O Chicote e o Corpo (The Whip and the Body, Itália / França, 1963)



Horror gótico italiano de primeira linha, dirigido pelo mestre Mario Bava e com o ícone Christopher Lee

Lançado em DVD no Brasil pela “Versátil”, na coleção “Obras Primas do Terror – Volume 1”, “O Chicote e o Corpo” (The Whip and the Body) é um filme de horror gótico dirigido pelo especialista italiano Mario Bava e com Christopher Lee como vilão.
Curto, com apenas 78 minutos de duração, a história é ambientada na Europa do século XIX, num castelo à beira do mar, de propriedade do Conde Vladimir Menliff (Gustavo De Nardo, creditado como Dean Ardow). Lá vivem também seu filho Cristiano (Tony Kendall), prestes a se casar com a noiva Nevenka (Daliah Lavi), além de Katia (Evelyn Stewart, creditada como Isli Oberon) e os empregados Giorgia (Harriet Medin, creditada como Harriet White) e Losat (Luciano Pigozzi, creditado como Alan Collins). O ambiente fica bastante tenso com a chegada de Kurt Menliff (Christopher Lee), outro filho do conde, que já teve um relacionamento conturbado com Nevenka e foi o responsável pelo suicídio de Tanya, a filha da empregada Giorgia, após outro romance mal resolvido.
Kurt é recebido com hostilidade pela família, com conflitos constantes e sentimentos de desconfiança e ódio. Depois que ele é assassinado misteriosamente, como num plano de vingança, as tensões no castelo se intensificam ainda mais e Nevenka passa a sofrer terrivelmente com alucinações e ataques do fantasma perturbado de Kurt, que retorna da tumba para assombrar o castelo.
O cineasta Mario Bava (1914 / 1980), de clássicos como “A Maldição do Demônio” (1960), “As Três Máscaras do Terror” (1963) e “O Planeta dos Vampiros” (1965), entre outros, é considerado um mestre italiano do Horror gótico. Em “O Chicote e o Corpo” temos a tradicional ambientação sombria de um castelo imponente no alto de uma montanha beirando o mar. Com o barulho constante de fortes ventanias e ondas se chocando contra as rochas, contribuindo ainda mais para uma atmosfera sinistra que perdura o tempo todo pelos aposentos e becos escuros do castelo, com suas passagens secretas e armaduras medievais decorativas. Vozes, sombras, o horror à espreita, mortes, perseguições, loucura, todos esses elementos juntos para fazer do castelo um palco de pesadelos num horror gótico de gelar a alma dos vivos.
Christopher Lee (1922 / 2015), com seu currículo de quase 300 filmes, está imponente como sempre, no papel de um vilão que chicoteia uma mulher e assombra o castelo da família em busca de vingança contra seus detratores.

Eu te assusto? Você gostava de mim antes. Você sempre gostou de violência. Você não mudou nada. Você não mudou e nunca mudará.” – Kurt para Nevenka    

(Juvenatrix – 25/11/18)

O Vampiro da Noite (Horror of Dracula, Inglaterra, 1958)


Clássico absoluto da Hammer, um dos mais importantes filmes do sub-gênero vampirismo, da história do Conde Drácula e da carreira de Christopher Lee

No final da década de 50 do século passado, o cinema de Horror enfrentava uma crise com perdas de audiência para a televisão. Nessa época, a produtora inglesa “Hammer”, sob a liderança dos executivos Michael Carreras e Anthony Hinds, decidiu revitalizar o gênero trazendo novamente às telas do cinema os famosos monstros consagrados pelo estúdio americano “Universal” com seus filmes em fotografia em preto e branco. Dessa forma, os famosos ícones populares do Horror voltaram, e novos filmes foram produzidos com “Drácula”, “Criatura de Frankenstein”, “Múmia”, “Fantasma da Ópera”, “Lobisomem”, e outros. Porém, dessa vez com fotografia em cores e destacando o vermelho do sangue, surgindo clássicos absolutos do Horror gótico como “A Maldição de Frankenstein” (1957) e “O Vampiro da Noite” (1958), lançando atores que se transformaram em lendas do gênero como Christopher Lee e Peter Cushing. Além de diretores que se tornaram nomes conhecidos como Terence Fisher, o principal cineasta do estúdio, e roteiristas como Jimmy Sangster.
A história é baseada no famoso livro de Bram Stoker, mas nesse caso com alguma liberdade de criação artística e alterações que não prejudicaram. Jonathan Harker (John Van Eyssen) vai trabalhar como bibliotecário no castelo do Conde Drácula (Christopher Lee), numa cidadezinha alemã, para supostamente catalogar os livros de seu acervo. Ele tem um encontro tenso tanto com seu anfitrião quanto com uma vampira escravizada (Valerie Gaunt). Drácula conhece a noiva de Harker através de uma foto, Lucy Holmwood (Carol Marsh), e fica obcecado por ela, decidindo viajar para a Inglaterra a sua procura. Lá, conhece também seu irmão Arthur (Michael Gough) e a esposa Mina (Melissa Stribling), que se transforma em mais uma de suas vítimas vampirizadas. Para combatê-lo, surge o Prof. Van Helsing (Peter Cushing), estudioso de vampirismo e que tenta salvar Lucy das garras do “vampiro da noite”.    
Como infelizmente uma infinidade de filmes com vampiros contribuíram para desqualificar a mitologia tradicional dessas criaturas da noite, é extremamente louvável que a “Hammer” e seu clássico “O Vampiro da Noite” tenha respeitado alguns dos elementos típicos do vampirismo, como aversão ao sol, ao cheiro do alho, ao crucifixo como símbolo religioso do bem contra o mal, e a evidência da tão temida estaca de madeira cravada no coração como ato de destruição de um vampiro.
Ao contrário do igualmente clássico de Tod Browning lançado em 1931, com fotografia em preto e branco e Bela Lugosi interpretando magistralmente Drácula, e que tinha interpretações teatrais do elenco e uma narrativa mais pausada, o filme de 1958 da “Hammer” tem mais ação e cenas com violência e sangue. Como quando Drácula agride uma vampira escravizada em seu castelo, jogando-a brutalmente no chão, além dos vários momentos onde o sangue escorre das vítimas do conde vampiro.
Christopher Lee (1922 / 2015) aparece e fala pouco, mas todas as suas cenas são sinistras e marcantes. Com sua atuação como Drácula nesse e em vários outros filmes, tanto da “Hammer” como de outras produtoras, ele registrou para sempre seu nome na história do cinema de Horror e vampirismo. Seu parceiro de muitos filmes, Peter Cushing (1913 / 1994), também se tornou outro ícone do Horror e é muito lembrado pelas diversas performances como Van Helsing, o eterno inimigo de Drácula. O confronto final entre eles em “O Vampiro da Noite” é antológico.
Aliás, esse filme inaugurou uma série da “Hammer” com Drácula e foi seguido por “As Noivas do Vampiro” (The Brides of Dracula, 1960, esse sem Christopher Lee e com David Peel interpretando um descendente de Drácula), “Drácula, o Príncipe das Trevas” (Dracula, Prince of Darkness, 1965), “Drácula, O Perfil do Diabo” (Dracula Has Risen From the Grave, 1968), “O Sangue de Drácula” (Taste the Blood of Dracula, 1970), “O Conde Drácula” (Scars of Dracula, 1970), “Drácula no Mundo da Mini Saia” (Dracula AD 1972), “Os Ritos Satânicos de Drácula” (The Satanic Rites of Dracula, 1973), e “A Lenda dos Sete Vampiros” (The Legend of the 7 Golden Vampires, 1974, esse também sem Christopher Lee, e com John Forbes-Robertson em seu lugar).    

(Juvenatrix – 19/11/18)

Comentários de Cinema - Parte 40





Invasion of the Saucer Men (1957)

FC bagaceira divertida dos anos 50 com discos voadores e pequenos alienígenas cabeçudos com olhos esbugalhados

Para os apreciadores dos antigos filmes bagaceiros de ficção científica e horror da década de 1950 (principalmente), um filme que sempre é lembrado por suas características que moldaram o sub-gênero de invasão alienígena é “Invasion of the Saucer Men”. Tem o tradicional disco voador pousando numa floresta perto de uma pequena cidade americana, os alienígenas pequenos com cabeças enormes e olhos esbugalhados, ameaçadores e hostis para a humanidade, e as ações (nesse caso incompetentes) da polícia local e principalmente do exército em ocultar as evidências para não criar pânico.
O filme foi distribuído em 1957 pela cultuada “American International”, da dupla de especialistas James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff. Com fotografia em preto e branco, a direção é de Edward L. Cahn, que também foi o responsável por diversas outras tosquices divertidas do período como “O Cadáver Atômico” (55), “O Fantasma de Mora Tau” (57) e “Invasores Invisíveis” (59). Curto com apenas 69 minutos, seu roteiro tem muitos elementos de humor interagindo com os momentos de horror e sua ideia básica de FC fuleira, baseado na história “The Cosmic Frame”, de Paul W. Fairman. 
Um jovem casal de namorados, Johnny Carter (Steven Terrell) e Joan Hayden (Gloria Castillo), vão de carro para um local conhecido como parada tradicional para namorar e beber cerveja, localizado dentro da propriedade do fazendeiro Larkin (Raymond Hatton), que não gosta da invasão dos intrusos e dos restos de cerveja jogados no campo e que são consumidos depois por seu touro de estimação. Quando os jovens decidem retornar para a cidade, atropelam acidentalmente um pequeno alienígena que acabara de chegar com sua nave espacial em forma de disco voador.
A partir daí, inicia-se uma série de confusões depois que dois sócios oportunistas e interessados em ganhar dinheiro de qualquer forma, Joe Gruen (Frank Gorshin) e Artie Burns (Lyn Osborn), se envolvem com a descoberta da nave e seus ocupantes cabeçudos, que emitem ruídos estranhos e possuem garras nas mãos que injetam álcool nas suas vítimas. Para aumentar o tumulto, ainda tem o exército atrapalhado, que tenta esconder a nave e ocultar a invasão, em ações lideradas pelo Coronel Ambrose (Sam Buffington) e o Tenente Wilkins (Douglas Henderson).
“Invasion of the Saucer Men” é o exemplo típico do cinema bagaceiro de ficção científica que diverte com suas inúmeras bobagens, em histórias ingênuas e exageradas na fantasia, representando o período conturbado da década de 1950, com a paranoia de invasão alienígena depois do famoso incidente ufológico em 1947 na cidade americana Roswell.
O disco voador é uma maquete tosca (numa época sem computação gráfica), os alienígenas invasores são interpretados por atores anões vestindo roupas e máscaras de borracha, com imensas cabeças e olhos esbugalhados, encarnando o típico estereótipo criado pelo cinema para esses seres hostis vindos de outros mundos. A história é simples e sem profundidade, não há explicações sobre o disco voador e os extraterrestres, eles apenas vieram e são ameaçadores. Tudo é tratado de forma superficial e conveniente para os baixos custos da produção, com diálogos rasos e situações previsíveis. Mas, o resultado final é pura diversão para quem aprecia o cinema fantástico bagaceiro.    
Curiosamente, tanto a nave espacial quanto a maquiagem dos alienígenas foram confeccionados pelo técnico em efeitos especiais Paul Blaisdell (1927 / 1983), que trabalhou para vários outros filmes similares na época, marcando seu nome no gênero. E foi lançada uma refilmagem em 1965 com o título “The Eye Creatures”, dirigido por Larry Buchanan.
(RR – 29/04/18)





The War in Space (Japão, 1977)

Ficção Científica bagaceira japonesa da Toho e clone pobre de Star Wars

The War in Space” é o título americano dessa bagaceira de FC japonesa produzida pela “Toho” em 1977, aproveitando o lançamento de “Star Wars” para tentar lucrar com as histórias de guerras no espaço. O filme também é conhecido como “Battle in Outer Space 2”, numa referência como algum tipo de sequência para “Os Bárbaros Invadem a Terra” (The Mysterians, 1957) e “Mundos em Guerra” (Battle in Outer Space, 1959), ambos dirigidos por Ishirô Honda.
A história é ambientada em 1988, um futuro para a época da produção e um passado já distante para os tempos atuais, 30 anos depois. A Terra está sendo atacada por alienígenas de um planeta muito distante que está em processo de extinção, e que procuram outro lugar para viverem, um dos clichês mais saturados desse sub-gênero da FC. Eles estabelecem uma base em Vênus e promovem um ataque destrutivo nas principais cidades do nosso mundo. Para combatê-los, um renomado cientista japonês, Professor Takigawa (Ryô Ikebe, que esteve também no anterior “Mundos em Guerra”), projetou a nave de guerra “Gothen”, que é utilizada como representante da humanidade e da “Federação Espacial das Nações Unidas” para deter a invasão alienígena.
A “Gothen” tem uma broca perfuradora gigante localizada na parte frontal e com suas armas de raios laser e um sistema de lançamento de aviões similar ao disparo de projéteis de um revólver, vai até Vênus para destruir a base inimiga. A bela filha do cientista, June (Yûko Asano), é sequestrada pelo líder dos vilões e seu antigo namorado, Miyoshi (Kensaku Morita), tenta resgatá-la, respondendo um pedido do atual noivo da moça, o piloto Morrei (Masaya Oki), formando um tradicional e clichê triângulo amoroso. Trava-se então uma guerra no espaço longínquo, no distante planeta Vênus, entre os humanos e os alienígenas invasores, com sua imensa nave na forma de um galeão típico de navegação em nossos oceanos, com suas esferas voadoras que soltam raios laser.
“The War in Space” ou “Wakusei Daisenso” (no original japonês) é um filme bagaceiro de ficção científica dirigido por Jun Fukuda, com uma história típica das exageradas batalhas espaciais entre os humanos e invasores alienígenas, pela defesa de nosso planeta tão cobiçado. A única característica realmente interessante, para os apreciadores do cinema fantástico bagaceiro, são as esperadas maquetes e miniaturas de naves e aviões de guerra, os cenários coloridos tanto das bases terrestre como a alienígena, os computadores gigantes imaginados pelas mentes dos roteiristas da época, e o vilão estranho, aqui representado pelo líder tirano Comandante Supremo do Império da Galáxia, de pele verde e usando um capacete e vestuário hilários. As naves são barulhentas e a “Gohten” até solta fumaça, “poluindo” o espaço.
Porém, de resto, o filme é muito ruim. A interpretação dos atores é sofrível, sendo impossível estabelecer alguma empatia com os personagens e seus destinos. O inexpressivo ator David Perin, que faz o papel do piloto Jimmy, tem uma cena patética onde tenta esboçar alguma emoção ao saber da morte da família num ataque alienígena. Mas, ele falha de forma desastrosa na tentativa. O roteiro é extremamente superficial, explorando os mesmos elementos de dezenas de filmes similares sobre invasão alienígena pela posse da Terra.
Curiosamente, em outra cena patética, temos um clone pobre do “Chewbacca”,o “Wookiee” que se tornou um ícone popular pela cultuada saga “Star Wars”. Só que a cópia japonesa tem chifres bizarros e é um simples guarda que aterroriza a mocinha presa pelo vilão. Porém, ao contrário do famoso guerreiro original, esse é tão incompetente que dá pena.
(RR – 26/07/18)




Drácula (1931)


Um dos mais importantes filmes do famoso conde vampiro, definitivo para registrar Bela Lugosi na história do gênero

Em 1897, o escritor irlandês Bram Stoker presenteou o mundo com seu livro de horror gótico “Drácula”, que conta a história do famoso conde vampiro que deixa seu castelo na Transilvânia (Romênia) e vai para a Inglaterra, onde compra alguns imóveis e se alimenta do sangue de suas vítimas.
Em 1931, os fãs do cinema de horror e vampirismo são novamente presenteados com o clássico “Drácula”, produção com fotografia em preto e branco, direção de Tod Browning, o mesmo de “Monstros” (Freaks, 1932), e com o ator húngaro Bela Lugosi encarnando magistralmente o conde vampiro.
O advogado Reinfield (Dwight Frye) está a caminho da Transilvânia com o objetivo de entregar para o Conde Drácula em seu castelo no alto de uma montanha, alguns documentos referentes à locação de uma velha abadia em Londres. Quando chega ao vilarejo próximo do castelo, ele é alertado pelos aldeões supersticiosos que é “Noite de Walpurgis”, e que os vampiros saem de seis caixões para se transformar em lobos e morcegos, vagando à noite em busca de sangue dos vivos.
Desconsiderando os avisos, ele é levado até o castelo numa carruagem conduzida por um cocheiro sinistro. Ao entrar na imponente construção de pedra, se depara com aposentos enormes repletos de poeira e teias de aranhas, numa atmosfera sinistra de gelar a alma. Depois, é recepcionado pelo misterioso anfitrião Conde Drácula e acertam os detalhes burocráticos do aluguel da abadia inglesa.
Depois de transformar Reinfield em seu servo através de controle hipnótico, tornando-o um louco comedor de moscas e aranhas, eles vão para Londres num navio que chega ao destino com seus tripulantes misteriosamente mortos. Ao se apossar da abadia de Carfax, que fica ao lado de um sanatório dirigido pelo Dr. Seward (Herbert Bunston), o conde vampiro instaura o horror alimentando-se do sangue de suas vítimas. Ele também conhece os novos vizinhos, as belas jovens Lucy (Frances Dade) e Mina (Helen Chandler), além de John Harker (David Manners) e o temível Prof. Van Helsing (Edward Van Sloan), que se tornaria seu inimigo mortal.
A versão americana de 1931 para “Drácula” é curta, com apenas 75 minutos de duração. Tem produção com orçamento reduzido e as características daqueles primeiros filmes sonoros que foram concebidos naquela distante época, com interpretações exageradamente teatrais do elenco, num ritmo narrativo lento e com efeitos toscos na criação dos morcegos. Porém, a história cativante do conde vampiro assustou de forma decisiva as plateias do período e marcou para sempre o cinema de horror gótico, popularizando o mito do vampirismo em uma infinidade de filmes posteriores.
O roteiro apresentou com respeito algumas das características tradicionais dos vampiros e que se tornariam eternizadas no imaginário popular, como o fato deles não terem reflexo em espelhos, não tolerarem símbolos religiosos como crucifixos, não gostarem de sol, não suportarem uma erva conhecida como acônito, dormirem em caixões com terra de seu local de origem, e serem criaturas imortais, porém que poderiam ser destruídos com uma estaca de madeira cravada no coração.
O filme é altamente recomendado para os apreciadores do vampirismo e do cinema gótico de horror, seja pela atmosfera sombria do castelo na Transilvânia ou da abadia abandonada em Londres, e pela interpretação convincente de Bela Lugosi, tornando o Conde Drácula um vilão ameaçador, povoando os pesadelos dos espectadores da época e registrando para sempre seu nome na galeria de astros do Horror. Ele é reconhecido como o principal Drácula do cinema, ao lado do ícone Christopher Lee, que fez o vampiro em vários filmes da cultuada produtora inglesa “Hammer”.
 
“Tem coisas bem piores à espera do Homem que a morte” – Conde Drácula
  
(RR – 14/10/18)


Comentários de Cinema - Parte 39


 


Filmes abordados:

A Criatura do Cemitério (Graveyard Shift, EUA / Japão, 1990)
Dia das Mães Macabro (Mother´s Day, EUA, 1980)


* A Criatura do Cemitério (1990)

Típico filme bagaceiro divertido, com monstro gosmento e o diferencial de ser baseado em conto de Stephen King

O escritor Stephen King é recordista em histórias adaptadas para o cinema, num trabalho difícil de catalogação pela grande e variada quantidade. Infelizmente, muitas delas tiveram resultados ruins, mas por outro lado, também tivemos filmes bem divertidos como é o caso de “A Criatura do Cemitério” (Graveyard Shift, 1990), baseado em conto que foi publicado na antologia “Sombras da Noite”.
Com direção de Ralph S. Singleton (em seu único trabalho no cinema, sendo mais conhecido como produtor), a história se passa numa pequena cidade americana que tem uma importante atividade comercial com a produção de tecidos num moinho, supervisionada pelo arrogante Sr. Warwick (Stephen Macht), que contrata o recém-chegado John Hall (David Andrews), um pacato viúvo à procura de trabalho.
O que ele não sabe é que o moinho é uma fábrica velha infestada de ratos, vizinha de um cemitério macabro, e que esconde um porão cheio de ambientes abandonados. E as coisas se complicam quando ele e outros funcionários como seu par romântico, a mocinha Jane Wisconsky (Kelly Wolf), e os colegas Danson (Andrew Divoff), Brogan (Vic Polizos), Carmichael (Jimmy Woodard) e Ippeston (Robert Alan Beuth), são convidados para fazer um trabalho especial de limpeza no porão para ativar uma nova produção, e precisam enfrentar além dos ratos famintos, uma imensa criatura assassina que quer provar o sabor de suas carnes e sangue.
“A Criatura do Cemitério” é o exemplo típico de um filme bagaceiro divertido, com produção de baixo orçamento, e com um monstro mutante gosmento concebido pelos antigos efeitos especiais dos anos 80- 90 do século passado, sem a artificialidade da moderna computação gráfica. Em seu roteiro temos as esperadas mortes sangrentas, perseguições, claustrofobia, situações de tensão e confrontos, aliados com uma infestação de ratos, esqueletos e cadáveres de um cemitério. E, de brinde, a sua história básica é inspirada num conto do mestre Stephen King.
O cultuado ator Brad Dourif, conhecido pela voz do boneco assassino Chucky, além de diversos outros filmes de horror, faz o papel de Cleveland, um insano exterminador de ratos, obcecado com sua tarefa de eliminar os roedores. Sua atuação é ótima, sendo um dos destaques do elenco, juntamente com Stephen Macht, que faz o chefe Warwick, um sujeito desonesto e carrasco com os funcionários.
Os cenários são ótimos, mostrando de forma convincente uma fábrica têxtil suja, cheia de bagunça, equipamentos velhos e com dezenas de ratos se movimentando livremente pelos corredores, tubulações e orifícios, além de um porão úmido, depressivo, evidenciando abandono e sujeira, escondendo passagens ocultas para outros ambientes ainda mais obscuros.
Não faltam mortes violentas, brutais, dolorosas, com sangue, mutilações e vísceras espalhadas, em ataques ferozes de uma “criatura do cemitério” ávida em experimentar a carne humana dos invasores de seu território. Recomendado como um filme de horror simples e de diversão garantida.
(RR – 28/03/18)


* Dia das Mães Macabro (1980)

Bagaceira divertida dos anos 80 da cultuada produtora Troma, com torturas, perseguições na floresta, sangue e perversão

A produtora “Troma”, especializada em filmes bagaceiros de horror, lançou em 1980 a divertida tranqueira “Dia das Mães Macabro” (Mother´s Day), dirigida por Charles Kaufman, irmão do fundador da produtora, Lloyd Kaufman.
Três amigas da época da escola, unidas por uma irmandade, se encontram para um passeio de diversão descompromissada. Jackie (Deborah Luce), Abbey (Nancy Hendrickson) e Trina (Tiana Pierce) decidem ir para um local isolado numa floresta, aproveitando um final de semana para sair de suas rotinas diárias e se afastar dos problemas, relembrando os bons momentos do passado na escola. Porém, logo a diversão se transforma em tensão e medo depois que são surpreendidas por dois irmãos psicopatas, Ike (Frederick Coffin, creditado como Holden McGuire) e Addley (Michael McCleery, creditado como Billy Ray McQuade). Eles moram com sua mãe insana e autoritária, interpretada por Beatrice Pons (creditada como Rose Ross), numa cabana no meio do mato.
Os irmãos lunáticos sequestram as garotas e iniciam uma série de torturas físicas e psicológicas, carregadas de violência e perversidade, para satisfazer, além de seus próprios desejos pessoais, também a mãe maluca, que se diverte com o sofrimento das moças capturadas.
É verdade que os primeiros 30 minutos do filme são arrastados, perdendo muito tempo com futilidades envolvendo as três moças, mas depois que elas são capturadas pelos psicopatas assassinos, as ações ganham intensidade com as torturas e violência, espalhando sangue. Além também do plano de fuga e vingança das moças contra seus algozes, que apesar dos inevitáveis clichês, gerou um ritmo tenso com as perseguições e confrontos sangrentos.
Tanto os atores que interpretaram os irmãos sádicos, quanto principalmente a veterana Rose Ross (na verdade, Beatrice Pons), como a mãe perversa, tiveram ótimas atuações, convencendo com seus personagens insanos e ameaçadores, contribuindo significativamente para tornar “Dia das Mães Macabro” mais um exemplo de filme divertido de horror bagaceiro.   
Curiosamente, a primeira vez que vi o filme foi em 1985 através de uma fita “alternativa” de vídeo VHS, um nome diferente na época para “pirata”, e a experiência registrou algumas cenas definitivamente em minha memória, como a decapitação do início e as mãos severamente dilaceradas de uma das garotas, por causa do atrito de uma corda.
Em 2010 tivemos uma refilmagem com o título nacional “Dominados Pelo Ódio”, dirigido por Darren Lynn Bousman e com Rebecca De Mornay no papel da mãe perversa.
(RR – 05/04/18)

Comentários de Cinema - Parte 38


Filmes abordados:

Numa Noite Escura (One Dark Night, EUA, 1982)
Ogroff / Mad Mutilator (França, 1983)
The Black Cat (Il Gatto Nero / Demons 6: De Profundis, Itália, 1989)

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* Numa Noite Escura (1982)

Uma jovem estudante é obrigada a passar uma noite num mausoléu repleto de cadáveres que não querem ficar em seus caixões

“Numa Noite Escura” (One Dark Night, 1982) é mais um daqueles filmes divertidos e claramente datados, associado aos anos 80 do século passado, com direção do então estreante Thomas McLoughlin, que alguns anos depois faria “Sexta-Feira 13 – Parte 6 – Jason Vive” (1986).
A estudante Julie Wells (Meg Tilly) aceita se submeter a um processo de iniciação numa irmandade escolar liderada por Carol Mason (Robin Evans), além de Kitty (Leslie Speights), que tem a mania de ficar mastigando uma escova de dente, e Leslie Winslow (Elizabeth Daily). O desafio é dormir uma noite inteira dentro de um enorme mausoléu num cemitério, cercada de dezenas de caixões armazenados em suas respectivas gavetas mortuárias, guardando cadáveres.
Porém, para agravar a situação que já é bizarra e sinistra, chega ao mausoléu um morto diferente. Ele foi o cientista Dr. Karl Raymarseivich, um estudioso da bioenergia, a força eletromagnética de todas as coisas vivas, e que após muitas experiências descobriu possuir poderes telecinéticos para movimentar objetos e pessoas à distância. Ele tornou-se obcecado no assunto e com técnicas de vampirismo psíquico, adquiriu um poder maligno, drenando a energia vital das pessoas e colecionando vítimas.
Uma vez o cadáver do cientista encarcerado no mausoléu, seus poderes de telecinese vem à tona e ele revive os mortos, que saem de seus caixões e vagueiam pelos corredores do lugar, ameaçando a vida da jovem Julie, em seu desafio de passar uma noite, e também das amigas que pretendiam assustá-la com brincadeiras. Para tentar resgatá-la, seu namorado Steve (David Mason Daniels) vai ao mausoléu, assim como a filha do cientista, Olivia McKenna (Melissa Newman), que tem poderes de premonição e foi ao encontro de Julie, entrando em confronto com seu pai, distorcido pela maldade.
O filme tem uma história facilmente classificada como ingênua e clichê, com pouco sangue e violência na maior parte de sua duração, ao mostrar de forma meio arrastada o desafio pessoal da estudante Julie em provar sua coragem às amigas, dormindo uma noite trancada num mausoléu cheio de mortos. Também cansa um pouco acompanharmos a história do cientista que estuda ocultismo e desenvolve poderes de telecinese, apresentada por um escritor de artigos sobre ocultismo, Samuel Dockstader (Donald Hotton).
Mas, a compensação pela espera do horror veio no ato final, onde os cadáveres em putrefação saem de seus repousos nos caixões e povoam os corredores do mausoléu, espalhando o caos para os vivos que por infortúnio estavam em seu caminho. E com o uso dos divertidos efeitos especiais da época, com bonecos toscos simulando cadáveres podres gosmentos, cheios de melecas pingando e com vermes caminhando nos órgãos internos, num trabalho de maquiagem que não apelava para a ajuda de programas de computadores que tornam tudo exageradamente falso. Um tempo onde não existia a artificialidade do CGI, característica do cinema moderno. É verdade que os efeitos bagaceiros dos mortos nos remetiam àqueles bonecos macabros dos trens fantasmas de parques de diversões, mas é inegável que justamente isso é que proporciona o entretenimento.   
Entre as várias curiosidades, o eterno Batman da série pastelão de TV dos anos 1960, Adam West, faz parte do elenco interpretando Allan McKenna, o marido de Olivia, a filha vidente do cientista do mal. Martin Nosseck fez uma rápida participação como o zelador do cemitério em seu único trabalho no cinema, e faleceu dois dias após as filmagens. Inicialmente, o filme iria se chamar “Rest in Peace” (“Descanse em Paz”). Tem uma cena onde estudantes jogam um vídeo game da época, e que hoje, passados mais de 35 anos, parece extremamente bizarro pela simplicidade.
(RR – 26/02/18)

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* Ogroff / Mad Mutilator (1983)

Tranqueira francesa extremamente ruim, do mesmo realizador da bagaceira “Dinosaur From the Deep”

N. G. Mount (creditado como Norbert Georges Mount) é um francês que brincou algumas vezes de diretor, roteirista, produtor e ator de filmes bagaceiros de horror e ficção científica. Em 1993 ele lançou a porcaria colossal “Dinosaur From the Deep”, a qual já escrevi uma breve resenha alertando sobre sua ruindade extrema, apesar da curiosidade de ter no elenco o diretor cultuado Jean Rollin.
Porém, dez anos antes, ele havia lançado um filme mais bagaceiro ainda. Trata-se do bizarro “Ogroff”, que também recebeu o título inglês “Mad Mutilator”. Praticamente não tem roteiro, pois a história é uma bagunça sem qualquer coerência e nada funciona no filme. O elenco é péssimo, os efeitos são toscos, falsos e inconvincentes, a trilha sonora é irritante, não existe continuidade e a produção geral é extremamente amadora.
Trata-se de uma mistura de “slasher”, “zumbis” e “vampirismo”. Ogroff é um lenhador psicopata mascarado assassino que mora numa cabana isolada na floresta. Ele é interpretado pelo próprio N. G. Mount e utiliza um machado alternando com uma motosserra para chacinar suas vítimas. Os mortos também não querem permanecer enterrados e saem de suas covas rasas. E um vampiro interpretado pelo veterano Howard Vernon (de vários filmes de Jesus Franco) tem uma participação rápida.
É até difícil registrar a sinopse, pois como já mencionado, não tem história. O assassino que vive no meio do mato está sempre procurando aleatoriamente oportunidades para matar pessoas desavisadas que invadem seu território. Entre as vítimas, tem uma família que pára o carro numa estrada e um grupo de jovens que está se divertindo na floresta, jogando xadrez. Em paralelo, os mortos decidem sair de seus túmulos, entrando em confronto com o psicopata mascarado, e um vampiro resgata uma mocinha fugitiva das atrocidades, e decide experimentar seu sangue.
Tem até uma criança brutalmente esquartejada, além de braços e pernas decepados, mutilações, vísceras e sangue falso para todos os lados. Mas, tudo filmado de forma tão amadora que não funciona nem como filme bagaceiro. O diretor se inspirou claramente em “A Noite dos Mortos-Vivos”, “Sexta-Feira 13”, “O Massacre da Serra Elétrica” e outros similares, apenas validando sua condição de fã dessas obras importantes do cinema de horror. Mas, em relação ao seu filme, ele não conseguiu agregar nada ao gênero.
A trilha sonora é horrível e irritante, com sons da floresta, pássaros e água corrente, tudo tão exagerado que incomoda. Entre as inúmeras cenas patéticas, podemos citar algumas como o assassino se masturbando com um machado; o descarte de um carro jogado num rio (na verdade é um carrinho miniatura de brinquedo que afunda numa pia de água, numa cena hilária); uma luta pessimamente coreografada entre o assassino e seu machado, com outro homem e sua motosserra; a mocinha perseguida e lutando para não morrer de forma violenta, decidindo se relacionar sexualmente com o psicopata, dormindo com ele. Além dessas bizarrices, tem uma cena onde o assassino sai de dentro do porta-malas de um carro, de forma totalmente aleatória, e surpreende o motorista, que tem uma morte sangrenta.
Todos os personagens não têm nome, nem função no filme, eles surgem do nada apenas para morrer dolorosamente nas mãos do psicopata da floresta. Aliás, o assassino esquarteja suas vítimas para depois fornecer os restos dos cadáveres como alimento para zumbis que ele mantém no porão de sua cabana. Além disso, os mortos também saem de suas sepulturas aleatoriamente, apenas para caminhar errantes por uma estrada deserta no meio do bosque, e perseguir os vivos.
São 90 minutos de duração que parecem intermináveis, numa dificuldade enorme em agüentar assistir até o final. Ficaria bem melhor se fosse apenas um curta metragem de não mais de 15 minutos, compilando algumas cenas razoáveis de violência, mesmo que mal feitas, e com a inclusão de um roteiro.
“Ogroff” é um exemplo de filme bagaceiro que não diverte e apenas passa para o espectador a desconfortável sensação de perda de tempo depois de assistir. Não tem história e os efeitos são tão ruins que um grupo de estudantes adolescentes, igualmente sem dinheiro, consegue reproduzir provavelmente melhor. 
(RR – 17/03/18)

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* The Black Cat (1989)

Uma mistura de horror e fantasia de Luigi Cozzi, datada dos anos 80, mas que não empolga

O cineasta Luigi Cozzi é um nome lembrado no cinema fantástico italiano, por seus filmes bagaceiros como “Starcrash” (1978), “Alien – O Monstro Assassino” (1980) e “Paganini Horror” (1989), entre outros. Também em 1989 ele dirigiu e escreveu o roteiro (sob o pseudônimo Lewis Coates), da tranqueira “The Black Cat” (Il Gatto Nero), que recebeu o título picareta alternativo internacional “Demons 6: De Profundis”.
Na história, o diretor de cinema Marc Ravenna (Urbano Barberini) e seu sócio, o roteirista Dan Grudzinski (Maurizio Fardo, não creditado), envolvem-se num projeto para a realização de um grande filme de horror, inspirados pela lenda da bruxa Levana, a terceira de três deusas da dor, também conhecida como “mãe das lágrimas”, uma criatura maligna saída das profundezas (“De Profundis”). Marc é casado com a atriz Anne Ravenna (Florence Guérin) e Dan é o namorado da atriz Nora (a inglesa Caroline Munro, um rosto conhecido por vários filmes bagaceiros divertidos do gênero fantástico como “Drácula no Mundo da Minissaia”, 1972, “No Coração da Terra”, 1976, e “O Maníaco”, 1980).
Para conseguir financiamento para o projeto, eles recorrem ao famoso produtor Leonard Levin (Brett Halsey), um arrogante homem de negócios que decide fazer o filme com seu dinheiro. Porém, ninguém esperava que a bruxa Levana se materializasse e por não querer a produção do filme, passasse a aterrorizar Anne com pesadelos perturbadores, além de espalhar sangue e mortes aos envolvidos direta ou indiretamente na realização do filme, como a babá Sara (Luisa Maneri) ou a estudiosa de ocultismo Esther Semerani (Karina Huff).
“The Black Cat” ou “Il Gatto Nero” tem inspiração no conto “O Gato Preto”, de Edgar Allan Poe, e o roteiro de Luigi Cozzi mostra uma história exagerada na fantasia, com exercícios de metalinguagem (filme dentro de filme) e cujo resultado final não empolga muito. Tudo é muito datado dos anos 80, desde a trilha sonora aos efeitos bagaceiros de raios coloridos saindo dos olhos e mãos da bruxa. Tem até bons momentos de cenas “gore”, com tripas saindo de televisão, corpo explodindo, sangue e vômitos espalhados, além da interessante caracterização da bruxa, numa época sem CGI. Mas, o sangue derramado é insuficiente para garantir um interesse maior, já que a história é bem fraca. 
Curiosamente, o cineasta independente gaúcho Felipe M Guerra lançou um documentário em 2016 sobre a obra de Luigi Cozzi, que recebeu o título “FantastiCozzi”, trazendo depoimentos do diretor e trechos de seus filmes.
Outras curiosidades incluem citações em diálogos sobre o poeta dos malditos “Baudelaire” e do diretor Dario Argento e seu filme mais cultuado, “Suspiria” (1977), sobre a bruxa “Mãe dos Suspiros”.
Ainda tem a participação não creditada do cineasta Michele Soavi (de “O Pássaro Sangrento”, 1987, “A Catedral”, 1989, e “Pelo Amor e Pela Morte”, 1994), fazendo o papel de um diretor de cinema.
A atriz Giada Cozzi fez o papel da adolescente Sybil, uma espécie de fada mirim que orienta a perseguida atriz Anne a combater o mal da bruxa Levana. Ela é filha do diretor Luigi e participou de alguns filmes dele em 1989.
(RR – 23/03/18)

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Comentários de Cinema - Parte 37


Filmes abordados:

Alienator – A Exterminadora Indestrutível (Alienator, EUA, 1990)
Sete Mortes Nos Olhos de Um Gato (La Morte Negli Occhi del Gatto, Itália / França / Alemanha Ocidental, 1973)
Uma Noite de Horror / A Matilha da Maldição (Monster Dog, EUA / Espanha / Porto Rico, 1984)

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* Alienator – A Exterminadora Indestrutível (1990)

Mais uma bagaceira de FC do especialista em tranqueiras Fred Olen Ray

“Em um canto longínquo da galáxia, um batalhão rebelde bem armado monta uma emboscada para os exércitos do Grande Tirano, Baal. Um massacre se segue. Milhares de inocentes morrem, e o líder da revolução Kol é capturado e sentenciado à morte. Hoje num escuro planeta prisão de onde ninguém jamais escapou, o Comandante Executor se prepara para mandar seu prisioneiro direto para o inferno.” – Introdução.

Com um título nacional sonoro e sensacionalista (e talvez até com um “spoiler” na palavra “indestrutível”), “Alienator – A Exterminadora Indestrutível” (1990) é outro exemplo do cinema fantástico bagaceiro do diretor veterano Fred Olen Ray, o mesmo responsável por diversas tranqueiras, citando apenas algumas dos anos 80 do século passado como “Vale da Morte” (1985), “Confusão nas Estrelas” (1986), “A Maldição da Tumba” (1986), “Cyclone – A Máquina Fantástica” (1987), “Hollywood Chainsaw Hookers” (1988), “Alien – O Terror do Espaço” (1988), “Guardiões do Futuro” (1988) e “A Maldição dos Espíritos” (1990).
Kol (Ross Hagen), o líder dos rebeldes conforme descrito na introdução, encontra-se preso e no corredor da morte. A penitenciária é controlada com rigor pelo Comandante Executor (Jan-Michael Vincent), que tem seus momentos galanteadores com a secretária Tara (P. J. Soles). Depois que a prisão recebe uma visita de inspeção do General Delegado Lund (Robert Clarke), que tem ideias pacifistas, Kol aproveita uma oportunidade e consegue escapar numa pequena nave, indo em direção à Terra.
Lá, numa estrada no meio da floresta de uma cidadezinha do interior americano, ele encontra um grupo de adolescentes acéfalos formado por dois casais de namorados, Rick (Richard Wiley) e Caroline (Dawn Wildsmith), e Benny (Jesse Dabson) e Orrie (Dyana Ortelli). Os jovens pedem ajuda para um policial florestal, Ward Armstrong (John Phillip Law), e todos juntos precisam enfrentar o ataque de uma androide alienígena exterminadora “indestrutível” conhecida como “Alienator” (interpretada por Teagan Clive), que foi enviada para eliminar o prisioneiro fugitivo Kol. Para auxiliá-los no confronto com a máquina de guerra de outro mundo, eles se unem ao veterano Coronel Coburn (Leo Gordon), um ex-militar com experiência em batalhas e que vive numa cabana na floresta.

“Aqui é a privada do sistema penal interplanetário e nosso trabalho é dar a descarga.” – Comandante Executor

O filme é uma bagaceira proposital, com diálogos e situações hilárias, cujo roteiro simples é um imenso clichê, mostrando a manjada história de uma criatura cibernética exterminadora vinda do espaço para rastrear um prisioneiro que se escondia em nosso planeta. A sala de comando da prisão espacial está repleta de painéis imensos, com botões e interruptores, e os demais ambientes simulam celas com corredores e salas típicas de uma fábrica com escadas, válvulas e tubulações externas para todos os lados. A nave espacial é uma maquete tosca e a exterminadora do título tem uma aparência exagerada, com pouca roupa, sangue amarelo, portando armas futuristas de raio laser e evidenciando o corpo musculoso de Teagan Clive, que também é fisiculturista. Aliás, ela só aparece em cena após quase quarenta minutos de filme, então é fácil deduzir que o diretor Fred Olen Ray procurou enrolar bastante a história com futilidades. 
Curiosamente, temos no elenco a presença de vários veteranos cujos rostos são reconhecidos, como Leo Gordon (1992 / 2000), Robert Clarke (1920 / 2005) e Robert Quarry (1925 / 2009).
Leo Gordon esteve em dezenas de filmes de western e “O Castelo Assombrado” (1963). Robert Clarke esteve em “O Homem do Planeta X” (1951) e “The Astounding She-Monster” (1957), filme que inspirou a história de “Alienator”, além de “The Incredible Petrified World” (1959) e “Além da Barreira do Tempo” (1960). Já Robert Quarry foi um vampiro em “Conde Yorga, Vampiro” (1970) e a continuação “A Volta do Conde Yorga” (1971), e esteve em outras pérolas como “A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes” (1972), “A Vingança dos Mortos” (1974) e “A Casa do Terror” (1974). Em “Alienator”, ele fez o papel de um médico alcoólatra, Dr. Burnside, numa participação rápida.
Vale também citar a presença da bela atriz alemã P. J. Soles, que esteve em “Carrie: A Estranha” (1976) e no clássico de John Carpenter, “Halloween: A Noite do Terror” (1978), o primeiro filme do psicopata mascarado Michael Myers.
Após o término do filme tem uma citação dedicatória para o ator Fox Harris (1936 / 1988), que fez o atrapalhado caçador Burt e que faleceu logo após as filmagens.
(RR – 06/02/18)

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* Sete Mortes Nos Olhos de Um Gato (1973)

Divertido filme europeu com assassinatos misteriosos numa ambientação de horror gótico e maldição familiar

“Quando um MacGrieff é morto por alguém de seu próprio sangue, não morre, mas torna-se vampiro, para vingar a própria morte.”

Numa co-produção de três países europeus, Itália, França e Alemanha Ocidental (na época ainda não era unificada), e direção de Antonio Margheriti (creditado como Anthony M. Dawson), “Sete Mortes Nos Olhos de Um Gato” (La Morte Negli Occhi del Gatto, 1973) é um daqueles divertidos filmes com mortes misteriosas e  investigação policial numa ambientação típica de horror gótico e maldição familiar.
Uma antiga e tradicional família do interior da Escócia, os MacGrieff, cujo brasão mostra um temível vampiro, vive num imenso castelo chamado “Dragonstone”, uma construção de pedras localizada no alto de um penhasco, constantemente cortada por ventos uivantes. A proprietária Lady Mary (a francesa Françoise Christophe) está falida e precisa de dinheiro para manter o castelo, aconselhada a vender o imóvel pelo Dr. Franz (o alemão Anton Diffring), médico da família. Ele está cuidando do jovem Lord James (o americano Hiram Keller), filho de Lady Mary, recluso e considerado doente, perturbado com o tratamento que recebe, e com um passado sinistro envolvendo a morte suspeita de sua irmã quando criança.
No castelo ainda vive como hóspede a bela Suzanne (a alemã Doris Kunstmann), contratada como professora de francês, mas que tem atitudes suspeitas e objetivos obscuros. Além do serviçal Angus (o italiano Luciano Pigozzi, creditado como Alan Collins), o mordomo Campbell (o alemão Konrad Georg, creditado como George Korrade) e sua esposa Janet (a italiana Bianca Doria). Outros convidados são Lady Alicia (a italiana Dana Ghia), a irmã rica de Lady Mary, que costuma passar as férias no castelo, mas não quer emprestar dinheiro para salvar a irmã falida, e o padre Reverendo Robertson (o italiano Venantino Venantini), que costuma visitar o castelo representando a igreja católica e para manter as relações políticas com o que restou da nobre família MacGrieff.
Para aumentar a lista de hóspedes chega ao castelo também a bela jovem Corringa (a inglesa Jane Birkin), uma estudante recém-expulsa de um colégio de freiras, filha de Lady Alicia. Ela chega sem avisar e surpreende todos. Porém, o ambiente torna-se conturbado quando começam a ocorrer assassinatos misteriosos no interior do imenso castelo, repleto de quartos escuros e passagens secretas, todos testemunhados pelos olhos de um gato amarelo que pertence à família (daí o título do filme).
A série de mortes desperta a atenção da polícia local, com a investigação do inspetor (o francês Serge Gainsbourg) e todos são considerados suspeitos, especialmente os membros da família MacGrieff, historicamente atormentados por uma lenda que diz que depois de assassinados, eles transformam-se em vampiros, voltando do túmulo para vingar suas mortes.
  “Sete Mortes Nos Olhos de Um Gato” tem um título sonoro, ideia bastante utilizada no cinema fantástico italiano da década de 1970. E temos uma mistura de história policial envolvendo mortes misteriosas, com horror gótico no melhor estilo desse fascinante sub-gênero, não faltando a tradicional maldição familiar com a especulação constante de motivações sobrenaturais de lendas e folclores obscuros para justificar os acontecimentos macabros.
Temos aquela divertida atmosfera gótica com seus elementos tradicionais, mortes estranhas, os olhos de um gato como testemunha, clima de conspiração entre os suspeitos variados, e até um gorila adquirido de um circo, para servir de criatura oculta nas sombras aumentando a tensão no interior do castelo.
O elenco é internacional, com representantes de vários países. O cineasta italiano Antonio Margheriti (1930 / 2002) é conhecido pela carreira repleta de divertidas bagaceiras do cinema fantástico, geralmente utilizando o pseudônimo Anthony M. Dawson. De seus incontáveis filmes podemos citar “Destino: Espaço Sideral” (1960), “O Planeta dos Desaparecidos” (1961), “A Mansão do Homem Sem Alma” (1963), “Dança Macabra” (1964), “Carne Para Frankenstein” (1973), “Cannibal Apocalypse” (1980), “Yor, o Caçador do Futuro” (1983), e “Alien From the Deep” (1989), entre outros.

“Quando um gato segue o caixão, o falecido é um vampiro.”

(RR – 29/01/18)

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* Uma Noite de Horror (1984)

Bagaceira oitentista de horror para promover o cantor de rock Alice Cooper

(OBS.: Texto datado e descompromissado, publicado originalmente dentro do editorial do fanzine “Juvenatrix” # 53, de Agosto de 2001, e reproduzido sem atualização, servindo como um registro de quase duas décadas atrás, e que pode até ser considerado como uma breve resenha do filme.)

Vale registrar um comentário sobre um filme de horror obscuro que assisti pela primeira vez em vídeo VHS em 1988 com o manjado nome de “Uma Noite de Horror” (Monster Dog, 1984), e que não dei muita importância na época. Depois e mais recentemente, vi novamente o filme no Cine Sinistro da TV Bandeirantes em 16/06/01 com um novo título nacional, igualmente ridículo, “A Matilha da Maldição” (sou da opinião que certos títulos originais deveriam ser mantidos principalmente quando a tradução literal soa estranho, e nesse caso poderia ficar simplesmente como “Monster Dog”).
Esse filme não tem nada de diferente, muito pelo contrário, é uma história óbvia no estilo “lobisomem”, repleta de clichês e falhas no roteiro, com atores ruins e totalmente desconhecidos e com efeitos especiais tão fracos que beiram à paródia. A direção e roteiro são do italiano Claudio Fragasso, utilizando o pseudônimo Clyde Anderson. A única novidade é a presença do cantor de rock Alice Cooper como o protagonista, interpretando um personagem idêntico à sua vida real, um astro do rock que vai junto com sua equipe de produção até a velha mansão abandonada e isolada de sua família numa pequena cidade americana, gravar um vídeo clipe. A história do local é repleta de lendas sobre lobisomens e com participação direta dos descendentes do cantor. Fica fácil imaginar o destino fatal dos membros da equipe de produção e do próprio astro de rock, amaldiçoado pelas lendas locais.
“Monster Dog” serve como um veículo de promoção do cantor Alice Cooper, um filme de horror que mostra um astro do rock envolvido com um lobisomem, numa clara referência à proximidade entre o horror e o rock. É uma fita igual a dezenas de outras convencionais produzidas no mesmo período como “Noite dos Arrepios” (Night of the Creeps, 1986, sobre zumbis), “A Noite das Brincadeiras Mortais” (April Fool’s Day, 1986, sobre psicopata), “Visão do Terror” (Terrorvision, 1986, sobre alienígena), “A Noite do Medo” (The Being, 1983, sobre monstro de lixo tóxico), “O Monstro Canibal” (Cellar Dweller, 1987, sobre criatura sobrenatural), só para citar alguns poucos entre tantos.
Mas é curioso que na época em que foram produzidos, estes filmes eram comuns e raramente despertavam algum interesse adicional, porém agora já passados quase duas décadas, eles acabaram tornando-se uma referência de um período que tem suas características próprias, e de certa forma despertam um interesse, principalmente por ser uma fonte de comparação com o cinema atual. E no caso de “Monster Dog”, com produção de baixo orçamento e ruim de forma não proposital, que poderia ser classificada como “trash”, acaba despertando um interesse mesmo que por curiosidade. Foi exatamente isso que ocorreu quando vi esse filme pela segunda vez em junho de 2001. Talvez também por isso, os filmes “ruins” exercem tanto fascínio no público. Resumindo, todo e qualquer filme, seja um clássico, uma mega produção com fantásticos efeitos especiais, ou mesmo uma produção paupérrima, todos tem seu espaço e interesse, e principalmente sua parcela de participação na construção da história do gênero fantástico.    
 (RR – Agosto 2001)

Comentários de Cinema - Parte 36



Filmes abordados:

O Altar do Diabo (The Dunwich Horror, EUA, 1970)
Contos da Escuridão (Tales of Tomorrow, EUA, 1951 / 1953, PB) série de TV – episódios “Frankenstein”, “O Ovo de Cristal”, “Encontro em Marte”, “The Evil Within”
The Earth Dies Screaming (Inglaterra, 1964, PB)
O Grito da Caveira (The Screaming Skull, EUA, 1958, PB)
O Mistério do Invisível (The Unseen, EUA, 1980)
Mystics in Bali (Indonésia / Austrália, 1981)
Zombie Nightmare (Canadá, 1987)
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* O Altar do Diabo (1970)

Produção executiva de Roger Corman e história baseada em H. P. Lovecraft na tentativa de retorno dos Antigos para dominar a Terra

“A lenda do Necronomicon diz que antigamente a Terra era habitada por uma espécie de outra dimensão. Com certos cânticos do livro, junto com antigos ritos de sacrifício, esta raça de outrora pode ser trazida de volta.”

“O Altar do Diabo”, dirigido por Daniel Haller, é baseado na história “The Dunwich Horror”, de H. P. Lovecraft, produzido pela nostálgica “American International”, de James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, com produção executiva do “Rei dos Filmes B” Roger Corman, e elenco liderado por Dean Stockwell e Sandra Dee, além dos veteranos Ed Begley e Sam Jaffe.
Um jovem estudioso de ocultismo, Wilbur Whateley (Dean Stockwell), vive na pequena cidade de Dunwich em sua casa imensa e sinistra. Ele é temido pelos supersticiosos e assustados moradores locais, depois que sua mãe Lavinia (Joanna Moore Jordan) enlouquece após o parto e é internada num hospício. Ele tenta através dos ensinamentos do raro, poderoso e proibido livro “Necronomicon”, e com um ritual de sacrifício humano no “altar do diabo”, da bela e jovem Nancy Wagner (Sandra Dee), abrir um portal que permitiria a entrada dos “Antigos”, uma raça ancestral de outra dimensão, que habitava nosso planeta em tempos imemoriais, reassumindo o controle da Terra e destruindo a raça humana.
Para tentar combatê-lo e impedir o retorno dos “Antigos” ao nosso mundo, o Dr. Henry Armitage (Ed Begley), professor de filosofia da Universidade de Arkham, une forças com o médico Dr. Cory (Lloyde Bochner), de Dunwich, e juntos seguem de perto os passos do jovem ocultista, principalmente depois que o livro “Necronomicon” é roubado.
Filme de horror com uma atmosfera sinistra constante, explorando vários elementos presentes na mitologia dos “Mitos de Cthulhu”, criada por Lovecraft, com citações ao livro “Necronomicon” e à entidade cósmica maléfica “Yog-Sothoth”. A diversão é garantida, graças à presença de Roger Corman nos bastidores e pelo elenco interessante, formado por jovens em ascensão na época como Dean Stockwell e Sandra Dee, ou pelos veteranos Ed Begley e Sam Jaffe, rostos conhecidos por longas carreiras em séries diversas de TV. Mas, o resultado final certamente poderia ser ainda mais interessante com uma exploração maior das criaturas indizíveis de Lovecraft, algo que ficou mais restrito pelas questões de orçamento reduzido.
Entre as curiosidades, o filme foi exibido dublado na televisão brasileira na extinta TV Manchete, na Sessão “Terça Especial”, de onde gravei em VHS entre os anos 80 e 90 do século passado, e passei depois para a mídia DVD. Em 2009 tivemos outra versão, produzida pela “Nu Image”, conhecida pelas bagaceiras de seu catálogo. O elenco tem o cultuado ator Jeffrey Combs (de “Re-Animator”) como Wilbur e novamente Dean Stockwell, só que em outro papel, interpretando o Dr. Henry Armitage. O filme foi lançado em DVD por aqui pela “Focus Filmes” com o nome “Bruxas”.

“... e com o portão aberto, os Antigos vão passar. O Homem governa agora o que eles governavam antes. Eles aguardam pacientes e potentes. E por aqui eles reinarão de novo. E governarão por onde antes caminhavam...”

(RR – 07/01/18)

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* Contos da Escuridão (1951 / 1953)

Primeira série de TV de Ficção Científica dos longínquos anos 1950: indispensável para os apreciadores do cinema fantástico bagaceiro

 “Contos da Escuridão” (Tales of Tomorrow, EUA, 1951/53) foi uma série de televisão com fotografia em preto e branco, produção de baixo orçamento, apresentando antologias de episódios independentes com aproximadamente trinta minutos de duração. Eram histórias básicas de ficção científica, encenadas pelos atores, sem gravações e transmitidas ao vivo pela televisão. Os elencos contavam com muitos atores que já eram conhecidos na época ou que se tornaram bem sucedidos nas carreiras que se seguiram. É considerada a primeira série de TV americana a tratar especificamente o tema da ficção científica, sendo seguida por outras similares extremamente cultuadas pelos fãs, como “Além da Imaginação” (The Twilight Zone) e “Quinta Dimensão” (The Outer Limits).
A série teve duas temporadas, sendo que a primeira entre 1951 e 1952 teve 42 episódios, e a segunda, entre 1952 e 1953, teve 43 episódios. No Brasil, foram lançados apenas três episódios num único DVD, através da antiga “Works” (também conhecida por “Dark Side”), que está fora de catálogo há muito tempo. Os episódios são “Frankenstein”, “O Ovo de Cristal” e “Encontro em Marte”. Também tive acesso ao episódio “The Evil Within”, baixado do blog “Cine Space Monster” e legendado em português.
Pelo título escolhido no Brasil, vale ficar atento para não confundir com outra série de mesmo nome, “Tales From the Darkside” (1983 / 1988), e que também teve um filme em 1990, no formato de antologia com três histórias.
Seguem comentários e curiosidades sobre esses quatro episódios citados, de uma série rara, divertida e altamente recomendada para os apreciadores e colecionadores das nostálgicas bagaceiras do cinema fantástico de meados do século passado.

Frankenstein
A famosa obra literária de Mary Shelley, adaptada à exaustão pelo cinema, também foi utilizada para a produção do episódio homônimo “Frankenstein”, que traz Lon Chaney Jr. no papel do monstro criado artificialmente a partir de restos de cadáveres, pelas mãos e mente brilhante do cientista Victor Frankenstein (John Newland). Porém, ao despertar para a vida pela ação de eletricidade e aparelhos científicos complexos e bizarros, a enorme criatura deformada fica confusa e não entende sua condição de monstro feito de partes de corpos humanos mortos e age com violência e irracionalidade, colocando em risco a vida da noiva do cientista, Elizabeth (Mary Alice Moore) e de seu pai (Raymond Bramley), além dos empregados, Matthew (Farrell Pelly) e Elise (Peggy Allenby), que trabalham no imenso castelo do século XVI isolado no meio de um lago, onde o cientista montou seu laboratório.
Como o episódio foi apresentado ao vivo pela televisão, existe uma curiosidade sobre a participação de Lon Chaney Jr., ator mais conhecido como o lobisomem no clássico da “Universal” de 1941, e por diversas outras bagaceiras do cinema fantástico. Ele estaria bêbado em cena, não percebendo que estava ao vivo no cenário, e uma vez pensando se tratar de apenas um ensaio, teve o cuidado de não quebrar uma cadeira que deveria ser arremessada no chão, levantando-a para o alto com força excessiva e depois colocando em seu lugar novamente com cuidado, mantendo-a intacta. Essa cena é claramente perceptível.

O Ovo de Cristal
O escritor inglês H. G. Wells é um dos grandes nomes da literatura de ficção científica, com vários de seus livros e contos transformados em filmes cultuados como “A Guerra dos Mundos”, “A Máquina do Tempo”, “A Ilha do Dr. Moreau”, “Os Primeiros Homens na Lua”, “O Homem Invisível”, “Daqui a Cem Anos”, “Viagem à Lua”, etc.
Sua obra também inspirou a produção do episódio “O Ovo de Cristal”, onde um cientista renomado, Prof. Frederick Vaneck (Thomas Mitchell) recebe a visita do dono de um antiquário, Sr. Cave (Edgar Stehli), que lhe traz um misterioso artefato, um “ovo de cristal”, para ser analisado e avaliado, depois que um homem estranho, Walker (Gage Clark), demonstrou um interesse incomum em comprá-lo a todo custo. Após trabalhar por incontáveis horas estudando o objeto, o cientista acaba ficando obcecado por seus mistérios depois que consegue visualizar através dele a superfície de outro planeta, e de descobrir que estamos sendo observados por marcianos.
O ator Thomas Mitchell já era muito experiente e conhecido na época, tendo participado de clássicos como o western “No Tempo das Diligências”, o drama “... E o Vento Levou” e o horror “O Corcunda de Notre Dame”, todos de 1939. Esse episódio tem uma história muito interessante ao abordar o mistério por trás do ovo de cristal e sua relação com uma conspiração alienígena, destacando a cena onde um marciano tosco típico do cinema bagaceiro do período está espionando a Terra.

Encontro em Marte
Um grupo de três astronautas viaja pelo espaço sideral até Marte numa missão de exploração de minérios, descobrindo grande quantidade de urânio, extremamente valioso e que os deixaria ricos na Terra. O grupo é formado pelo piloto da nave Capitão Robert (Leslie Nielsen), Bart (William Redfield) e Jack (Brian Keith). Eles encontram um planeta árido coberto por arbustos estranhos e pedras para todos os lados, e aparentemente sem pessoas ou vida inteligente, com um incômodo e constante uivo de fortes ventos. Sem os monstros verdes de olhos esbugalhados e fogo saindo da boca, idealizados pela cultura popular. Porém, começam a ocorrer graves crises de relacionamento entre eles, com brigas, discussões e acessos de loucura e violência, evidenciando características típicas da raça humana como ganância e desconfiança, levando o grupo para um fim trágico.
O ator canadense Leslie Nielsen estaria depois no clássico “Planeta Proibido” (1956), um dos mais importantes filmes da história do cinema de FC, e curiosamente muitos anos mais tarde seu nome seria eternamente relacionado ao gênero comédia, com uma infinidade de títulos na carreira como “Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu”, “Corra Que a Polícia Vem Aí”, “Drácula – Morto, Mas Feliz”, “Mr. Magoo”, “2000.1 – Um Maluco Perdido no Espaço”, etc.     

The Evil Within
O cientista Peter (Rod Steiger) está trabalhando arduamente num soro especial que estimula os sentimentos ruins internos das pessoas. Sem testar ainda em seres humanos, ele traz o experimento para casa para mantê-lo refrigerado, uma vez que a geladeira de seu laboratório quebrou. Em casa, sua esposa dedicada Anne (Margaret Phillips) está incomodada com a vida solitária, sem a atenção do marido ocupado com o trabalho científico, e reclama da situação desconfortável no casamento. As coisas se complicam ainda mais depois que um acidente fez com que ela ingerisse um pouco da poção química sem perceber e seu comportamento e personalidade transformaram-se, trazendo à tona o seu “mal interno” do título. Agora, o cientista precisará encontrar um antídoto para salvar a esposa.
Esse episódio lembra a ideia básica de “O Médico e o Monstro”, livro de Robert Louis Stevenson que foi adaptado incontáveis vezes no cinema. O ator James Dean, que fez uma participação minúscula como Ralph, o ajudante do cientista, teve uma carreira curta falecendo num acidente de carro em 1955, apenas com 24 anos de idade. Ele já era um ator cultuado, apesar de muito jovem, por participações em clássicos como “Juventude Transviada” e “Vidas Amargas” (ambos de 1955).  Rod Steiger (1925 / 2002) também foi outro ator com nome bastante reconhecido por sua carreira bem sucedida com quase 150 créditos.
(RR – 20/01/18)

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* The Earth Dies Screaming (1964)

“A Terra Morre Gritando numa divertida produção bagaceira inglesa de invasão alienígena

Um dos sub-gêneros mais divertidos do cinema bagaceiro de ficção científica dos anos 50 e 60 do século passado certamente foi aquele que abordava o tema de invasão alienígena. Existe uma quantidade imensa de filmes desse período com roteiros explorando o drama da humanidade tentando sobreviver ao enfrentar uma invasão de criaturas hostis vindas do espaço sideral com propósitos de conquista. Seja por causa dos valiosos recursos naturais ou simplesmente pelo domínio de uma raça inferior em tecnologia e força militar.
“The Earth Dies Screaming” é uma produção inglesa com fotografia em preto e branco que tem um título original sonoro e sensacionalista, típico dos filmes bagaceiros do gênero fantástico daquele período, e que foi dirigida por um especialista na área. Terence Fisher foi o principal cineasta da lendária e cultuada produtora inglesa “Hammer”, sendo o responsável por diversos filmes clássicos que ficaram eternizados na história do gênero como “A Maldição de Frankenstein” (The Curse of Frankenstein, 1957) e “O Vampiro da Noite” (Horror of Dracula, 1958), ambos com os ícones Christopher Lee e Peter Cushing.
Escrito por Harry Spalding (creditado como Henry Cross), o filme é curto com apenas 62 minutos de duração, e mostra um vilarejo no interior da Inglaterra onde os moradores são mortos misteriosamente. Jeff Nolan (Willard Parker) é um piloto de testes americano em exercícios militares na Inglaterra e que ao aterrissar seu avião encontra uma cidade em silêncio e com várias pessoas mortas espalhadas pelo chão. Ao investigar o mistério, ele encontra num hotel outros sobreviventes, Quinn Taggart (Dennis Price) e Peggy Hatton (Virginia Field), além do casal formado por Edgar Otis (Thorley Walters) e a esposa Violet Courtland (Vanda Godsell), que se recuperavam de um acidente com seu carro.
O pequeno grupo de sobreviventes especula sobre o mistério ao redor e acham que a cidade sofreu um ataque de gás venenoso, fato que poderia explicar as mortes repentinas dos habitantes e sem traços aparentes de violência física. E então surge outro casal, dessa mais bem mais jovem, formado por Mel Brenard (David Spenser) e a mulher grávida Lorna (Anna Palk). Enquanto tentam entender a origem do caos, encontram robôs humanoides assustadores caminhando pelas ruas silenciosas com cadáveres espalhados, e são atacados pelos mortos que voltam a andar como zumbis escravos controlados pelos robôs, com seus olhos esbugalhados como bolas cinzas. Restando apenas lutar pela sobrevivência enquanto “A Terra Morre Gritando”...
O filme é uma produção tranqueira de baixíssimo orçamento abordando o tema da invasão alienígena, com uma atmosfera sinistra de mistério e a presença de robôs alienígenas toscos ao extremo, além de mortos caminhando novamente sobre a Terra. A especulação sobre uma guerra com gases venenosos nos remete à paranóia da guerra fria daquele conturbado período tenso que a humanidade vivia após a Segunda Guerra Mundial, com a ameaça de um holocausto nuclear causado pelas potências opostas da época, Estados Unidos e a antiga União Soviética.
O ritmo é arrastado em alguns momentos, mas isso não chega a prejudicar o entretenimento por causa da curta duração com pouco mais de uma hora de filme. Os robôs são bizarros e lentos, criação de uma tecnologia superior de alguma raça de outro planeta, e possuem poderes para matar facilmente os humanos apenas com um toque. Os zumbis são toscos, com seus olhos inertes, seguindo obedientes os comandos das máquinas. “The Earth Dies Screaming” é o cinema fantástico bagaceiro dos anos 60, divertido e indispensável para os apreciadores do gênero.
Curiosamente, algumas cenas do clássico “Aldeia dos Amaldiçoados” (1960) foram inseridas no início do filme antes dos créditos de abertura, a queda de um avião explodindo com o impacto e um carro se chocando contra um muro.     
(RR – 06/12/17)

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* O Grito da Caveira (1958)

“Nós garantimos enterrá-lo sem custos se você morrer de susto durante O Grito da Caveira – jogada de marketing dos produtores

“O Grito da Caveira é um filme que atinge seu clímax num horror chocante. Seu impacto é tão terrível que pode causar um efeito imprevisto. Pode até matá-lo. Portanto, seus produtores garantem serviços funerários gratuitos para quem morrer de susto enquanto assistir O Grito da Caveira”.

No final dos anos 1950, uma época de ouro do cinema fantástico bagaceiro, vários filmes de baixo orçamento do produtor e cineasta William Castle receberam um tratamento diferenciado e criativo na área de marketing e divulgação, despertando a atenção e curiosidade do público para ir aos cinemas. Utilizando técnicas interativas para assustar os espectadores como poltronas que tremem e dão pequenos choques elétricos, fornecimento de apólices de seguro de vida para quem morresse durante a exibição do filme, ou o uso de um esqueleto humano iluminado movimentado por um complexo mecanismo de polias, cordas e correias, que era arremessado por cima das pessoas. Inspirado por esse marketing inusitado de William Castle, os produtores de “O Grito da Caveira” (The Screaming Skull, 1958), Thomas F. Woods e John Kneubuhl (também autor do roteiro), igualmente entraram na onda e prometeram pagar os serviços funerários de quem morresse de susto durante a projeção do filme (conforme atestam a tagline e a narração de introdução reproduzidas acima).
No filme, dirigido por Alex Nicol (mais conhecido pela carreira de ator coadjuvante), Eric Whitlock (John Hudson) se casa com Jenni (Peggy Webber) e juntos vão morar no casarão de Eric, que utilizava quando ainda era casado com Marianne, morta num trágico acidente doméstico, ao se afogar num pequeno lago após escorregar num dia de forte chuva.
Jenni tenta ser feliz ao lado do marido, após enfrentar uma fase conturbada com problemas psicológicos num hospital psiquiátrico por causa da morte dos pais afogados num acidente de barco. Na mansão ainda vive o suspeito jardineiro Mickey (Alex Nicol), um homem com retardamento mental que cuida do imenso jardim que rodeia a casa, e continua sentindo uma devoção exagerada à antiga patroa falecida. E entre os amigos do casal temos os vizinhos Reverendo Edward Snow (Russ Conway) e sua esposa (Tony Johnson).
Os problemas se iniciam quando Jenni é atormentada por gritos na escuridão da noite e com a suposta presença fantasmagórica da falecida primeira esposa de seu marido, além de uma misteriosa caveira que está constantemente perseguindo-a para desestabilizar o seu já fragilizado estado psicológico. Apavorada, o estado mental dela vai progressivamente piorando, confusa com os acontecimentos sinistros da casa e do passado trágico envolvendo a morte perturbadora de Marianne.
“O Grito da Caveira” tem fotografia em preto e branco e uma duração curta, com apenas 68 minutos. É uma produção de orçamento reduzido, poucos personagens (apenas 5), uma história clichê e ingênua com elementos de horror que talvez pudessem assustar as platéias mais sensíveis de meados do século passado, mas que atualmente dificilmente causaria algum desconforto. Os efeitos especiais da “caveira que grita” são patéticos de tão hilários. Porém, são exatamente esses ingredientes típicos do cinema fantástico bagaceiro daquele período que resultam na diversão dos apreciadores dessas tranqueiras. Temos uma atmosfera sinistra de um casarão envolto em manifestações sobrenaturais, um fantasma atormentado em busca de vingança e paz, uma mulher lutando para manter sua instável sanidade, e a jogada de marketing promocional com um caixão nos cinemas reservado para quem morresse de susto durante a exibição do filme.
Curiosamente, “O Grito da Caveira” também recebeu outro nome alternativo nacional: “A Maldição na Noite de Núpcias”.
(RR – 19/12/17)

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* O Mistério do Invisível (1980)

O desconhecido traz o terror. O invisível... a morte

Uma equipe de mulheres jornalistas de televisão formada por Jennifer Fast (Barbara Bach), sua irmã Karen (Karen Lamm) e Vicki Thompson (Lois Young), está a caminho da pequena cidade americana Solvang, no Estado da California, para cobrir uma festa tradicional da região. Porém, com todas as vagas nos hotéis esgotadas, elas procuram alternativas de hospedagem e encontram uma improvável oportunidade na casa do zelador de um antigo museu que foi hotel no passado, Ernest Keller (Sydney Lassick). Ele é um homem simpático e bom anfitrião, mas também tem comportamentos estranhos e esconde um misterioso segredo no porão.
Sua irmã Virginia (Lelia Goldoni) fica extremamente preocupada com a chegada imprevista das convidadas, e sempre está triste, assustada e com um olhar deprimido e perturbado, ocultando o “mistério do invisível”, representado por uma criatura demente que vive no porão (“Junior”, interpretado por Stephen Furst).
Enquanto a repórter Jennifer faz seu trabalho, sabemos que está grávida e enfrentando uma crise conjugal com o namorado Tony Ross (Douglas Barr), um ex-jogador de futebol americano que teve que desistir da carreira por causa de uma grave lesão na perna.
O que todas elas não esperavam é que uma aparente simples estadia iria se transformar num pesadelo quando suas vidas são ameaçadas pelo que está escondido no porão, além de enfrentar o suspeito anfitrião que ofereceu sua casa para elas.
“O Mistério do Invisível” é um filme irregular, com alguns momentos arrastados lembrando apenas um thriller comum daqueles produzidos para a televisão. Mas, também tem boas cenas de tensão e atmosfera sinistra na exploração do “mistério do título”, na especulação sobre quem vive oculto no porão, sua origem, motivações e atos com conseqüências trágicas. O desfecho ainda reserva uma longa sequência de confronto com perseguições, lutas desesperadas e insanidade.
O elenco é composto por poucos atores e as atuações são muito boas, principalmente Sydney Lassick, que faz um homem gentil e brincalhão e ao mesmo tempo sinistro e insano, convidando as mulheres para a morte. E também Stephen Furst, que aparece pouco, mas de forma intensa no papel do demente que vive no porão.
Entre as várias curiosidades, o diretor e também autor do roteiro Danny Steinmann (1942 / 2012), que tem em seu pequeno currículo um filme da franquia do popular psicopata Jason Voorhees (“Sexta-Feira 13 Parte 5: Um Novo Começo”, 1985), não gostou do corte final do filme, com a retirada de várias cenas assustadoras, e decidiu assinar com o pseudônimo Peter Foleg.
Stan Winston, cultuado mestre em efeitos especiais, falecido em 2008, foi um dos co-autores da história, sendo que uma primeira versão (depois bastante modificada) foi de autoria de Kim Henkel, o criador de “O Massacre da Serra Elétrica” junto com Tobe Hooper.
A atriz Barbara Bach, que em “O Mistério do Invisível” grita e luta desesperadamente por sua vida, participou também da divertida bagaceira italiana “A Ilha dos Homens-Peixe” (1979). Ela é casada com Ringo Starr, o baterista da lendária banda “The Beatles”.
(RR – 01/01/18)

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* Mystics in Bali (1981)

Magia Negra, cabeça voadora assassina, efeitos toscos e atores péssimos: Mystics in Bali é um filme de horror bagaceiro produzido na Indonésia

“Mystics in Bali” é uma tranqueira produzida na Indonésia em parceria com a Austrália, também conhecido pelo título alternativo “Leák”. Com direção de H. Tjut Djalil, a história mistura elementos de magia negra, feitiçaria e vampirismo, apresentando uma cabeça voadora com órgãos internos pendurados, em efeitos precários e com um elenco extremamente ruim.
Uma escritora americana, Catherine Kean (Ilona Agathe Bastian), está em Bali (uma ilha localizada na Indonésia) para pesquisar informações sobre a antiga, estranha, misteriosa e poderosa magia negra “leák”, com o objetivo de escrever um livro sobre o assunto. Ela é auxiliada pelo namorado Mahendra (Yos Santo), nativo da região, e consegue um contato noturno e sinistro com uma feiticeira, uma rainha leák (interpretada por Sophia W. D. quando velha, e por Cinthya Dewi quando jovem).
A poderosa bruxa, com voz gutural, aceita passar os ensinamentos da magia para a ingênua Cathy, que se torna uma discípula das trevas e se transforma eventualmente numa criatura assassina e vampira à procura de sangue e carne de suas vítimas, sendo que sua cabeça, agarrada à espinha, pulmões e intestinos, se separa do corpo e voa em busca de alimento. Mahendra tenta salvá-la da maldição e pede ajuda ao seu tio Machesse (W. D. Mochtar) e outros religiosos para combater a rainha leák e libertar a namorada Cathy de seu domínio maléfico.
Com esse roteiro absurdo já dá para imaginar a imensa tranqueira que é “Mystics in Bali”, um filme tão ruim que o espectador torce para que acabe logo, mas isso somente ocorre depois de seus longos 87 minutos. Os atores são muito inexpressivos, artificiais e tão amadores que chegam a incomodar pela precariedade das atuações. A rainha leák dá tantas gargalhadas histéricas irritantes que nos incentivam a avançar o filme minimizando o incômodo. Sem contar a dança ridícula do ritual de magia negra.
Os efeitos são extremamente bagaceiros, principalmente a tal criatura demoníaca que é a cabeça voadora de Cathy possuída, arrastando as tripas pelos ares. Tem também uma mão decepada que caminha sozinha, o tentáculo enorme em forma de língua da bruxa leák, as cenas de transformação dela e da discípula Cathy em animais como porcos e outras criaturas gosmentas, além dos vômitos verdes misturados com ratos vivos e o duelo de feiticeiros transformados em bolas de fogo numa guerra patética de raios, entre outras bizarrices. Mas, onde normalmente isso seria um motivo para agregar valor como entretenimento para os apreciadores de filmes toscos, acaba surtindo um efeito contrário por causa da ruindade extrema geral do filme, desde a história sofrível até as atuações inacreditavelmente inexpressivas.
(RR – 22/12/17)

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* Zombie Nightmare (1987)

Adam West + Motorhead + zumbi tosco = bagaceira oitentista canadense

Nos créditos iniciais temos a música “Ace of Spades”, da lendária banda inglesa “Motorhead”, apenas uma de várias outras de heavy metal que participam da trilha sonora como “Girlschool”, “Virgin Steele”, “Thor” e “Battalion”, que desfilam sua música ao longo do filme. Tem também o ator cultuado da televisão Adam West (falecido em 2017 aos 88 anos), um rosto reconhecido como Bruce Wayne (Batman) da série homônima de TV dos anos 1960, pastelão e tranqueira ao extremo. Completa ainda um único zumbi, tosco e super bagaceiro, ressuscitado dos mortos em busca de vingança contra seus assassinos. O resultado é “Zombie Nightmare”, produção canadense de 1987 dirigida por Jack Bravman a partir de roteiro de John M. Fasano.
Tony Washington (o cantor Jon Mikl Thor, líder fundador da banda “Thor”, na ativa desde 1977), é um jovem que morre num acidente trágico, atropelado por um carro guiado por Jim Batten (Shawn Levy), um adolescente acéfalo e rebelde, que não respeita ninguém e lidera um grupo ainda formado por dois casais de namorados, Peter (Hamish McEwan) e Susie (Manon E. Turbide), e Bob (Allan Fisher) e Amy (Tia Carrere, atriz que conseguiu algum destaque posterior na carreira). Tony volta do mundo dos mortos, invocado num ritual de magia negra pela bruxa Molly Mokembe (Manuska Rigaud), e sai de seu túmulo para se vingar daqueles que causaram sua morte violenta.
Paralelamente, com a ocorrência de mortes estranhas dos jovens rebeldes, a polícia entra em cena com a investigação do jovem detetive Frank Sorrell (Frank Dietz), auxiliado pelo veterano chefe Capitão Tom Churchman (Adam West). Eles tentam descobrir o mistério por trás dos assassinatos com toques sobrenaturais, evidenciando o tal “pesadelo zumbi” do título.
“Zombie Nightmare” tem um nome sonoro e chamativo, mas é um filme extremamente ruim, mal feito e datado. Trata-se apenas de um exemplo do cinema bagaceiro oitentista com pouca diversão, valendo conhecer exclusivamente por curiosidade.
Exceto pela música do “Motorhead” e pela presença do eterno canastrão Adam West, mesmo somente a partir da metade do filme, pouca coisa se salva. A história, repleta de furos, é um clichê totalmente sem interesse, cansativo e arrastado. As interpretações do elenco são amadoras. O zumbi vingativo tem uma maquiagem péssima e sua atuação nas cenas de mortes é bem patética. Aliás, as mortes também são bem discretas.
Curiosamente, num momento em que o zelador de uma academia de ginástica está dormindo em serviço, permitindo o ataque do zumbi em seu plano de vingança, podemos ver que em seu colo tem uma revista “Fangoria”, cuja capa mostra o líder dos caminhões que ganharam vida própria na tranqueira “Comboio do Terror” (Maximum Overdrive, 1986), dirigido por Stephen King e baseado em seu conto.
(RR – 05/01/18)

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