O Chicote e o Corpo (The Whip and the Body, Itália / França, 1963)



Horror gótico italiano de primeira linha, dirigido pelo mestre Mario Bava e com o ícone Christopher Lee

Lançado em DVD no Brasil pela “Versátil”, na coleção “Obras Primas do Terror – Volume 1”, “O Chicote e o Corpo” (The Whip and the Body) é um filme de horror gótico dirigido pelo especialista italiano Mario Bava e com Christopher Lee como vilão.
Curto, com apenas 78 minutos de duração, a história é ambientada na Europa do século XIX, num castelo à beira do mar, de propriedade do Conde Vladimir Menliff (Gustavo De Nardo, creditado como Dean Ardow). Lá vivem também seu filho Cristiano (Tony Kendall), prestes a se casar com a noiva Nevenka (Daliah Lavi), além de Katia (Evelyn Stewart, creditada como Isli Oberon) e os empregados Giorgia (Harriet Medin, creditada como Harriet White) e Losat (Luciano Pigozzi, creditado como Alan Collins). O ambiente fica bastante tenso com a chegada de Kurt Menliff (Christopher Lee), outro filho do conde, que já teve um relacionamento conturbado com Nevenka e foi o responsável pelo suicídio de Tanya, a filha da empregada Giorgia, após outro romance mal resolvido.
Kurt é recebido com hostilidade pela família, com conflitos constantes e sentimentos de desconfiança e ódio. Depois que ele é assassinado misteriosamente, como num plano de vingança, as tensões no castelo se intensificam ainda mais e Nevenka passa a sofrer terrivelmente com alucinações e ataques do fantasma perturbado de Kurt, que retorna da tumba para assombrar o castelo.
O cineasta Mario Bava (1914 / 1980), de clássicos como “A Maldição do Demônio” (1960), “As Três Máscaras do Terror” (1963) e “O Planeta dos Vampiros” (1965), entre outros, é considerado um mestre italiano do Horror gótico. Em “O Chicote e o Corpo” temos a tradicional ambientação sombria de um castelo imponente no alto de uma montanha beirando o mar. Com o barulho constante de fortes ventanias e ondas se chocando contra as rochas, contribuindo ainda mais para uma atmosfera sinistra que perdura o tempo todo pelos aposentos e becos escuros do castelo, com suas passagens secretas e armaduras medievais decorativas. Vozes, sombras, o horror à espreita, mortes, perseguições, loucura, todos esses elementos juntos para fazer do castelo um palco de pesadelos num horror gótico de gelar a alma dos vivos.
Christopher Lee (1922 / 2015), com seu currículo de quase 300 filmes, está imponente como sempre, no papel de um vilão que chicoteia uma mulher e assombra o castelo da família em busca de vingança contra seus detratores.

Eu te assusto? Você gostava de mim antes. Você sempre gostou de violência. Você não mudou nada. Você não mudou e nunca mudará.” – Kurt para Nevenka    

(Juvenatrix – 25/11/18)

O Vampiro da Noite (Horror of Dracula, Inglaterra, 1958)


Clássico absoluto da Hammer, um dos mais importantes filmes do sub-gênero vampirismo, da história do Conde Drácula e da carreira de Christopher Lee

No final da década de 50 do século passado, o cinema de Horror enfrentava uma crise com perdas de audiência para a televisão. Nessa época, a produtora inglesa “Hammer”, sob a liderança dos executivos Michael Carreras e Anthony Hinds, decidiu revitalizar o gênero trazendo novamente às telas do cinema os famosos monstros consagrados pelo estúdio americano “Universal” com seus filmes em fotografia em preto e branco. Dessa forma, os famosos ícones populares do Horror voltaram, e novos filmes foram produzidos com “Drácula”, “Criatura de Frankenstein”, “Múmia”, “Fantasma da Ópera”, “Lobisomem”, e outros. Porém, dessa vez com fotografia em cores e destacando o vermelho do sangue, surgindo clássicos absolutos do Horror gótico como “A Maldição de Frankenstein” (1957) e “O Vampiro da Noite” (1958), lançando atores que se transformaram em lendas do gênero como Christopher Lee e Peter Cushing. Além de diretores que se tornaram nomes conhecidos como Terence Fisher, o principal cineasta do estúdio, e roteiristas como Jimmy Sangster.
A história é baseada no famoso livro de Bram Stoker, mas nesse caso com alguma liberdade de criação artística e alterações que não prejudicaram. Jonathan Harker (John Van Eyssen) vai trabalhar como bibliotecário no castelo do Conde Drácula (Christopher Lee), numa cidadezinha alemã, para supostamente catalogar os livros de seu acervo. Ele tem um encontro tenso tanto com seu anfitrião quanto com uma vampira escravizada (Valerie Gaunt). Drácula conhece a noiva de Harker através de uma foto, Lucy Holmwood (Carol Marsh), e fica obcecado por ela, decidindo viajar para a Inglaterra a sua procura. Lá, conhece também seu irmão Arthur (Michael Gough) e a esposa Mina (Melissa Stribling), que se transforma em mais uma de suas vítimas vampirizadas. Para combatê-lo, surge o Prof. Van Helsing (Peter Cushing), estudioso de vampirismo e que tenta salvar Lucy das garras do “vampiro da noite”.    
Como infelizmente uma infinidade de filmes com vampiros contribuíram para desqualificar a mitologia tradicional dessas criaturas da noite, é extremamente louvável que a “Hammer” e seu clássico “O Vampiro da Noite” tenha respeitado alguns dos elementos típicos do vampirismo, como aversão ao sol, ao cheiro do alho, ao crucifixo como símbolo religioso do bem contra o mal, e a evidência da tão temida estaca de madeira cravada no coração como ato de destruição de um vampiro.
Ao contrário do igualmente clássico de Tod Browning lançado em 1931, com fotografia em preto e branco e Bela Lugosi interpretando magistralmente Drácula, e que tinha interpretações teatrais do elenco e uma narrativa mais pausada, o filme de 1958 da “Hammer” tem mais ação e cenas com violência e sangue. Como quando Drácula agride uma vampira escravizada em seu castelo, jogando-a brutalmente no chão, além dos vários momentos onde o sangue escorre das vítimas do conde vampiro.
Christopher Lee (1922 / 2015) aparece e fala pouco, mas todas as suas cenas são sinistras e marcantes. Com sua atuação como Drácula nesse e em vários outros filmes, tanto da “Hammer” como de outras produtoras, ele registrou para sempre seu nome na história do cinema de Horror e vampirismo. Seu parceiro de muitos filmes, Peter Cushing (1913 / 1994), também se tornou outro ícone do Horror e é muito lembrado pelas diversas performances como Van Helsing, o eterno inimigo de Drácula. O confronto final entre eles em “O Vampiro da Noite” é antológico.
Aliás, esse filme inaugurou uma série da “Hammer” com Drácula e foi seguido por “As Noivas do Vampiro” (The Brides of Dracula, 1960, esse sem Christopher Lee e com David Peel interpretando um descendente de Drácula), “Drácula, o Príncipe das Trevas” (Dracula, Prince of Darkness, 1965), “Drácula, O Perfil do Diabo” (Dracula Has Risen From the Grave, 1968), “O Sangue de Drácula” (Taste the Blood of Dracula, 1970), “O Conde Drácula” (Scars of Dracula, 1970), “Drácula no Mundo da Mini Saia” (Dracula AD 1972), “Os Ritos Satânicos de Drácula” (The Satanic Rites of Dracula, 1973), e “A Lenda dos Sete Vampiros” (The Legend of the 7 Golden Vampires, 1974, esse também sem Christopher Lee, e com John Forbes-Robertson em seu lugar).    

(Juvenatrix – 19/11/18)