Scooby-Doo 2: Monstros à Solta (2004)


O cinema de entretenimento adotou por questões comerciais (ou seja, lucros para os produtores), a idéia de realizar continuações sempre que um filme original garantir algum sucesso de bilheteria, e tem se tornado até bem popular a produção de trilogias. E normalmente as continuações não conseguem se superar aos seus filmes de origem, às vezes nem ao menos conseguem se igualar, apresentando uma qualidade bem inferior, sem novidades e com histórias banais. Porém, existem logicamente as exceções e analisando rapidamente os últimos anos podemos citar três casos de continuação que superou o original: “Premonição 2”, “Olhos Famintos 2” e “Scooby-Doo 2: Monstros à Solta” (Scooby-Doo 2: Monsters Unleashed), onde este último entrou em cartaz nos cinemas americanos em 26/03 e logo em seguida no Brasil em 02/04/04.
O filme é uma sequência de uma produção de 2002 que inaugurou a franquia no cinema, e é baseado na famosa e popular série homônima de desenho animado da televisão criada em 1969 pela dupla William Hanna (1910/2001) e Joseph Barbera (nascido em 1911 e ainda ativo). A série animada apresentava um divertido cachorro falante que acompanha um grupo de jovens detetives reunidos na agência “Mistério S.A.”, que se envolviam na solução de mistérios com supostos casos sobrenaturais, casas assombradas e aparecimento de fantasmas e monstros, mas que revelavam-se depois apenas encenações de criminosos oportunistas. Transformado em filme, o grupo é formado pelo líder Fred Jones (Freddie Prinze Jr., de “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”), a bela Daphne Blake (Sarah Michelle Gellar, da série de TV “Buffy – A Caça Vampiros”), a intelectual Velma Dinkley (Linda Cardellini), o desastrado e comilão Shaggy “Salsicha” Rogers (Matthew Lillard, de “Pânico” e “13 Fantasmas”), e pelo cachorro Scooby-Doo (voz de Neil Fanning), totalmente criado por efeitos especiais de computador.
“Scooby-Doo 2” tem novamente a direção de Raja Gosnell e é escrito por James Gunn, um roteirista lançado pela produtora de filmes bagaceiros “Troma” e autor do roteiro de “Madrugada dos Mortos”, refilmagem do clássico de zumbis “Dawn of the Dead”, de George Romero. Além de contar com o mesmo elenco do filme original, acrescido de outros nomes importantes como Seth Green (da trilogia “Austin Powers”), Tim Blake Nelson (do perturbador drama “Cinzas da Guerra”, 2001), a bela Alicia Silverstone e o veterano Peter Boyle (que foi o monstro na paródia “O Jovem Frankenstein”, 1974, de Mel Brooks).

Nesse novo filme, o jovem grupo de detetives da “Mistério S.A.”, Fred, Daphne, Velma, Salsicha e o cão Scooby-Doo, desfrutam uma enorme popularidade em sua cidade, Coolsville, tanto que são convidados para a inauguração do importante e enorme museu de criminologia administrado pelo curador Richard Wisely (Seth Green), onde estão expostas todas as roupas e disfarces dos supostos monstros e fantasmas que os jovens detetives desmascararam nos últimos anos. Porém, para estragar a festa surge um novo vilão mascarado acompanhado de um pterodáctilo fantasma que além de arruinarem a inauguração, ainda fazem os heróis passarem-se por incompetentes, prejudicando significativamente suas imagens perante os fãs, ajudado ainda pela manipulação desonesta de uma reportagem de televisão da repórter investigativa Heather Jasper-Howe (Alicia Silverstone), que cobria o evento.
Sentindo-se especialmente culpados pela trapalhada ocorrida no museu, Salsicha e Scooby-Doo decidem iniciar uma investigação sozinhos para tentar se redimirem perante seus amigos do grupo, e passam a procurar pistas que os levam ao sinistro Jeremiah Wickles (o experiente Peter Boyle, com cara de vilão), que no passado foi desmascarado pelos jovens ao fingir ser o “Fantasma do Cavaleiro Negro”, fato que levou-o à prisão por muitos anos, e onde conheceu o misterioso Dr. Jonathan Jacobo (Tim Blake Nelson), um cientista renegado pela comunidade científica por tentar criar vida artificial, e dado como desaparecido ao tentar fugir da prisão numa máquina voadora.
A partir daí, os jovens detetives passam a enfrentar seus medos interiores, conhecer melhor suas próprias personalidaes, e a testar o espírito de equipe para recuperarem a popularidade em Coolsville e solucionar seu principal mistério até então, quando se deparam com uma série de monstros que invadiram a cidade e instauraram o terror entre seus habitantes, criados pelo vilão mascarado através de uma máquina movimentada por gás “randomonium” e que dá vida aos antigos disfarces que estavam sendo expostos no museu. Surgiram então o “Fantasma de 10.000 Volts” (que eletrocuta tudo em seu caminho e se desloca através de circuitos elétricos), “Pterodáctilo Fantasma” (animal pré-histórico com enormes asas e grito agudo), “Fantasma do Cavaleiro Negro” (com sua imponente armadura), “Skelemen” (uma dupla de esqueletos desastrados e que possuem um único olho enorme), “Fantasma do Capitão Cutler” (um mergulhador que usa um pesado escafandro), “Zumbi” (que vomita um líquido verde), “Monstro de Piche” (que aprisiona suas vítimas num mar de lama preta pegajosa), “Monstro do Algodão Doce” (que não teve um final muito feliz nas mãos de Salsicha e Scooby-Doo), “Fantasma de 49” (um minerador que solta fogo pela boca), entre outros. Alguns dos monstros foram criados totalmente por computação gráfica e outros foram manipulados também por atores vestindo complexas fantasias.

Filmado em dois meses e meio entre Abril e Julho de 2003 com locações na cidade canadense de Vancouver, “Scooby-Doo 2: Monstros à Solta” é bem superior que seu antecessor, principalmente por apresentar uma história muito mais interessante e com a inteligente idéia de resgatar vários elementos vindos diretamente do desenho animado, como principalmente os diversos monstros e fantasmas, além do uso de cores vivas e exageradas nos cenários e vestuário (fato que também foi utilizado no primeiro filme).
A participação do veterano Peter Boyle pode ser encarada como uma homenagem a esse grande ator, que com quase os seus setenta anos de idade, ainda está firme e na ativa, recebendo em “Scooby-Doo 2” o papel de um sujeito misterioso, proprietário de uma mansão daquelas tipicamente assombradas, e com um passado nebuloso.
Entre os destaques, está a complexa e bem trabalhada seqüência inicial dos créditos, onde acompanhamos o vôo rasante do pterodáctilo fantasma em meio aos prédios e becos escuros de Coolsville, até chegar à entrada do museu de criminologia. Outros bons momentos incluem uma bela mansão com estilo gótico e assustador, repleta de livros antigos e quadros bizarros, e o quartel general da “Mistério S.A.”, todo colorido e repleto de equipamentos modernos e sofisticados para auxiliar os jovens detetives em suas investigações. Uma cena em particular bem engraçada é aquela explorando a característica bizarra de Scooby-Doo em soltar poderosos gases, os quais se tornaram providenciais no confronto com um dos monstros. E todos os momentos em que apareciam a dupla atrapalhada de esqueletos cíclopes, sempre desastrados e muito divertidos, também são impagáveis. Sem contar as cenas quando o Salsicha resolve beber alguns líquidos coloridos encontrados numa geladeira, e os quais tem a capacidade de alterar fisicamente quem os ingere, transformando o atrapalhado “detetive” num belíssimo corpo de mulher ou com enormes músculos de dar inveja a Arnold Schwarzenegger ou Sylvester Stallone.
De negativo, não posso deixar de citar as duas insuportáveis e dispensáveis cenas de dança e cantorias no bar “The Faux Ghost”, visitado pelos vilões que foram desmascarados pela “Mistério S.A.”, envolvendo os freqüentadores e os jovens detetives. E se o filme tem o mérito de possuir três belíssimas mulheres no elenco (Sarah Michelle Gellar, Linda Cardellini e Alicia Silverstone), também não posso omitir o fato que todos esses atores jovens, vindo de filmes e séries de TV para adolescentes, são muito fracos no quesito interpretação, principalmente o descartável Freddie Prinze Jr., que até recebeu uma indicação para o prêmio “Framboesa de Ouro” de pior ator coadjuvante pelo primeiro filme da franquia “Scooby-Doo”.

Como curiosidade, o museu de criminologia de Coolsville abrigava uma infinidade de disfarces que foram monstros falsos no desenho animado, e além dos fantasmas já citados e que ganharam vida pela máquina do vilão mascarado, várias outras fantasias lá se encontravam, cuidadosamente preparadas pela equipe de figurinos do filme. Alguns dos monstros expostos eram “Chickenstein”, “Palhaço Fantasma”, “The Creeper”, “Fantasma do Dr. Coffin”, “Fantasma Highlander”, “Sereia”, “Mortician”, “Bruxa de Ozark”, “Phantom”, “Pumpkinhead”, “Fantasma Errante”, “Fantasma do Barba Ruiva”, “Spooky Space Ghost”, “Chefe Viking”, “Feiticeiro”, “Rainha Guerreira”, “Lobisomem”, “Mago” e “Zen-Tuo”.
A Warner já anunciou que pretende produzir a terceira parte de “Scooby-Doo”, e que o projeto só depende de um bom desempenho de bilheteria do segundo filme. Inclusive a intenção é substituir o roteirista James Gunn (que realmente escreveu uma história bem ruim para o primeiro filme da série) por uma dupla de novatos, Dan Forman e Paul Foley, que haviam escrito um roteiro bem recebido pelos produtores, para transformar o também desenho animado futurista “Os Jetsons” em filme.
E a atriz Sarah Michelle Gellar fez parte do elenco do filme de horror “O Grito” (The Grudge), uma refilmagem do sucesso japonês “Ju-on”. A direção do remake americano é também do mesmo do original, Takashi Shimizu, e a produção é de Sam Raimi, criador da trilogia “The Evil Dead”. O elenco ainda conta com Clea DuVall e Bill Pullman. A história é sobre uma maldição sobrenatural que surge quando uma pessoa morre guardando rancor, e que se transmite como um vírus para outras vítimas.

“Scooby-Doo 2: Monstros à Solta” (Scooby-Doo 2: Monsters Unleashed, 2004) # 234 – data: 01/04/04 – avaliação: 6 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/02/06)

Scooby-Doo 2: Monstros à Solta (Scooby-Doo 2: Monsters Unleashed, Estados Unidos, 2004). Warner Bros. Duração: 88 minutos. Direção de Raja Gosnell. Roteiro de James Gunn, a partir de personagens do desenho animado criado por William Hanna e Joseph Barbera. Produção de Charles Roven e Richard Suckle. Produção Executiva de Brent O’Connor, Kelley Smith-Wait e Joseph Barbera. Fotografia de Oliver Wood. Música de David Newman. Edição de Kent Beyda. Desenho de Produção de Bill Boes. Figurinos de Leesa Evans. Efeitos Especiais de Louis Craig. Elenco: Freddie Prinze Jr. (Fred Jones), Sarah Michelle Gellar (Daphne Blake), Matthew Lillard (Shaggy “Salsicha” Rogers), Linda Cardellini (Velma Dinkley), Seth Green (Patrick Wisely), Peter Boyle (Jeremiah Wickles), Tim Blake Nelson (Dr. Jonathan Jacobo), Alicia Silverstone (Heather Jasper-Howe), Neil Fanning (Voz de Scooby-Doo).

Sasquatch - O Abominável (2002)


Alguns filmes de horror mais desconhecidos são lançados no Brasil em DVD primeiramente para as locadoras e os consumidores em geral, e para eliminar os estoques, depois de um tempo são também distribuídos em banca por um preço mais popular, encartados em alguma revista antiga de vídeo que também ficou encalhada nas editoras.
Esse é o caso de “Sasquatch – O Abominável” (The Untold / Sasquatch, Canadá, 2002), que foi distribuído nas bancas em Janeiro de 2005, junto com a revista “DVD News Home Cinema”, ano 5, número 50, Abril de 2004, da “NBO Editora”, ao custo de R$ 17,90.
O filme é da “Flashstar” e traz na capa a tagline “Eles encontraram o elo perdido... E ele é assustador”, sendo impossível resistir e não deixar de ironizar sugerindo uma alteração na frase promocional para algo como “Nós encontramos um filme obscuro... e ele é horrível de se assistir”. “Sasquatch – O Abominável” tem até um subtítulo coerente, pois é um filme abominável de tão ruim.
Deixando as brincadeiras de lado, o elenco é liderado pelo experiente Lance Henriksen, um ator super produtivo, presente numa infinidade de filmes, muitos deles do gênero fantástico como o crossover “Alien x Predador” (2004), além de ser bem conhecido pela participação fixa na série de TV “Millennium”. A história é supostamente inspirada em um caso real, especulando a existência de uma criatura enorme e peluda conhecida como “Sasquatch” ou “Pé Grande”, que já se tornou uma lenda famosa. Curiosamente, no filme são citados vários nomes com que o bicho é chamado em outros países ao redor do mundo como Austrália, China, sendo que inclusive até o nosso Brasil foi citado, identificando a criatura como “Mapinguari”.

Na história, um grupo de seis pessoas é formado para tentar encontrar um pequeno avião que caiu nas florestas ao noroeste do Pacífico, mais especificamente nos Montes Cascade, e que carregava uma carga muito valiosa. A expedição de resgate é organizada por um rico industrial, Harlan Knowles (Lance Henriksen), presidente de uma poderosa corporação, a “Bio-Comp”, que tem um interesse especial em localizar sua filha Tara (Erica Parker), que estava entre os tripulantes do avião desaparecido, e também uma revolucionária máquina protótipo de análise de DNA, indispensável para o futuro financeiro de suas empresas, num trabalho de pesquisa apelidado de “Projeto Huxley”.
O restante do time é formado pelo montanhês rastreador Clayton Tyne (Russell Ferrier), pelo escritor farsante e bêbado Winston Burg (Philip Granger), contratado para ser um dos guias, além do nerd especialista em computação Plazz (Jeremy Radick), que gosta de falar sobre a vida exótica na natureza. Completam ainda o grupo mais duas mulheres, a investigadora e analista de acidentes aéreos Nikki Simmons (Mary Mancini), e a bela e interesseira Marla Lawson (Andrea Roth), funcionária da empresa de seguros “Browning & Burrows”, responsável pelo ressarcimento dos prejuízos do avião.
Porém, durante o percurso a caminho da aeronave acidentado, e após localizá-la sem a presença dos tripulantes, ou mesmo de seus corpos, a expedição de resgate enfrenta um misterioso animal que sempre está observando-os à espreita, apenas aguardando a oportunidade de atacar, obrigando a todos a lutar de forma desesperada pela sobrevivência.

Com as filmagens ocorridas em Vancouver, no Canadá, “Sasquatch – O Abominável” é um daqueles exemplos de filmes que não acrescentam nada ao gênero, num grande e tedioso desafio para o espectador não cair no sono. O roteiro procura especular sobre a existência de uma criatura que já se tornou um grande mistério e lenda na humanidade, um ser ancestral pertencente a um elo perdido no desenvolvimento da espécie humana. Porém, o filme é um desfile de clichês com os tradicionais sustos fáceis e artificiais, perseguições fúteis na floresta, e personagens mal desenvolvidos e desprovidos de qualquer tipo de carisma (exceto talvez pelo trabalho de Lance Henriksen, graças ao seu talento natural como ator experiente com dezenas de filmes no currículo). Não há suspense ou cenas tensas, nem violência, nem sangue, e os personagens mais desonestos e com características de vilões obviamente acabam morrendo primeiro e de forma tão insignificante que não faz a menor diferença.
Sem contar a completa falta de originalidade plagiando filmes como “A Bruxa de Blair”, na cena onde a filha do empresário Knowles grava num vídeo amador sua despedida, dizendo que não sairia viva da floresta, e “Predador”, nas cenas com efeitos especiais onde o Sasquatch observa os membros da expedição. Aliás, a criatura praticamente não aparece durante todo o filme, gerando até alguns momentos interessantes quando vemos apenas sua sombra ou silhueta entre as árvores, observando escondido os candidatos a cadáveres, mas depois que ela aparece mais explicitamente na sequência final, é uma grande decepção, não convencendo como uma espécie de monstro misterioso, agressivo e assassino, que deveria ser bem mais imponente e ameaçador.
Um outro detalhe que chega a incomodar é o uso exagerado do diretor, o desconhecido e estreante Jonas Quastel (também autor do roteiro), em escurecer a tela numa determinada cena para logo em seguida apresentar um outro plano, num efeito repetido à exaustão e cansando quem está assistindo. O mais curioso é que em seus comentários falando sobre o filme e revelando detalhes de bastidores (material extra do DVD), juntamente com depoimentos dos atores Philip Granger e Jeremy Radick e do produtor Rob Clark, todos falam que gostaram do resultado final do filme e que se divertiram muito com esse trabalho abordando o tema da lenda do Sasquatch. É óbvio que eles não iriam falar mal do próprio filme, mas chega a ser meio hilário como eles se orgulham do que fizeram.
Nesses mesmos comentários, eles revelaram que o igualmente desconhecido técnico Jason Palmer, que criou os efeitos de maquiagem, ou seja, alguns poucos cadáveres decompostos e a própria criatura peluda do título, faleceu poucos meses depois de concluídas as filmagens, devido a um fulminante câncer no estômago. Eles elogiaram muito o trabalho dele e ressaltaram seu esforço na concepção dos efeitos. Mais uma outra curiosidade revelada é que o produtor Rob Clark aparece no começo do filme como um piloto do avião que caiu nas florestas onde vive o Sasquatch.

O DVD traz como material extra um trailer de dois minutos, uma pequena sinopse (reproduzida na contra capa), biografias e filmografias dos atores Lance Henriksen e Andrea Roth, além de algumas pequenas notas de produção e comentários do diretor Jonas Quastel, devidamente legendados em português. Por curiosidade, a desconhecida atriz Andrea Roth participou do projeto da refilmagem da clássica série de TV “O Túnel do Tempo” (The Time Tunnel), produzida em 1966 pelo lendário Irwin Allen. A nova produção é canadense de 2002 com apenas o filme piloto sendo filmado, e como não obteve a aceitação necessária do público e dos executivos da indústria do cinema, a nova série de TV foi cancelada.

“Sasquatch – O Abominável” (Sasquatch / The Untold, 2002) # 294 – data: 11/01/05 – avaliação: 3 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/02/06)

“Sasquatch – O Abominável” (Sasquatch / The Untold, Canadá, 2002). Duração: 86 minutos. Direção de Jonas Quastel. Roteiro de Chris Lanning e Jonas Quastel. Produção de Rob Clark, Craig Denton e Glen Reynolds. Produção Executiva de Mike Curb e Carole Curb Nemoy. Fotografia de Shaun Lawless. Música de Tal Bergman e Larry Seymour. Edição de Grace Yuen. Desenho de Produção de Piotr Polak. Elenco: Lance Henriksen (Harlan Knowles), Andrea Roth (Marla Lawson), Russell Ferrier (Clayton Tyne), Philip Granger (Winston Burg), Jeremy Radick (Plazz), Mary Mancini (Nikki Simmons), Taras Kostyuk (Sasquatch), Erica Parker (Tara Knowles), Rob Clark (Piloto do avião), Scantone Jones (Tripulante do avião).

Roubando Vidas (2004)


Ele mataria para ser você

Existem dois tipos básicos de argumentos que tem sido muito explorados pelo cinema de horror nos últimos tempos: os chamados thrillers psicológicos com histórias de fantasmas, como “Garganta do Diabo” (Cold Creek Manor), e os filmes de suspense policial abordando as ações planejadas e ritualísticas de psicopatas assassinos, como é o caso de “Roubando Vidas” (Taking Lives), que entrou em cartaz em 09/04/04. Ambos são temas atraentes para os aficionados do gênero, pois tanto os contos de fantasmas e assombrações quanto as histórias com “serial killers”, mesmo utilizando os velhos e conhecidos clichês característicos desses tipos de filmes, sempre acabam despertando algum interesse para quem procura diversão no cinema.

Em “Roubando Vidas”, uma agente de sucesso do FBI, especializada em análise de perfil criminal, Illeana Scott (a bela Angelina Jolie, de “O Colecionador de Ossos”, outro filme do mesmo estilo), possui uma habilidade especial para descobrir a identidade dos assassinos, utilizando métodos não convencionais privilegiando seus instintos de intuição. Ela é convocada por seu amigo detetive Hugo Leclair (o turco Tchéky Karyo, de “O Núcleo – Missão ao Centro da Terra”), para auxiliar a polícia franco canadense de Montreal na captura de um famoso “serial killer” que vem atuando há 19 anos, e que tem a característica de assumir as vidas e identidades de suas vítimas (daí o título de “Roubando Vidas”). Porém, uma série de dificuldades colocam à prova suas habilidades criando-lhe um grande desafio na solução do caso, como entre outras coisas, atuar numa cidade estranha, ser mal recepcionada por um ciumento policial local, Joseph Paquette (o francês Olivier Martinez, de “S.W.A.T.”), e permitir a fraqueza de se envolver emocionalmente com uma importante testemunha de um dos crimes, o negociante de obras de arte James Costa (Ethan Hawke, de “Dia de Treinamento”), cuja atitude poderia prejudicar seu discernimento no trabalho de investigação.

O filme apresenta uma história interessante, que prende a atenção durante todo o tempo convidando o espectador a acompanhar a disputa entre uma habilidosa investigadora do FBI e seu adversário, um assassino inteligente e perigoso. Apesar de inevitavelmente lembrarmos de uma série de outros filmes similares, “Roubando Vidas” consegue se sustentar como um bom filme de suspense policial que tem as famosas e esperadas cenas de sustos (uma delas em especial é muito bem elaborada), perseguição de carros, tiroteios, correrias, reviravoltas na trama com revelações importantes conforme a história vai se desenvolvendo, e um final carregado de tensão. Ao contrário da maioria dos outros filmes do estilo, não há muita violência e mortes sangrentas, com o roteiro de Jon Bokenkamp (inspirado num livro homônimo de Michael Pye), preferindo privilegiar a condução das investigações, o clima de suspense e o relacionamento entre os personagens.
Um dos maiores méritos que “Roubando Vidas” tem ao seu favor é o expressivo elenco liderado pela bela Angelina Jolie (vista anteriormente nos dois filmes da fraca série “Tomb Raider”), que até aparece semi nua numa cena rápida, tendo ao seu lado o talentoso Ethan Hawke (da FC “Gattaca – A Experiência Genética”) e principalmente Kiefer Sutherland (da série televisiva “24 Horas” e de filmes como “Por Um Fio”). Ele é um dos grandes astros de sua geração e que tem um incrível carisma quando está em cena, mesmo em poucos minutos como em “Roubando Vidas”, onde faz o papel de um homem misterioso chamado Hart. O elenco ainda conta também com a experiência da atriz veterana Gena Rowlands como a Sra. Rebecca Asher, e com o francês Jean Hughes-Anglade, interpretando o investigador Emil Duval, companheiro de Paquette na polícia de Montreal e bem mais acessível na recepção à bela agente Scott.
Um dos principais destaques em “Roubando Vidas” foi uma incrível cena de atropelamento, numa violência chocante que consegue transmitir com bastante autenticidade a agressividade do choque de um carro em alta velocidade contra uma frágil pessoa. Aliás, o cinema tem explorado muito bem esse tipo de acidente, com várias cenas de atropelamento memoráveis e perturbadoras como as mostradas em “Encontro Marcado” (98), “Premonição” (2000) e “Identidade” (2003).

Como curiosidades, “Roubando Vidas” foi filmado em locações nas cidades canadenses de Montreal e Quebec, e tanto a equipe técnica de produção quanto o elenco receberam uma importante ajuda das autoridades policiais locais além de consultoria com profissionais especialistas em perfil criminal, para fortalecer a tentativa de transmitir autenticidade na história. Essas cidades foram escolhidas por predominar o idioma francês entre seus habitantes e por apresentarem um visual mais “europeu”, um fator importante pretendido pelo diretor D. J. Caruso para evidenciar ainda mais as dificuldades da agente americana Scott em desempenhar seu trabalho de investigação, já que ela se sentia como uma estranha e solitária numa cidade diferente. Aliás, essa personagem não existe no livro de Michael Pye, e foi acrescentada pelo roteirista justamente para mostrar a perspectiva de alguém que perseguia o assassino, alguém inteligente e extremamente dedicado ao trabalho, intensificando a carga dramática entre eles, numa característica muito explorada nos filmes do estilo, enfatizando o “stress” emocional entre o perseguidor e o perseguido.

O filme entrou em cartaz no Brasil em 09 de Abril de 2004, menos de um mês depois de sua estréia nos Estados Unidos em 19/03. Existem filmes que chegam rapidamente ao nosso país e tem outros que demoram uma eternidade. Assim como a escolha do nome nacional é um outro detalhe que merece uma observação, pois existem filmes que recebem ótimos nomes em nossos cinemas, como por exemplo esse próprio “Roubando Vidas”, que corretamente é a tradução literal do original. Entretanto, há outros que são chamados com nomes completamente absurdos e ridículos, bem diferentes dos originais e muitas vezes até incoerentes com as próprias histórias.
A indústria do cinema tem produzido muitos filmes envolvendo as ações violentas de assassinos seriais onde rapidamente podemos lembrar de vários exemplos estrelados por atores populares como “O Silêncio dos Inocentes” (91, com Anthony Hopkins e Jodie Foster), “Seven – Os Sete Crimes Capitais” (95, com Morgan Freeman e Brad Pitt), “O Principal Suspeito” (98, com Nick Nolte), “Ressurreição – Retalhos de Um Crime” (99, com Christopher Lambert), “O Colecionador de Ossos” (99, com Denzel Washington), “O Observador” (2000, com Keanu Reeves), “Psicopata Americano” (2000, com Christian Bale), “Rios Vermelhos” (França, 2000, com Jean Reno), “Insônia” (2002, com Al Pacino e Robin Williams), entre outros.

“Roubando Vidas” (Taking Lives, 2004) # 231 – data: 29/03/04 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/02/06)

Roubando Vidas (Taking Lives, Estados Unidos / Canadá, 2004). Warner Bros. / Village Roadshow. Duração: 103 minutos. Direção de D. J. Caruso. Roteiro de Jon Bokenkamp, a partir de livro homônimo de Michael Pye. Produção de Mark Canton e Bernie Goldmann. Produção Executiva de Dana Goldberg, David Heyman e Bruce Berman. Fotografia de Amir M. Mokri. Música de Philip Glass. Edição de Anne V. Coates. Desenho de Produção de Tom Southwell. Figurinos de Marie-Sylvie Deveau. Efeitos Especiais de Louis Craig. Elenco: Angelina Jolie (Illeana Scott), Ethan Hawke (James Costa), Kiefer Sutherland (Hart), Gena Rowlands (Sra. Rebecca Asher), Olivier Martinez (Joseph Paquette), Tchéky Karyo (Hugo Leclair), Jean Hughes-Anglade (Emil Duval), Paul Dano, Justin Chatwin, André Lacoste, Billy Two Rivers, Richard Lemire, Julien Poulin, Marie Joseé-Croze, Christian Tessier, Brigitte Bedard.

Rios Vermelhos 2: Anjos do Apocalipse (2004)


Eles voltaram para o juízo final

Em 2000 foi lançado um interessante thriller policial francês chamado “Rios Vermelhos”, estrelado por Jean Reno e Vincent Cassel como uma dupla de detetives que investigam uma série de violentos assassinatos envolvendo mistérios, segredos obscuros, conspirações e nazismo. O sucesso comercial do filme por todo o mundo inevitavelmente motivou a produção de uma continuação, trazendo novamente o excelente ator marroquino Jean Reno (de “Ronin”, “Godzilla” e “Rollerball”) no papel do comissário Pierre Niémans, só que dessa vez tendo como parceiro o jovem policial Reda (Benoît Magimel).
A sequência, intitulada “Rios Vermelhos 2: Anjos do Apocalipse” chegou aos cinemas brasileiros em 01/10/04, quase sete meses depois de seu lançamento oficial em 18/02. E nesse caso vale registrar como existe incompetência na distribuição dos filmes que chegam ao Brasil, pois a “Europa Filmes” preferiu lançar nos cinemas a continuação de um filme francês (que apesar de interessante não é muito conhecido por aqui) em vez de estrear na tela grande a refilmagem de 2003 do clássico “O Massacre da Serra Elétrica”, cuja até a segunda parte já está em produção nos Estados Unidos. Tanto que “Rios Vermelhos 2” entrou em cartaz em poucas salas de exibição e quase não recebeu atenção da mídia, sendo pouco comentado. E aproximadamente dois meses depois, no final de Dezembro de 2004, o filme foi lançado no mercado de vídeo em DVD.

A história apresenta um novo caso de violentos homicídios tendo o detetive Niémans na liderança das ações, vindo de Paris até um mosteiro na fronteira da França com a Alemanha para averiguar um assassinato fora do comum, com a vítima sendo crucificada e emparedada. Com o decorrer do desgastante trabalho de investigação, ele recebe a ajuda de Reda, um jovem parceiro e seu ex-aluno da academia da polícia, além também de uma policial especialista em assuntos religiosos, Marie (Camille Natta).
Mais mortes sangrentas acontecem com direito a olhos arrancados, crucificações e cabeças decepadas, através da ação obscura de monges com agilidade e força muito acima de qualquer ser humano normal (o filme até procura esclarecer essas questões, porém o roteiro exagera no fato dos templários serem imunes aos disparos de armas de fogo contra seus corpos). Os assassinatos envolvem assuntos delicados sobre religião, eventos históricos com o poderoso império católico do Vaticano e a temível profecia do apocalipse, com a existência de uma seita secreta liderada pelo misterioso Ministro da Cultura e Religião de Berlim, na Alemanha, Heinrich von Garten (o ícone Christopher Lee), que está caçando de forma sangrenta um grupo de fanáticos religiosos que estavam simulando Jesus e os Doze Apóstolos, inclusive exercendo na vida real as mesmas profissões que os seguidores de Cristo descritos na Bíblia.

“Rios Vermelhos 2” tem todos aqueles elementos típicos de um bom thriller policial, explorando a exaustiva condução das investigações de uma dupla de detetives sobre uma série de assassinatos com requintes de crueldade, motivada por assuntos religiosos e bíblicos sobre o juízo final. O filme está num nível muito próximo de seu antecessor produzido quatro anos antes, com uma história igualmente interessante e intensa de momentos de ação, perseguições tensas (em especial uma longa sequência envolvendo um monge assassino e o policial Reda), tiroteios pesados e mortes brutais.
Curiosamente, para manter uma relação com o filme original, o roteiro reservou um diálogo entre Niémans e Reda onde eles comentam o conhecido medo de cachorros do policial mais velho, o qual inclusive revelou que superou esse problema adotando até um “yorkshire”, que é uma raça de cães pequenos e inofensivos (nesse momento Reda ironizou a atitude de seu parceiro comparando o cachorrinho com um porquinho da índia...). Outra referência ao primeiro filme foi uma citação ao caso anterior de Niémans, que teve uma experiência turbulenta nas montanhas geladas nos Alpes...
Um dos destaques, e não poderia deixar de ser, é a presença sempre imponente do veterano astro Christopher Lee, nesse caso fazendo o papel de mais um vilão, um obscuro ministro do governo alemão e ex-combatente na Segunda Guerra Mundial. Sua presença, mesmo que pequena, é um motivo mais do que suficiente para se conhecer o filme, principalmente para os fãs do cinema de horror. Christopher Lee é o último ator ainda vivo (nasceu em 1922 na Inglaterra) de uma geração de ícones do gênero com nomes como Vincent Price, Peter Cushing e John Carradine, que juntamente com Boris Karloff e Bela Lugosi (além de vários outros como Basil Rathbone, Peter Lorre e Donald Pleasence), construíram a história do Horror no cinema. Lee será eternamente lembrado por seus papéis do vampiro Conde Drácula nos filmes ingleses da Hammer e Amicus entre o final da década de 1950 e meados dos anos 70, além dos vilões das sagas “Star Wars” e “O Senhor dos Anéis” em produções milionárias do início do século 21.
Por ser um filme europeu com um apelo comercial menor do que a infinidade de produções americanas que chegam ao Brasil, de todos os gêneros e níveis de qualidade, é curioso notar como “Rios Vermelhos 2” entrou em cartaz em nossos cinemas em vez de ir diretamente para o mercado de vídeo, como outros casos similares. Podemos dizer que foi um privilégio ver o filme na tela grande e eu não me importaria se produzissem mais uma aventura policial com o Comissário Niémans...

“Rios Vermelhos 2: Anjos do Apocalipse” (Les Rivières Pourpres 2 – Les Anges de L’Apocalypse , 2004) # 273 – data: 03/10/04 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/02/06)

Rios Vermelhos 2: Anjos do Apocalipse (Les Rivières Pourpres 2 – Les Anges de L’Apocalypse / The Crimson Rivers 2: Angels of the Apocalypse, França / Itália / Inglaterra, 2004). Duração: 100 minutos. Direção de Olivier Dahan. Roteiro de Luc Besson, baseado em personagens criados por Jean-Christophe Grangé. Produção de Alain Goldman e Luc Besson. Música de Colin Towns. Fotografia de Alex Lamarque. Edição de Richard Marizy. Desenho de Produção de Olivier Raoux. Elenco: Jean Reno (Comissário Pierre Niémans), Benoît Magimel (Reda); Christopher Lee (Heinrich von Garten); Camille Natta (Marie); Johnny Hallyday; Gabrielle Lazure; Augustin Legrand; Serge Riaboukine; André Penvern, Francis Renaud, David Saracino.

Rios Vermelhos (2000)


Somos os mestres e os escravos. Estamos em toda parte e lugar nenhum. Os Mestres dos Rios Vermelhos

A oportunidade em se conhecer um trabalho produzido fora dos Estados Unidos sempre é bem vinda. Mais um exemplo é o filme policial com elementos de horror “Rios Vermelhos” (Les Rivières Pourpres / The Crimson Rivers, França, 2000), dirigido por Mathieu Kassovitz e com história baseada no livro “Red Blood Rivers”, de Jean-Christophe Grangé. Mesmo que nesse caso específico sejam apresentadas poucas diferenças em relação ao cinema convencional do gênero produzido em Hollywood, ainda há um interesse especial em se conhecer uma obra proveniente da Europa, onde o cinema fantástico sempre esteve bem representado, principalmente através dos filmes produzidos por países como Inglaterra, França, Itália e Espanha, entre outros.

A história de “Rios Vermelhos” começa na pequena cidade de Guernon, no interior da França, onde ocorre um assassinato bizarro de um jovem, com requintes de crueldade e tortura, próximo a uma tradicional universidade, a mais importante instituição do local e uma das mais conhecidas na Europa, com 1.200 alunos e uma grande estrutura, tendo um hospital e recursos de abastecimento próprios, como água e energia elétrica. O violento crime abala os habitantes da cidade, com a vítima apresentando cortes profundos no corpo, as mãos amputadas e os olhos retirados, além de ser encontrado pendurado no alto de um penhasco. Para investigar o mistério envolvendo o caso é enviado de Paris um veterano policial, Comissário Pierre Niémans (Jean Reno), profissional experiente e que tem um curioso medo de cachorros.
Enquanto isso, numa outra cidade distante cem quilômetros dali, um outro policial mais jovem, Tenente Max Kerkerian (Vincent Cassel), está também participando de uma investigação, dessa vez sobre a violação de um túmulo de uma garota morta há dezoito anos atrás, com suásticas nazistas pichadas no mausoléu, e a suposta relação desse fato com o sumiço de seus documentos pessoais que estavam arquivados numa escola, além das ações de um grupo local de skinheads. A criança morreu de forma misteriosa num atropelamento por um caminhão e após o incidente sua mãe enlouqueceu e se internou num convento, confinada num quarto escuro.
Ambos os policiais acabam se encontrando e uma vez cruzando informações eles descobrem a existência de relações entre os crimes, passando a unir seus esforços para um trabalho de equipe na solução do mistério. Mais mortes brutais acontecem, e as investigações complexas envolvem outras pessoas como o médico oftalmologista Dr. Chernezé (Jean-Pierre Cassel) e a professora Fanny (Nadia Farès), além de uma série de segredos obscuros e conspiração envolvendo a universidade e ideais nazistas por trás dos sangrentos assassinatos.

“Rios Vermelhos” é mais um thriller policial de horror, trazendo basicamente um assassino habilidoso na arte de matar e o desgastante conflito com seus perseguidores implacáveis, num gênero liderado pelo excepcional “Seven – Os Sete Crimes Capitais” (95), com Morgan Freeman e Brad Pitt. De lá para cá, só para citar alguns bons exemplos de filmes similares, vieram em seu rastro “O Principal Suspeito” (98), com Nick Nolte, “Ressurreição – Retalhos de Um Crime” (99), com Christopher Lambert, “O Colecionador de Ossos” (99), com Denzel Washington e Angelina Jolie, “O Observador” (The Watcher, 2000), com Keanu Reeves, “Psicopata Americano” (American Psycho, 2000), com Christian Bale, “Insônia” (2002), com Al Pacino e Robin Williams, entre outros. Todos os filmes procuram explorar em seus argumentos as conturbadas relações entre o psicopata e seus rivais, policiais detetives determinados em seus ofícios, mas também exaustos pela enorme pressão psicológica envolvendo as investigações.
Seguindo a mesma idéia que geralmente acontece nos filmes desse gênero, “Rios Vermelhos” apresenta todos aqueles clichês característicos como a dupla de policiais investigando uma série de mortes violentas, formada por um detetive mais experiente com seu parceiro mais jovem e impetuoso, os tiroteios, as perseguições de carro, as lutas corporais, as reviravoltas e surpresas na condução das investigações, os assassinatos com requintes de crueldade, habilmente planejados, e todos os elementos já conhecidos pelos apreciadores desses tipos de filmes.
Porém, mesmo não apresentando nada realmente original, ou que já não se tenha visto em filmes anteriores, “Rios Vermelhos” cumpre a sua função principal de entreter com uma história interessante que atrai o espectador a participar da investigação dos assassinatos juntamente com os policiais, descobrindo aos poucos as pistas, informações, revelações e diversas situações, que uma vez estudadas e relacionadas entre si, poderiam levar a desvendar o mistério e solucionar o caso.
Como destaques positivos, vale ressaltar os créditos iniciais apresentados sobre imagens de um cadáver com profundos cortes no corpo, assim como o bom trabalho de fotografia realçando a beleza natural e as paisagens das montanhas geladas francesas. E uma curiosidade interessante é a frase verdadeira dita pelo Dr. Chernezé ao Comissário Niémans, quando este demonstrou um desconfortável sentimento de medo perante um grupo de cães: “Só se teme uma coisa no cachorro. O dono”.

“Rios Vermelhos” recebeu o nome de “The Crimson Rivers” em sua distribuição nos Estados Unidos, e em 2004 está previsto o lançamento de uma continuação chamada “Les Rivières Pourpres 2 – Les Anges de L’Apocalypse” ou “Crimson Rivers 2: Angels of the Apocalypse”, com direção de Olivier Dahan e roteiro de Luc Besson, além do retorno de Jean Reno no papel do policial Niémans.
O cineasta francês Mathieu Kassovitz nasceu em 1967 e já atuou também na frente das câmeras, tendo uma significativa filmografia como ator. Ele apareceu em algumas pequenas e rápidas cenas não creditadas em “Rios Vermelhos”. E em 2003, ele dirigiu o thriller psicológico “Na Companhia do Medo” (Gothika), com Halle Berry e Penélope Cruz. O elenco é liderado pelo experiente ator marroquino Jean Reno, nascido em 1948 e com mais de 50 trabalhos em seu carreira. Entre seus filmes americanos, estão “Missão Impossível” (96), “Godzilla” e “Ronin” (ambos de 98), e “Rollerball” (2002), uma fraca refilmagem de um filme homônimo de FC de 1975. Completando a dupla de protagonistas principais, temos o francês Vincent Cassel, nascido em 1966 e com dois outros filmes franceses muito interessantes em seu currículo: “O Pacto dos Lobos” (2001) e “Irreversível” (2002). Curiosamente, em “Rios Vermelhos” ele atuou pela primeira vez ao lado de seu pai, Jean-Pierre Cassel, que interpretou o papel do médico Dr. Bernard Chernezé, e que é um ator muito famoso em seu país.

Feliz daquele que pode penetrar na razão secreta das coisas

“Rios Vermelhos” (Les Rivières Pourpres / The Crimson Rivers, 2000) # 224 – data: 21/02/04 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/02/06)

Rios Vermelhos (Les Rivières Pourpres / The Crimson Rivers, França, 2000). Duração: 106 minutos. Direção de Mathieu Kassovitz. Roteiro de Jean-Christophe Grangé e Mathieu Kassovitz, baseado no livro “Red Blood Rivers”, de Jean-Christophe Grangé. Produção de Alain Goldman. Música de Bruno Coulais. Fotografia de Thierry Arbogast. Edição de Maryline Monthieux. Desenho de Produção de Thierry Flamand. Elenco: Jean Reno (Comissário Pierre Niémans), Vincent Cassel (Tenente Max Kerkerian), Nadia Farès (Fanny Ferreira), Dominique Sanda (Freira Andrée), Karim Belkhadra (Capitão Dahmane), Jean-Pierre Cassel (Dr. Bernard Chernezé), Didier Flamand (Diretor de educação), François Levantal (Cirurgião), Francine Bergé (Diretora da escola).

Resident Evil 2: Apocalipse (Resident Evil: Apocalypse, 2004)


The Dead Walk”, diz a manchete de um jornal para enfatizar o caos em que se transformou uma cidade controlada por uma poderosa corporação que permitiu num acidente que um vírus se espalhe e devolva a vida aos mortos.

Com a moda atual de transformar videogames populares com temática de horror em filmes para o cinema, em 2002 foi a vez do jogo “Resident Evil”, lançado pela primeira vez em 1996. O filme foi dirigido pelo especialista Paul W. S. Anderson (“O Soldado do Futuro”, “O Enigma do Horizonte”, “Alien Vs. Predador”, entre outros) e estrelado por Milla Jovovich, como a heroína que combate uma legião de zumbis criados por um vírus de laboratório.
Com um argumento filmado especialmente com o propósito de gerar uma franquia, em 08/10/04 entrou em cartaz em nossos cinemas a continuação “Resident Evil 2: Apocalipse” (Resident Evil: Apocalypse), com direção de Alexander Witt, roteiro de Paul W. S. Anderson e novamente com elenco liderado por Milla Jovovich, chegando rapidamente ao Brasil após aproximadamente um mês do lançamento nos Estados Unidos em 10 de Setembro.

A história começa exatamente onde termina o primeiro filme, com a sobrevivente Alice (Milla Jovovich) se encontrando na cidade de “Raccoon City”, destruída e invadida por uma legião de mortos-vivos criados por um vírus de laboratório que foi acidentalmente libertado de um complexo subterrâneo secreto conhecido como “A Colméia” (The Hive), de propriedade de uma obscura e milionária empresa chamada “Umbrella Corporation”. Alice foi transformada contra a sua vontade numa espécie de mulher sobre-humana, com poderes especiais adquiridos em experiências genéticas, ganhando mais força e agilidade nos movimentos.
Com o comando da Umbrella pelo frio e calculista Major Cain (Thomas Kretschmann), a empresa perdeu o controle sobre o vírus que reanima os mortos e foi obrigada a isolar a cidade não permitindo a fuga de ninguém, mesmo os que não estavam ainda infectados. Dois grupos de sobreviventes da chacina dos zumbis acabam se encontrando no meio do caos. Um é formado pela corajosa policial Jill Valentine (Sienna Guillory), além de Peyton Wells (Razaaq Adoti) e da jornalista Terri Morales (Sandrine Holt). O outro tem os policiais Carlos Olivera (Oded Fehr) e Nicholai Sokolov (Zack Ward), entre outros, que trabalhavam para a Umbrella e foram traídos pela empresa sendo abandonados na cidade dos mortos. Ao se juntarem com Alice, eles são requisitados para tentar encontrar e resgatar a filha pequena, Angie Ashford (Sophie Vavasseur), de um cientista renegado da corporação, Dr. Ashford (Jared Harris), que vive numa cadeira de rodas e tem participação na criação do vírus.
Paralelamente, enquanto eles formam uma equipe de resistência em “Raccoon City”, lutando por suas vidas e tentando impedir o domínio dos mortos-vivos, Alice tem que enfrentar um poderoso inimigo criado como arma biológica em laboratório, conhecido como o projeto Nemesis (Matthew G. Taylor), uma criatura enorme mutante e extremamente violenta, fortemente armada e programada para matar.

É interessante notar como a indústria do cinema de entretenimento, procurando sempre encontrar meios de aumentar os lucros, tem se dedicado nos últimos anos a adaptar para a tela grande uma infinidade de super heróis dos quadrinhos e jogos interativos populares (videogames, role playing games e atrações de parques de diversões), além de produzir encontros especiais de personagens de filmes diferentes (os chamados “crossovers”). Mas nem sempre os executivos do cinema acertam e bombas inacreditáveis de tão ruins são lançadas no mercado como por exemplo “Mulher-Gato”, uma tranqueira que chegou a ser exibida na tela grande por aqui (e que tem apenas a presença da bela Halle Berry de interessante), ou o completamente dispensável “House of the Dead – O Filme”, que somente foi distribuído no Brasil no mercado de vídeo (e que nem isso deveria ter acontecido, pois é uma das piores coisas que tive oportunidade de ver nos últimos anos).
Como particularmente não sou grande apreciador de nenhuma dessas mídias, prefiro observar todos esses filmes apenas e tão somente como um fã do gênero fantástico e de cinema em geral. E no caso de “Resident Evil – O Hóspede Maldito”, que estreou nos cinemas daqui em 26/07/02, o filme foi bem recebido e apesar de não ser nenhuma obra-prima do subgênero “Zumbis”, até que cumpriu seu objetivo de entretenimento, com uma história mesclando bastante ação e elementos de horror, apesar da menor agressividade dos mortos-vivos, menos autênticos quando em comparação por exemplo com os filmes de George Romero.
A continuação que traz o subtítulo “Apocalipse” está num nível parecido, apresentando os já esperados melhores efeitos especiais e mantendo a proposta de mistura de ação e horror, porém priorizando excessivamente os momentos de ação, com todos aqueles clichês do estilo, com tiroteios, correrias, perseguições e lutas demais para momentos autênticos de horror de menos. Para exemplificar, basta citar o filme de Quentin Tarantino, “Kill Bill – Vol. 2”, que estreou no Brasil no mesmo dia que RE2 e que apesar de não fazer parte do cinema fantástico, apresentou cenas do mais puro, verdadeiro e autêntico horror, o que muitos filmes do gênero não conseguem proporcionar, como a sequência da personagem de Uma Thurman sendo amarrada e lacrada viva num caixão de madeira, e enterrada sob um enorme volume de terra, num sentimento extremamente perturbador de claustrofobia, além da cena onde um olho é arrancado literalmente de sua órbita com as mãos num movimento rápido de uma luta violenta entre duas mulheres assassinas (com o olho sendo posteriormente esmagado de forma humilhante pelo pé da vitoriosa).
Entre os clichês dispensáveis em “Resident Evil 2” está mais uma cena com o famoso “bullet time”, utilizado com maestria em “Matrix” (1999) e copiado a exaustão depois, além da presença inconveniente de um personagem cômico, o responsável pelas piadas e comentários ridículos e que torcemos sem sucesso para morrer logo (nesse caso o papel do irritante infeliz ficou com Mike Epps, interpretando um civil perdido entre os mortos, um motorista de táxi chamado L. J.).
Por apresentar várias referências ao videogame do qual se originou, o filme é mais indicado para os fãs específicos do jogo e para quem procura uma diversão barulhenta e repleta de cenas exageradas com uma heroína sobre-humana no centro das atenções, combatendo uma criatura mutante criada como arma biológica de guerra, além de cachorros infectados (que assim como no filme original, voltaram agora e mais violentos ainda), e uma imensa legião de mortos-vivos enfurecidos e famintos por carne humana.

Entre as diversas curiosidades temos o fato de que o filme, que teve um orçamento de US$ 50 milhões, iria se chamar originalmente “Resident Evil: Nemesis”, que é o nome do terceiro jogo da série, porém com o lançamento em 2002 do décimo filme da franquia de “Jornada nas Estrelas” (Star Trek) com o mesmo nome, os produtores decidiram alterar o subtítulo para “Apocalipse”. Aliás, já foi anunciada também a produção de outra sequência da franquia, já que essa segunda parte teve um desfecho filmado com um gancho enorme para o próximo filme, que deverá receber o nome de “Resident Evil: After Life”, com previsão de lançamento em 2006 e novamente com Milla Jovovich. Seguindo a mesma idéia interessante de marketing que tem sido utilizada com certa frequência atualmente, os produtores de “Resident Evil” realizaram um concurso entre os fãs para a criação do pôster oficial do filme, num mesmo procedimento também utilizado com o original dois anos antes. O cineasta Marcus Nispel, responsável pela refilmagem de 2003 do clássico “O Massacre da Serra Elétrica”, dirigiu o primeiro trailer que foi disponibilizado sobre “Resident Evil 2”.
Notas do Autor: O terceiro filme da série chamou-se “Resident Evil 3: A Extinção” (Resident Evil: Extinction, 2007), novamente com Milla Jovovich e Oded Fehr, e dirigido por Russell Mulcahy. Foi lançado nos cinemas brasileiros em 05/10/07. O quarto filme da série chamou-se “Resident Evil 4: O Recomeço” (Resident Evil: Afterlife, 2010), com estréia nos cinemas brasileiros em 17/09/10.

“Resident Evil 2: Apocalipse” (Resident Evil: Apocalypse, 2004) # 274 – data: 12/10/04 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/02/06)

Resident Evil 2: Apocalipse (Resident Evil: Apocalypse, Alemanha / França / Inglaterra, 2004). Columbia / Sony. Duração: 94 minutos. Direção de Alexander Witt. Roteiro de Paul W. S. Anderson. Produção de Paul W. S. Anderson, Jeremy Bolt e Don Carmody. Produção Executiva de Bernd Eichinger, Samuel Hadida, Victor Hadida e Robert Kulzer. Música de Jeff Danna e Elia Cmiral. Fotografia de Derek Rogers e Christian Sebaldt. Edição de Eddie Hamilton. Desenho de Produção de Paul D. Austerberry. Direção de Arte de Nigel Churcher. Elenco: Milla Jovovich (Alice), Sienna Guillory (Jill Valentine), Oded Fehr (Carlos Olivera), Thomas Kretschmann (Major Cain), Sophie Vavasseur (Angie Ashford), Razaaq Adoti (Peyton Wells), Jared Harris (Dr. Ashford), Mike Epps (L. J.), Sandrine Holt (Terri Morales), Matthew G. Taylor (Nemesis), Zack Ward (Nicholai Sokolov), Iain Glen, Dave Nichols, Stefan Hayes, Geoffrey Pounsett.

Premonição 2 (2003)


Os responsáveis pela distribuição e lançamentos de filmes nos cinemas brasileiros aproveitaram uma rara e sugestiva combinação de uma data que está diretamente associada ao gênero horror, e na sexta-feira 13 de junho de 2003 entrou em cartaz o filme “Premonição 2” (Final Destination 2), sequência de um original lançado em 2000 e dirigido por James Wong. Curiosamente em 2002, no mês de setembro, houve também uma sexta-feira 13 onde aproveitaram para lançar outro filme de horror, o fraco “Alucinação” (Soul Survivors).
Dessa vez com direção de David R. Ellis e roteiro de J. Mackye Gruber e Eric Bress, baseados em personagens criados por Jeffrey Riddick, “Premonição 2” conta basicamente a mesma história de seu antecessor, onde um grupo de pessoas consegue “enganar” a morte graças à premonição de uma garota sobre um grave acidente que dizimaria a todos, e por ser apenas uma visão antecipada da tragédia, eles conseguem evitar a participação na catástrofe e garantir suas vidas. Porém, por pouco tempo, já que agora serão perseguidos implacavelmente pela “Morte”, como se fosse uma criatura invisível, para pagar suas dívidas e manter o “destino final” que já havia sido traçado e não poderia ser ludibriado.

Exatamente um ano após o desastre apresentado no primeiro filme, quando um avião explodiu ao decolar, a bela jovem morena Kimberly Corman (A. J. Cook, a mesma protagonista, porém dessa vez loira, de “Ripper – Mensageiro do Inferno”) está programando uma viagem para passar um final de semana com amigos em Daytona, porém antes de entrar numa rodovia movimentada, ela tem uma horrível visão de um acidente envolvendo muitos veículos com um saldo sangrento de mortes violentas (inclusive a dela própria e dos amigos) em meio ao fogo e metal retorcido de carros e caminhões. Assustada, ao voltar a si ela decide impedir a entrada na auto estrada de vários carros atrás dela. Para seu espanto, o acidente realmente acontece a sua frente da forma como ela visualizou momentos antes na mente. Porém, ela, o policial Thomas Burke (Michael Landes), e várias outras pessoas que escaparam da morte serão agora perseguidas até cumprirem seu “destino final”. O grupo marcado para morrer é formado por Evan Lewis (David Paetkau), que tinha ganhado um prêmio na loteria, o jovem Tim Carpenter (James N. Kirk) e sua mãe Nora (Lynda Boyd), a inconveniente Kat (Keegan Connor Tracy), o viciado em drogas Rory (Jonathan Cherry) e pelo professor Eugene Dix (Terrence Carson).
Kimberly pede auxílio então à uma sobrevivente do desastre aéreo do filme anterior, Clear Rivers (Ali Larter), que tinha se internado numa clínica psiquiátrica voluntariamente para exorcizar seus traumas do passado e tentar fugir da morte que a perseguia desde que escapou do avião antes da queda por causa de uma premonição sobrenatural. Inicialmente relutante, Clear decide depois se juntar ao grupo para lutarem por suas vidas, enfrentar seus medos e tentar enganar a Morte novamente, procurando decifrar e utilizar a favor misteriosos sinais que surgem nos momentos que precedem cada morte.

O primeiro filme da franquia, filmado em 2000, já havia se tornado um destaque dentre os filmes de horror com adolescentes e psicopatas produzidos na fase posterior ao lançamento de “Pânico” em 1996, dirigido por Wes Craven. Em “Premonição”, apesar de todos os clichês característicos estarem presentes, com adolescentes morrendo devido às ações de um perseguidor assassino (que nesse caso é a própria e temível “Morte”), o filme mostrava cenas de morte bem elaboradas e violentas. “Premonição 2” segue a mesma linha básica, porém sendo mais perturbador conseguindo apresentar um roteiro que relaciona suas ações com eventos ocorridos no primeiro filme e mostrar sequências de mortes bem criativas e com uma dose de violência ainda maior que o filme original.
O engavetamento na rodovia foi filmado com um grau de realismo tão forte que chega a causar um certo incômodo com a brutalidade da violência, evidenciando o quanto os corpos dos seres humanos são frágeis e se despedaçam facilmente num choque entre veículos. A cena certamente é o maior destaque do filme e sua dose de violência trágica está entre as melhores filmadas nos últimos tempos, graças ao realismo e o auxílio de um excelente trabalho com os efeitos especiais.
Outro fator positivo foi a pequena quantidade de piadas idiotas, que os americanos gostam tanto de inserir nos roteiros de seus filmes, mas ainda assim houveram algumas tentativas de frases cômicas que soaram ridículas, proferidas principalmente pela personagem Kat, aliás uma garota completamente dispensável de tão chata.
O ator negro Tony Todd participou de vários filmes de horror como a refilmagem de “A Noite dos Mortos Vivos” (1990) e o primeiro filme da franquia “O Corvo” (1994). Ele, que é mais conhecido por sua imponente interpretação como o vilão na série “O Mistério de Candyman”, iniciada em 1992 e baseada em história de Clive Barker, infelizmente teve pouca participação no filme (como o misterioso Sr. William Bludworth), a exemplo também do filme original, e certamente seu personagem sinistro poderia ser melhor explorado.
Como curiosidade vale ressaltar as corretas e oportunas homenagens para o cultuado escritor Stephen King, na cena onde o garoto Tim está lendo um livro do autor, e também para a veterana banda de Heavy Metal “AC/DC”, cuja música clássica “Highway to Hell” (Estrada Para o Inferno) tocava rapidamente e de forma sugestiva no rádio momentos antes do acidente na estrada acontecer. E nesse caso, Kimberly equivocadamente resolveu trocar de estação preferindo uma música sem agressividade alguma, e parece que ela recebeu de castigo a indesejável tarefa de testemunhar o violento acidente que aconteceu a sua frente...
Novamente o nome nacional do filme foi mal escolhido e o melhor e mais fácil seria apenas traduzir o original “Final Destination” para algo como “Destino Final”. Apesar do título “Premonição” ter relações diretas com a história do filme, recentemente houveram outros filmes lançados no Brasil num curto espaço de tempo que também tiveram o mesmo termo em seus nomes nacionais, como “A Premonição” (In Dreams, 1999) e “O Dom da Premonição” (The Gift, 2000), causando um excesso de “premonição” nos nomes e até criando uma certa confusão entre os filmes, que são independentes e tem em comum apenas o fato da idéia básica de seus argumentos ser similar, explorando os poderes sobrenaturais de vidência, visualizando na mente situações trágicas com antecedência.
Um fator negativo foi que os produtores de “Premonição 2” demonstraram uma incrível falta de criatividade ao definirem o cartaz brasileiro de promoção do filme, aquele que é exibido nas salas de cinema e divulgado na internet e revistas especializadas. O cartaz traz estampado um grupo de adolescentes com suas faces preenchidas pela metade com o símbolo da morte, ou seja, a tradicional caveira. É verdade que a arte final do cartaz até está relacionada com a história do filme, ou seja, adolescentes que enganaram provisoriamente a morte e que estão agora sendo perseguidos por ela, mostrando que os jovens na verdade estão meio mortos ainda em vida, pois entraram na “Lista da Morte” e foram fatalmente condenados, aguardando apenas o momento final. Mas ficar mostrando adolescentes no cartaz é apelativo e insignificante demais, num apelo comercial duvidoso, fato que é repetido por quase todos os filmes similares. E seria muito mais interessante criar uma ilustração com forte apelo de horror, utilizando o talento de uma infinidade de artistas dispostos a fazer um cartaz de impacto, o que também ajudaria a promover ainda mais o filme. Sem contar que esse cartaz de “Premonição 2” é praticamente igual ao do primeiro filme, com leves alterações, decretando definitivamente a falta de vontade dos executivos da indústria de cinema em oferecer algo novo e realmente interessante aos fãs do horror.
Um destaque entre as violentas cenas de morte é aquela em que um dos jovens amaldiçoados para morrer, é brutalmente cortado em pedaços de forma cirúrgica por um arame farpado voador, com suas vísceras perfeitamente expostas, confirmando a tendência dos filmes de horror em explorar esse tipo de morte, como já vimos em cenas parecidas em “Cubo”, “Treze Fantasmas”, “Resident Evil – O Hóspede Maldito” e “Navio Fantasma”. E o desfecho final também fica acima da média, que apesar de previsível, encerra a violência do filme no melhor estilo. E que venha a “Premonição 3”...

Em tempo: um fato muito curioso que ocorreu com o primeiro filme da franquia, lançado em nossos cinemas no segundo semestre de 2000, foi a incrível coincidência entre uma tragédia aérea na França ocorrida na mesma época, onde um avião concorde explodiu ao decolar (um fato raro), e uma cena parecida do filme. Em “Premonição”, um jovem consegue “enganar” a morte ao descer de um avião no momento de sua decolagem para Paris, seguindo uma premonição onde o avião explodiria num vazamento de combustível, fato que realmente aconteceu na ficção do filme, e infelizmente, algo muito parecido também na realidade.
Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 15/08/06, pelo SBT, às 22:30 horas.

“Premonição 2” (Final Destination 2, 2003) – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/02/06)

Premonição 2 (Final Destination 2, Estados Unidos, 2003). Duração: 90 minutos. Direção de David R. Ellis. Roteiro de J. Mackye Gruber e Eric Bress, baseados em história de J. Mackye Gruber, Eric Bress e Jeffrey Reddick, e personagens criados por Jeffrey Riddick. Produção de Craig Perry, Warren Zide e Justis Greene. Fotografia de Gary Capo. Música de Shirley Walker. Direção de Arte de James Steuart. Edição de Eric A. Sears. Efeitos Especiais de Joe Bauer, Douglas W. Beard e Al Waldron. Elenco: Ali Larter (Clear Rivers), A. J. Cook (Kimberly Corman), Michael Landes (Thomas Burke), David Paetkau (Evan Lewis), James N. Kirk (Tim Carpenter), Lynda Boyd (Nora Carpenter), Keegan Connor Tracy (Kat), Jonathan Cherry (Rory), Terrence Carson (Eugene Dix), Justina Machado (Isabella Hudson), Tony Todd (Sr. Bludworth), Sarah Carter (Shaina), Alex Era (Dano), Shaun Sipos (Frankie), Andrew Arlie (Sr. Corman).

Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003)


Mais de 3000 ilhas de paraíso. Para alguns isto é uma benção. Para outros... isto é uma maldição

O cinema americano nos últimos anos tem sido marcado por várias tendências modistas que estão sendo responsáveis por um impulso de produção de uma infinidade de filmes comerciais com orçamentos maiores. Existem aqueles adaptados por exemplo em personagens famosos dos quadrinhos (como “X-Men”, “Homem-Aranha”, “O Demolidor” e “Hulk”), ou aqueles baseados em vídeo games (como “Final Fantasy”, “Mortal Kombat”, “Resident Evil – O Hóspede Maldito” e “Lara Croft: Tomb Raider”), ou ainda a onda dos “crossovers” (cruzamentos entre personagens de filmes diferentes, como “Freddy x Jason” e “Alien x Predator”), e finalmente aqueles inspirados em atrações do famoso parque de diversões “DisneyWorld”, como a comédia “Beary e os Ursos Caipiras”, o humor negro “The Haunted Mansion” e a aventura de “capa-e-espada” com elementos sobrenaturais “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra” (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl), que estreou nos cinemas brasileiros em 29/08/03.
Com um orçamento generoso de US$ 140 milhões, o filme já arrecadou bem mais do que o dobro disso comprovando a eficácia da fórmula empregada, oferecendo ao grande público o que ele exatamente está esperando, ou seja, uma mistura de aventura com um pouco de horror “light”, e muita diversão numa história simples e despretensiosa. A direção é de Gore Verbinski, um cineasta em evidência no momento, vindo do bem sucedido filme de horror “O Chamado”, e a produção é do especialista em fitas de ação Jerry Bruckheimer, responsável por uma infinidade de super produções como “Ases Indomáveis”, “A Rocha”, “Armageddon”, “60 Segundos”, “Pearl Harbor” e “Falcão Negro em Perigo”, entre outros.
“Piratas do Caribe” pode ser considerado como um típico “blockbuster” que tem como prioridade maior a alta lucratividade nas salas de exibição e a conquista da simpatia popular através de uma história sem complicações, porém com muita aventura e repleta de efeitos especiais, objetivando um entretenimento sem compromisso. Seu argumento básico, uma história de piratas dos mares, já há muito tempo não era utilizado com frequência pelo cinema, cujos filmes dessa temática tiveram seu ápice entre as décadas de 1930 e 50. Mais recentemente tivemos “Piratas” (1986), de Roman Polanski, e “A Ilha da Garganta Cortada” (1995), de Renny Harlin. Porém, mesmo passado muito tempo, o gênero foi novamente bem recepcionado garantindo o sucesso do filme, para a alegria dos executivos do estúdio “Walt Disney”.

No século XVII, quando os mares ainda eram dominados por navios de piratas, o excêntrico Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp), comandante do barco “Pérola Negra”, enfrenta um motim e é abandonado numa ilha. Seu navio passa então a ser conduzido pelo Capitão Barbossa (Geoffrey Rush) e sua tripulação. Numa certa noite eles invadem a tranquila cidade de Port Royal, no Caribe, causando grande desordem e sequestrando a bela Elizabeth Swann (Keira Knightley), filha do governador local Weatherby (interpretado pelo veterano Jonathan Pryce).
Conseguindo escapar da ilha, Sparrow também chega na cidade à beira do mar e conhece o jovem Will Turner (Orlando Bloom), que é um amigo de infância da moça sequestrada, e que sem saber inicialmente, é também filho de um lendário pirata, mas que tornou-se um honesto ferreiro e hábil fabricante de espadas. Ambos decidem fazer uma aliança e partem então em busca da recuperação do navio “Pérola Negra”, além de tentar encontrar um tesouro perdido em ouro asteca, e resgatar a jovem das mãos dos piratas. E atrás em seus rastros, aparece também um grupo de soldados liderados pelo aristocrático Comodoro Norrington (Jack Davenport), noivo encomendado de Elizabeth.
Em meio a uma série de revelações, muita conversa, correrias e várias lutas, eles descobrem que na verdade os piratas são fantasmas amaldiçoados pela imortalidade, navegando como zumbis pelos oceanos até o final dos tempos, transformando-se em criaturas horrendas esqueléticas e sobrenaturais durante a noite sob a luz do luar, e cuja intenção é anular a antiga maldição utilizando o sangue da jovem Elizabeth, e o poder mágico de um medalhão de ouro que ela carrega em seu pescoço.

Pessoalmente, o gênero de cinema abordando a temática dos piratas dos mares nunca me agradou plenamente, não despertando grande interesse, e “Piratas do Caribe” não foi uma exceção, pois basicamente destaco apenas dois fatos dignos de nota no filme: os efeitos especiais com os piratas amaldiçoados mortos-vivos, com suas verdadeiras feições reveladas à noite, pela luz do luar, e a interpretação excêntrica do talentoso ator Johnny Depp, que concentra para si toda a atenção nas inúmeras cenas em que aparece. Entretanto, uma série de pontos negativos superaram os acertos como a longa duração (duas horas e vinte minutos), que deixou o filme cansativo; as inevitáveis tentativas de piadas, que não conseguiram seu objetivo com êxito (com exceção de alguns momentos engraçados com o Capitão Jack Sparrow); e principalmente as sequências super previsíveis com a obrigação de sempre concluir as tramas com os tradicionais desfechos felizes, para agradar o grande público. Em resumo, o filme é apenas mais um passatempo dispensável, sem nenhum atrativo maior senão encher de dinheiro os bolsos dos executivos do cinema americano, e que se esquece rapidamente após sua exibição.

No elenco destacam-se o cultuado e talentoso ator Johnny Depp e o jovem Orlando Bloom, num início de carreira que parece ser promissor. O americano Depp nasceu em 1963 e seu primeiro trabalho foi uma ponta no filme “A Hora do Pesadelo” (1984), aparecendo em seguida como um dos soldados do excepcional drama da guerra do Vietnã “Platoon” (1986), de Oliver Stone. Sua participação no cinema fantástico é bem significativa, atuando em filmes importantes como “Edward Mãos-de-Tesoura” (1990), tendo o privilégio de contracenar com o mestre Vincent Price pouco antes de sua morte, “Ed Wood” (1994), junto com o veterano Martin Landau, “O Último Portal” (1999), com o também experiente Frank Langella, “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999), novamente com uma ponta de Martin Landau (não creditada) e participação especial de Christopher Lee, “Do Inferno” (2001), com história inspirada em uma “graphic novel” de Alan Moore. Depp trabalhou sob o comando de diretores consagrados como Tim Burton e Roman Polanski, e “A Janela Secreta” (2004), baseado em novela de Stephen King. Quanto ao jovem inglês Orlando Bloom, nascido em 1977, apesar da curta carreira, ele é bem conhecido devido a sua significativa participação como o elfo Legolas Greenleaf, na famosa trilogia de “O Senhor dos Anéis”, baseada na obra literária de J. R. R. Tolkien e dirigida por Peter Jackson.

“Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra” (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl, 2003) – avaliação: 5 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/02/06)

Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl, Estados Unidos, 2003). Walt Disney / Touchstone / Buena Vista. Duração: 143 minutos. Direção de Gore Verbinski. Roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio. Produção de Jerry Bruckheimer. Produção Executiva de Paul Deason, Chad Oman, Pat Sandston, Mike Stenson e Bruce Hendricks. Música de Klaus Badelt. Fotografia de Dariusz Wolski. Efeitos Especiais de Terry D. Frazee. Elenco: Johnny Depp (Jack Sparrow), Orlando Bloom (Will Turner), Geoffrey Rush (Capitão Barbossa), Keira Knightley (Elizabeth Swann), Lee Arenberg (Pintel), Brye Cooper (Mallot), Jonathan Pryce (Governador Weatherby Swann), Mackenzie Crook (Ragetti), Jack Davenport (Comodoro Norrington), Damian O’Hare (Tenente Gillette), Giles New (Murtogg), Angus Barnett (Mullroy), David Bailie (Cotton), Michael Berry Jr. (Twigg), Trevor Goddard (Grapple), Kevin McNally (Joshamee Gibbs), Paula J. Newman (Estrella), Isaac C. Singleton Jr. (Bo’sun).

O Pesadelo (Boogeyman, 2005)


É extremamente lamentável que nós, apreciadores do cinema de horror, tenhamos que ser testemunhas de uma infinidade de filmes descartáveis produzidos nesses últimos tempos, que são despejados sem critério de avaliação nas salas de exibição em tela grande e que contribuem significativamente para desgastar a imagem oponente de um gênero fascinante, construída por filmes memoráveis e perturbadores que parecem não existir mais.
O Pesadelo” (Boogeyman), que estreou no Brasil em 21/04/05, dirigido por Stephen T. Kay, é mais um exemplo negativo do horror atual, que já começa pelo título nacional ridículo (e nesse caso a culpa é apenas dos brasileiros responsáveis pela escolha dos nomes dos filmes que chegam por aqui). Tem gente que acha que um filme de horror tem que obrigatoriamente ter um nome apelativo utilizando palavras que por si só já são um clichê irritante como “pânico”, “pesadelo”, “grito”, “horror”, etc. É só listar a imensa quantidade de filmes que receberam seus nomes nacionais contendo essas palavras. O filme em questão poderia ter seu título na distribuição brasileira reproduzido do original, “Boogeyman”, que até soaria bem em nosso idioma, ou então uma tradução adaptada para “Bicho Papão”, que é o nome da suposta criatura sobrenatural que habita os armários ou se esconde embaixo das camas, apenas aguardando à espreita a melhor oportunidade para atacar suas vítimas indefesas.

A história é bastante simples, tratando do tema de um mito popular, a lenda do “Bicho Papão”, e não são necessárias mais que algumas linhas para a sinopse. Um jovem, Tim Jensen (Barry Watson), que tem um trauma por causa do desaparecimento misterioso do pai (Charles Mesure) quando ele ainda era criança e vivia numa casa de estilo gótico e aspecto fantasmagórico numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos, tem que enfrentar novamente seus medos quinze anos depois com a morte da mãe, Mary Jensen (Lucy Lawless). Ele retorna então para o funeral e tenta passar uma noite na antiga casa da família, voltando a entrar em contato com uma suposta entidade maligna (Andrew Glover) que vive escondida nos cantos escuros e ameaça a vida das pessoas que o cercam como o tio Mike (Philip Gordon), a rica namorada da cidade grande Jessica (Tory Mussett) e a antiga amiga de infância Kate (Emily Deschanel).

É impossível não usar um trocadilho, sendo uma espécie de “pesadelo” assistir “O Pesadelo”. Não por ser uma produção de horror autêntica que remete-nos a momentos perturbadores de um “pesadelo”, mas porque é um filme ruim e decepcionante dentro da temática em que se situa, que não tem potencial para exibição nos cinemas (deveria ser lançado diretamente no mercado de vídeo), e que não justifica todo o aparato de marketing desenvolvido ao seu redor, com painéis de propaganda espalhados nas grandes cidades e outros meios de divulgação com custos altos.
Os únicos fatores positivos são os ágeis movimentos de câmera em alguns momentos, e a performance do jovem ator Barry Watson como o jovem atormentado Tim, que vê um “bicho papão” assassino sempre escondido atrás das portas pronto para atacar. Sua atuação é até convincente, constantemente deixando a dúvida se sua reação é de loucura com os acontecimentos trágicos sendo apenas criações de sua imaginação perturbada, ou se realmente ele é um lutador solitário contra uma criatura sobrenatural.
Já os principais pontos desfavoráveis são as tentativas constantes e frustradas de sustos fáceis e forçados e o final completamente previsível, decepcionante, comum demais e sem graça. O roteiro de Eric Kripke, Juliet Snowden e Stiles White é bastante confuso com o protagonista constantemente atravessando portais interdimensionais, entrando em armários num ambiente e saindo em outro, e que apesar de fazer parte do contexto sobrenatural do mundo da criatura, não conseguem convencer e atrair a atenção do espectador. Sem contar a previsibilidade sobre a identidade da garota Franny (Skye McCole Bartusiak), que é facilmente descoberta antes da revelação que tinha como objetivo uma surpresa inexistente.

Mas o pior de tudo isso é ver o nome do cineasta Sam Raimi entre os produtores, ao lado de seu parceiro Robert G. Tapert. Raimi foi o responsável por “The Evil Dead” (82), um clássico moderno do horror verdadeiro e autêntico, num desfile de mortes violentas, demônios enfurecidos possuindo os vivos, com direito a machadadas, decepamentos, esquartejamentos e todos os tipos de atrocidades sangrentas e brutais, numa história simples mas bem contada, sem piadas idiotas e adolescentes irritantes, num tipo de cinema não comercial que já quase não se produz mais atualmente.
Provavelmente todos os fãs do diretor Sam Raimi, responsável também por “Darkman” (90) e “Um Plano Simples” (98), além do famoso blockbuster “Homem-Aranha” (2002) e a continuação de dois anos depois, estão se sentindo meio traídos pelo fato do criador do memorável “The Evil Dead” participar de um projeto tão dispensável como esse “O Pesadelo”, deixando o verdadeiro horror de lado e investindo apenas num produto descartável e comercial.

Curiosamente, em 2003 foi produzido um outro filme que também abordou em sua história um mito popular. Trata-se de “No Cair da Noite” (Darkness Falls), dirigido por Jonathan Liebesman, que utilizou em seu argumento a lenda da “Fada dos Dentes”, e mesmo sendo apenas mais um filme comum e repleto de clichês, ainda assim é melhor que “O Pesadelo”, procurando explorar o angustiante sentimento de pavor gerado pela escuridão e um fantasma ameaçador. O estúdio “Ghost House Pictures” é o responsável pela produção de “O Pesadelo”, com um orçamento estimado em US$ 20 milhões, investindo mais no terror psicológico do que na concepção dos efeitos especiais.

“O Pesadelo” (Boogeyman, 2005) # 312 – data: 27/04/05 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com.br / blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 23/02/06)

O Pesadelo (Boogeyman, Estados Unidos / Nova Zelândia / Alemanha, 2005). Ghost House Pictures. Duração: 86 minutos. Direção de Stephen T. Kay. Roteiro de Eric Kripke, Juliet Snowden e Stiles White, baseados em história de Eric Kripke. Produção de Sam Raimi, Robert G. Tapert, Daniel Carrillo, Eric Kripke e Doug Lefler. Produção Executiva de Gary Bryman, Joseph Drake, Steve Hein, Nathan Kahane e Carsten H. W. Lorenz. Música de Joseph LoDuca. Fotografia de Bobby Bukowski. Direção de Arte de Nick Bassett e Jennifer Ward. Desenho de Produção de Patricia Devereaux e Robert Gillies. Edição de John Axelrad. Efeitos Especiais de Brandon Durey. Elenco: Barry Watson (Tim Jensen), Lucy Lawless (Mary Jensen), Emily Deschanel (Kate), Tory Mussett (Jessica), Philip Gordon (Tio Mike), Skye McCole Bartusiak (Franny), Andrew Glover (Bicho Papão), Robyn Malcolm, Charles Mesure, Aaron Murphy, Louise Wallace, Michael Saccente, Ivan Kemp.

Doom - A Porta do Inferno (2005)


A indústria do cinema de entretenimento, principalmente no gênero fantástico, tem investido em mídias específicas para o uso de idéias dos roteiros de seus próximos filmes, tanto que temos como resultado dessa estratégia uma grande quantidade de produções baseadas em personagens dos quadrinhos, ou atrações de parques de diversões, ou adaptações de jogos eletrônicos populares. No caso dessa última mídia, é fácil lembrarmos de algumas bombas como aquelas dirigidas pelo alemão Uwe Boll, “House of the Dead – O Filme” e “Alone in the Dark – O Despertar do Mal”, ambos lançados no mercado de vídeo brasileiro, ou as duas tranqueiras da franquia “Lara Croft: Tomb Raider”, estrelada por Angelina Jolie e que foram exibidas em nossos cinemas.
Para aumentar ainda mais as estatísticas sobre os filmes baseados em videogames, chegou ao Brasil “Doom – A Porta do Inferno” (Doom, 2005), que entrou em cartaz nos cinemas em 17/02/06, dirigido pelo polonês Andrzej Bartkowiak e com o astro da luta livre americana Dwayne “The Rock” Johnson liderando o elenco ao lado de Karl Urban (um rosto mais conhecido pela saga “O Senhor dos Anéis”).

Na história, um grupo de soldados liderados por Sarge (The Rock) e formado por “Reaper”, codinome de John Grimm (Karl Urban), “Destroyer” (Deobia Oparei), “Goat” (Ben Daniels), “Duke” (Raz Adoti), Portman (Richard Brake), “The Kid” (Al Weaver), “Hell Knight” (Brian Steele) e Mac (Yao Chin), é convocado para uma missão de reconhecimento numa base de pesquisas científicas em Marte. Eles partem através de um portal dimensional e são recepcionados pela cientista Dra. Samantha Grimm (Rosamund Pike), irmã de “Reaper”, que informa a misteriosa falta de comunicação de um grupo de pesquisadores, entre eles o Dr. Carmack (Robert Russell), que estava trabalhando numa ala restrita da estação cientifica.

Antes de assistir “Doom – A Porta do Inferno”, as expectativas não eram muito animadoras, devido principalmente aos exemplos anteriores de filmes ruins que foram adaptados dos videogames, ou até pelo trailer promocional que mostrava apenas mais um filme com muita ação misturada com elementos de horror e ficção científica. E o roteiro parecia comum e simples demais, lembrando bastante os dois filmes da série “Resident Evil” (“O Hóspede Maldito” e “Apocalipse”). Se analisarmos rapidamente a sinopse, percebemos que a história é um grande clichê: um laboratório subterrâneo de pesquisas científicas em Marte, isolado e infestado de criaturas mutantes assassinas geradas através de experiências genéticas mal sucedidas com cromossomos desconhecidos pela ciência, além da proliferação de um vírus que transforma os infectados em zumbis, e um grupo de soldados fortemente armados enviados para combater os monstros e tentar restaurar a ordem com o uso da força e truculência. Não faltam a escuridão opressora escondendo perigos à espreita, os tiroteios barulhentos em excesso, e a tentativa de sustos fáceis.
Porém, a despeito de tudo isso, o resultado final do filme surpreendeu, destacando as mortes violentas, os ótimos efeitos especiais na concepção das criaturas mutantes, os interessantes créditos finais, numa animação simulando o videogame em que foi inspirado, assim como a seqüência filmada em primeira pessoa, com um soldado caminhando nos corredores escuros do laboratório e eliminando os inimigos, convidando o espectador para ser o protagonista, ou um jogador do videogame. Além das ações do grupo de soldados, que apesar de metidos a heróis isentos de medo e com expressões faciais de bravura nitidamente forçadas, combatem os monstros em cenas movimentadas, tendo a favor a influência do ambiente fechado, escuro e carregado de um sentimento perturbador de claustrofobia. De negativo, vale registrar a dispensável luta próxima ao final, onde os oponentes decidem largar as armas e se enfrentarem na porrada, numa atitude incoerente em relação às conseqüências desse ato.

“Doom – A Porta do Inferno” (Doom, Estados Unidos / República Tcheca, 2005) # 377 – data: 21/02/06 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 22/02/06)

Pânico na Floresta (Wrong Turn, EUA / Alemanha, 2003)


Lembrando com bastante similaridade o horror cru e brutal de filmes clássicos dos anos 1970 como principalmente “O Massacre da Serra Elétrica” (73), de Tobe Hooper e “Quadrilha de Sádicos” (77), de Wes Craven, entre outros, “Pânico na Floresta” (Wrong Turn), que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 05/03/04, procura resgatar aquele clima perturbador característico do cinema de horror desse período, com uma história simples, porém intensa de violência. Um grupo de jovens desvia o seu caminho numa estrada no meio da floresta e encontra uma cabana isolada, habitada por canibais defeituosos que uma vez famintos por suas carnes, passam a perseguí-los sem piedade.
                O filme começa mostrando um jovem casal de alpinistas, Rich (David Huband) e Halley (Yvonne Gaudry), escalando uma parede de pedra na região montanhosa de West Virginia, quando são surpreendidos por algo oculto e ameaçador na floresta ao redor.
                A ação volta-se então para o estudante de medicina Chris Flynn (Desmond Harrington), que está viajando de carro para uma cidade onde faria uma entrevista de emprego com hora marcada. Porém, um acidente na estrada atrapalha seus planos e ele decide ir até um obscuro posto de gasolina numa estrada secundária à procura de um telefone. Lá chegando, Chris é mal recepcionado por um homem velho e sujo (Wayne Robson) e encontra um mapa onde aparece uma rota alternativa para que ele pudesse chegar ao seu destino. O jovem estudante não sabia que sua decisão o levaria na direção errada (ou “Wrong Turn” do original), com consequências desastrosas.
                Enquanto isso, um grupo de jovens em passeio pára forçosamente o carro numa estrada remota que corta uma floresta densa, devido aos pneus furados por um arame farpado colocado misteriosamente no meio do caminho. O grupo é formado por Jessie Burlingame (Eliza Dushku) e dois casais de namorados, Evan (Kevin Zegers) e Francine (Lindy Booth), e Scott (Jeremy Sisto, de May – Obsessão Assassina) e Carly (Emmanuelle Chriqui). Ao pegar a mesma estrada de terra, Chris provoca um acidente num momento de distração e se choca na traseira do veículo dos jovens, que estava parado em local perigoso.
Depois de acalmado um pouco o tumulto criado, o grupo decide se dividir, e enquanto o casal Evan e Francine fica no carro, Jessie, Chris e o casal Scott e Carly, decidem caminhar pela estrada à procura de ajuda. No caminho, eles encontram uma cabana misteriosa isolada no meio do mato, repleta de armas de caça e restos de carne para todos os lados, revelando-se ser na verdade a moradia de uma família de canibais deformados através de relações incestuosas. Eles são conhecidos pelos bizarros nomes de “Three Finger” (ou Três Dedos, interpretado por Julian Richings), “Saw-Tooth” (ou Dente de Serra, feito por Garry Robbins), e “One-Eye” (ou Um Olho, papel de Ted Clark). A partir daí, inicia uma corrida desesperada dos jovens por suas vidas, fugindo da fúria implacável das criaturas disformes que querem aumentar seu estoque de carne humana nas geladeiras.
                “Pânico na Floresta” apresenta uma série de furos no roteiro, clichês e situações inverossímeis que inevitavelmente não puderam passar despercebidas. A maior incoerência é o fato dos canibais atuarem na região impunemente há muito tempo (percebe-se isso pelos inúmeros carros abandonados numa clareira próxima à cabana, e que pertenceram às vítimas que invadiram suas terras), e não despertarem a atenção da polícia para uma investigação mais detalhada. Não faltaram os diálogos idiotas entre os jovens namorados, numa despreocupação total do roteirista em desenvolver os personagens, condenando-lhes apenas a serem vítimas descartáveis da fúria dos canibais. Aliás, as conversas banais e óbvias sobre drogas e sexo somente nos incitam a torcer para que os autores das frases inúteis morram logo e dolorosamente. Além dos manjados sustos fáceis, em cenas exageradas que não impressionam de forma alguma o público mais experiente com filmes de horror.
Uma sequência em especial que exemplifica bem a falta de cuidado em tornar os eventos da história mais reais, é quando um grupo de três jovens, isolados no alto de uma torre de vigia no meio da floresta à noite, é obrigado a abandonar o local às pressas por causa de um incêndio provocado pelos canibais perseguidores. Eles então se atiram em direção às copas das árvores sem se ferirem, quando normalmente o choque de seus corpos em queda livre contra galhos pontudos significaria no mínimo algumas escoriações profundas ou ossos quebrados. Os atores são bem inexpressivos, não conseguindo convencer como fugitivos perdidos no meio de uma enorme floresta, sendo caçados brutalmente por assassinos que querem rasgar seus corpos e comer suas carnes. Uma das protagonistas principais, a atriz Eliza Dushku, por exemplo, tem apenas a beleza ao seu favor, porque suas qualidades de interpretação são bem limitadas, assim como o restante do elenco.
                Porém, o filme tem também os seus bons momentos, que devem ser enaltecidos por tratar-se de uma produção independente com um orçamento de apenas US$ 10 milhões, uma quantia pequena em comparação com a maioria dos outros filmes similares. Os destaques ficam por conta dos abomináveis canibais deformados, que agem com uma insanidade perturbadora e se comunicam por grunhidos guturais, sendo os responsáveis por mortes violentas com direito a machadadas, ferimentos por arremesso de flechas, e sangue para todos os lados. Além da cuidadosa fotografia de belas florestas, montanhas, cachoeiras e precipícios (em locações em parques florestais de Toronto, no Canadá), evidenciando um contraste enorme com a violência grotesca dos canibais caçando os turistas de passagem pelo local.
                Apesar do argumento básico muito comum e já explorado diversas outras vezes, a ideia de uma cabana no meio da floresta, abrigando criaturas disformes e famintas por carne humana, perseguindo e mutilando cruelmente quem aparecesse em seus domínios, sempre despertará uma atenção e interesse especial no espectador. Uma vez imaginando-se numa situação parecida, sendo vítima da violência furiosa de canibais, fugindo desesperadamente por sua vida.
“Pânico na Floresta” teve também um desfecho interessante, quando apresenta primeiro um final óbvio e comum, daqueles totalmente previsíveis e esperados, seguido de alguns letreiros de créditos, para logo depois mostrar um final definitivo e bem mais trágico e violento, abrindo a possibilidade de uma sequência, e concluindo de forma mais perturbadora, numa tentativa de surpresa.
                O nome nacional do filme novamente foi mal escolhido, sendo completamente diferente do original “Wrong Turn”, que significaria algo como “Caminho Errado” ou “Na Direção Errada”. O título original refere-se claramente ao argumento básico do filme, ou seja, um grupo de jovens que ao desviarem seu caminho pegando um atalho numa floresta, acabaram indo de encontro a uma família feroz e violenta de canibais assassinos e deformados. O nome “Pânico na Floresta” é banal, simples e comum demais. Temos inclusive outro filme francês de horror adolescente chamado “Deep in the Woods” (2000), que foi lançado por aqui em vídeo pela “Europa Filmes” e que teve o mesmo nome de “Pânico na Floresta”, contribuindo ainda mais para complicar a catalogação das produções que chegam ao nosso país pelos fãs e colecionadores. A forma de nomear os filmes no Brasil deveria ser encarada com mais cuidado e profissionalismo, para evitar confusões e interpretações erradas. É incrível como a ideia de um suposto sucesso comercial de um filme de horror no Brasil tenha que passar por um nome contendo palavras relacionadas ao gênero como por exemplo “maldição” ou “pânico”. Nesse último caso, só para exemplificar, temos a franquia “Pânico” (Scream, 1996 / 1998 / 2000 / 2011), “Pânico em Alto Mar” (Adrift, 92), “Pânico em Lovers Lane” (Lovers Lane, 99), “Pânico em Munique” (21 Hours at Munich, 76), “Pânico na Estrada” (Road Rage, 99), “Pânico no Lago” (Lake Placid, 99), “Pânico Virtual” (The Mangler 2, 99), entre muitos outros.
                Curiosamente, o filme “Amargo Pesadelo” (Deliverance, 72), de John Boorman e com Jon Voight e Burt Reynolds, é citado nominalmente numa cena por um dos jovens candidatos a virar refeição dos canibais desfigurados.
                Sobre o elenco, Desmond Harrington já trabalhou em outros filmes de horror como o intrigante “O Buraco” (2001), “Navio Fantasma” (2002), “Olhos da Morte” (2003), “Terror na Estrada” (2008) e a série “Dexter”, e a bela atriz morena Eliza Dushku participou em muitos episódios da série de TV “Buffy – A Caça Vampiros” (Buffy – The Vampire Slayer, 1997/2003), do fraquíssimo thriller sobrenatural “Alucinação” (Soul Survivors, 2001), “O Assassino do Alfabeto” (2008) e “A Maldição da Libélula” (2009).
Na equipe técnica de produção, destaca-se a presença de Stan Winston como produtor. Americano nascido em 1946 no Estado da Virginia, Winston foi condecorado quatro vezes com o cobiçado “Prêmio Oscar”, e já tem seu nome associado ao cinema fantástico através de seus trabalhos consagrados em filmes como “O Enigma do Outro Mundo”, a franquia “O Exterminador do Futuro”, “Edward Mãos de Tesoura”, “Entrevista Com o Vampiro”, “A Ilha do Dr. Moreau” (versão de 1996), “A. I. – Inteligência Artificial” e “Constantine”. Ele faleceu em 2008 aos 62 anos.

Notas do Autor (11/08/10 + 26/10/14): “Pânico na Floresta” inevitavelmente gerou uma franquia enorme por causa de seu tema popular e comercial (“o ataque de canibais deformados”), com a produção de vários filmes seguintes, predominando em todos eles uma qualidade bastante duvidosa nos roteiros, se contrapondo à violência exagerada e sangue em profusão. Em 2007 foi lançado “Wrong Turn 2: Dead End”, que recebeu no Brasil o nome de “Floresta do Mal” (para confundir ainda mais quem se dedica à pesquisa e catalogação dos filmes de horror lançados por aqui), e em 2009 foi lançado “Wrong Turn 3: Left for Dead” (“Floresta do Mal: Caminho da Morte”). Em seguida, tivemos mais três filmes: “Pânico na Floresta 4” (Wrong Turn: Bloody Beginnings, 2011), “Pânico na Floresta 5” (Wrong Turn 5: Bloodlines, 2012), com a presença de Doug Bradley no elenco (o eterno líder cenobita “Pinhaed” da franquia “Hellraiser”), e “Pânico na Floresta 6” (Wrong Turn 6: Last Resort, 2014).

Pânico na Floresta” (Wrong Turn, 2003) – artigo # 221 – data: 08/02/04 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 21/02/06)

Pânico na Floresta (Wrong Turn, Estados Unidos / Alemanha, 2003). Duração: 84 minutos. Direção de Rob Schmidt. Roteiro de Alan B. McElroy. Produção de Brian J. Gilbert, Robert Kulzer e Stan Winston. Produção Executiva de Hagen Behring, Don Carmody, Sven Ebeling, Erik Feig, Aaron Ryder e Patrick Wachsberger. Música de Elia Cmiral. Fotografia de John S. Bartley. Edição de Michael Ross. Desenho de Produção de Alicia Keywan. Direção de Arte de Elis Y. Lam. Maquiagem de Stan Winston. Efeitos Especiais de Jason Board. Elenco: Desmond Harrington (Chris Flynn), Eliza Dushku (Jessie Burlingame), Emmanuelle Chriqui (Carly), Jeremy Sisto (Scott), Lindy Booth (Francine), Kevin Zegers (Evan), Julian Richings (Three Finger), Garry Robbins (Saw-Tooth), Ted Clark (One-Eye), Yvonne Gaudry (Halley), David Huband (Rich), Joel Harris (patrulheiro), Wayne Robson (homem velho do posto de gasolina), James Downing (motorista de caminhão).

O Olho Que Tudo Vê (2002)


Você não vê o medo. Você sente

Abordando a moda atual dos “reality shows”, no estilo do popular programa de TV “Big Brother”, utilizando como cenário uma enorme casa com estilo gótico isolada numa floresta, e com o auxílio da moderna tecnologia através da transmissão ininterrupta pela internet, a rede mundial de computadores, obtemos como resultado o thriller com elementos de horror “O Olho Que Tudo Vê” (My Little Eye), dirigido pelo galês Marc Evans e que estreou nos cinemas brasileiros em 30/05/03, explorando essa mistura de idéias de forma perturbadora.

Um grupo de cinco jovens é escolhido para participar de um “reality show” transmitido pela internet. Os eleitos são típicos estereótipos representados através de três homens, o galã Matt (Sean Cw Johnson), o rejeitado Danny (Stephen O’Reilly) e o “doidão” Rex (Kris Lemche), e de duas mulheres, a exibicionista Charlie (Jennifer Sky), e a “certinha” Emma (Laura Regan). Com motivações variadas, desde a obtenção de sucesso, fama, dinheiro e até por simples curiosidade, eles precisam passar seis meses confinados numa mansão com estilo gótico, localizada no meio de uma floresta, sendo filmados por diversas câmeras espalhadas por todos os cômodos. Ao contrário dos tradicionais jogos similares da televisão, os participantes não são eliminados com o passar do tempo, não há aquelas “festinhas” ridículas e nem precisam realizar provas para ganhar comida ou outros objetos. Eles precisam permanecer todos juntos até o final do programa, sem nenhuma desistência, para serem recompensados cada um com a quantia significativa de um milhão de dólares. Se qualquer um deles sair por desistência, todos perdem juntos, tornando o objetivo final ainda mais difícil de ser conquistado.
Esse argumento básico já foi utilizado de forma similar e com algumas variações no filme “A Casa da Colina” (House on Haunted Hill, 1999), de William Malone, onde nesse caso cinco pessoas são convidadas a passar uma noite numa mansão assombrada e quem sobrevivesse ganharia um milhão de dólares. Por sua vez, “A Casa da Colina” é uma refilmagem de uma produção “B” de 1958, “A Casa dos Maus Espíritos”, dirigida por William Castle e estrelada pelo lendário Vincent Price.

“O Olho Que Tudo Vê” começa mostrando cenas da fase de seleção dos participantes, com curtos depoimentos dos escolhidos. Depois passa rapidamente para o confinamento na casa, já próximo do final dos seis meses, na última semana do programa. Nesse momento os personagens são melhor apresentados e ocorrem alguns inevitáveis sinais de desgaste entre eles após tanto tempo juntos no mesmo lugar e isolados do resto do mundo, sendo vigiados constantemente por incômodas câmeras.
Porém, para tumultuar ainda mais o tenso ambiente, começam a acontecer eventos estranhos ameaçando a estabilidade emocional dos jovens, como a descoberta de uma inscrição ofensiva em uma das janelas da casa, ou o aparecimento de um martelo ensanguentado na cama de Emma, ou pior ainda, a visita inesperada de um misterioso esquiador perdido, Travis Petterson (Bradley Cooper), que alega não conhecer o jogo transmitido pela internet.
A partir daí, a história alcança seu clímax de tensão, com crescentes conflitos psicológicos entre os personagens e com a morte e o mistério envolvendo o assustado grupo de jovens, culminando com um trágico desfecho revelador.

Lembrando filmes como “A Bruxa de Blair”, pelo clima de claustrofobia e horror, e “O Show de Truman”, pela incômoda exposição pública da vida dos personagens 24 horas por dia, o roteiro básico de “O Olho Que Tudo Vê”, escrito por David Hilton e James Watkins, não tem grande originalidade, aproveitando todos os clichês usuais de filmes similares. Com um grupo vivendo numa enorme casa gótica, isolada numa floresta coberta por chuvas incessantes de neve, enfrentando o aparecimento de situações misteriosas e sendo dizimado violentamente pelas ações de um assassino, que pode ser de origem externa ou do próprio grupo. E alguns absurdos da história ficaram muito evidentes como por exemplo o fato de simplesmente ser desprezada a óbvia repercussão e influência dos familiares dos jovens confinados na macabra mansão quando começam a acontecer atividades fora da normalidade, ou ainda a notável falta de intimidade e interação entre os participantes do jogo, mesmo estando reclusos numa mansão isolada por quase seis meses.
Mas o filme tem ao seu favor a interessante idéia de acrescentar novos elementos à trama, com um suposto “jogo” no estilo “reality show”, filmado de forma ininterrupta por câmeras que transmitem as imagens por internet para espectadores sedentos por violência real, explorando com eficiência a misteriosa mitologia que envolve os chamados “snuff movies” (filmes ilegais com supostas mortes reais em cena e que já se transformaram numa espécie de “lenda urbana”).
O título escolhido para o lançamento do filme no Brasil é até adequado e coerente com a história, porém o ideal e mais apropriado ainda seria a simples tradução do original, “My Little Eye” para “Meu Pequeno Olho”. Os responsáveis pela escolha dos nomes nacionais dos filmes que chegam por aqui ainda continuam insistindo em complicar de forma equivocada essa fácil tarefa. Outro detalhe é que “O Olho Que Tudo Vê” é mais um desses filmes que demoram demais para serem lançados no Brasil, o que é um fato lamentável, sendo desnecessária essa longa espera, pois estreou na Inglaterra em 04/10/02 e somente veio para nós quase oito meses depois.
O diretor Marc Evans não é muito conhecido, e seu principal trabalho anterior foi com o thriller “A Ressurreição” (Resurrection Man, 1998), filme inglês com Stuart Townsend. Os atores também são novatos, com destaque para Kris Lemche que interpretou Rex, o personagem mais interessante da trama, um viciado em informática e fumante de maconha que fica fazendo caretas para as câmeras e dizendo claramente seus objetivos em participar do jogo, visando unicamente o dinheiro do prêmio, provocando com frases ofensivas o público que está assistindo pela internet. Ator canadense nascido em 1978, ele participou também do perturbador filme de realidade virtual “ExistenZ”, dirigido por David Cronenberg em 1999, e do filme de horror “Possuída” (Ginger Snaps, 2000), de John Fawcett.
Dos outros atores, Sean Cw Johnson pode ser visto na série de TV e nos filmes para cinema da dispensável franquia “Power Rangers”, como Carter Grayson (Red Lightspeed Ranger); Jennifer Sky participou em vários episódios da série de TV “Xena: A Princesa Guerreira” (1995/2001), como a personagem Amarice e fez uma pequena ponta na comédia “O Amor é Cego” (Shallow Hal, 2001); e Laura Regan esteve num papel secundário em “Corpo Fechado” (Unbreakable, 2000), de M. Night Shyamalan e ao lado de Bruce Willis e Samuel L. Jackson, além da comédia “Alguém Como Você” (Someone Like You, 2001) e do suspense “Habitantes da Escuridão” (2002), apresentado por Wes Craven.

“O Olho Que Tudo Vê” (My Little Eye, 2002) – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 21/02/06)

O Olho Que Tudo Vê (My Little Eye, Inglaterra, França, Estados Unidos, 2002). Working Title. Duração: 95 minutos. Direção de Marc Evans. Roteiro de David Hilton e James Watkins. Produção de Jonathan Finn, Allan Greenspan, David Hilton e Jane Villiers. Fotografia de Hubert Taczanowski. Música de Bias. Direção de Arte de Laura MacNutt. Edição de Mags Arnold. Efeitos Especiais de Mark Ahee, Darcy Callaghan, Michael Gagnon e John LaForet. Elenco: Sean Cw Johnson (Matt), Jennifer Sky (Charlie), Kris Lemche (Rex), Stephen O’Reilly (Danny), Laura Regan (Emma), Bradley Cooper (Travis Patterson), Nick Mennell (Policial).