobre a relação entre a escritora e a menina que a acompanha pela viagem nesse mundo distorcido, o roteiro exagerou na carga dramática, se afastando demais de todo aquele clima mórbido que envolvia a trama, mas nada que atrapalhe de forma significativa, tanto que no saldo final, “Assombração” é mais um dos vários bons filmes orientais de horror produzidos nesse início de século XXI, mostrando toda a força e potencial que o gênero ainda possui, despertando a admiração do público que acompanha o estilo.

A “PlayArte” está tendo o mérito de lançar nos cinemas e em vídeo vários filmes orientais interessantes no gênero Horror, porém a distribuidora também é conhecida por escolher péssimos títulos nacionais. Os responsáveis por nomear os filmes que chegam por aqui conseguem demonstrar uma incrível incompetência e cada vez superando-se ainda mais. Para comprovar isso, basta lembrar alguns poucos exemplos como o violento “Pânico na Floresta” (Wrong Turn, 2003), e três filmes já citados nesse texto: “Visões”, que na verdade é a continuação de “The Eye – A Herança”; “Shutter”, que recebeu o enorme, super manjado e sensacionalista título “Espíritos – A Morte Está Ao Seu Lado”; e agora esse “Assombração”, que é igualmente um nome óbvio demais, comercial demais e inadequado demais, pois o melhor seria apenas traduzir o original em inglês, algo como “Reciclagem”, que tem relações diretas com acontecimentos da história do filme.
Um detalhe interessante e que gostaria de registrar é que na sessão em que assisti “Assombração”, a sala estava cheia e as pessoas estavam lá para ver um filme oriental de horror em vez das tradicionais produções americanas, muito parecidas entre si, repletas de clichês cansativos e com pouca ousadia em suas histórias na maioria das vezes (claro que temos boas exceções como “O Albergue” e “Viagem Maldita”, entre outros).
Outro fato que merece registro é que não é só a “PlayArte” que precisa de um alerta de reprovação (na escolha ruim dos títulos nacionais), pois parte do público que freqüenta os cinemas é formada por aqueles adolescentes acéfalos e sem educação, que não respeitam um lugar público, atrapalhando quem quer ver o filme em paz, através de conversas e comentários inoportunos e em tom alto. Sinceramente (e acredito que muitos concordarão comigo), o mundo dos cinéfilos seria muito melhor sem essas criaturas indesejáveis freqüentando as salas dos cinemas.

“Assombração” (Gwai Wik / Re-Cycle, Hong Kong / Tailândia, 2006) # 396 – data: 06/08/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 07/08/06)

Prelúdio Para Matar (1975)


A Editora “Works”, de Jundiaí/SP, responsável pelo selo “Dark Side”, uma coleção de filmes de horror lançados em DVD no Brasil, certamente fez um grande benefício aos colecionadores distribuindo uma infinidade de títulos obrigatórios e indispensáveis como “A Casa dos Maus Espíritos” (House on Haunted Hill, 58), de William Castle e com Vincent Price, “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 78), de George Romero, e “O Homem de Palha” (The Wicker Man, 73), com Christopher Lee e Ingrid Pitt, entre outros, além de várias preciosidades do estúdio inglês “Hammer”, como “Drácula – O Príncipe das Trevas” (66), de Terence Fisher. É claro que fazem parte também do catálogo da editora, filmes menores e descartáveis como “Pelotão Vampiro” (91), “Invasão Mortal” (95) e “Werewolf – A Noite do Lobo” (96), somente para citar algumas tranqueiras. Mas, no geral, a “Dark Side” é uma coleção admirável, composta por filmes que merecem constar no acervo de qualquer colecionador do gênero.
Porém, vale registrar um erro grosseiro cometido pelos responsáveis da editora: o DVD de “Prelúdio Para Matar” (Profondo Rosso / Deep Red, Itália, 1975), dirigido por Dario Argento e escrito por ele em parceria com Bernardino Zapponi, está com um defeito grave nas legendas, pois muitas cenas faladas em italiano estão sem as legendas em português. Somente as passagens em inglês estão legendadas. Por sorte, a falha não chega a comprometer o entendimento do roteiro, desse que é um dos mais importantes thrillers da carreira do cineasta Dario Argento (responsável também por “Suspiria”, 77), com uma trama de assassinatos bastante envolvente (apesar da narrativa excessivamente lenta em certos momentos no decorrer dos 126 minutos de duração), mortes sangrentas carregadas de tensão e violência, e um desfecho interessante, amarrando satisfatoriamente todos os detalhes que foram apresentados aos poucos.
Mas, a falta de legendas em português em muitos diálogos em italiano certamente prejudicaram a diversão do espectador, causando um desconforto significativo e uma irritação inevitável, principalmente por se tratar de um erro na produção do DVD (algo que poderia ser facilmente evitado com uma atenção maior na revisão), uma vez que está anunciado na contra capa do estojo que o idioma original é o inglês e que há a opção de legendas em português. E na verdade há uma mistura de inglês com italiano e sem legendas durante longos minutos.

Na história, um pianista inglês chamado Marcus Daly (David Hemmings) é testemunha de um assassinato extremamente brutal envolvendo como vítima uma bela mulher com poderes de telepatia, Helga Ulmann (Macha Méril), e que havia se tornado uma ameaça ao assassino por sentir sua presença e influência maligna durante uma conferência para debater sua capacidade mediúnica.
Intrigado pela violência do ato, o pianista decide investigar o responsável pelo crime hediondo agindo por conta própria, contando apenas com o auxílio de uma jornalista em busca de notícia, Gianna Brezzi (Daria Nicolodi, atriz presente em vários filmes de Dario Argento). Enquanto eles tentam descobrir a identidade do criminoso, outras pessoas com envolvimentos na trama são também brutalmente mortas, até culminar num inevitável confronto decisivo entre o pianista e o assassino.

“Prelúdio Para Matar” é um dos principais representantes dos chamados giallos, a expressão que identifica os filmes italianos sobre mistérios e assassinatos. O nome, que significa “amarelo”, é inspirado nas capas dessa cor, um fato constante em livros populares sobre esse estilo literário que sempre conquistou a atenção e curiosidade do público. Como uma boa história de investigação e assassinatos, não faltam cenas gráficas de mortes violentas com facadas, queimaduras no rosto, cabeça esmagada, pescoço degolado e uma boa dose do “vermelho profundo” do sangue, conforme sugere o título original italiano (“Profondo Rosso”) e a tradução em inglês (“Deep Red”), que aliás são bem melhores e mais apropriados que a escolha do nacional “Prelúdio Para Matar”.
O filme foi lançado nas bancas encartado na revista “Cine Monstro” ano 2 número 8 (Março de 2006), sem materiais extras. Já a revista traz artigos sobre o filme em questão, um guia com a filmografia dos giallos entre os anos 1960 a 2004, resenhas de “Cry Wolf – O Jogo da Mentira” e “A Névoa” (refilmagem de “A Bruma Assassina”, de John Carpenter), matéria sobre o lançamento em DVD do clássico “Com a Maldade na Alma” (1964), com Bette Davis, Olivia de Havilland, Agnes Moorehead e Joseph Cotten, micro resenhas de seis DVD´s disponíveis nas locadoras, além de um cartaz original de “Prelúdio Para Matar”.

“Prelúdio Para Matar” (Profondo Rosso / Deep Red / The Hatchet Murders, Itália, 1975) # 395
data: 06/08/06 – avaliação: 9 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 07/08/06)

Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, 2006)


Para contribuir ainda mais com a imensa quantidade de refilmagens que estão sendo lançadas todos os anos, ou seja, filmes inspirados em outros mais antigos, estreou nos cinemas brasileiros em 28/07/06 “Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes, 2006), dirigido e escrito pelo francês Alexandre Aja (de “Alta Tensão” / “Haute Tension”), uma refilmagem do violento “Quadrilha de Sádicos” (77), escrito e dirigido por Wes Craven.

Na história, uma família em férias, viajando com destino a San Diego, na California, atravessando o deserto do Novo México num trailer puxado por uma pick-up, sofre um acidente quando todos os pneus são furados de forma criminosa numa armadilha para turistas, depois que eles entraram numa estrada secundária, orientados pelo velho atendente do único posto de gasolina em muitos quilômetros (Tom Bower). A família Carter é formada pelo pai Big Bobby (Ted Levine), um detetive aposentado, a mãe Ethel (Kathleen Quinlan), e três filhos, os adolescentes Brenda (Emilie de Ravin) e Bobby (Dan Byrd), além de Lynn (Vinessa Shaw), que por sua vez é casada com Doug Bukowski (Aaron Stanford), dono de uma loja de celulares, e tem uma filha ainda bebê, Catherine (a pequenina Maisie Camilleri Preziosi).
Uma vez perdidos no meio de um imenso deserto, eles não imaginavam que o pior problema não seria como voltar para a civilização, mas sim como enfrentar a terrível experiência de serem brutalmente ameaçados por um grotesco grupo de humanos mutantes e deformados, vítimas mentalmente perturbadas que sofreram os efeitos nocivos de testes nucleares que o governo americano realizou na área entre os anos de 1945 e 1962, e que tornaram-se canibais. Eles negaram abandonar sua casa na época e tiveram que se abrigar das bombas atômicas numa mina subterrânea, vivendo isolados escondidos nas colinas, apenas espreitando a oportunidade de se vingarem da humanidade, atacando os viajantes que atravessassem seu território proibido. Entre essas criaturas horrendas e bizarras, destaca-se o gigantesco e ultra violento Pluto (Michael Bailey Smith), que no original foi interpretado por Michael Berryman. Os outros mutantes são Lizard (Robert Joy), Goggle (Ezra Buzzington), Papa Jupiter (Billy Drago), Big Brain (Desmond Askew), com seu imenso cérebro descomunal, e Big Mama (Ivana Turchetto), além da jovem Ruby (Laura Ortiz), que tem um papel importante no destino específico de uma das personagens.

“Viagem Maldita” é mais um dos bons filmes de horror que entraram em cartaz nas telonas brasileiras nesse ano de 2006, aliás, um ano bem interessante para o cinema fantástico, somando-se ao australiano “Wolf Creek – Viagem ao Inferno” (com temática similar), ao tailandês “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado” (Shutter), e aos também americanos “O Albergue” (Hostel), de Eli Roth, a refilmagem “A Profecia” (The Omen), e a bagaceira super divertida “Seres Rastejantes” (Slither), esse numa co-produção com o Canadá. Sem contar ainda “Doom – A Porta do Inferno” e “Premonição 3” (Final Destination 3), que também são bem divertidos, dentro de suas limitações e temáticas clichês.
Wes Craven é um nome importante dentro do gênero horror, principalmente pelos violentos “Aniversário Macabro” (Last House on the Left, 1972), e o já citado “Quadrilha de Sádicos”, além de ser o criador das franquias “A Hora do Pesadelo” nos anos 80 e “Pânico” na década de 90. Mas, a maioria de seus outros trabalhos e principalmente os últimos, “Vôo Noturno” (Red Eye) e “Amaldiçoados” (Cursed), que são péssimos exemplos de cinema de suspense e horror, fizeram definitivamente seus admiradores desconfiarem de qualquer filme que tenha seu nome nos créditos. Por isso mesmo, não deixa de ser uma surpresa que a refilmagem de “The Hills Have Eyes”, com Craven na produção, seja um filme que merece destaque (com grandes méritos para o cineasta Alexandre Aja), principalmente pela ousadia na violência das cenas de mortes, todas bastante gráficas e perturbadoras, não poupando dor e sofrimento para as vítimas (tanto os humanos normais como os mutantes deformados): temos desde um corpo queimado vivo, passando por cabeça explodida à bala, e machadada no crânio.
O prólogo movimentado e a cena do primeiro ataque dos mutantes contra o trailer da família de viajantes são carregados de tensão e brutalidade e o roteiro foi bastante ousado no destino que reservou para alguns dos personagens. E apesar de um certo exagero na forma forçada como os sobreviventes lutaram por suas vidas e combateram os canibais insanos (a conduta do herói parece excessivamente fantasiosa), o resultado final até surpreendeu pela intensidade de violência em todos os confrontos, perseguições e fugas desesperadas, e mortes sangrentas.

Entre as curiosidades, vale citar o fato do produtor Peter Locke e o diretor Wes Craven, responsáveis pelo original dos anos 70, serem os produtores da refilmagem de quase 30 anos depois. As filmagens ocorreram no Marrocos, um país africano com altas temperaturas. O técnico em efeitos especiais Greg Nicotero participa do filme no papel do mutante deformado Cyst. As fotos reais de crianças mutantes apresentadas em meio aos créditos iniciais do filme não são provenientes do efeito nocivo de testes com a energia nuclear, mas sim por causa do temível agente laranja, um produto químico altamente tóxico utilizado como arma letal na Guerra do Vietnã, e que deixou seqüelas graves nas vítimas daquele conflito insano e seus descendentes.

A refilmagem ganhou uma sequência inferior em 2007, que recebeu o nome por aqui de “O Retorno dos Malditos”, e o filme original de 1977 recebeu uma continuação bem inferior em 1985, também produzida por Peter Locke e dirigida por Wes Craven.

A viagem pode até ser maldita, mas maldita mesmo é a incrível incompetência dos responsáveis pela escolha do título nacional dessa refilmagem, pois se eles tivessem pesquisado apenas um pouco, descobririam que seria muito mais coerente (e ajudaria imensamente um trabalho de catalogação dos filmes de horror que chegam ao Brasil) se a refilmagem recebesse o mesmo nome do original de 1977, “Quadrilha de Sádicos”, que se não é a tradução literal de “The Hills Have Eyes” (“As Colinas Possuem Olhos”), pelo menos é um bom título também. Agora, escolher “Viagem Maldita” não poderia ser mais oportunista, comum e trivial, pois é um nome óbvio demais, comercial demais, e sem criatividade.

“Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes, Estados Unidos, 2006) # 393 – data: 29/07/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/07/06)