A Noiva do Monstro (Bride of the Monster, EUA, 1955, PB)

 


Lar? Eu não tenho lar. Caçado, desprezado, vivendo como um animal! A selva é a minha casa. Mas eu mostrarei ao mundo que posso ser seu mestre! Vou aperfeiçoar minha própria raça de pessoas. Uma raça de super-homens atômicos que conquistará o mundo!

– “cientista louco” Dr. Erik Vornoff

 

O cineasta Edward D. Wood Jr. (1924 / 1978) foi considerado um dos piores de todos os tempos, e seu filme “Plano 9 do Espaço Sideral” (1959) recebeu o título de “Pior filme da história”. Mas, ao contrário, seus filmes são divertidos e eu já vi muita coisa pior e de diretores inferiores, mesmo trabalhando com mais dinheiro para a produção.

A Noiva do Monstro” (Bride of the Monster, EUA, 1955) é uma tranqueira divertida de baixo orçamento dentro do cinema bagaceiro de horror e ficção científica, explorando o tema de “cientista louco”. E homenageando o lendário ator húngaro Bela Lugosi (o eterno “Drácula” da “Universal” no filme de 1931) com o papel principal no final de sua carreira decadente. Só esse fato já é motivo mais que suficiente para destacar o filme entre a infinidade de outros similares do mesmo período, com as mesmas ideias e características, saindo do limbo do esquecimento e se colocando num espaço mais reservado e especial do cinema fantástico bagaceiro. 

 

Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, e com o aumento do interesse em pesquisas com radiação nuclear, um cientista exilado do leste europeu, Dr. Eric Varnoff (Bela Lugosi), vive numa casa sinistra perto de um pântano, onde faz experiências com energia atômica em cobaias humanas. Seu objetivo é criar seres obedientes com grande força e tamanho, auxiliado por Lobo (o sueco Tor Johnson), um grandalhão mudo e com problemas mentais que mantém a segurança com o uso de violência primitiva. As vítimas de experiências fracassadas, por sua vez, garantem o cardápio de um polvo imenso mutante mantido pelo cientista.

A ocorrência de desaparecimentos misteriosos na região desperta a atenção da polícia, na investigação do Tenente Dick Craig (Tony McCoy) e de seu chefe Capitão Robbins (Harvey B. Dunn), além do policial atrapalhado Kelton (Paul Marco, responsável por tentativas de alívio cômico). E os sumiços também chamam a atenção da jornalista investigativa Janet Lawton (Loretta King), a jovem e bela “noiva” do título, que se torna prisioneira do cientista.

 

O filme é recomendado para aqueles que se divertem com tranqueiras de horror e FC com histórias exageradas no escapismo explorando os clichês tradicionais dos filmes de “cientista louco” e “monstros bagaceiros”. Entre os destaques temos o comportamento debochado e amargurado do cientista, o uso de elementos da guerra fria com disputas armamentistas na pesquisa de energia nuclear, o medo das consequências provenientes de experiências com radioatividade, e o laboratório repleto de aparelhos elétricos bizarros. Além também do impagável polvo gigante devorador de pessoas, feito de borracha com efeitos toscos e totalmente estático na interação com os atores, tendo entre suas vítimas o especialista em criaturas pré-históricas, Prof. Vladimir Strowski (George Becwar), que visitou o cientista na tentativa fracassada de convencê-lo a retornar ao país natal com o sucesso do trabalho científico.    

A Noiva do Monstro” está disponível no “Youtube” em versão original com opção de legendas em português, e também foi lançado em DVD no Brasil, tanto pela “Continental” num box com outros filmes de Ed Wood, quanto pela “Flash Star”, em sua “Classic Collection”, com a opção de uma versão colorizada digitalmente.

Foi o último filme de Bela Lugosi interpretando um “cientista louco”, papel que fez magistralmente em inúmeros filmes. E também o último com sua voz original. Já doente e em fim de carreira, ele apareceu somente em mais dois filmes, “A Torre dos Monstros” (The Black Sleep, 1956), como um personagem mudo, e vindo a falecer ainda no mesmo ano, não conseguiu completar a participação em “Plano 9 do Espaço Sideral”, onde Ed Wood utilizou algumas filmagens prévias que tinha realizado com o ator e ainda estavam disponíveis.

Curiosamente, em 1957 Tor Johnson reprisou um papel semelhante como o serviçal de mesmo nome Lobo no filme “O Extraordinário” (The Unearthly, 1957), dessa vez obedecendo o “cientista louco” John Carradine (outro ator lendário do cinema bagaceiro de horror). 

 

“Meu prezado professor Strowski, há vinte anos, fui banido de minha terra natal, separado de minha esposa e filho, para nunca mais vê-los. Por que? Porque sugeri usar os elementos atômicos, para produzir super seres, seres de força e tamanho impensáveis. Fui classificado como um louco, um charlatão, proscrito em um mundo da ciência que antes me honrava como um gênio. Agora, aqui neste inferno abandonado na selva, provei que estava correto. Não, professor Strowski, não é brincadeira.” – “cientista louco” Dr. Erik Vornoff

 

(RR – 27/03/23)






Um Cientista Distraído (The Boogie Man Will Get You, EUA, 1942, PB)

 


O cientista bioquímico Dr. Nathaniel Billings (Boris Karloff) é o proprietário endividado de uma hospedaria colonial construída em 1764. Ele é obrigado a vender o imóvel histórico e para a sua sorte aparece uma jovem compradora, Winnie Slade (Jeff Donnell), que pretende transformar num hotel. Ela é recém divorciada do frenético Bill Layden (Larry Parks), que tenta persuadi-la a desfazer o negócio devido a diversos fatos estranhos envolvendo os habitantes do lugar.

Na taverna antiga temos um casal de caseiros idosos meio lunáticos, Amelia Jones (Maude Eburne) e Ebenezer (George McKay), e o cientista conseguiu convencer a nova compradora para que ele pudesse continuar com suas experiências misteriosas no laboratório localizado no subsolo, repleto de máquinas e aparelhos elétricos bizarros, além de um quarto secreto com supostos cadáveres.

Depois que o multifuncional Dr. Arthur Lorencz (Peter Lorre), que exerce vários cargos como advogado e xerife, e que também tem seus momentos de cientista inventor, descobre o objetivo das experiências do Dr. Billings, eles selam um acordo de sociedade pelos lucros dos resultados.

O projeto científico consiste na criação de super homens para ajudar o exército americano na Segunda Guerra Mundial, contra seus inimigos Alemanha, Japão e Itália, utilizando vendedores de bugigangas que surgem aleatoriamente como cobaias nas experiências como o Sr. Johnson (Eddie Laughton) e principalmente Maxie (Maxie Rosenbloom), na tentativa de conferir forças e poderes extraordinários em homens comuns.

Após muitas trapalhadas e falhas nas experiências, parece que o único local para onde todos devem ir é o hospício da cidade.

 

Um Cientista Distraído” (The Boogie Man Will Get You, 1942) está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português. O nome nacional parece mal escolhido e poderia ser mais adequado apenas utilizar a tradução literal “O Bicho Papão Vai Te Pegar”. É bem curto com apenas 66 minutos, fotografia em preto e branco e direção de Lew Landers para a “Columbia Pictures”. Foi lançado no período em que ocorria a Segunda Guerra Mundial, servindo talvez como um alívio cômico para o momento conturbado que o planeta enfrentava com a violência da guerra.

É uma comédia com elementos sutis de horror e ficção científica explorando o sempre interessante tema de “cientista louco” e aproveitando a presença de Boris Karloff e Peter Lorre, atores expressivos cujos nomes já garantem algum entretenimento escapista e certamente agregam grande valor ao filme. É o último trabalho de Karloff para a produtora “Columbia”, que aproveitou a oportunidade dele estar atuando na peça de teatro “Arsenic and Old Lace” na época, e que possui similaridades com o filme. E cuja história curiosamente foi lançada em 1944 no filme “Este Mundo é Um Hospício”, com Lorre no elenco.

Provavelmente deve funcionar apenas para os apreciadores de comédias leves antigas, pois para os fãs de cinema fantástico do passado o filme vale exclusivamente pela dupla Karloff e Lorre e pelo tema de “cientista louco”, uma especialidade do inglês Boris Karloff (1887 / 1969), que ficou eternamente conhecido como o monstro de Frankenstein nos filmes da “Universal”, mas que também teve uma longa carreira com muitos papéis de vilão envolvido em experiências científicas bizarras. Já Peter Lorre, nascido na Eslováquia em 1904 e falecido em 1964, tem vários filmes importantes de horror e FC no currículo como “M, o Vampiro de Dusseldorf” (1931), “20.000 Léguas Submarinas” (1954), “Viagem ao Fundo do Mar” (1961), “Muralhas do Pavor” (1962), “O Corvo” (1963) e “Farsa Trágica” (1964), estes dois últimos também com Karloff e elementos de humor negro.   

 

(RR – 19/03/23)





I Was a Teenage Werewolf (EUA, 1957, PB)

 


“Nas sombras da noite, a língua das montanhas, uivam os cães famintos para a lua, camponeses cruzam a colina a se esconder no abrigo. Qualquer olhar felino, dentes afiados e brilhantes por aí eles acham que é um lobisomem.” – Dr. Alfred Brandon

 

O ator Michael Landon (1936 / 1991), conhecido pelas séries de TV “Bonanza” (1959 / 1973), “Os Pioneiros” (1974 / 1983) e “O Homem Que Veio do Céu” (1984 / 1989), foi o protagonista no início de carreira do filme de horror juvenil bagaceiro “I Was a Teenage Werewolf” (1957), dirigido por Gene Fowler Jr. e escrito e produzido por Herman Cohen (1925 / 2002). A distribuição foi da lendária AIP (“American International Pictures”), de James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, empresa especializada no cinema fantástico de baixo orçamento.

 

Na pequena cidade americana de Rockdale vive o jovem estudante encrenqueiro Tony Rivers (Michael Landon), órfão de mãe e filho de um pai distante por causa do trabalho, Charles Rivers (Malcolm Atterbury). Sempre envolvido em brigas e confusões na escola, ele tem dificuldades no relacionamento com a namorada Arlene Logan (Yvonne Lime) e os amigos Jimmy (Charles Wilcox, creditado como Tony Marshall) e Vic (Ken Miller), entre outros.

Devido ao mal comportamento, ele é persuadido a consultar o psiquiatra Dr. Alfred Brandon (Whit Bissell), que por sua vez, auxiliado pelo assistente Dr. Hugo Wagner (Joseph Mell), está envolvido em experiências com hipnose e aplicação de um soro especial, que tem o objetivo de regressão da raça humana, ativando seus instintos primitivos.

Utilizado como cobaia pelo “cientista louco”, o estudante rebelde Tony se transforma num lobisomem (daí o título) colecionando vítimas que cruzam o seu caminho, sendo perseguido pela polícia através do Detetive Donovan (Barney Phillips), o chefe de polícia Baker (Robert Griffin) e o oficial Chris Stanley (Guy Williams), culminando num confronto final com resultados previsíveis.      

 

O filme é curto, com apenas 76 minutos, e explora a temática de “cientista louco” e suas experiências supostamente para o bem da humanidade, com resultados catastróficos na criação de um “homem transformado em monstro”, aproveitando um personagem clássico do cinema de horror, o lobisomem. A produção é paupérrima, filmado em apenas sete dias, e a história é arrastada, com o assassino selvagem iniciando sua chacina somente a partir da metade do filme, mas com poucas mortes e a garantia da diversão dos fãs do cinema bagaceiro de horror ficando por conta quase que exclusivamente pelas cenas com o lobisomem e sua maquiagem tosca. Porém, é um filme que ganhou o status de cultuado e é sempre lembrado, fugindo do limbo conseguindo certo destaque e se distanciando da infinidade de tranqueiras do mesmo período.

Curiosamente, o roteiro deixou de lado os elementos tradicionais da mitologia dos lobisomens como a influência da lua cheia e aversão às balas de prata, por exemplo. Aqui, o jovem briguento se transforma em monstro devido à combinação de sessões de hipnose e ingestão de uma fórmula química.

O ator Whit Bissell, que fez o “cientista louco”, teve uma carreira imensa e é um rosto conhecido por filmes como “O Monstro da Lagoa Negra” (1954) e a série de TV “O Túnel do Tempo” (1966), onde fez parte do elenco fixo como o militar Heywood Kirk. Já Guy Williams, que aqui teve um papel pequeno como um dos policiais na caça do lobisomem, seria mais tarde o Prof. Robinson da popular série de TV “Perdidos no Espaço” (1965 / 1968).    

“I Was a Teenage Werewolf” está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português. A recepção de bilheteria com bom retorno financeiro estimulou a oportunidade de aproveitamento do momento favorável para a produção de mais filmes similares explorando outros monstros clássicos do Horror, vindo a seguir “I Was a Teenage Frankenstein” (com Whit Bissell fazendo novamente um papel de “cientista louco”), “Blood of Dracula”, ambos também de 1957, e “How to Make a Monster” (1958), que reúne tanto o lobisomem quanto a criatura de Frankenstein.

 

(RR – 13/03/23)






O Monstro do Inferno (The Blood Beast Terror, Inglaterra, 1968)

 


Uma arrebatadora psicopata demoníaca com o poder diabólico de se transformar em uma cabeça gigante vampira, se banqueteia com o sangue de seus amantes antes de agarrá-los até a morte!

 

O Monstro do Inferno” (The Blood Beast Terror, Inglaterra, 1968) é um filme bagaceiro com elementos de horror e ficção científica situado dentro das temáticas de “cientista louco” e “humanos transformados em monstros”. Produzido pela “Tigon” e dirigida por Vernon Sewell (de “A Maldição do Altar Escarlate”, também de 1968). Tem o lendário astro inglês Peter Cushing (1913 / 1994) no elenco, com uma carreira consagrada e associada ao cinema de horror. E está disponível na plataforma de vídeos “Youtube” numa versão original com opção de legendas em português.

 

Em 1840, um cientista entomologista, Dr. Mallinger (Robert Flemyng), está envolvido em pesquisas genéticas com insetos e é o responsável por criar um monstro que alterna entre a transformação numa mariposa gigante sedenta de sangue e uma linda mulher, Clare Mallinger (Wanda Ventham), conforme anuncia a sonora tagline promocional reproduzida acima, e utilizada para divulgar o filme em cartazes. O “monstro do inferno” (do título nacional) se utiliza do disfarce de filha do cientista quando em forma humana e se alimenta do sangue de suas vítimas quando vira uma mariposa vampira.

A ocorrência de várias mortes misteriosas desperta a atenção da polícia, com a investigação do Inspetor Quennell (Peter Cushing), auxiliado pelo Sargento Allan (Glynn Edwards). E entre os candidatos a vítimas que atravessam o caminho do monstro alado estão um jardineiro (Simon Cain), o naturalista Britewell (William Wilde), recém chegado de uma viagem à África trazendo espécimes para estudo do Dr. Mallinger, além do estudante de entomologia William (David Griffin).

Outros personagens são o mordomo Granger (Kevin Stoney), a filha do inspetor Quennell, Meg (Vanessa Howard) e o atendente do necrotério (Roy Hudd), responsável por tentativas de alívio cômico com algumas piadas. 

 

“O Monstro do Inferno” deve ter se inspirado um pouco no anterior “A Serpente” (The Reptile, 1966), produzido pela “Hammer”, na ideia de uma mulher transformada em monstro assassino, e onde podemos encontrar algumas similaridades. É indicado para os apreciadores de cinema fantástico bagaceiro, com os velhos e esperados clichês de cientistas loucos e monstros toscos, além também da sempre bem-vinda atmosfera de horror gótico e história de detetive e investigação policial.

Os também aguardados efeitos práticos precários estão presentes, mas aparecem pouco e são muito ruins, com a mariposa gigante sedenta do sangue de homens jovens.

Por sorte, temos a participação ativa de Peter Cushing na investigação das mortes e tentativa de desvendar o mistério por trás dos cadáveres ensanguentados. Sua presença já é motivo para agregar valor ao filme e retirá-lo do limbo do esquecimento, separando da infinidade de outros com produção modesta e características iguais de roteiro e ideias recicladas. Cushing teve uma carreira notável com dezenas de filmes divertidos, conseguindo imortalizar o seu nome na história do cinema de Horror.

Porém, por outro lado, a narrativa é arrastada na maior parte do tempo colaborando para um sentimento de tédio no espectador, que só consegue ser compensado nas poucas cenas de ataques do monstro mutante.

Curiosamente, a atriz Wanda Ventham, a mulher vampira mariposa, é a mãe do ator Benedict Cumberbatch, o Doutor Estranho da Marvel. E o papel do cientista interpretado por Robert Flemyng seria inicialmente de Basil Rathbone, outro nome com muitos créditos em filmes de horror, e que morreu em 1967.      

 

(RR – 05/03/23)