O Parque Macabro / Carnaval de Almas (Carnival of Souls, EUA, 1962, PB)



“Ela era uma estranha entre os vivos

Os filmes que exploram fantasmas com um horror mais sutil e psicológico normalmente despertam grande interesse. “O Parque Macabro” (Carnival of Souls, 1962), de Herk Harvey, com roteiro de John Clifford, fotografia em preto e branco e produção de baixo orçamento, é um exemplo bem sucedido dentro dessa ideia. Com uma história sobrenatural no estilo típico da nostálgica série de TV “Além da Imaginação” (1959 / 1964), um pouco mais esticada para se enquadrar como um filme de longa- metragem.
A organista profissional Mary Henry (Candace Hilligoss) sofre um acidente traumático de carro numa ponte, com o veículo mergulhando nas águas escuras de um rio. Ela sobrevive misteriosamente, aparecendo desorientada nas margens. Ao receber o convite de um padre (Art Ellison) para tocar órgão numa igreja em outra cidade, ela viaja até o local. No caminho, visualiza perto da estrada um pavilhão abandonado, que no passado foi um movimentado balneário turístico e parque de diversões. De aspecto macabro e sombrio, o parque falido desperta na jovem um estranho fascínio, principalmente depois que ela é atormentada regularmente por alucinações e visões de um fantasma (o próprio diretor Herk Harvey, maquiado como um zumbi e não creditado), que parece querer se comunicar com ela e resolver alguma pendência entre o mundo dos vivos e mortos.
Mary é antissocial e reclusa, e se hospeda numa pensão de propriedade da Sra. Thomas (Frances Feist), onde conhece o jovem galanteador John Linden (Sidney Berger), que tenta conquistá-la sem muito sucesso. Ela recebe também conselhos de um médico, Dr. Samuels (Stan Levitt), sobre sua constante confusão mental talvez relacionada com o stress causado pelo acidente de carro. Mas, a mulher perturbada por fantasmas e obcecada pelo pavilhão abandonado precisa entender as visões sinistras que a assombram, e tenta de forma obstinada descobrir a relação entre o “parque macabro” e seus próprios demônios internos.
“O Parque Macabro” é aquele tipo de filme de horror sugerido, sem violência ou sangue, e apenas com visões oníricas sombrias e alucinações perturbadoras de fantasmas de pessoas que não fazem mais parte desse mundo. Com maquiagem simples, mas eficiente, todas as cenas com os zumbis perseguindo Mary são antológicas e carregadas de horror psicológico.
O filme é indicado para os apreciadores do cinema de horror com atmosfera desconfortável e sobrenatural, sem as barulheiras e correrias de histórias com fluxo narrativo acelerado e que cansam o espectador justamente por esses excessos.      
O diretor Herk Harvey (1924 / 1996) tem um currículo extenso, mas ficou mesmo conhecido através da grande repercussão ao explorar a temática do horror psicológico em “O Parque Macabro”. Ele revelou que, apesar de satisfeito com o sucesso desse filme, acharia mais justo ser reconhecido pelo conjunto de sua obra fora da temática, com muita experiência em centenas de filmes na área educacional, industrial e documentários.
Curiosamente, o filme ganhou dois títulos no Brasil, o oportunista “O Parque Macabro”, com a utilização de um adjetivo com forte ligação com o horror, e depois o correto “Carnaval de Almas”, uma tradução literal do original. Tem também uma versão disponível colorizada por computador e ganhou uma refilmagem lançada em 1998, dirigida por Adam Grossman.
Foi lançado em DVD por aqui com o nome “Carnaval de Almas”, pela “Versátil Home Video”, na Coleção “Obras-Primas do Terror – Volume 3”.

(Juvenatrix – 27/05/20)






The Creeping Terror (EUA, 1964, PB)



No cinema fantástico bagaceiro temos uma infinidade de filmes extremamente ruins e mal feitos de forma não proposital, ou seja, o baixo orçamento e os recursos mínimos de produção resultaram em porcarias colossais que divertem (a maioria delas) justamente por esses motivos, com histórias óbvias e banais, elenco amador e patético, e efeitos tão toscos e paupérrimos que tornam-se hilários. E por isso essas tranqueiras têm uma legião de fãs e apreciadores do estilo. Uma dessas tralhas inacreditáveis é o filme americano “The Creeping Terror” (1964), com fotografia em preto e branco, dirigido, produzido e editado por A. J. Nelson, que também atuou com o pseudônimo Vic Savage.
Ele é o jovem xerife Martin Gordon, casado com Brett (Shannon O´Neil), responsável pela manutenção da lei e ordem numa pequena cidade americana, junto com o assistente Barney (Norman Boone). A calmaria do lugar muda drasticamente depois que um objeto voador não identificado cai numa floresta próxima, despertando a atenção do exército, sob o comando do Coronel James Caldwell (John Caresio).
Após descobrirem que se trata do pouso de uma nave espacial (usando a imagem real de um foguete decolando, mas num efeito reverso), é convocado o cientista Dr. Bradford (William Thourlby) para assumir o comando da investigação, ocultando as informações secretas do público após encontrarem uma criatura alienígenas monstruosa dentro da nave, presa nas ferragens. O objetivo do cientista é estudar o foguete extraterrestre, sua desconhecida liga metálica e tecnologia avançada, além de tentar comunicação com seus ocupantes.
Porém, outro alienígena, um monstro grotesco rastejante parecendo uma lesma gigante, conseguiu sair da nave logo após a aterrissagem, espalhando o horror na floresta e cidadezinha, devorando as pessoas em seu caminho, obrigando o cientista a unir forças com o xerife local e o exército para tentar deter a ameaça da criatura espacial.
“The Creeping Terror” certamente faz parte da galeria dos piores filmes de horror e ficção científica da história do cinema bagaceiro. Porém, é divertido se desconsiderarmos a história clichê e descartável resumida numa nave espacial que chega à Terra com criaturas monstruosas que engolem gente, para absorver as características dos humanos e enviar as informações para seu planeta preparar uma eventual invasão. E se também esquecermos a produção paupérrima e elenco péssimo de atores incapazes de interpretar os personagens rasos do roteiro. A diversão é garantida exclusivamente pela presença do monstro rastejante do título, que felizmente aparece em várias cenas com seus movimentos lentos à procura da carne de suas vítimas.
O ideal seria que o filme tivesse uma metragem menor (apesar de já ser curto, com apenas 77 minutos), retirando um monte de cenas desnecessárias, como o relacionamento de casal entre o xerife e sua jovem esposa, as reuniões descartáveis entre a polícia, o exército e o cientista (todos completamente incompetentes para lidar com a situação), e o excesso de tempo perdido num baile com as pessoas dançando (e prestes a virar comida de lesma), deixando apenas os momentos com a criatura, numa compilação dos ataques do monstro engolindo as pessoas.
Aliás, o bicho do espaço está entre os mais toscos e hilários já vistos nos filmes bagaceiros, filmado de longe para esconder os defeitos, parecendo um fantoche gigante de dragão chinês ou uma alegoria pobre de carnaval, feita com retalhos de panos e tapetes rastejando pelo chão, com pedaços de mangueiras na cabeça e várias pessoas escondidas por baixo da fantasia para realizar seus pesados movimentos. Totalmente bizarro e divertido.
As cenas de ataques do monstro são hilárias, e merecem registro o momento onde um homem se defende da criatura com golpes de violão, e a carnificina no salão de festas, com a lesma espacial se rastejando de forma extremamente lenta e ainda assim conseguindo devorar várias pessoas incompetentes para fugir.
A nave espacial pousada na floresta nunca é mostrada por inteiro, devido às dificuldades de orçamento da produção, com seu interior repleto de painéis com interruptores e mostradores analógicos, simulando uma tecnologia “avançada” de outro mundo, um clichê sempre explorado nesses filmes bagaceiros de invasão alienígena.
Sem contar que o filme tem uma narração maçante (de Larry Burrell, não creditado) que fica explicando as ações dos personagens durante a maior parte do tempo, num recurso irritante para driblar a falta de dinheiro para a captação do som.
Em 2014 foi lançado um documentário chamado “The Creeping Behind the Camera”, escrito e dirigido por Pete Schuermann, com os bastidores do filme e biografia do polêmico diretor A. J. Nelson (ou Vic Savage), conhecido por condutas condenáveis. 

(Juvenatrix – 24/05/20)




"O Zumbi" (The Ghoul, Inglaterra, 1933, PB)



O ator inglês Boris Karloff (1887 / 1969) é um dos ícones do Horror e Ficção Científica, com seu nome eternizado na história do cinema fantástico, mais lembrado por sua caracterização do “monstro de Frankenstein” nos filmes da produtora americana “Universal”, além de outros vilões e “cientistas loucos”. Em 1933 ele fez seu primeiro filme inglês, “O Zumbi” (The Ghoul), cuja história utiliza elementos que exploram o universo ficcional das lendas, mistérios, poderes pagãos e maldições da mitologia egípcia.
 Com direção de T. Hayes Hunter, na história o Prof. Henry Morlant (Boris Karloff) é um rico egiptólogo, excêntrico e recluso em sua imensa casa gótica. Ele gastou boa parte de sua fortuna comprando uma misteriosa joia chamada “Luz Eterna”, roubada no Egito pelo mercenário Aga Ben Dragore (Harold Huth). O precioso artefato tem o poder da imortalidade, quando utilizado num ritual com a estátua sagrada do deus Anúbis. Uma vez gravemente doente e imobilizado na cama, o Prof. Morlant orienta seu fiel mordomo Laing (Ernest Thesiger) para enfaixar a joia em sua mão, para que depois pudesse reviver após o sepultamento numa cripta sinistra ao lado de sua casa, com sua tumba sendo iluminada numa noite de lua cheia.
Porém, a joia desaparece e o bizarro Prof. Morlant retorna dos mortos, desfigurado e com a mente distorcida pelo ódio, como um zumbi assassino em busca de vingança contra várias pessoas que estão em sua casa. O grupo é formado por seus sobrinhos Ralph Morlant (Anthony Bushell) e Betty Harlon (Dorothy Hyson), que vieram em busca da herança do tio falecido, além do ganancioso advogado da família, Sr. Broughton (Cedric Hardwicke), de um padre charlatão, Nigel Hartley (Ralph Richardson), do já citado ladrão sofisticado Dragore, e da irritante assistente da Srta. Harlon, Kaney (Kathleen Harrison), responsável por um desnecessário alívio cômico na trama.
“O Zumbi” é o primeiro filme inglês de horror da era do cinema sonoro, que ficou perdido por muitos anos e felizmente foi encontrado e restaurado. Tem fotografia em preto e branco e pouco mais de 70 minutos de duração. Sua narrativa é lenta, característica comum para a época da produção, e o roteiro tem furos e situações que não se encaixam, diminuindo inevitavelmente o interesse nos momentos arrastados sem a presença de Boris Karloff.
Mas, ainda assim, é recomendado para os apreciadores de filmes góticos e fãs do grande ator de “Frankenstein”. Temos aquela tradicional atmosfera sombria no casarão antigo e decrépito, repleto de aposentos escuros iluminados por velas. Karloff fala pouco, apenas na sequência de abertura, doente numa cama, e também não aparece tanto quanto gostaríamos. Mas, ele sempre rouba as cenas quando surge das sombras, estando bem à vontade num dos papéis que costuma fazer com maestria, o assassino que volta do mundo dos mortos para matar todos em seu caminho, na busca da joia egípcia com o poder da vida eterna.
Curiosamente, o filme também é conhecido por aqui como “Dragore”, uma péssima escolha de título nacional, pois é apenas o nome do ladrão que roubou a joia egípcia e vendeu para o Prof. Morlant, tentando recuperá-la novamente, e o grande vilão é o Prof. Morlant, que voltou dos mortos como um zumbi perturbado, assassino e vingativo. Além desse nome, o site “IMDB” (imenso banco de dados sobre filmes) também informa outro título alternativo brasileiro ainda mais ridículo, “Dragore, o Fantasma”.
O filme ganhou uma refilmagem inglesa em 1961 conhecida pelos títulos “No Place Like Homicide!” ou “What a Carve Up!”, com elementos de humor negro.

(Juvenatrix – 22/05/20)





Re-Juvenator (The Rejuvenator / Rejuvenatrix, EUA, 1988)


O fanzine de Horror e Ficção Científica “Juvenatrix” foi criado em Janeiro de 1991 (com mais de 200 edições e 5000 páginas já publicadas) e teve seu nome inspirado num filme americano obscuro e bagaceiro de 1988, lançado em vídeo VHS por aqui pela “Taipan Video” como “Re-Juvenator”. Com direção de Brian Thomas Jones, cineasta desconhecido com um currículo pequeno, e roteiro dele em parceria com Simon Nuchtern.
Uma atriz veterana e rica, Ruth Warren (Jessica Dublin), está depressiva pelo declínio de sua carreira, não recebendo mais convites para atuar em grandes filmes. Ele decide então patrocinar as pesquisas científicas do Dr. Gregory Ashton (John MacKay), que é auxiliado pela assistente Dra. Stella Stone (Katell Pleven). O projeto científico consiste na criação de um soro de rejuvenescimento, cuja fase experimental somente tem testes com animais, e ainda não é seguro para aplicação em seres humanos.
Porém, a atriz em decadência está tão ansiosa para voltar a ter uma nova vida mais jovem, que aceita os riscos e obriga o cientista a testar a fórmula nela mesmo, como cobaia. Depois de uma cirurgia plástica bem sucedida inicialmente, a mulher se transforma em jovem novamente, tanto que até mudou de nome para Elizabeth Warren (Vivian Lanko). E sempre ao seu lado para servi-la, está disponível o fiel mordomo Wilhelm (James Hogue).
Mas, para manter os efeitos do rejuvenescimento, ela precisa ingerir regularmente o tal soro que é obtido através da extração de líquidos dos cérebros de cadáveres, adquiridos ilegalmente pelo cientista. Despertando assim a desconfiança de um colega rival, Dr. Germaine (Marcus Powell), um desafeto que quer denunciá-lo e impedir seu trabalho científico.
Como o processo de rejuvenescimento está sempre se revertendo e a obtenção do soro está cada vez mais difícil, a atriz vai se transformando progressivamente num monstro disforme com a mente distorcida, desenvolvendo um brutal instinto assassino à procura do cérebro de pessoas vivas para a obtenção do soro.
“Re-Juvenator” é o típico filme bagaceiro de horror com elementos de ficção científica dos saudosos anos 80 do século passado, com baixo orçamento, mortes sangrentas e ótimos efeitos especiais com maquiagem “gore” na concepção da criatura mutante gosmenta com voz gutural, sem a utilização de imagens geradas por computador.
A história não tem novidades, porém trata-se de diversão garantida pela combinação de “cientista louco” em busca do bem para a humanidade (o soro da juventude), com “ser humano transformado em monstro” (uma mulher desesperada para voltar a ser jovem), tendo um resultado catastrófico para o projeto científico com uma cobaia humana grotesca assassina, sedenta pelo sangue e faminta pelo cérebro de suas vítimas.  
É verdade que demora um pouco para ocorrer a primeira morte, com quase sessenta minutos, e tudo acontece com mais intensidade no ato final, com o sangue jorrando e o monstro colecionando cadáveres, mas isso não é um problema, pois a história desperta o interesse o tempo inteiro.
O filme foi considerado como uma espécie de refilmagem de “A Mulher Vespa” (The Wasp Woman, 1960), de Roger Corman, pela similaridade da história que se situa dentro dos sub-gêneros do cinema fantástico que exploram “cientistas loucos” e “seres humanos transformados em monstros”.
Entre as curiosidades, a trilha sonora é da banda feminina de rock “Poison Dolly´s” (1986 / 1994), que aparece num show numa boate, e o filme recebeu vários títulos originais como “The Rejuvenator”, “Rejuvenatrix” ou “Juvenatrix – A Classic Tale of Terror”.

(Juvenatrix – 16/05/20)



O Tesouro do OVNI (Top Line, Itália / Colômbia, 1988)


É inegável que boa parte do cinema fantástico bagaceiro italiano é divertido, pois temos uma infinidade de filmes tranqueiras com roteiros repletos de absurdos, para a satisfação dos apreciadores do estilo. Um exemplo disso é a tralha “O Tesouro do OVNI” (Top Line, 1988), já começando pelo título brasileiro no mínimo hilário. É uma co-produção entre Itália e Colômbia (as filmagens ocorreram em Cartagena, na região caribenha do país sul americano) dirigida por Nello Rossati (sob o pseudônimo Ted Archer), e que apesar da grande semelhança com meu sobrenome, não é meu parente.
A história é uma salada misturando elementos de aventura com ficção científica, explorando diversas temas como civilizações perdidas (o ouro dos astecas) com queda de disco voador, passando por robôs assassinos e alienígenas gosmentos hostis que querem invadir nosso planeta, além de conspiração governamental envolvendo o serviço secreto americano (CIA) e russo (KGB). Sem esquecer que a polícia e o exército colombianos são corruptos e ainda tem um nazista colecionador de tesouros.
Para completar, vale citar alguns nomes importantes que agregam muito valor ao elenco, como o ator italiano Franco Nero, com um currículo tão extenso que passa dos 200 filmes, e o veterano americano George Kennedy (1925 / 2016), outro rosto conhecido pela imensa carreira. Depois de tudo isso, dá para imaginar o nível de bizarrice, atiçando a curiosidade para ver o filme.
Um escritor falido e alcoólatra, Ted Angelo (Franco Nero), está na Colômbia pesquisando materiais para um livro sobre a história das civilizações que foram colonizadas pelos espanhóis nos séculos XV e XVI. Depois de ter contato com uma adaga asteca, ele decide procurar mais artefatos preciosos nas montanhas de Cartagena. Ele encontra uma caverna com uma caravela espanhola e uma nave espacial em seu interior, além de muitos objetos de ouro dos astecas.
A partir daí, o escritor aventureiro se envolve numa perigosa rede de intrigas e conspirações, acompanhado da jovem June (Deborah Barrymore), que conheceu depois do assassinato misterioso de seu amigo vendedor de antiguidades Alonso Quintero (William Berger). Eles são perseguidos por mercenários interessados no tesouro e agentes secretos interessados em ocultar a existência do OVNI, enfrentando problemas com sua editora, a ex-esposa americana Maureen De Havilland (Mary Stavin), com um perigoso nazista antiquário, Heinrich Holzmann (George Kennedy), e um robô alienígena assassino (Rodrigo Obregón).  
“O Tesouro do OVNI” é uma produção de baixo orçamento e roteiro hilário de tão ruim. Começa basicamente como um filme comum de aventura tendo o primeiro terço meio arrastado, apesar dos tiroteios e perseguições, e um destaque é a perseguição insana entre jipes numa estrada estreita nas montanhas. Porém, o que realmente irá despertar interesse para os apreciadores do cinema bagaceiro está na metade para o final, onde temos uma maior relevância para os elementos de ficção científica tranqueira, garantindo a diversão com uma grande quantidade de bizarrices. Principalmente com um ciborgue tosco no estilo “Exterminador do Futuro” e um alienígena gosmento (filmado propositalmente com cenas escuras para esconder os defeitos), concebido com aqueles efeitos especiais típicos da década de 80 do século passado, sem o artificial uso de imagens geradas por computador.
O filme foi lançado no Brasil na época dos vídeos VHS, pela VIC e também recebeu o nome alternativo original “Alien Terminator”.

(Juvenatrix – 12/05/20)

 


O Peixe Assassino (Killer Fish, Itália / França / Brasil, 1979)


Entre meados dos anos 70 e 80 do século passado, foram lançados muitos filmes explorando o tema de animais marinhos assassinos, inspirados pelo sucesso comercial de “Tubarão” (Jaws, 1975), de Steven Spielberg. Além da própria franquia criada por esse filme que se tornou um clássico, com três sequências lançadas em 1978, 1983 e 1987, tivemos ainda vários outros filmes como “Orca: A Baleia Assassina” (1977), “Piranha” (1978), “Piranhas 2: Assassinas Voadoras” (1981), “O Último Tubarão” (1981), “O Peixe Assassino” (Killer Fish, 1979), entre outros.
Esse último é uma bagaceira co-produzida pela Itália, França e Brasil, com direção de Antonio Margueriti (sob o pseudônimo Anthony M. Dawson), cineasta responsável por divertidas tranqueiras italianas de ficção científica dos anos 60 como “Destino: Espaço Sideral” e “O Planeta dos Desaparecidos”, lançadas num único DVD por aqui pela “Works Editora” por volta de 2007. As filmagens ocorreram em Angra dos Reis (RJ), e no elenco temos nomes conhecidos do cinema americano como Lee Majors (o ciborgue da nostálgica série de TV “o Homem de Seis Milhões de Dólares”, 1974 / 1978), James Franciscus (“De Volta ao Planeta dos Macacos”, 1970), e Karen Black (“A Casa dos 1000 Corpos”, 2003).
Na história, um grupo de ladrões americanos de joias está no Brasil, formado principalmente por Lasky (Lee Majors) e Kate Neville (Karen Black), além do mentor Paul Diller (James Franciscus), ex-funcionário de uma refinaria de óleo que tem esmeraldas guardadas num cofre. Eles roubam as pedras preciosas após explodirem reservatórios de combustível na usina, aproveitando a confusão do incêndio. Para despistar as autoridades policiais, eles escondem as pedras no fundo de um lago, para retirarem somente depois que os movimentos de busca diminuíssem.
Mas, o lago está repleto de piranhas, causando atritos e desconfiança no grupo de ladrões e espalhando o horror para quem entrasse nessas águas, incluindo um barco de turismo que ficou à deriva depois de enfrentar a fúria de um tornado. O barco estava levando entre seus passageiros uma equipe profissional de sessão de fotos, com o fotógrafo irritante Ollie (Roy Brocksmith), a modelo Gabrielle (Margaux Hemingway) e sua empresária Ann (Marisa Berenson).
“O Peixe Assassino” tem um roteiro muito simples e cheio de clichês, contando uma história banal sobre ladrões de joias, com intrigas e traições entre eles, e com o elemento de horror como pano de fundo através de piranhas assassinas comendo gente num lago (aproveitando a onda no cinema naquele período, explorando criaturas aquáticas carnívoras). O primeiro terço do filme é bastante arrastado, até que finalmente acontece a primeira morte sutil provocada pelas piranhas. Mas, infelizmente elas somente irão sangrar a tela com um pouco de violência mais para o final. Aliás, num total de 100 minutos de projeção, poderia ter uma redução de pelo menos 15 minutos, eliminando vários momentos tediosos sem envolver os peixes assassinos, que certamente são o maior interesse no filme.
Os efeitos especiais são bem toscos, mas garantem alguma diversão com as filmagens utilizando maquetes e miniaturas no desastre da refinaria, e no rompimento de uma barragem por um tornado falso, com uma consequente inundação que espalhou piranhas para todos os lados. Também tem o fato hilário da performance totalmente desinteressada de Lee Majors, um dos principais nomes do elenco, que no meio de cenas que deveriam ser carregadas de tensão, com a ameaça mortal das piranhas, ele parece excessivamente tranquilo e alheio ao perigo, eliminando qualquer credibilidade nos momentos de ataques.  
O filme recebeu também outro título por aqui, “Perigo no Lago”, quando foi exibido na televisão. É uma produção de baixo orçamento com história ambientada no Brasil e tem algumas curiosidades como a menção ao dinheiro da época (final dos anos 70), o cruzeiro, e a aparição no desfecho de um avião comercial da Varig, empresa que controlou boa parte da aviação brasileira e que agora não existe mais. O ator italiano Anthony Steffen (1930 / 2004), conhecido pelas inúmeras participações em filmes do gênero “spaghetti western”, também fez parte do elenco de “O Peixe Assassino”.
Apesar de todos os muitos defeitos, “O Peixe Assassino” ainda vale uma conferida pelas cenas sangrentas com as piranhas e pela curiosidade geral da ambientação da história no Rio de Janeiro.

(Juvenatrix – 07/05/20)





Devorado Vivo (Eaten Alive, EUA, 1976)


O diretor americano Tobe Hooper (1943 / 2017) é um nome bastante conhecido no cinema de Horror, mas teve uma carreira irregular, alternando entre filmes significativos e sempre lembrados pelos fãs, com outros de qualidade menor e geralmente esquecidos. Seu maior trabalho certamente é o eterno clássico “O Massacre da Serra Elétrica” (1974), com sua história sangrenta que iniciou uma extensa franquia e contribuiu como inspiração e influência para uma grande produção que veio a seguir.
Sua filmografia inclui títulos como “Poltergeist, o Fenômeno” (1982), apesar que nesse caso os rumores indicam que boa parte da direção foi do produtor Steven Spielberg, além de outros filmes divertidos como o “slasher” “Pague Para Entrar, Reze Para Sair” (1981), a ficção científica “Força Sinistra” (1985), e o violento “Devorado Vivo” (Eaten Alive, 1976).
A história desse último é bem simples. Numa pequena cidade americana, um veterano soldado perturbado, Judd (Neville Brand, rosto conhecido pela série de TV de Western “Laredo”), é o dono de um hotel fuleiro chamado “Starlight”, localizado num pântano com um lago sinistro habitado por um enorme crocodilo sempre faminto e à espera da carne de animais ou dos eventuais hóspedes do hotel.
Para entrar no cardápio do réptil assassino, temos uma família em crise formada pelo estranho pai, Roy (William Finley), a histérica mãe Faye (Marilyn Burns, que já tinha sido a “scream queen” de “O Massacre da Serra Elétrica”) e a filha pequena Angie (Kyle Richards). Além também de Harvey Wood (Mel Ferrer), um pai de família com uma doença terminal, que junto com a filha Libby (Crystin Sinclaire), está procurando desesperadamente sua outra filha desaparecida, Clara (Roberta Collins). Para completar o time de hóspedes (ou vítimas), ainda temos o jovem arruaceiro Buck (Robert Englund, que mais tarde seria o popular vilão Freddy Krueger na franquia “A Hora do Pesadelo”) e sua namorada Lynette (Janus Blyth). E para investigar as mortes misteriosas temos o Xerife Martin (Stuart Whitman, da série de TV de Western “Cimarron”, e que faleceu em 16/03/2020 aos 92 anos).
Com o sucesso de “O Massacre da Serra Elétrica”, o diretor Tobe Hooper ficou em evidência e criou-se grande expectativa para seu próximo filme. Porém, numa comparação, é inevitável salientar que o conjunto da obra de “Devorado Vivo” é bem inferior. Mas ainda assim, o filme é bastante divertido e um destaque na carreira de Hooper pela alta dose de violência nas mortes sangrentas, pelas cenas de nudez gratuita e pelo elenco interessante, com muitos rostos conhecidos e atores experientes, pois além de todos os nomes já citados anteriormente, ainda temos Carolyn Jones, a Morticia da série de TV “A Família Addams”, no papel da Srta. Hattie, a proprietária de um bordel.
O roteiro, co-escrito por Kim Henkel (também de “O Massacre...”), foi inspirado num caso real de um “serial killer” que supostamente matava pessoas e alimentava seus jacarés de estimação com os cadáveres. Em “Devorado Vivo”, quase todas as ações se passam no hotel, com os hóspedes sendo violentamente atacados pelo perturbado Judd, portando uma enorme foice, lutando para não servirem de comida para o crocodilo. Os efeitos também são bem toscos, apesar que o réptil carnívoro de borracha ainda é muito mais interessante que os similares artificiais gerados por computador vistos numa infinidade de filmes modernos.
As filmagens foram feitas em estúdio, com pouca iluminação e a montagem dos cenários de um hotel barato e uma piscina simulando um lago onde vive o crocodilo falso, com o uso de muita névoa artificial para criar uma atmosfera sinistra e ajudar a esconder os defeitos de uma produção de baixo orçamento. O filme teve vários outros nomes alternativos como “Death Trap”, “Horror Hotel”, “Slaughter Hotel” e “Starlight Slaughter”.

(Juvenatrix – 01/05/20)