Viagem ao Centro da Terra (Journey to the Center of the Earth, EUA, 1959)

 


“Sabemos menos sobre a Terra em que vivemos, do que sobre estrelas e galáxias do espaço sideral – Prof. Oliver Lindenbrook, sobre o desafio de exploração do nosso próprio planeta

 

O escritor francês Jules Verne é muito conhecido por suas populares histórias de aventura com elementos de ficção científica e fantasia, como por exemplo “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, “20 Mil Léguas Submarinas”, “Da Terra à Lua”, e outras. De sua brilhante mente saiu também a história divertida e escapista “Viagem ao Centro da Terra” (Journey to the Center of the Earth), que recebeu inúmeras versões e adaptações para o cinema. A principal é de 1959, produzida pela “Twentieth Century Fox”, dirigida por Henry Levin e com James Mason, Pat Boone, Arlene Dahl e Diane Baker no elenco.

Com história ambientada no século XIX, o professor escocês Oliver Lindenbrook (James Mason), da universidade de Edimburgo, seguindo seus instintos de cientista em busca de conhecimento após encontrar um objeto manufaturado dentro de um pedaço de lava transformada em rocha, decide organizar uma expedição com destino ao centro da Terra. Viajando ao interior do planeta através de uma abertura localizada num vulcão extinto na Islândia, uma passagem secreta descoberta muitos anos antes por um lendário explorador local chamado Arne Saknussemm, um especialista em vulcões que desapareceu misteriosamente.

A expedição formada por Lindenbrook ainda conta com a companhia do jovem estudante Alec McEwan (Pat Boone), namorado da sobrinha do professor, Jenny Lindenbrook (Diane Baker). E o time é completado pela senhora Carla Goteborg (Arlene Dahl), viúva de outro cientista rival na corrida ao centro da Terra, e o ajudante Hans Belker (Peter Ronson, em seu único trabalho no cinema), um islandês alto e forte, importante como carregador dos acessórios para a exploração. O filme tem muitos elementos de humor, principalmente nas cenas envolvendo Gertrude, a pata de estimação de Hans, que acompanha seu dono na jornada.

Em paralelo, na disputa pelo reconhecimento das novas descobertas no interior do planeta, temos também o cientista Conde Saknussemm (Thayer David), que organiza sua própria expedição secreta, agindo de forma inescrupulosa e desonesta, com conspirações e sabotagens para conseguir a fama e os lucros das descobertas científicas.

Durante o arriscado trajeto por dentro da crosta terrestre, eles enfrentam diversos perigos como deslizamentos, terremotos, inundações e ataques de répteis carnívoros gigantes. Mas, também encontram cenários de imensa beleza natural como cavernas com cristais de quartzo e algas luminescentes nas paredes, minas de areia, florestas com cogumelos gigantes comestíveis, uma praia com oceano subterrâneo, culminando ainda com a descoberta dos escombros da lendária cidade perdida de Atlântida.

“Viagem ao Centro da Terra” tem uma duração longa, com 129 minutos, porém é divertido o tempo todo com uma típica aventura recheada de elementos fantásticos e efeitos especiais grandiosos e convincentes, principalmente pela época da produção, no final doas anos 50 do século passado. Sem a tecnologia de computação gráfica para a criação dos monstros, foram utilizados animais vivos (lagartos, iguanas e camaleões) para simular os dimetrodontes e outros répteis, caminhando sobre cenários em miniatura, com a perspectiva de filmagem por baixo, dando a sensação de serem monstros gigantescos ameaçadores.

O filme foi lançado em DVD por aqui pela “Fox”, com a opção da dublagem clássica da exibição na televisão, na saudosa “Sessão da Tarde” da TV Globo, numa época que eram exibidos filmes divertidos como “A Guerra dos Mundos” (1954), “A Máquina do Tempo” (1960), “O Mundo Perdido” (1960), “Viagem Fantástica” (1966), “Planeta dos Macacos” (1968) e muitos outros similares. Foi uma experiência extremamente nostálgica rever o filme com a dublagem original, com vozes reconhecidas que ficaram eternizadas em nossa imaginação pelos filmes e séries que assistíamos nos anos 70 e 80.      

 

(RR – 29/12/20)






O Rato Humano (Quella villa in fondo al parco / The Rat Man, Itália, 1988)

 


Os italianos sempre gostaram de fazer filmes de horror e ficção científica bagaceiros com personagens americanos e ambientação na América Central ou do Sul. Em 1988 foi lançado “O Rato Humano” (Quella villa in fondo al parco / The Rat Man), dirigido por Giuliano Carnimeo (sob o pseudônimo Anthony Ascot), e com Nelson de la Rosa, de apenas 72 cm de altura, no papel da criatura assassina híbrida de macaco e rato.

O roteiro de Dardano Sacchetti (sob o pseudônimo David Parker Jr.), o mesmo autor de “Demons – Os Filhos das Trevas” (1985), é extremamente ruim e cheio de furos, falhas e situações absurdas e convenientes apenas para facilitar o trabalho de direção e produção. Uma história tão simples e patética que não deve ser considerada, e o que vale a pena no filme garantindo a diversão hilária são os ataques sangrentos do rato mutante.

O “cientista louco” americano Dr. Olman (Pepito Guerra) está trabalhando numa experiência genética numa vila remota de uma ilha do Caribe, criando um ser híbrido juntando o instinto do rato com a inteligência do macaco (Nelson de la Rosa), esperando apresenta-lo para a comunidade científica internacional e ganhar fama e dinheiro com a descoberta. Porém, a criatura foge da gaiola e começa a atacar violentamente as pessoas que cruzam seu caminho.

Entre os candidatos acéfalos para virar comida do rato com feições humanas está uma equipe americana formada pelo fotógrafo Mark (Werner Pochath), sua assistente Monique (Ana Silvia Gruyllon) e as modelos Peggy (Luisa Menon) e Marilyn (Eva Grimaldi), além do escritor de histórias de mistérios Fred Williams (David Warbeck), que foi para o Caribe pesquisar materiais para seus livros, e Terry (Janet Agren), que veio dos Estados Unidos procurar sua irmã Marilyn para tentar uma reaproximação.

Enquanto ocorrem mortes misteriosas na região, com as vítimas apresentando escoriações e ferimentos bizarros, um incompetente inspetor da polícia local, Lopez (Franklin Dominguez), tenta descobrir a autoria dos assassinatos.

“O Rato Humano” é uma daquelas tranqueiras de horror onde se consegue alguma diversão nas cenas com o monstro pequenino (literalmente), que salta sobre suas vítimas, com grunhidos estridentes, rasgando suas carnes com os dentes e garras venenosas afiadas. E o mais bizarro é que a criatura não é obtida artificialmente com algum efeito tosco, uma fantasia de borracha ou boneco animatrônico, e sim com a atuação de um ator real de apenas 72 cm de altura, que ganhou também uma maquiagem para ajudar na concepção da criatura carnívora. Aliás, Nelson de la Rosa (que nasceu na República Dominicana) também participou do filme “A Ilha do Dr. Moreau” (1996), ao lado de Marlon Brando e Val Kilmer, e faleceu aos 38 anos em 2006.

Como o entretenimento está quase que totalmente associado apenas aos momentos em cena do pequeno monstro, é uma pena que ele aparece pouco, e seus ataques mortais deveriam ser mais intensos e constantes, uma vez que a história não desperta grande interesse e a narrativa é arrastada em boa parte do filme.

É curioso notar como era a tecnologia disponível na época (sem fotos digitais e celulares), e vemos que o escritor utiliza uma máquina de datilografia, que o fotógrafo precisa revelar suas fotos e é uma dificuldade imensa encontrar um telefone disponível nos arredores da vila perdida no Caribe.

O filme também recebeu o manjado e totalmente sem criatividade título alternativo original “Terror House”, numa distribuição em DVD alemão, que foi a cópia que vi legendada no “Youtube”.   

 

(RR – 09/10/20)





A Noite do Terror / A Noite dos Mortos-Vivos (Le Notti del Terrore / Nights of Terror, Itália, 1981)

 


“A terra irá tremer... covas serão abertas... eles virão até os vivos como mensageiros da morte e haverá as noites de terror...”

 

O cinema fantástico italiano é muito divertido e sangrento. A lista de filmes é imensa, assim como os diretores que associaram seus nomes e eternizaram suas obras na história do horror bagaceiro. Em 1981, o cineasta Andrea Bianchi lançou uma pérola do horror explorando o sub-gênero dos zumbis, “Le Notti Del Terrore”. O filme recebeu vários títulos no Brasil, como sempre apenas para confundir e atrapalhar um eventual trabalho de catalogação e organização dos colecionadores e apreciadores.

A Noite do Terror” foi o nome no lançamento em VHS pela “Century Video” (com uma capa péssima, sem relação com o filme). “A Noite dos Mortos-Vivos” no lançamento em VHS pela “Poderosa Filmes” (aliás, confundindo o nome com o clássico de George Romero, de 1968). Completando a bagunça, também recebeu o título “Noites de Terror” quando foi lançado em DVD pela “Versátil”, no box “Zumbis no Cinema – Volume 2”. Para o mercado internacional recebeu também os nomes “Nights of Terror” e “Burial Ground”, entre outros.

 

O filme tem apenas um fiapo de história, “mortos-vivos despertados que atacam um grupo de pessoas presas numa mansão isolada, com o único objetivo de rasgar seus corpos e devorar suas carnes”. Mas, o que interessa mesmo e sendo o motivo da diversão, é precariedade geral da produção, com a exagerada violência sangrenta dos ataques (e se ainda impressiona atualmente, imagine no distante ano de 1981...), além da maquiagem e efeitos toscos dos zumbis.

Um veterano pesquisador de ciências ocultas (Renato Barbieri) descobre um segredo misterioso na inscrição de uma pedra antiga retirada de uma escavação arqueológica, despertando acidentalmente uma legião de ancestrais etruscos mortos-vivos, que o atacam violentamente ao sair de seus túmulos frios de pedra e covas podres sob a terra.

Os zumbis então vão até uma mansão isolada próxima para atacar um grupo de pessoas convidadas pelo professor historiador. No grupo, temos dois empregados da mansão, Nicholas (Claudio Zucchett) e Kathryn (Anna Valente), e três casais, George (Roberto Caporali), Evelyn (Maria Angela Giordan) e seu filho Michael (Peter Bark), além de Janet (Karin Well) e Mark (Gian Luigi Chririzzi), e James (Simone Matiolli) e Leslie (Antonietta Antinori).

Com o caos instaurado, resta somente ao grupo sitiado no imenso casarão com estilo gótico, lutar desesperadamente por suas vidas, se defendendo dos mortos-vivos asquerosos que querem saciar a sede de sangue e fome de suas carnes.

 

“A Noite do Terror” é uma preciosidade do cinema tranqueira de horror, extremamente divertido não pela história simples, rasa e quase inexistente, com personagens acéfalos que estão ali apenas para servir de vítimas dos zumbis e que merecem mortes dolorosas, mas pelos excessos de violência, sangue e cenas gráficas de mortes. Seguindo a escola tradicional dos zumbis lentos, eles comem a carne humana, são destruídos apenas com ferimentos na cabeça e as vítimas retornam também como mortos-vivos. Um diferencial é que os zumbis até evidenciam um certo grau de inteligência, quando organizam ações em grupos e portam armas como machados e foices para seus ataques.

O filme tem decapitação, cabeças esmagadas, zumbis em chamas (nesse caso em cenas bem produzidas e convincentes) e tripas dilaceradas num banquete de sangue. Um destaque certamente é o trabalho tosco de maquiagem dos zumbis, com vermes saindo das cavidades dos olhos, e os efeitos das mortes violentas, tudo sem a artificialidade da computação gráfica, garantindo os momentos de entretenimento.

Apesar de ter “noite” no nome, a primeira parte dos ataques dos zumbis é toda realizada em plena luz do dia. O ator Peter Bark, que interpreta o garoto Michael, tinha na verdade 26 anos na época, e realmente não parecia uma criança, mas como tem algumas cenas bizarras no relacionamento dele com a mãe, é fácil entender porque escolheram um adulto com estatura menor para esse papel. Como a quantidade de zumbis em cena é grande, é até compreensível por questões de orçamento que parte deles nem estejam maquiados adequadamente, pois em algumas cenas podemos ver os rostos dos atores apenas pintados de verde, sem a maquiagem de mortos putrefatos.

Curiosamente, a primeira vez que vi o filme foi por volta de 1988, numa fita VHS com o nome “A Noite dos Mortos-Vivos”, alugada de uma locadora de bairro. Até hoje, sempre que passo perto do local onde ela ficava lembro-me desse filme e do aluguel da fita. É um momento nostálgico que ficou eternamente gravado na memória.          

 

(RR – 05/10/20)








A Vingança do Monstro (Tobor the Great, EUA, 1954, PB)

 


Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a turbulência política polarizada entre as duas grandes potências da época, Estados Unidos e antiga União Soviética, iniciou-se uma guerra fria com desconfiança mútua e que trouxe ao mundo uma paranoia do apocalipse nuclear, um medo terrível que a humanidade aniquilasse o próprio planeta.

Surgiram a partir daí muitos filmes de ficção científica e eventualmente com elementos de horror, explorando o medo de uma guerra com bombas atômicas e a necessidade de uma corrida armamentista e conquista espacial.

Em 1954, a “Republic”, uma distribuidora de filmes com orçamentos reduzidos, lançou “A Vingança do Monstro” (Tobor the Great), com fotografia em preto e branco, duração curta de apenas 76 minutos e direção de Lee Sholem, apresentando uma história com um enorme robô (o “Tobor” do título original, que na verdade é “robot” soletrado de trás para frente), que foi criado para pilotar o primeiro foguete americano rumo ao espaço.

 

Os cientistas Prof. Arnold Nordstrom (Taylor Holmes) e Dr. Ralph Harrison (Charles Drake) estão trabalhando no programa espacial americano, no desenvolvimento de foguetes nucleares. Eles concordam que é muito perigoso a utilização de astronautas humanos nos testes dos voos espaciais, arriscando suas vidas em protótipos de foguetes experimentais. Como solução alternativa, o Prof. Nordstrom constrói um robô enorme ou um simulador elétrico do Homem, como ele definiu, uma espécie de ser sensitivo com instinto sintético, comandado pela percepção extra-sensorial do seu criador.

Brian Roberts (Billy Chapin), o inteligente neto de apenas onze anos do Prof. Nordstrom, acaba criando uma relação de amizade com o robô, sempre supervisionado pelo avô e acompanhado à distância pela mãe viúva do rapaz, Janice Roberts (Karin Booth). Porém, logo o extraordinário robô desperta a atenção de espiões estrangeiros infiltrados nos Estados Unidos, interessados em sua tecnologia voltada para fins militares, a criação de um exército de robôs com estímulos destrutivos, e na disputa da corrida espacial da guerra fria, devido suas habilidades na pilotagem de foguetes.

 

“A Vingança do Monstro” (título nacional mal escolhido e apelativo) é mais uma daquelas preciosidades do cinema fantástico antigo de baixo orçamento. Sim, o roteiro é simples, previsível e ingênuo, o elenco é apenas esforçado, os efeitos são toscos, mas a soma disso tudo é diversão garantida, principalmente pelas cenas com Tobor (uma em especial é hilária, quando ele está dirigindo um jipe). Ele  também é um dos robôs que ficaram eternizados, apesar de bem menos conhecido. Mesmo num patamar menor, certamente está figurando ao lado de outros mais populares e clássicos como “Maria” (“Metropolis”, 1926), “Gort” (“O Dia Em Que a Terra Parou”, 1951), “Robby” (“Planeta Proibido”, 1956) e “B-9” (série de TV “Perdidos no Espaço”, 1965-1968).

A casa do Prof. Nordstrom, onde em seu laboratório subterrâneo ele inventou o robô piloto espacial, é repleta de aparelhos e dispositivos tecnológicos altamente impressionáveis na época, com sistemas sofisticados de alarme e monitoramento por telas, e que certamente soam comuns e antiquados para nosso tempo. Mas, são justamente características como essas que despertam a curiosidade dos apreciadores do cinema bagaceiro. 

Curiosamente, numa jogada de marketing muito utilizada na época com filmes similares, os cartazes de divulgação mostram o robô Tobor segurando em seus braços uma bela mulher, o que não acontece no filme. Na verdade, ele apenas carrega nos braços o neto do cientista, o garoto com quem cria um laço de afeição.

 

(RR – 30/09/20)






O Poço e o Pêndulo / A Mansão do Terror (The Pit and the Pendulum, EUA, 1961)

 


“Está prestes a entrar no inferno. Inferno! O mundo das profundezas. A região infernal. A morada dos condenados. O local da tormenta. Pandemônio, Abbadon, Tophet, Gehenna, Naraka, o Poço! E o Pêndulo! A lâmina do limiar do destino.”


Nos anos 60 do século passado, o cultuado diretor e produtor Roger Corman, conhecido por sua habilidade em fazer ótimos filmes com orçamentos reduzidos, teve uma parceria produtiva com o ator Vincent Price, um dos grandes astros do cinema de Horror em todos os tempos, para a adaptação nas telas de alguns contos do escritor Edgar Allan Poe.

Dessa união de talentos saíram filmes divertidos e memoráveis como “O Solar Maldito” (1960), “O Poço e o Pêndulo” (The Pit and the Pendulum, 1961), que é o assunto dessa resenha, “Muralhas do Pavor” (1962), “O Castelo Assombrado” (1963), sendo este apenas levemente inspirado em Poe e com uma história de H. P. Lovecraft, “O Corvo” (1963), “A Orgia da Morte” (1964) e “Túmulo Sinistro” (1964). Alguns deles tiveram o roteiro assinado pelo especialista Richard Matheson, outro nome eternizado na história do cinema fantástico.

Para completar as várias atrações com nomes de personalidades associadas ao Horror, temos ainda a presença da “scream queen” Barbara Steele (“A Maldição do Demônio”, 1960) e produção executiva da “American International” de Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson.


A história de “O Poço e o Pêndulo” foi ambientada na Espanha do século XVI, na terrível época da Santa Inquisição, com o assassinato cruel e práticas de tortura em homens e principalmente mulheres acusadas falsamente de bruxaria, a favor de interesses dos poderes religiosos que dominavam a Europa.

Nesse cenário de devastação e prova da hipocrisia da raça humana, vivia Nicholas Medina (Vincent Price), filho do terrível inquisidor Sebastian Medina (também Price), num castelo imponente no alto de um morro rodeado pelas ondas furiosas do mar. Ele era atormentado pela herança maldita do pai assassino de inocentes, com uma câmara imensa no porão do castelo, repleta de instrumentos de tortura que só de olhar já sentimos dor.

Apesar do ambiente sinistro, ele era feliz com sua amada esposa Elizabeth Barnard Medina (Barbara Steele). Porém, após a morte misteriosa da bela mulher, chegou ao castelo o irmão Francis Barnard (John Kerr), vindo da Inglaterra para investigar e obter mais informações sobre a morte de Elizabeth.

O jovem inglês foi recebido por Catherine Medina (Luana Anders), irmã de Nicholas, que estava no castelo para cuidar do irmão triste e deprimido com a morte da esposa. Mesmo depois das explicações do médico da família Dr. Charles Leon (Antony Carbone) sobre a morte inesperada de Elizabeth num colapso nervoso ao visitar a câmara de torturas, o recém chegado visitante não se convenceu e se instaurou um clima de desconfiança no castelo, com consequências trágicas para todos.

 

“O Poço e o Pêndulo” também é conhecido no Brasil pelo título “A Mansão do Terror”. O filme tem todos os elementos normalmente encontrados no horror gótico, com um castelo tétrico cheio de aposentos imensos, móveis antigos, iluminação por velas e candelabros, ruídos constantes nos cantos escuros de gelar a espinha e o principal, uma câmara com instrumentos de tortura que foram responsáveis pelo sofrimento e morte dolorosa de muitas pessoas vítimas da Inquisição. Membros torcidos e quebrados, olhos arrancados das órbitas, carne sendo queimada até ficar preta. E um poço infernal com um pêndulo segurando uma lâmina imensa para dilacerar o abdômen das vítimas presas deitadas numa cama de pedra.

Alguns dos temas recorrentes na obra literária de Edgar Allan Por como maldição familiar, loucura, insanidade, conspiração, traição, vingança e a paranoia de ser enterrado ou emparedado vivo, estão presentes na atmosfera perturbadora do castelo, garantindo a diversão dos fãs do cinema de horror gótico e dos ícones do estilo como Roger Corman, Vincent Price e Richard Matheson.

Curiosamente, os cenários da câmara de tortura foram utilizados também em outro filme de Corman, “Sombras do Terror / Terror no Castelo” (The Terror, 1963), com Boris Karloff e Jack Nicholson. E um dos principais instrumentos de tortura é a “donzela de ferro” (“iron maiden”, que serviu de inspiração para o nome da famosa banda de Heavy Metal), um ataúde de ferro que mantinha uma pessoa presa em seu interior, com cravos que perfuravam o corpo da vítima, que agonizava lentamente ensanguentada.

Em 1991 a produtora “Empire Pictures” lançou outro filme inspirado nesse mesmo conto de Edgar Allan Poe, dirigido por Stuart Gordon e com Lance Henriksen e Jeffrey Combs.   


“... o tormento da minha alma foi extravasado em um alto, demorado, e final grito de desespero.” – Edgar Allan Poe


 (RR – 29/09/20)






Sexta-Feira 13 (Black Friday, EUA, 1940, PB)


Quando nos deparamos com um filme com o título nacional “Sexta-Feira 13”, logo vem à cabeça a popular franquia “slasher” com o psicopata mascarado Jason Voorhees, um ícone da cultura pop, com seu primeiro filme lançado em 1979 (Friday the 13th). Porém, existe outro filme com o mesmo nome nacional e título original “Black Friday”, com fotografia em preto e branco, produção de baixo orçamento do longínquo ano de 1940, e com dois dos maiores astros do cinema de horror de todos os tempos, o inglês Boris Karloff (famoso principalmente pelo papel do “monstro de Frankenstein”) e o húngaro Bela Lugosi (eternizado como o vampiro “Drácula” nos filmes da “Universal”). Sexta-Feira 13” tem direção de Arthur Lubin e roteiro de Eric Taylor e do alemão Curt Siodmak, autor conhecido pelas histórias de diversos outros filmes como “O Lobisomem” (1941).

O cientista Dr. Ernest Sovac (Boris Karloff) está envolvido num trabalho de pesquisa de transplante de cérebros. Depois que seu grande amigo, o professor de literatura inglesa George Kingsley (Stanley Ridges) sofre um acidente terrível, sendo atropelado por um carro em fuga de uma perseguição com tiroteios, o cientista encontra uma oportunidade de fazer uma experiência para tentar salvar a vida do amigo gravemente ferido com uma lesão cerebral irreversível. O carro acidentado era dirigido pelo gangster Red Cannon (também Ridges), que fugia dos antigos parceiros de crime, após um roubo milionário. Fraturando a coluna no acidente, o criminoso teve partes de seu cérebro transplantadas para o cérebro do professor, numa experiência ilegal em seres humanos, e que o cientista só tinha realizado em animais.

O grupo de gangsters rivais, liderados por Eic Marnay (Bela Lugosi), ainda era formado por Frank Miller (Edmund MacDonald), William Kane (Paul Fix) e Louis Devore (Raymond Bailey). Numa conspiração com a namorada de Red Cannon, Sunny Rogers (Anne Nagel), eles tentam localizar e recuperar o dinheiro roubado. Em paralelo, a personalidade pacífica do Prof. Kingsley oscila drasticamente com a influência da mente do criminoso, que ao assumir o controle transforma-se num assassino, matando violentamente seus rivais e policiais que cruzam seu caminho.

Enquanto a filha do cientista, Jean Sovac (Anne Gwynne), junto com a esposa do professor, Margaret Kingsley (Virginia Brissac), tentam entender e ajudar no conflito de personalidades, o Dr. Sovac se interessa também pela fortuna em dinheiro, que financiaria seus trabalhos de pesquisas, com sua ganância tumultuando ainda mais a confusão gerada pela dupla personalidade do Prof. Kingsley.

“Sexta-Feira 13” tem apenas 70 minutos de duração e é uma mistura de filme policial com elementos de horror e ficção científica como pano de fundo, na ideia do tradicional “cientista louco” com suas experiências para o bem da humanidade, e que tem consequências desastrosas. Nesse caso, o transplante de partes de cérebros foi o responsável pela dupla personalidade do Prof. Kingsley com o gangster Red Cannon, alternando entre um homem pacato e um criminoso assassino, no estilo da clássica e popular história do Dr, Jekyll e Sr. Hyde, “o médico e o monstro” de Robert Louis Stevenson.

O simples fato da presença de Boris Karloff e Bela Lugosi, dois expoentes máximos do cinema de Horror e Ficção Científica, já traz grande crédito para o filme, agregando valor com seus nomes reconhecidos e requisitados na época. Mas, curiosamente eles não contracenam juntos em nenhuma cena no filme, e Lugosi tem apenas um papel menor e secundário, aparecendo pouco como um dos gangsters, enquanto Karloff é o cientista responsável pelo elemento fantástico que gera o conflito na trama. E certamente um destaque é a atuação de Stanley Ridges na interpretação dupla do calmo professor e do inescrupuloso criminoso, simulando personalidades muito distintas de forma convincente.

Informações de bastidores reveladas pelo roteirista Curt Siodmak dizem que Karloff inicialmente ficaria com o papel do Prof. Kingsley e o cientista Dr. Sovac seria interpretado por Lugosi, mas que depois o famoso ator da “criatura de Frankenstein” desistiu da complexidade exigida na atuação de um papel duplo e tomou o lugar de Lugosi como o cientista. O ator de “Drácula” ficou então apenas com uma participação menor como o líder dos criminosos que estão atrás do dinheiro roubado.

Outra curiosidade é que Curt Siodmak é também o autor do conto “O Cérebro de Donovan” (1942), que recebeu algumas versões para o cinema como “A Dama e o Monstro” (1944) e “Experiência Diabólica / O Cérebro Maligno” (1953), cuja história é sobre um cérebro de um homem inescrupuloso morto, mas que é mantido vivo fora do corpo e ainda consegue manipular a mente das pessoas por telepatia.  

(RR – 14/09/20)



 

O Homem do Planeta X (The Man From Planet X, EUA, 1951, PB)

 


A quantidade de filmes bagaceiros de horror e ficção científica produzidos principalmente a partir de meados do século passado é imensa, para o deleite dos apreciadores do cinema fantástico de baixo orçamento. “O Homem do Planeta X” (The Man From Planet X) é um filme americano de 1951 dirigido por Edgar G. Ulmer que deve ser sempre resgatado e reverenciado, não pelas qualidades cinematográficas reservadas para os clássicos, mas pela nostalgia e garantia de entretenimento com mais uma história de invasão alienígena.

Com fotografia em preto e branco, duração curta de apenas 70 minutos (característica comum dos filmes similares de orçamentos reduzidos daquela distante período), um roteiro carregado de clichês e situações para favorecer a precariedade da produção, além de efeitos toscos da nave espacial e do bizarro alienígena humanoide com cabeça enorme, o filme é uma daquelas divertidas tranqueiras que investiam em promoção com posters exagerados com frases de efeito para chamar a atenção para seus elementos fantásticos, que impressionavam as plateias da época.

Na história, o cientista Professor Elliot (Raymond Bond) está com sua jovem filha Enid (Margaret Field) numa antiga torre de pedra localizada numa ilha remota da Escócia. A construção, erguida como proteção de ataques dos vikings, está servindo de observatório espacial para o cientista, que descobriu a aproximação misteriosa de um planeta até então desconhecido, identificado agora apenas como “X”. Ele tem o auxílio do Dr. Mears (William Schallert), um antigo aluno com passado suspeito e reputação duvidosa. E também recebe a visita de um amigo jornalista americano, John Lawrence (Robert Clarke), que informado por outro cientista, Dr. Robert Blane (Gilbert Fallman), sobre a descoberta do planeta ameaçador, decide viajar até a Escócia para investigar o evento. A ilha, sempre envolta em muita névoa espessa, seria o local na Terra mais próximo de um possível contato com o planeta em rota de aproximação.

Certa noite, ao vasculhar os arredores da torre de observação, eles encontram uma nave espacial pousada parecida com um sino de mergulho (a única diferença entre o espaço e a água é a densidade, justifica o Prof. Elliot), e são surpreendidos pelo contato com o alienígena do título (interpretado por Pat Goldin, não creditado), um humanoide com cabeça imensa e rosto com feições distorcidas, que usa um capacete transparente e aparelho respirador acoplado ao corpo, comunicando-se apenas com ruídos.

Após um contato inicialmente amistoso, o alienígena procura ajuda para seu planeta que está congelando, mas a confiança logo é quebrada graças às ações inescrupulosas do ganancioso Dr. Mears, criando um clima de animosidade com o “homem do planeta X”, que passa a usar como forma de retaliação um raio que controla a mente das pessoas. Dessa forma, ele recruta um grupo de escravos agindo como zumbis entre os aldeões de um vilarejo na ilha. Ao instaurar o medo pelo contato entre raças mal sucedido, a confusão acaba despertando a reação da polícia e de um pequeno grupo de soldados do exército que vieram do continente atendendo um pedido de socorro repassado por um navio que navegava próximo à ilha.

A temática da invasão alienígena sempre foi um interessante argumento nos filmes produzidos após o fim da Segunda Guerra Mundial, com seus roteiros influenciados pela paranoia da recém iniciada guerra fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, através do medo crescente dos americanos de uma invasão comunista em sua sociedade. O intruso alienígena vindo do misterioso planeta X é considerado uma ameaça, porém com suas intenções ainda em análise. Mas, após contato com o assistente Dr. Mears, que pensa nos lucros que poderiam ser obtidos com o uso de uma tecnologia extraterrestre superior, o confronto é inevitável.

Em “O Homem do Planeta X” iremos encontrar os clichês dos filmes bagaceiros que exploram a ficção científica e horror, com personagens estereotipados como o tradicional cientista que descobre um planeta se aproximando da Terra, sua bela filha que terá um interesse romântico com um jornalista investigativo, além da presença de um vilão ganancioso para tumultuar e gerar os conflitos. Tem os elementos tradicionais indispensáveis como a nave espacial tosca e o monstro bizarro do espaço sideral, um invasor alienígena com feições humanoides que garante a diversão em todas as vezes que aparece em cena. Uma vez sendo uma produção de recursos escassos, as filmagens ocorreram em poucos dias utilizando cenários reaproveitados, e as soluções do roteiro são todas simplórias com resultados previsíveis. E justamente a somatória de todos esses fatores garantem a diversão.      


(Juvenatrix – 13/09/20)





E-book "Memória dos Fanzines" # 1 disponível para leitura online no ISSUU

 O E-book Memória dos Fanzines #1 com 183 paginas, 600 capas com informações de fanzines de muitas épocas, entrevistas e depoimentos de quem respira e transpira a cultura do FANZINE até hoje, está disponível para leitura online no ISSUU.

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E-book "Memória dos Fanzines" # 1 - download gratuito

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Já se encontra disponível para download gratuito o E-Book “Memória dos Fanzines” #1, material que reúne cinquenta postagens da coluna “Memória dos Fanzines”, publicadas desde 2018 no Blog “Metal Reunion Zine” por Alexandre Chakal e Renato Rosatti.
Este projeto teve colaboração e participação ativa de Fabio da Silva Barbosa (“Reboco Caído Zine”), que realizou algumas entrevistas com Zineiros das antigas, coletando depoimentos e contribuições extra de outras publicações independentes, com a sua incansável pesquisa nas artes literárias editadas em diversas partes do Brasil, assim como alguns países da América do Sul e Europa. Este E-book contem 183 páginas e 600 capas e informações de zines de várias épocas.
O material está disponível para download gratuito na “Cadaveric Noise Bibilotech”, um espaço virtual que a Murder Records resolveu abrir como um cemitério destinado à Fanzines, Manifestos, Livros e outras publicações independentes relacionadas com as artes do submundo.
Em paralelo, os editores informam que também já está em andamento o projeto Memória dos Fanzines” #2 e convidamos todos os interessados em enviar as suas contribuições e participações na próxima edição não deixem de entrar em contato.

MEMÓRIA DOS FANZINES
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The new E-Book entitled “Memória dos Fanzines” #1 is already available for free download and gathers fifty posts from the column “Memória dos Fanzines”, published since 2018 in the Blog “Metal Reunion Zine” by Alexandre Chakal and Renato Rosatti.
This project had the collaboration and active participation of Fabio da Silva Barbosa (“Reboco Caído Zine”), who carried out some interviews with Zineiros from the old ones, collecting testimonies and extra contributions from other independent publications, with his tireless research in the literary arts edited in various parts of Brazil, as well as some countries in South America and Europe. This E-book contains 183 pages and 600 covers and information on zines from various eras.
The material is available for free download in the “Cadaveric Noise Bibilotech”, a virtual space that” Murder Records” decided to open this cemetery for Fanzines, Manifestos, Books and other independent publications related to the arts of the underworld.
In parallel, the editors inform that the project Memory of the Fanzines #2 is also in progress and we invite all those interested in sending their contributions and participate in the next edition do not hesitate to contact us.

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Jasão e os Argonautas / Jasão e o Velo de Ouro (Jason and the Argonauts, EUA / Inglaterra, 1963)



Jasão e os Argonautas” (Jason and the Argonauts, 1963), que também é conhecido no Brasil como “Jasão e o Velo de Ouro”, título que recebeu quando foi exibido na televisão, é um daqueles filmes antigos de puro entretenimento que passavam na saudosa “Sessão da Tarde” da TV Globo. Na época em que eram exibidas preciosidades do cinema fantástico como “O Planeta dos Macacos” (1968), “Viagem Fantástica” (1966), “Robur, o Conquistador do Mundo” (1961), “Destino: Lua” (1951), “Jornada ao Centro do Tempo” (1968), “Viagem ao Centro da Terra” (1959), entre outras.
Com direção de Don Chaffey e co-produção entre Estados Unidos e Inglaterra, o filme é muito conhecido entre os apreciadores do cinema fantástico do passado, principalmente por causa dos excepcionais efeitos especiais de Ray Harryhausen (1920 / 2013), um mestre na concepção de criaturas que ganham vida com a técnica de “stop motion”.
Na divertida história inspirada na mitologia grega, Jasão (Todd Armstrong), é o herdeiro do trono de Tessália, e pretende assumir o seu posto vinte anos depois que seu pai foi assassinado e o reino tomado por Pelias (Douglas Wilmer). Porém, Jasão acaba participando de um jogo manipulado pelos deuses do Olimpo, Zeus (Niall MacGinnis) e Hera (Honor Blackman), e reúne um grupo de guerreiros gregos que partem num navio de guerra para o fim do mundo. O objetivo é se apossar de um valioso artefato, o “Velo de Ouro” do título alternativo, um presente dos deuses para o reino de Cólquida, e que garante paz e prosperidade para o povo que o possuir.
No tortuoso caminho, Jasão e os argonautas, os tripulantes da nau “Argos” (mesmo nome de seu proprietário, interpretado por Laurence Naismith), recebem a ajuda limitada de Hera, a rainha dos deuses, e enfrentam grandes perigos que ameaçam suas vidas. Incluindo um gigante de bronze (“Talos”), guardião dos tesouros dos deuses numa ilha escondida; demônios alados (“harpias”), que atormentam um velho cego, Hermes (Michael Gwynn), que sabe como chegar ao destino final da expedição; um desmoronamento mortal na passagem do navio por um estreito das “Rochas Estrondosas”; um monstro de sete cabeças (“hidra”), que protege o “velo de ouro” de saqueadores; e finalmente um grupo de esqueletos guerreiros invocados do mundo dos mortos por vingança pelo rei Aeetes (Jack Gwillim).
Além ainda de enfrentar a traição de Acastus (Gary Raymond), filho de Pelias, infiltrado na expedição. Mas, para compensar a imensa quantidade de desafios mortais em sua jornada, Jasão encontra a bela Medea (Nancy Kovack), resgatada de um naufrágio e que o ajudou na localização do desejado “velo de ouro”.          
“Jasão e os Argonautas” é um clássico “B” da Fantasia com elementos de Horror, com uma história extremamente divertida e sem compromisso com a realidade, um mergulho no escapismo que traz a simples satisfação do entretenimento. Mas, o que principalmente faz do filme algo que fica guardado num lugar especial na memória, se destacando de tantos outros similares, são as criaturas animadas pelo mestre em “stop motion” Ray Harryhausen. Os efeitos de qualidade impecável são obtidos com um trabalho árduo na captação dos movimentos quadro a quadro da miniaturas dos monstros, com um resultado impressionante para a época da produção, e que desperta admiração até hoje. Particularmente, acho essa técnica mais interessante que os efeitos do cinema moderno com imagens geradas por computador, que muitas vezes soam tão artificiais que depreciam os filmes.
Um destaque certamente é a fascinante batalha de três argonautas com um pequeno exército de sete esqueletos criados em “stop motion”, sendo um dos melhores trabalhos de toda a bem sucedida carreira de Ray Harryhausen. Essa sequência serviu de inspiração para os esqueletos de “Uma Noite Alucinante 3” (1992), terceiro filme da trilogia “Evil Dead”, de Sam Raimi.
Seguem algumas pequenas curiosidades. O filme teve um final aberto, com um gancho para a continuação que não aconteceu. Com o fim da perigosa jornada de Jasão, surgiu uma vasta variedade de possibilidades para o herói, infelizmente não exploradas. O ator Todd Armstrong (1937 / 1992), que interpretou Jasão, teve uma carreira curta e “Jasão e os Argonautas” foi seu único trabalho relevante. Sua parceira em cena, Nancy Kovack, que fez a mocinha Medea, aparece pouco, somente a partir do último ato, apesar de seu nome figurar em destaque nos créditos.    

(Juvenatrix – 10/06/20)







O Parque Macabro / Carnaval de Almas (Carnival of Souls, EUA, 1962, PB)



“Ela era uma estranha entre os vivos

Os filmes que exploram fantasmas com um horror mais sutil e psicológico normalmente despertam grande interesse. “O Parque Macabro” (Carnival of Souls, 1962), de Herk Harvey, com roteiro de John Clifford, fotografia em preto e branco e produção de baixo orçamento, é um exemplo bem sucedido dentro dessa ideia. Com uma história sobrenatural no estilo típico da nostálgica série de TV “Além da Imaginação” (1959 / 1964), um pouco mais esticada para se enquadrar como um filme de longa- metragem.
A organista profissional Mary Henry (Candace Hilligoss) sofre um acidente traumático de carro numa ponte, com o veículo mergulhando nas águas escuras de um rio. Ela sobrevive misteriosamente, aparecendo desorientada nas margens. Ao receber o convite de um padre (Art Ellison) para tocar órgão numa igreja em outra cidade, ela viaja até o local. No caminho, visualiza perto da estrada um pavilhão abandonado, que no passado foi um movimentado balneário turístico e parque de diversões. De aspecto macabro e sombrio, o parque falido desperta na jovem um estranho fascínio, principalmente depois que ela é atormentada regularmente por alucinações e visões de um fantasma (o próprio diretor Herk Harvey, maquiado como um zumbi e não creditado), que parece querer se comunicar com ela e resolver alguma pendência entre o mundo dos vivos e mortos.
Mary é antissocial e reclusa, e se hospeda numa pensão de propriedade da Sra. Thomas (Frances Feist), onde conhece o jovem galanteador John Linden (Sidney Berger), que tenta conquistá-la sem muito sucesso. Ela recebe também conselhos de um médico, Dr. Samuels (Stan Levitt), sobre sua constante confusão mental talvez relacionada com o stress causado pelo acidente de carro. Mas, a mulher perturbada por fantasmas e obcecada pelo pavilhão abandonado precisa entender as visões sinistras que a assombram, e tenta de forma obstinada descobrir a relação entre o “parque macabro” e seus próprios demônios internos.
“O Parque Macabro” é aquele tipo de filme de horror sugerido, sem violência ou sangue, e apenas com visões oníricas sombrias e alucinações perturbadoras de fantasmas de pessoas que não fazem mais parte desse mundo. Com maquiagem simples, mas eficiente, todas as cenas com os zumbis perseguindo Mary são antológicas e carregadas de horror psicológico.
O filme é indicado para os apreciadores do cinema de horror com atmosfera desconfortável e sobrenatural, sem as barulheiras e correrias de histórias com fluxo narrativo acelerado e que cansam o espectador justamente por esses excessos.      
O diretor Herk Harvey (1924 / 1996) tem um currículo extenso, mas ficou mesmo conhecido através da grande repercussão ao explorar a temática do horror psicológico em “O Parque Macabro”. Ele revelou que, apesar de satisfeito com o sucesso desse filme, acharia mais justo ser reconhecido pelo conjunto de sua obra fora da temática, com muita experiência em centenas de filmes na área educacional, industrial e documentários.
Curiosamente, o filme ganhou dois títulos no Brasil, o oportunista “O Parque Macabro”, com a utilização de um adjetivo com forte ligação com o horror, e depois o correto “Carnaval de Almas”, uma tradução literal do original. Tem também uma versão disponível colorizada por computador e ganhou uma refilmagem lançada em 1998, dirigida por Adam Grossman.
Foi lançado em DVD por aqui com o nome “Carnaval de Almas”, pela “Versátil Home Video”, na Coleção “Obras-Primas do Terror – Volume 3”.

(Juvenatrix – 27/05/20)