Medopontocombr (2002)


Abandone toda a esperança, acesse todo o mal. Este será o último site que você verá

A “tagline” promocional instiga-nos a desafiar o medo do desconhecido e romper a fronteira que separa a realidade que conhecemos e um mundo regido por forças sobrenaturais. A maior questão é se estamos preparados para enfrentar as prováveis consequências que podem ser decorrentes dessa violação ao acessarmos um site proibido da internet, cujo preço a pagar é a morte após dois dias da invasão. Essa é a premissa básica de “Medopontocombr” (FeardotCom), que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 14/11/03, após mais de um ano de constantes adiamentos, e entrando em circuito em poucas salas com horários igualmente menos favoráveis.

A história é ambientada em Nova York, onde o detetive da polícia Mike Reilly (Stephen Dorff) se une a uma pesquisadora do departamento de saúde, Terry Huston (Natascha McElhone), para juntos tentarem desvendar um mistério que envolve a morte de quatro pessoas que tem em comum hemorragias nos olhos e nariz e o fato de acessarem um obscuro site da internet chamado “feardotcom.com”. Com um visual que incita a curiosidade do visitante, apresentando imagens confusas e carregadas de um teor bizarro, numa viagem alucinógena, além da interação com uma sedutora voz virtual feminina, a dupla de investigadores, auxiliados eventualmente ainda pelo policial Sykes (Jeffrey Combs), descobre que as vítimas morreram após 48 horas do contato com o misterioso site, e para encontrarem uma resposta decidem percorrer o mesmo caminho navegando pelo amaldiçoado endereço eletrônico.
Agora, com apenas dois dias para resolverem o caso e salvarem também suas próprias vidas, eles mergulham num pesadelo assombrado, enfrentando seus piores medos e temores, descobrindo estranhas relações entre as mortes, o tormento de um fantasma de uma criança, o misterioso site, uma jovem brutalmente torturada até a morte e sedenta de vingança, e finalmente um antigo “serial killer”, Alistair Pratt (Stephen Rea), sádico torturador e assassino de mulheres, auto denominado como “O Doutor”, por seus conhecimentos na arte de mutilar os corpos de suas vítimas, e que havia escapado da polícia e do detetive Reilly tempos atrás, retornando para continuar seu legado de sangue através da internet, na transmissão de “snuff movies” financiados por assinantes ávidos por violência e morte reais.

O argumento básico de “Medopontocombr” também utiliza como tema central a internet, a rede mundial de computadores que disponibiliza para o usuário uma quantidade quase sem fim de informações de todo tipo e para todos os interesses. Sua história gira em torno de um site amaldiçoado que misteriosamente está relacionado à morte dos visitantes que o acessam. Outros filmes recentes de horror que exploraram igualmente a mesma idéia foram a oitava parte da saga do psicopata Michael Myers, “Halloween: Ressurreição”, e o thriller “O Olho Que Tudo Vê” (My Little Eye), ambos apresentando um “reality show” transmitido ao vivo pela internet.
“Medopontocombr” possui uma proximidade muito grande com a história do filme japonês “Ringu”, produzido anteriormente em 1998, e que depois foi refilmado nos Estados Unidos em 2002 como “O Chamado” (The Ring). Entre as similaridades, destaca-se a existência de uma maldição motivada por vingança, que leva à morte a pessoa que entrou em contato com seus poderes proibidos e sobrenaturais, após um determinado intervalo de tempo. Em “Ringu”, quem assistia uma estranha fita de vídeo VHS amaldiçoada acabava morrendo no prazo de sete dias exatos, e em “Medopontocombr” a vítima morre em 48 horas após interagir com um jogo acessando um obscuro site da rede.
Apesar do argumento não original, aparentemente aproveitado de outros filmes, e de um final previsível ainda que razoavelmente satisfatório, “Medopontocombr” foi injustamente atacado com uma quase unanimidade de críticas negativas e desprezado pelo público, pois o filme se esforça em apresentar uma história sobrenatural motivada por vingança, utilizando a internet como meio de propagação de violência. Existe uma investigação interessante, um show de imagens bizarras num universo macabro de alucinação, a ação de um frio psicopata mutilador, e uma crítica à sociedade sedenta de violência real alheia. O maior erro do filme talvez tenha sido um excesso de situações forçadas na tentativa de conferir uma maior credibilidade à história, criando alguns momentos exagerados de fantasia. Mas como filme de entretenimento, e independente da falta de originalidade, funciona bem e merecia uma reconhecimento maior.

Curiosamente, no início da campanha de divulgação, o filme iria se chamar no Brasil “Medopontocom”, numa tradução literal do original, e depois o nome foi alterado para o definitivo “Medopontocombr”. O filme é o típico caso de uma produção que não despertou grande interesse comercial nos responsáveis pelo lançamento em nosso país, tanto que estreou nos Estados Unidos em agosto de 2002 e somente chegou por aqui em meados de novembro do ano seguinte, tendo a estréia nos cinemas adiada inúmeras vezes para não coincidir com o lançamento de algum concorrente poderoso que poderia lhe prejudicar o desempenho nas bilheterias. Já que não estava recebendo nenhum prestígio com o lançamento super atrasado nos cinemas brasileiros, o filme poderia então ter sido lançado diretamente para o mercado de vídeo, evitando com isso tanta demora em estrear por aqui. Sem contar a avalanche de críticas desfavoráveis que o filme recebeu, contribuindo bastante para seu fracasso de público.
O cineasta William Malone já teve experiências anteriores com o gênero, dirigindo dois episódios da série de TV “Contos da Cripta” (1989/96) e o filme “A Casa da Colina” (99), pela “Dark Castle”, uma refilmagem de “A Casa dos Maus Espíritos” (House on Haunted Hill, 1958).
O elenco principal é formado por Stephen Dorff, americano nascido em 1973, e com passagens em filmes como “O Portão” (87), ainda bem jovem, e “Blade – O Caçador de Vampiros” (98), além da inglesa Natascha McElhone, nascida em Londres em 1971, e com participações em “O Show de Truman” (98) e “Solaris” (2002). Completam ainda o time Jeffrey Combs, ator bastante lembrado por sua ligação com o horror, em filmes como “Re-Animator” (85), “Do Além” (86), “Os Espíritos” (96), “A Casa da Colina” (99), entre outros. Tem também o experiente Udo Kier numa participação especial e muito rápida no início do filme como Polidori. Alemão nascido em 1944, ele é dono de uma carreira com mais de 140 trabalhos, com destaque para os papéis do Barão Frankenstein e do vampiro Drácula, respectivamente nos filmes italianos “Flesh for Frankenstein” (73) e “Blood for Dracula” (74), produzidos por Andy Warhol, além de participações em “Suspiria” (77), de Dario Argento, e mais recentemente em “Armageddon”, “Blade”, “Fim dos Dias” e “A Sombra do Vampiro”. E ainda o veterano irlandês Stephen Rea, que fez o papel de um sádico assassino, e que já havia participado de “Entrevista com o Vampiro” (94) e “A Premonição” (99).

“Medopontocombr” (FeardotCom, 2002) – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 15/02/06)

Medopontocombr (FeardotCom, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Luxemburgo, 2002). Warner / Columbia. Duração: 101 minutos. Direção de William Malone. Roteiro de Josephine Coyle, baseado em história de Moshe Diamant. Produção de Limor Diamant e Moshe Diamant. Música de Nicholas Pike. Fotografia de Christian Sebaldt. Edição de Alan Strachan. Elenco: Stephen Dorff (Mike Reilly), Natascha McElhone (Terry Huston), Stephen Rea (Alistair Pratt), Udo Kier (Polidori), Amelia Shankley (Denise Stone), Jeffrey Combs (Sykes), Nigel Terry (Turnbull), Gesine Cukrowski (Jeannie Richardson), Michael Sarrazin (Frank Bryant), Anna Thalbach (Kate), Siobhan Flynn (Thana Brinkman), Jana Guttgemanns.