O
apreciador de cinema fantástico que estiver procurando um filme de monstro com
uma história bagaceira de ficção científica com elementos de horror, com a
diferença de ser produzido em pleno ano de 2005 e contar com recursos mais
modernos na concepção dos efeitos especiais, poderá encontrar essas
características na tranqueira intitulada “MosquitoMan”
(Mansquito), uma produção especialmente para a televisão (“SciFi Channel”),
dirigida pelo húngaro Tibor Takacs, o mesmo cineasta do divertido “O Portão”
(The Gate, 87), que tinha um jovem Stephen Dorff em início de carreira no
elenco.
O
mundo está enfrentando uma grave crise de contaminação biológica e vários
mosquitos alterados geneticamente são criados num laboratório da grande empresa
farmacêutica Bellion, sob o comando
do Dr. Aaron Michaels (Jay Benedict), um cientista sem escrúpulos apenas
interessado nos lucros da pesquisa, na tentativa de anular os efeitos de um
vírus devastador para a humanidade, conhecido como Guilin.
Enquanto
isso, um prisioneiro condenado por assassinato, Ray Erikson (Matthew Austin
Jordon), que seria utilizado como cobaia num programa de pesquisas científicas,
é acidentalmente transformado numa criatura mutante no contato com radiação,
sofrendo alteração em seu DNA
numa mistura com os mosquitos da experiência. Os únicos objetivos instintivos
do monstro são a alimentação através do sangue de suas vítimas humanas e
encontrar uma forma de se reproduzir.
Para
combatê-lo surge uma dupla de policiais, o Detetive Charlie Morrison (Patrick
Dreikhaus) e o parceiro e chefe da divisão de homicídios Tenente Thomas Randall
(Corin Nemec), que já tinha uma experiência anterior com o prisioneiro que se
transformou num mostro assassino. Ele tem uma motivação especial no caso por
causa de sua namorada, Dra. Jennifer Allen (Musetta Vander), a cientista que
coordenava o programa, auxiliada pela assistente Liz (Christa Campbell), e que
também foi vítima do acidente no laboratório, adquirindo algumas
características indesejáveis como uma atração exagerada por açúcar e sangue
fresco.
“MosquitoMan” foi lançado no
mercado brasileiro de vídeo VHS e DVD pela “Califórnia Filmes” em Abril de 2005
(é interessante notar como esses filmes bagaceiros são lançados rapidamente por
aqui). A distribuidora é conhecida por despejar nas locadoras uma infinidade de
tranqueiras de todos os tipos dentro do gênero horror e ficção científica,
principalmente essas produções situadas na temática “homens transformados em
monstros”, um subgênero do cinema fantástico que foi explorado à exaustão em
todas as décadas (especialmente os anos 50), e ainda é até hoje utilizado como
argumento para a criação de mais histórias bizarras.
A escolha correta do título
nacional do filme se baseou na reprodução de um nome original anterior antes de
ser substituído por “Mansquito” (uma palavra oriunda de uma contração, numa
escolha oportunista dos produtores). Mas também não seria ruim se optassem por
uma tradução literal, algo como “Homem Mosquito”.
No caso desse “MosquitoMan”,
que apresenta um “serial killer” condenado transformado num monstro que é um
inseto mutante misto de ser humano e mosquito, os produtores (Ken Badish, Avi
Lerner e Boaz Davidson, entre outros) se especializaram em filmes que se
enquadram nesse mesmo contexto, sendo os responsáveis por outros exemplos do
cinema “B” de Horror/FC do início desse novo século como “Criatura” (Creature /
Alien Lockdown, 2004), “Homem-Larva” (Larva), “Snakeman” (The Snake King, 2005),
“SharkMan” (Hammerhead: Shark Frenzy, 2005), este com Jeffrey Combs como um
“cientista louco”, e “The Black Hole” (2006).
Sem originalidade e repletos de
clichês e situações previsíveis, esses filmes até que possuem alguns bons
efeitos especiais, auxiliados pela disponibilidade dos recursos tecnológicos
dos tempos modernos, com boas cenas de mortes sangrentas e violência. Mas os
roteiros são inacreditavelmente ruins, com seus autores não fazendo o menor
esforço para apresentar algo novo ou pouco visto anteriormente. Pelo contrário,
as histórias priorizam os clichês, enfatizando sempre as mesmas e velhas
características de produções similares, a existência de um herói ou heroína no
combate a um monstro criado acidentalmente em laboratório devido a uma
exposição de radiação, no meio de uma crise de contaminação biológica no
planeta.
É difícil digerir certas
situações de extrema inverosimilhança que ocorrem constantemente durante o
filme como o fato do monstro (uma criatura enorme e de visual horripilante, e
que depois de um certo tempo ainda adquire asas para voar) aparecer facilmente
nos lugares apropriados para os roteiristas contarem sua história, sem
despertar a atenção de ninguém. O monstro simplesmente surge do nada ou fica
espreitando suas vítimas sem ser notado. Em compensação, não faltam cenas de
mortes violentas como quando o monstro, demonstrando um imenso desprezo pela
sua vítima, esmaga a cabeça de um policial com o pé, como se fosse uma simples
uva a ser estourada.
A despeito de todos os pontos
negativos, “MosquitoMan” ainda ganha uma nota “2 caveiras” (numa classificação
de 0 a 5)
exclusivamente pela honestidade em ser uma tranqueira assumida, sem pretensão
nenhuma de apresentar algo inovador, mostrando claramente a intenção de contar
a mesma história óbvia de “homem transformado em monstro” com todos os clichês
que tem direito. E, mesmo não querendo profetizar nada, fico pensando numa
situação hipotética curiosa e que vale a pena ser analisada: quem sabe se esses
filmes toscos produzidos em pleno início de século 21, como “MosquitoMan” e
outros, não serão provavelmente cultuados e procurados pelos colecionadores no
futuro daqui há algumas dezenas de anos, justamente por serem bagaceiros com
suas histórias absurdas e bizarras, num processo similar ao que acontece hoje
em dia com as tranqueiras dos anos 50 e 60 principalmente...
Curiosamente, a ideia de um
monstro formado por partes de um homem e de uma mosca já foi muito bem
explorada no clássico “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly, 58), dirigido por
Kurt Neumann, com David Hedison e Vincent Price numa história baseada num conto
de George Langelaan e que gerou mais duas sequências nos anos seguintes, “O
Monstro de Mil Olhos” (The Return of the Fly, 59), de Edward Bernds e novamente
com o lendário Vincent Price, e “A Maldição da Mosca” (The Curse of the Fly,
65), de Don Charp. E também originou uma refilmagem muito sangrenta em 1986
dirigida por David Cronenberg e estrelada pelo casal Jeff Goldblum e Geena
Davis, a qual por sua vez igualmente recebeu uma continuação bem mais inferior
dois anos depois.
“MosquitoMan” (Mansquito, 2005) # 311 – data: 20/04/05 – avaliação: 4
(de 0 a
10) ou “2 caveiras” (de 0 a
5)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com
(postado em 15/02/06)
“MosquitoMan” (Mansquito, Estados Unidos, 2005). Nu Image / Equity
Pictures / Active Entertainment. Duração: 91 minutos.
Direção de Tibor Takacs. Roteiro de Michael Hurst, a partir de história de Boaz
Davidson, Ray Cannella e Ken Badish. Produção de Ken Badish. Produção Executiva
de Boaz Davidson, Manfred Heid, Gerd Koechlin, Josef Lautenschlager, Avi Lerner
e Andreas Thiesmeyer. Fotografia de Emil Topuzov. Música de Joseph Conlan e
Sophia Morizet. Edição de Ellen Fine. Efeitos Visuais de Scott Coulter. Efeitos
Especiais de Michael Clifford. Maquiagem de Harlow MacFarlane. Elenco: Corin
Nemec (Tenente Thomas Randall), Musetta Vander (Dra. Jennifer Allen), Patrick
Dreikhaus (Detetive Charlie Morrison), Jay Benedict (Dr. Aaron Michaels),
Christa Campbell (Liz), Matthew Austin Jordon (Ray Erikson), Svilena Kidess,
Velizar Binev, Jonas Talkington.