“O vampiro não produz reflexo porque sua imagem é uma afronta à Deus.” – Cardeal Siqueros
No dia 30/03/01 entrou em cartaz nos cinemas brasileiros mais um entre as dezenas de filmes inspirados pelo famoso conde vampiro criado pelo escritor irlandês Bram Stoker. “Drácula 2000” utilizou o nome do conhecido cineasta Wes Craven, criador do psicopata Freddy Krueger de “A Hora do Pesadelo” e da série “Pânico”, para sua divulgação de marketing. Mas isso não foi o suficiente para um bom resultado, pois o filme é um desfile de clichês cansativos com um roteiro muito ruim e forçado demais, que revela uma ligação direta entre Drácula (interpretado por Gerard Butler) e Judas Iscariotes, o histórico traidor de Jesus Cristo. Eu particularmente sempre preferi os filmes explorando o temível vampiro ambientados na época em que esse personagem real da história viveu, como fez Francis Ford Coppola em 1992 com seu clássico moderno “Drácula de Bram Stoker”. E como não apreciei a proposta da história de “Drácula 2000”, prefiro dizer que entre os filmes que não acrescentam nada ao gênero Horror, este pode ser considerado um deles.
Porém, para os produtores, o resultado foi positivo, tanto que decidiram realizar uma trilogia em torno do tema, lançando uma franquia com mais outros dois filmes, diretamente para o mercado de vídeo. Veio então “Drácula II: A Ascensão” (Dracula II: Ascension, 2003), da “Dimension Films”, lançado por aqui em Março de 2004 pela “Europa Filmes”, e “Drácula III: O Legado Final” (Dracula III: Legacy, 2005), também lançado no Brasil, com um elenco formado por Roy Scheider e Rutger Hauer, e sendo todos eles dirigidos pelo cineasta Patrick Lussier. Curiosamente, algo parecido também aconteceu com outro filme de vampiros, desta vez com o nome de John Carpenter na divulgação, sendo que em 1998 foi exibido em nossos cinemas “Vampiros” (Vampires), com James Woods, um filme apenas mediano no gênero, que originou uma continuação desnecessária bem mais inferior lançada em 2002 diretamente em vídeo, “Vampiros: Os Mortos”, com elenco liderado pelo cantor de rock Jon Bon Jovi, que apenas ajudou a fracassar ainda mais o filme.
“Drácula II: A Ascensão” inicia-se com uma sequência ambientada em Ostrava, na República Tcheca, onde o caçador de vampiros e decepador de cabeças Padre Uffizi (Jason Scott Lee), está perseguindo duas belas vampiras gêmeas, interpretadas por Jennifer Kroll. A ação volta-se então para dois meses depois em New Orleans, Estados Unidos, numa escola de medicina.
Após um rápido flashback do primeiro filme, mostrando um corpo queimando pendurado numa cruz, dois estudantes que trabalham no necrotério da escola, Luke (Jason London) e a bela Elizabeth Blaine (Diane Neal), recebem o corpo carbonizado para uma autópsia de rotina. Ao descobrirem a possibilidade do cadáver ser de um vampiro (Stephen Billington), eles fogem com o corpo e informam o professor Lowell (Craig Sheffer), um paraplégico influente na escola, sobre a descoberta. Eles se reúnem com outros amigos, Tanya (Brande Roderick), Kenny (Khary Payton) e Eric (John Light), e juntos tentam reviver o vampiro mergulhando-o numa banheira de sangue. O objetivo do grupo era obter o conhecimento da vida eterna e tentar uma cura para o Prof. Lowell, tirando-o da cadeira de rodas que o incomoda há três anos.
Porém, o destino reservaria para todos eles muitas surpresas com o vampiro revivido e mantido preso em correntes banhadas em prata, além da presença perigosa do caçador de vampiros Padre Uffizi, que está atrás da criatura aprisionada, utilizando armas afiadas e métodos pouco convencionais de libertação da alma dos amaldiçoados.
Esse segundo filme é tão ruim como o primeiro, num roteiro cheio de situações absurdas, personagens desinteressantes e diálogos banais, escrito pelo próprio diretor em parceria com um dos produtores, Joel Soisson. Uma frase em especial é tão ridícula que até merece ser reproduzida. A personagem Tanya, que falou pouco no filme, ainda conseguiu expressar algumas palavras incrivelmente descartáveis: “Minha mãe sempre diz que uma só pessoa pode fazer uma bobagem, mas que só muita gente pode fazer uma grande bobagem”. Ela se referia ao fato do grupo de estudantes idiotas, incluindo ela, estarem tentando reviver um vampiro mergulhando-o em sangue.
Até existem algumas boas cenas de violência com cabeças degoladas, além de alguns poucos sustos bem feitos, porém a história não desperta interesse e utiliza uma série de elementos já largamente vistos no cinema do gênero, como por exemplo o manjado caçador de vampiros, que mata seus inimigos com violência até maior do que a praticada pelas criaturas que persegue. E essa história de relacionar Drácula (cujo nome aliás nem foi mencionado no filme inteiro) com o traidor Judas Iscariotes, demonstra uma imensa liberdade criativa utilizada pelos roteiristas e que não convence justamente pela enorme distância da proposta inicial de Bram Stoker em seu livro escrito em 1897. Funcionaria melhor se não houvesse relações com Drácula, e Judas Iscariotes fosse um outro vampiro qualquer, que poderia ser igualmente poderoso na figura de um traidor histórico e amaldiçoado, porém sem ligações com o Conde Drácula original.
“Drácula II: A Ascensão” tem um desfecho proposital permitindo um gancho para uma continuação, “Drácula III: O Legado Final”, que deve encerrar a franquia. Pelo menos os primeiros filmes certamente não acrescentaram nada ao gênero, tornando-se produtos de consumo descartável, diversão rápida sem exigência, e que dificilmente serão lembrados de forma significativa posteriormente.
Uma curiosidade no filme foi a participação ultra rápida do consagrado ator Roy Scheider como o Cardeal Siqueros, o veterano líder de uma congregação de caçadores de vampiros. Além de uma igualmente rápida citação da personagem Tanya referindo-se à famosa e histórica Condessa Elizabeth Bathory (1560/1614), numa cena onde o grupo de estudantes estava tentando reviver o vampiro mergulhando seu corpo carbonizado numa banheira cheia de sangue humano. Bathory foi uma mulher perversa que existiu realmente na Europa e era conhecida por banhar-se em sangue de jovens virgens com o pretexto de alcançar o rejuvenescimento do corpo. Para satisfazer sua vontade insana de beleza eterna, muitas mulheres jovens foram brutalmente torturadas em rituais de lesbianismo e orgias sangrentas, sendo assassinadas nas masmorras de seu castelo. Depois de muitos anos de terror, suas atrocidades foram descobertas e ela foi condenada à prisão perpétua, sendo emparedada viva em sua própria fortaleza de pedra, morrendo pouco tempo depois.
“Mais uma vez, ele está livre pelo mundo. Ele não é como os outros. Foi o primeiro. O traidor. Um imortal amaldiçoado por Deus. Seu rosto muda a cada regeneração, mas o Mal dentro dele é constante. Danos causados ao corpo dele não significarão nada, a menos que você possa libertar-lhe a alma”
– palavras do Cardeal Siqueros para o caçador de vampiros Padre Uffizi
“Drácula II: A Ascensão” (Dracula II: Ascension, 2003) # 258 – data: 07/06/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 02/02/06)
“Drácula II: A Ascensão” (Dracula II: Ascension, Estados Unidos, 2003). Dimension Films. Duração: 90 minutos. Direção de Patrick Lussier. Roteiro de Joel Soisson e Patrick Lussier. Produção de W. K. Border, Joel Soisson e Ron Schmidt. Produção Executiva de Nick Phillips. Fotografia de Douglas Milsome. Música de Marco Beltrami e Kevin Kliesch. Edição de Lisa Romaniw. Elenco: Jason Scott Lee (Padre Uffizi), Craig Sheffer (Prof. Lowell), Diane Neal (Elizabeth Blaine), Khary Payton (Kenny), Brande Roderick (Tanya), Jason London (Luke), John Light (Eric), Stephen Billington (Drácula), Roy Scheider (Cardeal Siqueros), Jennifer Kroll, Nick Phillips, John Sharian, Dragos Balauca, David Gant, Daniela Nane, David J. Francis.
No dia 30/03/01 entrou em cartaz nos cinemas brasileiros mais um entre as dezenas de filmes inspirados pelo famoso conde vampiro criado pelo escritor irlandês Bram Stoker. “Drácula 2000” utilizou o nome do conhecido cineasta Wes Craven, criador do psicopata Freddy Krueger de “A Hora do Pesadelo” e da série “Pânico”, para sua divulgação de marketing. Mas isso não foi o suficiente para um bom resultado, pois o filme é um desfile de clichês cansativos com um roteiro muito ruim e forçado demais, que revela uma ligação direta entre Drácula (interpretado por Gerard Butler) e Judas Iscariotes, o histórico traidor de Jesus Cristo. Eu particularmente sempre preferi os filmes explorando o temível vampiro ambientados na época em que esse personagem real da história viveu, como fez Francis Ford Coppola em 1992 com seu clássico moderno “Drácula de Bram Stoker”. E como não apreciei a proposta da história de “Drácula 2000”, prefiro dizer que entre os filmes que não acrescentam nada ao gênero Horror, este pode ser considerado um deles.
Porém, para os produtores, o resultado foi positivo, tanto que decidiram realizar uma trilogia em torno do tema, lançando uma franquia com mais outros dois filmes, diretamente para o mercado de vídeo. Veio então “Drácula II: A Ascensão” (Dracula II: Ascension, 2003), da “Dimension Films”, lançado por aqui em Março de 2004 pela “Europa Filmes”, e “Drácula III: O Legado Final” (Dracula III: Legacy, 2005), também lançado no Brasil, com um elenco formado por Roy Scheider e Rutger Hauer, e sendo todos eles dirigidos pelo cineasta Patrick Lussier. Curiosamente, algo parecido também aconteceu com outro filme de vampiros, desta vez com o nome de John Carpenter na divulgação, sendo que em 1998 foi exibido em nossos cinemas “Vampiros” (Vampires), com James Woods, um filme apenas mediano no gênero, que originou uma continuação desnecessária bem mais inferior lançada em 2002 diretamente em vídeo, “Vampiros: Os Mortos”, com elenco liderado pelo cantor de rock Jon Bon Jovi, que apenas ajudou a fracassar ainda mais o filme.
“Drácula II: A Ascensão” inicia-se com uma sequência ambientada em Ostrava, na República Tcheca, onde o caçador de vampiros e decepador de cabeças Padre Uffizi (Jason Scott Lee), está perseguindo duas belas vampiras gêmeas, interpretadas por Jennifer Kroll. A ação volta-se então para dois meses depois em New Orleans, Estados Unidos, numa escola de medicina.
Após um rápido flashback do primeiro filme, mostrando um corpo queimando pendurado numa cruz, dois estudantes que trabalham no necrotério da escola, Luke (Jason London) e a bela Elizabeth Blaine (Diane Neal), recebem o corpo carbonizado para uma autópsia de rotina. Ao descobrirem a possibilidade do cadáver ser de um vampiro (Stephen Billington), eles fogem com o corpo e informam o professor Lowell (Craig Sheffer), um paraplégico influente na escola, sobre a descoberta. Eles se reúnem com outros amigos, Tanya (Brande Roderick), Kenny (Khary Payton) e Eric (John Light), e juntos tentam reviver o vampiro mergulhando-o numa banheira de sangue. O objetivo do grupo era obter o conhecimento da vida eterna e tentar uma cura para o Prof. Lowell, tirando-o da cadeira de rodas que o incomoda há três anos.
Porém, o destino reservaria para todos eles muitas surpresas com o vampiro revivido e mantido preso em correntes banhadas em prata, além da presença perigosa do caçador de vampiros Padre Uffizi, que está atrás da criatura aprisionada, utilizando armas afiadas e métodos pouco convencionais de libertação da alma dos amaldiçoados.
Esse segundo filme é tão ruim como o primeiro, num roteiro cheio de situações absurdas, personagens desinteressantes e diálogos banais, escrito pelo próprio diretor em parceria com um dos produtores, Joel Soisson. Uma frase em especial é tão ridícula que até merece ser reproduzida. A personagem Tanya, que falou pouco no filme, ainda conseguiu expressar algumas palavras incrivelmente descartáveis: “Minha mãe sempre diz que uma só pessoa pode fazer uma bobagem, mas que só muita gente pode fazer uma grande bobagem”. Ela se referia ao fato do grupo de estudantes idiotas, incluindo ela, estarem tentando reviver um vampiro mergulhando-o em sangue.
Até existem algumas boas cenas de violência com cabeças degoladas, além de alguns poucos sustos bem feitos, porém a história não desperta interesse e utiliza uma série de elementos já largamente vistos no cinema do gênero, como por exemplo o manjado caçador de vampiros, que mata seus inimigos com violência até maior do que a praticada pelas criaturas que persegue. E essa história de relacionar Drácula (cujo nome aliás nem foi mencionado no filme inteiro) com o traidor Judas Iscariotes, demonstra uma imensa liberdade criativa utilizada pelos roteiristas e que não convence justamente pela enorme distância da proposta inicial de Bram Stoker em seu livro escrito em 1897. Funcionaria melhor se não houvesse relações com Drácula, e Judas Iscariotes fosse um outro vampiro qualquer, que poderia ser igualmente poderoso na figura de um traidor histórico e amaldiçoado, porém sem ligações com o Conde Drácula original.
“Drácula II: A Ascensão” tem um desfecho proposital permitindo um gancho para uma continuação, “Drácula III: O Legado Final”, que deve encerrar a franquia. Pelo menos os primeiros filmes certamente não acrescentaram nada ao gênero, tornando-se produtos de consumo descartável, diversão rápida sem exigência, e que dificilmente serão lembrados de forma significativa posteriormente.
Uma curiosidade no filme foi a participação ultra rápida do consagrado ator Roy Scheider como o Cardeal Siqueros, o veterano líder de uma congregação de caçadores de vampiros. Além de uma igualmente rápida citação da personagem Tanya referindo-se à famosa e histórica Condessa Elizabeth Bathory (1560/1614), numa cena onde o grupo de estudantes estava tentando reviver o vampiro mergulhando seu corpo carbonizado numa banheira cheia de sangue humano. Bathory foi uma mulher perversa que existiu realmente na Europa e era conhecida por banhar-se em sangue de jovens virgens com o pretexto de alcançar o rejuvenescimento do corpo. Para satisfazer sua vontade insana de beleza eterna, muitas mulheres jovens foram brutalmente torturadas em rituais de lesbianismo e orgias sangrentas, sendo assassinadas nas masmorras de seu castelo. Depois de muitos anos de terror, suas atrocidades foram descobertas e ela foi condenada à prisão perpétua, sendo emparedada viva em sua própria fortaleza de pedra, morrendo pouco tempo depois.
“Mais uma vez, ele está livre pelo mundo. Ele não é como os outros. Foi o primeiro. O traidor. Um imortal amaldiçoado por Deus. Seu rosto muda a cada regeneração, mas o Mal dentro dele é constante. Danos causados ao corpo dele não significarão nada, a menos que você possa libertar-lhe a alma”
– palavras do Cardeal Siqueros para o caçador de vampiros Padre Uffizi
“Drácula II: A Ascensão” (Dracula II: Ascension, 2003) # 258 – data: 07/06/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 02/02/06)
“Drácula II: A Ascensão” (Dracula II: Ascension, Estados Unidos, 2003). Dimension Films. Duração: 90 minutos. Direção de Patrick Lussier. Roteiro de Joel Soisson e Patrick Lussier. Produção de W. K. Border, Joel Soisson e Ron Schmidt. Produção Executiva de Nick Phillips. Fotografia de Douglas Milsome. Música de Marco Beltrami e Kevin Kliesch. Edição de Lisa Romaniw. Elenco: Jason Scott Lee (Padre Uffizi), Craig Sheffer (Prof. Lowell), Diane Neal (Elizabeth Blaine), Khary Payton (Kenny), Brande Roderick (Tanya), Jason London (Luke), John Light (Eric), Stephen Billington (Drácula), Roy Scheider (Cardeal Siqueros), Jennifer Kroll, Nick Phillips, John Sharian, Dragos Balauca, David Gant, Daniela Nane, David J. Francis.