Pânico na Floresta (Deep in the Woods, França, 2000)


Não vá para lá sozinho!

A primeira coisa que é necessária esclarecer é que esse “Pânico na Floresta” (Deep in the Woods / Promenons-nous dans les bois, 2000), um filme francês lançado em nosso mercado de vídeo, não é o “Pânico na Floresta” (Wrong Turn, 2003), filme americano lançado em nossos cinemas no início de Março de 2004. A confusão de nomes nacionais iguais para filmes diferentes é bem comum por aqui, onde os responsáveis por essa tarefa não se importam em tentar facilitar o trabalho de identificação dos fãs, pesquisadores e colecionadores do cinema de horror. E, nesse caso específico, foi a “PlayArte”, responsável pela distribuição de “Wrong Turn” no Brasil, que nomeou em duplicidade o filme em seu lançamento nos cinemas.
Uma vez esclarecido esse detalhe, o “Pânico na Floresta” francês é apenas mais um filme de horror adolescente com um psicopata assassino mascarado, numa história pouco interessante, cheia de clichês e situações previsíveis, e com uma narrativa bastante lenta para o estilo, em comparação principalmente aos filmes americanos, geralmente muito mais barulhentos. Mas que pode até funcionar como uma diversão rápida (apenas 85 minutos), para aqueles que procuram uma história contada de forma mais pausada, sem grandes exageros no sangue e nas mortes, e para quem quer esquecer o filme imediatamente depois de desligar o aparelho de DVD.

Um grupo de cinco jovens atores são contratados para apresentarem uma peça teatral para uma festa surpresa no aniversário de um garoto que mora numa imponente e isolada mansão, afastada de qualquer cidade, rodeada por uma bela floresta. O grupo é formado pelas lésbicas Sophie (Clotilde Courau) e a muda Jeanne (Alexia Stresi), pelo casal Matthieu (Clément Sibony) e Mathilde (Maud Buquet), além do atlético Wilfried (Vincent Lecoeur). O anfitrião é um velho milionário, recluso e excêntrico, Sr. Axel de Fersen (François Berléand), que vive sozinho no casarão com seu neto Nicolas (Thibault Truffert), um menino estranho que está sempre calado e com os olhos esbugalhados. Entre os empregados da mansão estão ainda o segurança suspeito Stéphane (Denis Lavant), cujo lazer é empalar animais silvestres que caça na floresta, e a governanta Pélagie (Suzanne MacAleese), que aparece rapidamente caminhando na estrada aproveitando um dia de folga para visitar os familiares.
Apesar de acharem estranho encenar uma peça teatral para apenas dois espectadores, o Sr. de Fersen e seu neto esquisito, os jovens aceitam a oferta de trabalho pela boa quantia em dinheiro que receberiam em troca. A peça é sobre a tradicional história do “Chapéuzinho Vermelho e o Lobo Mau”, aliás pessimamente encenada não merecendo mesmo mais do que apenas um público de duas pessoas. Depois da missão cumprida, os jovens passam a noite na mansão para pegarem a estrada de volta apenas na manhã seguinte.
Porém, existiam rumores ouvidos pelo rádio do carro, que um psicopata estuprador estava atuando pelas redondezas, chamando a atenção da polícia, em especial de um detetive (interpretado por Michel Muller), que aparece discretamente fazendo um trabalho de investigação no local. O que ninguém esperava é que durante a noite um assassino vestido com a roupa do lobo da peça teatral, começa a matar violentamente os jovens que para lutar por suas vidas, não sabem se ficam na mansão ou se escondem nas profundezas sombrias da floresta.

O filme é um enorme desfile de clichês. Temos o psicopata insano com um histórico traumático no passado, quando viu a própria mãe (interpretada por Marie Trintignant) sendo assassinada na sua frente quando ela contava a manjada história do “Chapéuzinho Vermelho e o Lobo Mau”. Temos o grupo de jovens arquetípicos com direito a homossexualismo feminino, as tradicionais cenas de nudez e sexo e o uso discreto de drogas. Temos a presença de vários suspeitos para o papel do psicopata mascarado, os quais variam desde o próprio anfitrião misterioso, passando por seu neto doente mental, pelo empregado esquisito, o policial, até os próprios jovens atores, onde cada um pode ter sua motivação pessoal para matar. Temos uma mansão belíssima localizada no meio do nada, com uma floresta a rodeá-la servindo como um típico ambiente sombrio para cenas assustadoras. E temos o tradicional desfecho óbvio e previsível, não oferecendo nenhuma novidade ou pelo menos alguma surpresa, mesmo que discreta. Soma-se ainda a todos esses clichês, o fato da história ser contada num ritmo narrativo muitas vezes exageradamente pausado, exigindo do espectador um esforço adicional para não cair no sono.
Mas também existem alguns fatores positivos como a cena da primeira morte, ocorrida num banheiro. Ou ainda a presença perturbadora do menino, sempre com os olhos esbugalhados, sem dizer uma única palavra, e com atitudes anormais como enfiar um garfo na própria mão durante o jantar.

“Pânico na Floresta” foi lançado em DVD no Brasil pela “Europa Filmes” (www.europafilmes.com.br), trazendo como material extra apenas um trailer, com opções de ver o filme no original em francês com legendas em português. A capa não tem nenhuma criatividade, mostrando como sempre nesses filmes de horror adolescente, uma foto destacando os cinco jovens atores candidatos a morrer no filme. A tagline original é mais interessante do que a utilizada na capa do DVD. “Não vá para lá sozinho!”, apesar de também pouco criativa, é uma frase promocional bem melhor do que as palavras “Aterrorizante” e “Arrepiante” que estão estampadas na capa e que são comerciais demais e verdadeiras de menos, pois esses adjetivos sonoros não são exatamente o que encontramos na história trivial do filme.

“Pânico na Floresta” (Deep in the Woods, 2000) # 251 – data: 10/05/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 02/02/06)

“Pânico na Floresta” (Deep in the Woods / Promenons-nous dans les bois, França, 2000). Duração: 85 minutos. Direção de Lionel Delplanque. Roteiro de Lionel Delplanque e Annabelle Perrichon. Produção de Olivier Delbosc e Marc Missonnier. Produção Executiva de Pierrick Goter. Fotografia de Denis Rouden. Música de Jérôme Coullet. Edição de Alice Lary e Pomme Zhed. Desenho de Produção de Franck Monseigny e Arnaud de Moleron. Efeitos Especiais de Bruno Maillard. Efeitos Visuais de François Dumoulin. Elenco: Clotilde Courau (Sophie), Clément Sibony (Matthieu), Vincent Lecoeur (Wilfried), Alexia Stresi (Jeanne), Maud Buquet (Mathilde), François Berléand (Axel de Fersen), Denis Lavant (Stéphane), Michel Muller (Policial), Thibault Truffert (Nicolas), Marie Trintignant (Mãe), Suzanne MacAleese (Pélagie).