Satan ´s School For Girls (EUA, 1973)

 


Depois do lançamento de “O Bebê de Rosemary” em 1968, a temática relacionada com cultos satânicos, ocultismo e magia negra foi bastante explorada numa infinidade de filmes do período. São tantos que é árdua a tarefa de catalogação. Mas, alguns exemplos que podem ser citados apenas como ilustração são: “As Bodas de Satã” (Hammer, 1968), “As Filhas de Drácula” (Hammer, 1971), “Os Demônios” (1971), “O Estigma de Satanás” (1971), “Balada Para Satã” (1971), “O Feiticeiro” (1972), “Os Rituais Satânicos de Drácula” (Hammer, 1973), “O Homem de Palha” (1973), “A Chuva do Diabo” (1975), “Corrida Com o Diabo” (1975), “O Homem do Diabo” (1976), “Uma Filha Para o Diabo” (1976), “A Profecia” (1976), “A Sentinela dos Malditos” (1977), “Suspiria” (1977), “Cão do Diabo” (1978), etc.

Satan´s School For Girls” (1973) também aborda esse tema, sendo uma produção para a televisão de Aaron Spelling e Leonard Goldberg (da série de TV “As Panteras”, 1976/1979). É um filme curto com apenas 78 minutos, dirigido por David Lowell Rich e com elenco expressivo formado por Pamela Franklin (“Os Inocentes”, “A Casa da Noite Eterna”), Kate Jackson e Cheryl Ladd (ambas panteras da série homônima), além de Roy Thinnes (protagonista da série de FC “Os Invasores”).

 

A jovem Elizabeth Sayers (Pamela Franklin) decide investigar por conta própria a morte misteriosa por enforcamento de sua irmã Martha (Terry Lumley), após a polícia considerar como suicídio. Ela então vai até a escola de Salem onde sua irmã estudava e é recebida pelas antigas colegas Roberta Lockhart (Kate Jackson), Debbie Jones (Jamie Smith-Jackson) e Jody Keller (Cheryl Ladd, creditada como Cheryl Stoppelmoor), além da diretora Sra. Jessica Williams (Jo Van Fleet) e alguns professores como o severo Delacroix (Lloyd Bochner), de Psicologia, e o misterioso Clampett (Roy Thinnes), que leciona Artes Gráficas.

Ao perceber uma atmosfera sinistra no local com acontecimentos estranhos e supostos suicídios das alunas, ela descobre a relação de uma antiga lenda de 300 anos sobre a execução de oito bruxas e um culto satânico secreto nos porões da escola.

 

“Satan´s School for Girls” tem um título sonoro e chamativo, lembrando aqueles filmes toscos e divertidos dos anos 50, e o nome certamente desperta a atenção numa boa jogada de marketing, além de já revelar basicamente que a história é sobre uma escola para garotas com uma conspiração satânica.

Por ser uma produção especialmente para a televisão, a metragem é bem curta, as poucas mortes são discretas e com ausência de sangue ou violência, destacando-se apenas uma atmosfera de horror sutil. O roteiro é simples explorando a investigação por conta própria de uma jovem para entender o que motivou a morte trágica de sua irmã, com descobertas sobrenaturais e demoníacas. E apesar da história rasa e previsível, ainda é uma diversão rápida, principalmente pelo elenco de rostos conhecidos.

 

O filme ganhou uma refilmagem em 2000, também produzida por Aaron Spelling para a televisão, e que recebeu por aqui o título “Lindas e Diabólicas”, com direção de Christopher Leitch e novamente a participação da “pantera” Kate Jackson, só que dessa vez fazendo o papel de reitora da escola.

 

(RR – 27/08/22)





Barão Sanguinário (Baron Blood, Itália / Alemanha / EUA, 1972)

 


"Kunik Sator Holmat! Eu te peço, Elisabeth Hölle, alcance as profundezas ardentes do inferno, e traga o espírito maligno do Barão Otto Von Kleist, até aqui, a câmara de sua torturante morte.” – Peter Kleist

 

O diretor italiano Mario Bava (1914 / 1980) é especialista em cinema de horror gótico, sua filmografia é repleta de preciosidades como “Barão Sanguinário” (Baron Blood, 1972), que está disponível no “Youtube” com áudio em inglês e legendas em português.

 

O jovem americano Peter Kleist (Antonio Cantafora) viaja para a Áustria após concluir seus estudos de mestrado para saber mais sobre seus ancestrais europeus. Ele é recepcionado no aeroporto pelo tio Dr. Karl Hummel (Massimo Girotti), de quem recebe informações sobre um perverso antepassado do século XVI, o Barão Otto Von Kleist (Joseph Cotten), conhecido como “Barão Sanguinário”, devido sua prática de torturas e assassinatos brutais de aldeões que viviam próximo de seu castelo.

Porém, uma lenda dizia que ele foi amaldiçoado por uma bruxa queimada na fogueira e que poderia ser revivido do inferno após a leitura de um texto obscuro cabalístico. O “Castelo do Diabo”, como era conhecido, tinha como zelador o atrapalhado Fritz (Luciano Pigozzi, creditado como Alan Collins), e estava sendo restaurado para se transformar em hotel, sob a coordenação do Sr. Dortmundt (Dieter Tressler) e auxílio nas obras de reforma da bela estudante de arquitetura Eva Arnold (Elke Sommer), uma ex-aluna do Dr. Karl.

Peter e Eva se aproximam e juntos invocam o espírito do barão sanguinário através da recitação de um antigo encantamento num pergaminho, permitindo seu retorno do mundo dos mortos para continuar o legado de atrocidades. Para combatê-lo, eles unem esforços com a médium Rada Rassimov (Christina Hoffmann), que tem uma conexão paranormal com Elisabeth Hölle, a feiticeira que amaldiçoou o barão no passado, na tentativa de mandá-lo de volta ao limbo.

 

Como “Barão Sanguinário” é uma obra de Mario Bava, então podemos esperar aquela tradicional atmosfera gótica de um imenso castelo com todos os elementos de horror e bizarrices que trazem um desconforto crescente e que garantem o entretenimento. Com destaque para a macabra masmorra sombria de paredes frias de pedra, repleta de instrumentos de tortura criados por mentes perversas, para aguçar nossa imaginação com o sofrimento e dor incomensuráveis das vítimas do vilão sádico, algo que realmente aconteceu no passado medieval da humanidade. Outro destaque é uma longa sequência carregada de tensão, com a perseguição do vilão atrás da jovem Eva por ruas e becos desertos, escuros e mergulhados em névoa espessa.

A história tem muitos clichês e furos enormes para facilitar o trabalho dos roteiristas e nem deve ser levada a sério pelo excesso de situações exageradas na fantasia e com uma narrativa por vezes arrastada que teria um melhor resultado se a metragem original de 98 minutos fosse reduzida em uns 15 minutos de cenas desnecessárias. Mas, o que realmente interessa e nesse aspecto o filme não decepciona, são os muitos momentos de puro horror gótico no castelo e os assassinatos brutais do barão sanguinário.  

 

Entre as curiosidades, antes do papel do assassino sádico ser definido para Joseph Cotten, outros atores tinham sido sondados, como o lendário Vincent Price e também o não menos renomado Ray Milland. O produtor Alfred Leone aparece rapidamente como um passageiro de avião e o filho do diretor, Lamberto Bava, também tem uma ponta relâmpago como um homem no aeroporto, ambos sem créditos.

No fim dos anos 1990 teve uma lenda urbana sobre um poço profundo que foi escavado na Rússia e que supostamente teria atingido o inferno, com a captação de ruídos bizarros de almas atormentadas, porém foi revelado depois ser uma farsa com a utilização de sons retirados de “Barão Sanguinário” (os gritos de vítimas torturadas na masmorra) misturados com outros efeitos sonoros.

O título original italiano é “Gli orrori del castello di Norimberga” e as filmagens ocorreram na Áustria, especialmente as cenas com o imponente e sinistro castelo. Além de “Barão Sanguinário”, o filme recebeu outro nome alternativo aqui no Brasil, “Os Horrores do Castelo de Nuremberg” (tradução literal do original italiano), quando foi lançado em DVD pela “Versátil”. O box também contém outros trabalhos de horror gótico de Mario Bava. “Os Vampiros” (1956), sendo que aqui ele completou a direção de Riccardo Freda, e “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror” (1963), com Boris Karoff, sendo este em duas versões, a original italiana e outra editada americana.

  

"O barão de sangue e do mal será destruído apenas por aqueles que ele próprio destruiu...”

 

(RR – 21/08/22)





Dança Macabra (Danza Macabra / Castle of Blood, Itália / França, 1964, PB)

 


“O sangue é a fonte da vida: Só o sangue pode reviver os mortos! E nós beberemos de sua fonte!!”

 

O cinema de horror tem vários estilos definidos e temáticas variadas. Temos uma infinidade de sub-gêneros com histórias de zumbis, vampiros, lobisomens, fantasmas atormentados, mansões assombradas, monstros gigantes, assassinos psicopatas mascarados, possessão demoníaca, cientistas loucos, homens transformados em monstros, alienígenas, etc. E temos os filmes mais explícitos com violência gráfica e exagerados na profusão de sangue, e aqueles de horror mais sugerido, sutil e psicológico.

O horror gótico é um dos temas mais fascinantes do cinema de gênero, e especialmente o italiano. “Dança Macabra” (Danza Macabra, 1964), também conhecido pelo título inglês “Castle of Blood”, é uma produção em preto e branco dirigida por Antonio Margheriti (sob o pseudônimo Anthony Dawson) e um dos melhores filmes do ciclo italiano de horror gótico dos anos 60 e 70 do século passado, com a musa Barbara Steele liderando o elenco e roteiro baseado em história de Edgar Allan Poe. E para a sorte dos apreciadores do estilo, tem uma versão disponível no “Youtube” com áudio original italiano e legendas em português.  

 

Na Inglaterra do século 19, o jornalista Alan Foster (Georges Rivière) encontra-se com o próprio escritor americano Edgar Allan Poe (Silvano Tranqulli, creditado como Montgomery Glenn) numa taverna para tentar uma entrevista. Uma vez cético em relação ao conteúdo sobrenatural das histórias de Poe, o jornalista é desafiado numa aposta para passar uma noite no castelo supostamente assombrado de propriedade do Lord Thomas Blackwood (Umberto Raho, creditado como Raul H. Newman). O jornalista aceita o desafio num momento único e especial do ano, a “Noite dos Mortos” em 02 de Novembro.

Ao chegar no tétrico e decadente castelo isolado, Alan Foster explora seu interior macabro acreditando estar sozinho no local, até que surge a bela Elisabeth Lockwood (Barbara Steele), irmã de Lord Thomas, que relata a trágica história de maldição, traição e assassinatos na sua família, inserindo o jornalista num mergulho para um pesadelo que mistura a realidade do mundo dos vivos com o universo paralelo dos mortos. Incluindo a igualmente bela e misteriosa Lady Julia Alert (Margret Robsahm), o marido de Elisabeth, William (Benito Stefanelli, creditado como Ben Steffen), e seu amante troglodita Herbert (Giovanni Cianfriglia, creditado como Phil Karson), além do investigador de medicina Dr. Carmus (Arturo Dominici, creditado como Henry Kruger), entre outros personagens bizarros.

Resta agora ao jornalista, inevitavelmente apaixonado pelo fantasma de Elisabeth, lutar para manter a sanidade, rever seus conceitos sobre assombrações e fantasmas vingativos e tentar se manter vivo até o final da noite no tenebroso castelo, impedindo que seu sangue sirva de energia para os mortos.

 

“Dança Macabra” é uma obra prima do horror gótico. O diretor italiano Antonio Margheriti (1930 / 2002) tem um currículo repleto de bagaceiras divertidas como “Destino: Espaço Sideral” (1960) e “O Planeta dos Desaparecidos” (1961). Ele teve uma carreira extensa por quase quatro décadas, dividida entre a direção, roteiro e produção, sendo que na maioria de seus filmes ele utilizou o pseudônimo Anthony Dawson.

A atriz Barbara Steele nasceu em 1937 na Inglaterra e tem seu nome eternamente associado ao cinema de horror. Alguns de seus filmes marcantes são “A Máscara de Satã” (1960), “A Mansão do Terror” (1961), “A Máscara do Demônio” (1964), “Amor de Vampiros” (1965), “A Maldição do Altar Escarlate” (1968), “Calafrios” (1975), entre outros.

 

O filme tem todos os elementos característicos do estilo, um castelo fantasmagórico com portas imensas rangendo, teias de aranha para todos os lados, morcegos habitando os cantos sombrios, mobílias bizarras, armaduras, grandes espelhos, quadros com pinturas sinistras, iluminação com velas em candelabros, porão com sepulturas, além de ser rodeado por um cemitério particular com túmulos e lápides de pedra, envolto em névoa espessa. Além da ambientação gótica de puro horror, ainda temos uma trilha sonora de gelar a alma dos vivos que completa a atmosfera de um mundo habitado pelos mortos perturbados.

O Dr. Carmus, sinistro até a medula, tenta orientar Alan Foster sobre os eventos trágicos que se passam ao seu redor envolvendo a bela Elisabeth, informando sobre as três formas de vida: a do corpo, mais debilitada; a do espírito, que é indestrutível; e a dos sentidos, que mesmo não sendo eterna, pode continuar por muito tempo depois da morte, pois não se morre completamente quando ainda não se está preparado.

 

Entre as curiosidades, o diretor Ruggero Deodato, de “Cannibal Holocaust” (1980), foi assistente direção em “Dança Macabra”, e além de Antonio Margheriti, o filme teve também a direção não creditada de Sergio Corbucci no início das filmagens.

O filme foi lançado em DVD no Brasil em 2019 pela “Versátil” na coleção “Obras-Primas do Terror – Gótico Italiano”. E teve uma refilmagem pelo mesmo diretor Margueriti e com Klaus Kinski, lançado em 1971 com o título original italiano “Nella stretta morsa del ragno” e o inglês “Web of the Spider”.

 

“Seu sangue será nossa vida!” – Lady Julia

   

(RR – 16/08/22)





O Elevador Assassino / O Elevador Sem Destino (The Lift, Holanda, 1983)


Eu tive o privilégio de ser um adolescente durante os saudosos anos 80 do século passado, uma época produtiva e extremamente divertida para o cinema de horror e ficção científica. E o privilégio foi ainda maior por ter visto nos cinemas em 1984 o filme holandês “O Elevador Sem Destino” (The Lift, 1983), que depois foi lançado em vídeo VHS, exibido na televisão e disponibilizado também em DVD bem depois em 2020, todos com outro nome alternativo mais conhecido, “O Elevador Assassino”. E para a sorte de quem acompanha o cinema fantástico antigo, está disponível no “Youtube”, tanto uma versão dublada quanto também outra original em inglês com legendas em português.

 

Com direção e roteiro de Dick Maas, a história mostra um mecânico de elevadores, Felix Adelaar (Huub Stapel), que é chamado para averiguar a falha do sistema de ar condicionado de um elevador num prédio de escritórios, que também abriga um restaurante, depois que um grupo de pessoas presas numa queda de energia quase morre por sufocamento. Não encontrando problemas mecânicos inicialmente, as coisas complicam bastante após a ocorrência em seguida de mortes misteriosas no elevador, despertando a atenção da imprensa através da repórter Mieke de Beer (Willeke van Ammelrooy). Ela então agrega esforços com o técnico de manutenção e juntos investigam o caso na tentativa de encontrar explicações sobre o “elevador assassino” e a relação com um projeto obscuro de tecnologia com microchips.  

 

“O Elevador Assassino” é apenas mais um filme simples com aquelas histórias escapistas exageradas na fantasia explorando máquinas que ganham vida própria e espalham o horror com mortes sangrentas. Nesse caso, o assassino da vez é um elevador cujos componentes eletrônicos que controlam seus movimentos fazem parte de uma experiência com resultados inesperados e consequências trágicas para as pessoas que circulam num prédio de escritórios.

Porém, o filme tem toda aquela atmosfera oitentista que sempre traz nostalgia e diversão sem compromisso, desde a música datada, o visual dos atores e os efeitos práticos das mortes violentas, sem a artificialidade da computação gráfica. Como uma produção com orçamento reduzido (os recursos eram poucos, tanto que as filmagens duraram só 30 dias e a trilha sonora foi feita pelo próprio diretor para reduzir gastos), os efeitos são bagaceiros e por isso mesmo divertidos (tem até uma cena icônica com cabeça decepada).

E é verdade que a história de investigação é um pouco arrastada e a duração poderia ser reduzida dos 93 minutos do corte final, e ficaria bem melhor com mais cadáveres na fila do elevador. Mas, é curioso o fato de ser um filme holandês que conseguiu encontrar seu lugar no meio de uma grande proliferação de filmes americanos do mesmo período, sendo exibido em tela grande por aqui e com sucesso no lançamento em VHS pela “Warner”, tendo atingido certa condição de culto. Eu mesmo estou entre os que sempre guardam reservadas na memória algumas cenas de mortes do filme.

E tem também uma cena muito bem produzida envolvendo a garotinha interpretada por Isabelle Brok (que ilustra o cartaz do filme) num jogo de suspense entre sua inocência infantil e o sombrio conjunto de elevadores com vida própria.      

O filme ganhou em 2001 uma refilmagem através do mesmo diretor Dick Maas e com Naomi Watts no elenco. Foi lançado por aqui com outro nome alternativo, “O Elevador da Morte” (Down / The Shaft), para complicar e confundir ainda mais os fãs que acompanham os filmes de horror que chegam ao Brasil. Em vez de se fazer uma simples pesquisa para manter uma coerência nos nomes adotados, os responsáveis por essa simples tarefa insistem em criar novos títulos.

   

(RR – 07/08/22)