O Elo Perdido (Land of the Lost, EUA, 1974/1976, série de TV)

 


“Marshall, Will e Holy, em uma viagem de rotina enfrentaram o maior terremoto já visto. Descendo a correnteza que atingiu seu pequeno bote, e os lançou para outra dimensão. Para o Elo Perdido.”

 

Essa é a introdução da série de TV “O Elo Perdido” (Land of the Lost, EUA, 1974 / 1976), apresentada como música tema que ficou eternizada na memória de quem assistiu na televisão nas décadas de 70 e 80 do século passado.

Os roteiros apresentavam elementos sobrenaturais e de ficção científica, com ambientação numa dimensão paralela, povoada por dinossauros variados e criaturas humanoides parecidas com macacos, chamados de “pakuni”, e alienígenas similares a lagartos conhecidos como “sleestak”, entre outras bizarrices. Mas as histórias eram bem ingênuas e fantasiosas, com efeitos práticos toscos utilizando a técnica de “stop motion”. Independente disso, ou justamente por isso tudo, por essas características bagaceiras, a série sempre despertou um estranho fascínio que garantiu a diversão de gerações que ficavam grudadas na televisão para ver seus episódios curtos de aproximadamente 25 minutos.

Produzida por Marty e Sid Krofft, a série teve três temporadas com total de 43 episódios (17 + 13 + 13). Para a satisfação dos colecionadores e apreciadores de mídia física, foi lançada por aqui em DVD e também está disponível completa em vários canais na plataforma de vídeos on line “Youtube”, dublada ou com opção de legendas em português.

 

O guarda florestal Rick Marshall (Spencer Milligan) e seus dois filhos adolescentes, Will (Wesley Eure) e Holly (Kathy Coleman) estavam fazendo um passeio despretensioso de barco quando foram surpreendidos por um terremoto e a correnteza do rio em que estavam os levou direto para uma cachoeira que abriu um portal do tempo, lançando-os para uma dimensão dominada por animais pré-históricos, o “Elo Perdido”.

A partir daí, num primeiro instinto de sobrevivência num ambiente hostil, eles se refugiam numa caverna no alto de uma montanha para depois tentarem entender o que aconteceu e onde estão, passando a explorar a região, e se defendendo da ameaça mortal de dinossauros ferozes, como o tiranossauro macho “Zangado” e o alossauro fêmea “Alice”, que mora na “Cidade Perdida”, um complexo de ruínas que esconde cavernas e corredores no subsolo, povoadas pelos “sleestaks”.

A família Marshall encontra também um filhote de brontossauro, “Tonto”, e um grupo de “pakunis” formado pelo macho “Ta” (papel dividido entre Scutter McKay e Joe A. Giamalva), a fêmea “Sa” (Sharon Baird) e a criança “Cha-Ka” (Phillip Paley), que faz amizade com eles, principalmente com Holly.

Os encontros com os noturnos e esverdeados “sleestaks” sempre são turbulentos, com confrontos para definir uma suposta supremacia nesse mundo selvagem. Eles não falam nas primeiras temporadas, apenas emitem um ruído que ficou na memória dos fãs da série, exceto por Enik (Walker Edmiston), um ancestral superior em inteligência, de cor dourada e estatura menor, que tem participação importante em vários episódios nas tentativas de solucionar os diversos problemas e desafios que surgiam.

Entre as diversas aventuras e situações bizarras, a família descobre a existência de pequenas estruturas piramidais misteriosas chamadas de “pylons” (pilões), que guardam em seu interior painéis com cristais coloridos que possuem o poder de controlar o clima, com tempestades, escuridão ou excesso de calor. Essas estruturas estranhas se revelam portais do tempo, com possibilidades de abrir passagens para outras dimensões e épocas.

 

Com o sucesso das duas primeiras temporadas e a criação de uma rede fiel de fãs, foi produzida uma terceira que teve muitas alterações, desde o elenco até as histórias que tornaram-se ainda mais fantasiosas e com personagens novos e nitidamente deslocados da ideia básica.

O ator Spencer Milligan decidiu sair da série por questões financeiras e então seu personagem Rick Marshall foi sugado por um portal do tempo, saindo do “Elo Perdido”. Em seu lugar veio o irmão “Tio Jack” (Ron Harper, um rosto conhecido pela série de TV “O Planeta dos Macacos”, 1974). Ele estava à procura da família desaparecida e seguindo seus passos também atravessou o mesmo portal, sendo lançado ao passado no vale dos dinossauros e reencontrando os sobrinhos.

Nesta terceira e última temporada, um terremoto destrói a caverna onde moravam, obrigando-os a se mudarem para um templo dos “sleestaks” na “Cidade Perdida”. Os “pakunis” Ta e Sa saem de cena e Cha-Ka agora aprendeu o idioma dos humanos. O filhote de brontossauro “Tonto” também desaparece e surgem outros novos dinossauros, um deles bem extravagante, que mora no pântano e tem duas cabeças, uma espécie de plesiossauro, um réptil aquático apelidado de “Lulu”, e outro chamado de “Maçarico” ou “Tocha”, algo similar a um dimetrodon que solta fogo pela boca.

Além do inteligente Enik, agora temos um líder dos “sleestaks” (Jon Locke) que também fala ao invés de apenas soltar aqueles ruídos característicos da raça.

Will Marshall também decide cantar pequenas músicas bregas nessa terceira temporada, e as histórias ficam ainda mais exageradas na fantasia com a adição de personagens estranhos e fora do contexto. Na segunda temporada já tinha surgido o sarcástico alienígena iluminado “Zarn” (Van Snowden), que tem um robô, vive em sua nave encalhada num pântano nebuloso e que não suporta as emoções humanas.

Na temporada final apareceram vários personagens bizarros como o humano pré-histórico “Malak” (Richard Kiel), a criatura mitológica “Medusa” (Marion Thompson), com serpentes na cabeça e que vive no “Jardim da Eternidade” (talvez o episódio mais extravagante de toda a série), e o monstro peludo “Konak”, um “Abominável Homem das Neves” que vive nas “Terras Altas”.

Além dos que vieram de outras dimensões e tempos como o baloeiro explorador “Coronel Roscoe T. Post” (David Healy), vindo de 1920, o consertador “William Blandings” (Laurie Main), cuja missão era reparar erros cometidos no passado que poderiam alterar o futuro, o espírito amaldiçoado do “Capitão Ruben Van de Meer” (Rex Holman) de um navio fantasma, inspirado na lenda do “Holandês Voador” (outro episódio extremamente bizarro), um índio pajé chamado “Lobo Solitário” (Ned Romero), que veio de 1877 e é perseguido por um soldado, o “Capitão Elmo Diggs” (Gregory Walcott), entre outros.

 

“O Elo Perdido” seguiu os passos de várias outras séries e também virou franquia inspirando a produção de outra série similar em 1991/1992 e um filme homônimo em 2009, desnecessário e entediante, dirigido por Brad Silberling e com o comediante Will Ferrell.

Em 2019, a “Editora Estronho” lançou o livro “A Família Marshall e o Elo Perdido”, de Saulo Adami, com informações de bastidores da cultuada série.

 

(RR – 17/11/23)







Monster From Green Hell (EUA, 1957, PB)

 


 

“Esta é a Era do Foguete, o jato, energia atômica. Quando o Homem se prepara para alcançar as estrelas. Mas, antes que Ele ouse lançar-se ao espaço, há uma ótima pergunta a ser respondida: O que acontece com a vida no vazio sem ar acima da atmosfera da Terra? A vida permanecerá intocada, ilesa por seu voo no espaço, ou vai se transformar em quê? Havia apenas uma maneira de descobrir, e estávamos trabalhando nisso.” – cientista Dr. Quent Brady

 

Com esse prólogo narrado tem início “Monster From Green Hell” (1957), título sonoro e sensacionalista para mais um filme com elementos de Ficção Científica e Horror típico do divertido e extravagante cinema fantástico de baixo orçamento dos anos 50 do século passado. Com a temática de “monstros gigantes”, mais especificamente “big bug”, apresentando um inseto colossal, uma vespa mutante contaminada por radiação cósmica, e também flertando de forma um pouco mais sutil com o subgênero “cientista louco”, através de experiências envolvendo animais lançados em foguetes ao espaço para testar a sobrevivência num ambiente desconhecido, como informa a narração de abertura.

Dirigido por Kenneth G. Crane e fotografia original em preto e branco, está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português e também em versão colorizada por computador.

 

Os cientistas americanos Dr. Quent Brady (Jim Davis) e Dan Morgan (Robert Griffin) estão trabalhando num projeto para estudar os efeitos da radiação cósmica em animais enviados ao espaço, como macacos, vespas, caranguejos e aranhas. O objetivo é tentar assegurar a sobrevivência saudável de humanos astronautas num programa espacial pioneiro. Depois que eles perdem o controle de um dos foguetes que caiu no continente africano, e com a notícia de um inseto gigante instaurando pânico nos nativos com mortes causadas por grandes doses de veneno nas vítimas, os cientistas decidem realizar uma expedição para uma região inóspita conhecida como “Inferno Verde” (do título original) para investigar.

Auxiliados pelo experiente guia árabe Mahri (Eduardo Ciannelli), eles desejam chegar até o hospital comunitário do Dr. Lorentz (Vladimir Sokoloff), que cuida dos nativos supersticiosos. Ele trabalha com sua filha Lorna (Barbara Turner) e recebe o apoio fiel de um líder local, Arobi (Joel Fluellen).

A expedição enfrenta muitas dificuldades no caminho, com forte calor, excesso de chuvas e ataques de nativos hostis, e após localizarem o acampamento do Dr. Lorentz, eles partem em busca do monstro gigante, próximo de um vulcão ativo, culminando num confronto decisivo. 

 

Numa época com simulação de computadores gigantescos, “Monster From Green Hell” é um daqueles filmes toscos e divertidos justamente pela história exagerada abordando a paranoia nuclear que se estabeleceu após o fim da Segunda Guerra Mundial e início da guerra fria entre EUA e URSS. Um período de medo das consequências do uso de energia atômica e a possibilidade de seus efeitos destrutivos sobre o planeta e a humanidade, na pressão da corrida pela exploração espacial e da disputa armamentista das grandes potências para a criação de bombas de destruição em massa.

O filme é bem curto, com apenas 70 minutos, e boa parte dessa duração ainda é preenchida por imagens de arquivo, com aproveitamento de cenas de outros filmes. Com orçamento reduzido, os efeitos práticos são bem precários, mas divertidos, com os ataques da vespa gigante, numa época sem as facilidades da computação gráfica, e que infelizmente aparece pouco (fato comum nos filmes bagaceiros do período), justamente pelas dificuldades técnicas. Para simular o inseto gigante foram utilizadas maquetes toscas da vespa em tamanho descomunal, ou filmagens em “stop motion” de miniaturas, como no caso de um confronto da vespa com uma cobra.    

 

(RR – 14/11/23)