Comentários de Cinema - Parte 19

Filmes abordados:

Dinosaur From the Deep (França, 1993)
El Espanto Surge de la Tumba (Horror Rises From the Tomb, Espanha, 1973)
Il Coltello di Ghiaccio (Knife of Ice, Itália / Espanha, 1972)
A Múmia Azteca Contra o Robô Humano (La Momia Azteca Contra el Robot Humano / The Robot vs. The Aztec Mummy, México, 1958, PB)
Legend of Dinosaurs and Monster Birds (Japão, 1977)
A Maldição da Chorona (La Maldición de la Llorona / The Curse of the Crying Woman, México, 1963, PB)


* Dinosaur From the Deep (1993) – Inacreditável “filme Z” francês de orçamento quase inexistente, escrito, produzido, editado e dirigido por N. G. Mount (Norbert Moutier), que também atua sob o pseudônimo Bert Goldman. Ele é o responsável por outras porcarias como “Mad Mutilator” (1983) e “Le Syndrome d´Edgar Poe” (1995). Tem ainda a participação no elenco do veterano cineasta e roteirista francês Jean Rollin (1938 / 2010), que interpreta o papel de um “cientista louco”. Rollin teve uma vasta carreira no cinema com uma infinidade de bagaceiras de horror, atuando também em muitas delas, com seu nome tornando-se associado ao gênero. Em 2004, um futuro para a época da produção em 1993, e um passado para nosso momento atual, a pena de morte para criminosos violentos está abolida e então a polícia decide enviar um perigoso prisioneiro junto numa expedição científica para o passado na época dos dinossauros. A missão é comandada pelo cientista Prof. Nolan (Jean Rollin), e o objetivo é estudar os gigantescos animais pré-históricos. O criminoso seria levado junto com seus carrascos para ser executado nesse passado sem lei. No retorno da nave que é uma máquina do tempo, um ovo de dinossauro é trazido à bordo e um pequeno monstro desperta, atacando os tripulantes com mortes sangrentas. Em “Dinosaur From the Deep” tudo é ruim ao extremo, nada se salva, nem a presença de Jean Rollin. A história é ridícula, com algumas piadas sem resultado, os atores são péssimos, e a edição com cortes bruscos é horrível. O diretor claramente demonstra não possuir qualquer tipo de conhecimento sobre como fazer cinema. Sem contar a música totalmente deslocada e que apenas contribui para aumentar o sentimento de rejeição do espectador. Até os créditos são extremamente amadores. Mas, o pior de tudo são os efeitos patéticos, que vão da nave espacial tosca, uma maquete estática paupérrima, aos dinossauros feitos de papel e com alguns movimentos num péssimo “stop motion”, que crianças em idade escolar do ensino fundamental conseguem fazer bem melhor e de forma mais convincente. É até difícil descrever a colossal ruindade geral desse filme. Curiosamente, em determinado momento há uma citação irônica para “Parque dos Dinossauros” (Jurassic Park), de Steven Spielberg, lançado na mesma época em 1993, onde o criminoso condenado à morte e que conseguiu escapar de seus executores, encontra uma “mulher das cavernas” e afirma que agora é o “Rei do Parque Jurássico”. Produzido diretamente para o vídeo, o filme está disponível no “Youtube” na íntegra em francês sem legendas. (RR – 22/04/15)

* El Espanto Surge de la Tumba (1973) – “França, meados do século XV. Quando a superstição e a ignorância controlavam toda a Europa, homens e mulheres acusados de bruxaria eram executados na fogueira, na forca ou por lâminas afiadas. A peste, a mais devastadora das pragas, e a guerra, com todas as calamidades em seu rastro, não são tão temidos quanto o poder sombrio de Satanás, e de sua sinistra corte de demônios e bruxos.” O espanhol Paul Naschy (pseudônimo de Jacinto Molina Álvarez) nasceu em 06/09/1934 em Madri, e faleceu em 30/11/2009 aos 75 anos, sendo considerado um nome cultuado relacionado ao cinema de horror, com uma infinidade de créditos como diretor, roteirista e ator. “El Espanto Surge de la Tumba” (conhecido também pelo título inglês “Horror Rises From the Tomb”) é mais uma de suas várias bagaceiras preciosas com roteiros bizarros e todos os elementos do horror da época da inquisição européia. Dirigido por Carlos Aured, inicia-se na França de 1454, onde um casal é condenado à morte por prática de magia negra. Alaric de Marnac (Paul Naschy) é executado por decapitação e sua cabeça é enterrada longe do corpo, e sua companheira Mabille De Lancré (Helga Line) é morta após ser torturada pendurada de cabeça para baixo numa árvore. Antes de morrerem, eles lançam uma maldição para seus executores, o próprio irmão Armand de Marnac (também Naschy) e Andre Roland (Vic Winner), dizendo que seus corpos morreriam, mas seus espíritos continuariam vivos buscando por vingança contra seus descendentes. Mais de quinhentos anos depois, dois casais de amigos, Hugo de Marnac (novamente Naschy) e a namorada Sylvia (Betsabe Ruiz), e o pintor Maurice Roland (também Vic Winner) e a bela Paula (Cristina Suriani), decidem participar de uma sessão espírita comandada pela médium Madame Irina Komarova (Elsa Zabala). Eles recebem uma mensagem que desperta a curiosidade em encontrar a cabeça decepada de Alaric de Marnac, enterrada em terras próximas das ruínas de um antigo mosteiro, atualmente pertencentes ao descendente Hugo. Lá chegando, eles se juntam ao caseiro que cuida da propriedade, e que mora no local com suas duas belas filhas, Chantal (Maria Jose Cantudo) e Elvira (Emma Cohen), sendo que esta última tem um caso amoroso com Hugo. Juntos, todos eles lutam para sobreviver dos ataques brutais de Alaric de Marnac, que consegue reviver da tumba junto com sua companheira, e utiliza seu poder satânico para controlar as pessoas e transformá-las em zumbis assassinos, além de beber seu sangue e comer seus corações. “El Espanto Surge de la Tumba” é o típico cinema bagaceiro divertido, com uma sinistra trilha sonora gótica de órgão, mortes com significativo grau de violência e sangue, ambientes tétricos envoltos em névoa, corpos que saem de caixões, zumbis deformados caminhando lentamente em busca de suas vítimas, uma cripta em ruínas com atmosfera de gelar o sangue, um talismã mágico capaz de combater as forças demoníacas, a impagável expressão facial de Paul Naschy com seu olhar hipnotizador no melhor estilo imortalizado pelo vampiro “Drácula”, belíssimas mulheres semi nuas desfilando para o abate, e uma história repleta de clichês e situações absurdas que justamente por isso garantem o entretenimento bizarro. Entre as curiosidades, podemos citar: * É mencionado no filme o conhecido demônio “Astaroth”, que foi o nome de um fanzine de horror que editei entre 1995 e 2008, sendo que utilizei como inspiração uma referência de outro filme, “Uma Filha Para o Diabo” (To the Devil a Daughter, 1976). * “El Espanto Surge de la Tumba” é o nome do terceiro disco da banda de metal extremo “Dorso” (Chile), lançado em 1993, com letras inspiradas em filmes de horror. * Foi filmada uma sequência em 1983, “Latidos de Pánico”, escrito, dirigido e atuado pelo multi funcional Paul Naschy. (RR – 12/04/15)

* Il Coltello di Ghiaccio (1972) – O sub-gênero do cinema italiano que aborda histórias de assassinos em série ficou conhecido como “Giallo”, que significa “amarelo” em italiano, numa referência às capas amarelas das revistas populares de suspense e romance policial, com assassinatos sendo investigados por detetives. Esses tipos de filmes tiveram seu ápice entre as décadas de 70 e 80 do século passado, apresentando as ações de assassinos usando luvas pretas, com as vítimas na maioria das vezes sendo mulheres, e com a investigação policial tentando descobrir o mistério por trás das mortes, com a solução apenas no final e reservando surpresas. Com o título original italiano “Il Coltello di Ghiaccio”, o espanhol “Detrás del Silencio” e o inglês “Knife of Ice”, o filme foi lançado em 1972 e dirigido por Umberto Lenzi, um cineasta italiano conhecido por outros significativos trabalhos dentro do Horror como os violentos “Os Vivos Serão Devorados” (80) e “Canibal Ferox” (81), sobre canibais, e “Nightmare City” (80), sobre zumbis. Na história, Martha Caldwell (Carroll Baker) é uma mulher que perdeu a capacidade de falar após um evento traumático ocorrido quando era adolescente, através de um acidente ferroviário que matou seus pais num incêndio. Ela mora com seu tio inglês Ralph (George Rigaud) numa casa ao lado de um cemitério, localizada numa pequena cidade espanhola próxima de Barcelona. Ela recebe a visita de sua prima Jenny Ascot (Ida Galli, atuando sob o pseudônimo de Evelyn Stuart), uma cantora bem sucedida. Porém, mortes misteriosas começam a ocorrer na casa e proximidades, colocando pessoas do círculo de amigos e empregados da família numa lista de suspeitos, como o sinistro motorista Marcos (Eduardo Fajardo) e o médico Dr. Laurent (Alan Scott), além do próprio proprietário da casa, o idoso Ralph, um estudioso de ocultismo. Outro suspeito dos crimes é um jovem hippie viciado em morfina e simpatizante de cultos satânicos. Entre as candidatas a tornarem-se vítimas do misterioso assassino, temos a governanta Sra. Annie Britton (Silvia Monelli) e a adolescente Christina (Rosa-Maria Rodrigues), filha adotiva de um padre local, Martin (José Marco). E para tentar desvendar a autoria dos crimes e impedir mais mortes, o Inspetor Duran (Franco Fantasia) está na liderança das investigações. O filme é um “Giallo” com as tradicionais características desse sub-gênero, tentando manipular o espectador no mistério que envolve os assassinatos, com pistas falsas, elementos de satanismo e investigação policial. Não é muito empolgante e as cenas com as poucas mortes são filmadas “off screen”, reduzindo a intensidade de violência. Mas, ainda assim, a história até desperta algum interesse, principalmente pela surpresa no final, com a esperada revelação da identidade e motivações do assassino. Entre as curiosidades, podemos citar que o diretor Umberto Lenzi procurou mostrar muitas cenas evidenciando os olhos dos personagens, uma característica que ficou mais conhecida e associada com outro diretor italiano de filmes de horror, o cultuado Lucio Fulci. E, em determinado momento, a jovem Jenny recém chegada de viagem, presenteia seu tio Ralph, apreciador de ciências ocultas, com livros sobre feitiçaria, zumbis e demônios, e informa que são materiais raros comprados no Brasil. O cineasta Lenzi, que também participa do roteiro, talvez quisesse apenas citar nosso país como uma breve homenagem, mas com um resultado estranho, uma vez que não somos conhecidos por esses tipos de livros com temáticas não convencionais, principalmente sendo raros. (RR – 03/04/15)

* A Múmia Azteca Contra o Robô Humano (La Momia Azteca Contra el Robot Humano, 1958) – Também conhecido pelo título alternativo inglês “The Robot vs. The Aztec Mummy”, essa produção mexicana em preto e branco de 1958 e dirigida por Rafael Portillo, tem um nome sonoro que já sinaliza para sua história bizarra de crossover entre uma múmia assassina possuidora de força descomunal, e um robô criado a partir de partes de um cadáver humano, que nos remete ao universo ficcional de “Frankenstein”. Tosco ao extremo, desde a produção ao roteiro, passando pelo elenco com interpretações que vão do exagero (caso do “cientista louco”) ao marasmo (demais personagens), o filme diverte os apreciadores do cinema fantástico bagaceiro justamente por sua ruindade involuntária, apesar da tentativa de ser sério ao contar uma história absurda, repleta de clichês e situações distantes de qualquer lógica. Um tesouro da antiga civilização Azteca está escondido e protegido por uma múmia que no passado foi o guerreiro Popoca (difícil não rir desse nome, na interpretação de Angelo De Steffani, atuando sob forte maquiagem tosca). A múmia carrega em si um bracelete e uma couraça peitoral que trazem gravações em hieróglifos que revelam a localização secreta do tesouro. De olho em suas riquezas, para financiar seus projetos científicos mirabolantes, temos um “cientista louco”, o Dr. Krupp (Luis Aceves Castañeda), também conhecido como o bandido “Morcego”, sempre acompanhado de seu capanga Tierno (Arturo Martínez), que tem o rosto deformado num acidente com ácido provocado numa luta com a múmia. Ele criou um robô humano unindo a cabeça de um homem com o corpo mecânico de uma máquina radioativa movimentada por controle remoto, para ajudá-lo no combate contra a múmia e se apossar do tesouro. Para tentar impedí-los, temos o cientista Dr. Eduardo Almada (Ramón Gay) e seu fiel assistente Pinacate (Crox Alvarado), que utilizam as importantes informações da bela Flor (Rosa Arenas), jovem esposa do cientista, através de sessões de hipnose que revelam sua relação com a vida passada da princesa azteca Xochitl. Curiosamente, o filme faz parte de uma série de três, todos com a mesma direção de Rafael Portillo, roteiro de Guillermo Calderón e Alfredo Salazar e elenco principal, sendo precedido por “A Múmia Azteca” (La Momia Azteca,) e “A Maldição da Múmia Azteca” (La Maldición de la Momia Azteca), ambos de 1957, e os quais tiveram várias cenas reaproveitadas na edição final do crossover, para explicar acontecimentos do passado da história, facilitando muito o trabalho dos produtores na redução do orçamento. “La Momia Azteca Contra el Robot Humano” é bem curto, com apenas 65 minutos, e como na maioria dos filmes bagaceiros de múmias, aqui também não encontramos nenhuma preocupação dos roteiristas com situações inverossímeis e absurdas como o fato da múmia se deslocar livremente sem nunca ser notada, ou como consegue se manter escondida em segredo num mausoléu no interior de um cemitério, ou ainda a reduzida e incompetente ação policial. E também temos obviamente alguns daqueles tradicionais elementos do cinema fantástico tranqueira, como o laboratório do cientista louco, repleto de equipamentos bizarros, a atmosfera sombria de um cemitério sinistro e o interior claustrofóbico cheio de ambientes interligados de uma pirâmide abandonada.
O destaque dessa tranqueira inacreditável vai justamente para aquilo que dá nome ao filme, no conjunto formado pela múmia e sua maquiagem risível e pelo robô extremamente hilário de tão tosco, culminando com o confronto entre eles no desfecho, uma breve sequência dígna de constar na memória por muito tempo pelo elevado grau de bizarrice. Indicado apenas para os apreciadores de bagaceiras antigas. (RR – 15/03/15)

* Legend of Dinosaus and Monster Birds (1977) – Filme japonês de monstros gigantes com um título sonoro, dirigido por Junji Kurata e produzido pela “Toei”. Com o nome original “Kyoryu Kaicho no Densetsu”, podemos traduzir o título em inglês para algo como “A Lenda dos Dinossauros e Pássaros Monstruosos”. Na história, acompanhamos os esforços de um geólogo, Ashizawa (Tsunehiko Watase), acompanhado de sua namorada, a fotógrafa submarina Akiko (Nobiko Sawa), na tentativa de desvendar para o mundo a existência de um gigantesco réptil marinho. O plesiossauro estaria vivendo nos lagos do Monte Fuji (algo como “O Monstro do Lago Ness” japonês), e deveria ser o responsável pela ocorrência de mortes misteriosas e violentas na região. Em paralelo, uma caverna de gelo é descoberta em local próximo e em seu interior um ovo pré-histórico traz à vida um enorme pássaro monstruoso. As criaturas esquecidas pelo tempo inevitavelmente se encontram numa floresta e travam um confronto mortal no meio de um terremoto com a erupção de um vulcão. Os monstros desses filmes bagaceiros são sempre uma atração, independente da qualidade da história, justamente por sua concepção tosca ao extremo, numa época sem computação gráfica, e onde os esforços da equipe de produção devem ser valorizados pela intenção séria de apresentar monstros gigantescos atacando os humanos ou em combate entre si. Mesmo fazendo parte de histórias repletas de situações absurdas com elementos fantásticos. Porém, no caso específico de “Legend of Dinosaurs and Monster Birds”, pouca coisa se salva, principalmente por causa da péssima trilha sonora, irritante e totalmente deslocada, convidando o espectador a desistir de acompanhar o roteiro ruim com atores medíocres. A duração de pouco mais de uma hora e meia de projeção poderia ser reduzida para minimizar o tédio, pois as únicas exceções ficam por conta de alguns poucos momentos sangrentos com vítimas desmembradas, e pelas cenas com os monstros. Aliás, eles aparecem pouco na maior parte do filme e se enfrentam no desfecho numa sequência mais longa que acaba tornando-se a mais interessante. (RR – 31/03/15)

* A Maldição da Chorona (1963) – O cinema antigo de horror mexicano tem algumas preciosidades que não podem ficar esquecidas. Essa é uma produção de 1961, porém lançada dois anos depois, com fotografia em preto e branco, dirigida e escrita por Rafael Baledón, a partir de uma história de Fernando Galiana, que por sua vez utilizou elementos de uma lenda popular sobre uma mulher fantasma que chora de forma assustadora. Na história do filme, a jovem Amelia (a venezuelana Rosita Arenas, de “La Momia Azteca Contra el Robot Humano” / “The Robot vs. The Aztec Mummy”, 1958), recém casada com Jaime (Abel Salazar, de “El Barón del Terror” / “The Brainiac”, 1962), recebe o convite para visitar sua tia Selma (Rita Macedo), que não vê há 15 anos e que mora solitária num casarão afastado no meio de uma floresta. A casa de aspecto sombrio é conhecida na região por ser assombrada e temida pelos moradores das aldeias próximas por causa da ocorrência misteriosa de assassinatos noturnos na estrada em seus arredores, cuja autoria é investigada sem sucesso pelo capitão da polícia local (Mario Sevilla), e onde as vítimas são encontradas sem sangue. Chegando ao destino, o casal é recebido pelo rude serviçal Juan (Carlos López Moctezuma), manco e com o rosto desfigurado. No encontro da jovem Amelia com sua tia Selma, logo é informada a real intenção do convite, com a revelação da existência de uma maldição familiar envolvendo a antiga bruxa maléfica Marina, que renegou todos os seus bens e adquiriu um poder sobrenatural das trevas. Ela foi executada com uma lança no peito, e ficou conhecida como “a mulher chorona”, devido seus gritos aterrorizantes de agonia (daí o título original). Seu cadáver apodrecido está escondido no porão da casa, aguardando apenas a oportunidade de ressurgir entre os vivos. E como elas eram suas únicas descendentes, a ideia seria reviver a feiticeira num ritual de magia negra, no aniversário de 25 anos de Amelia, cujo presente seria o seu sacrifício, dando a vida para trazer a antiga bruxa de volta. “A Maldição da Chorona” é uma pérola do cinema gótico com todas as suas tradicionais características de um horror sutil, mas extremamente eficiente na elaboração de uma atmosfera sombria e sinistra. Temos a carruagem como meio de transporte da época, tornando sempre árdua e demorada a tarefa de se locomover; a floresta com árvores secas e aspecto fantasmagórico envoltas numa tenebrosa névoa espessa; e o casarão frio e deprimente de pedra, repleto de passagens secretas e ambientes tétricos, decorado por teias de aranha, habitado por ratos e morcegos e protegido por imensos cães assassinos, que mais parecem guardiões dos portais do inferno. Estão também presentes aqueles esperados clichês que contribuem de forma decisiva para a construção de um clima mórbido como o serviçal demente com o rosto desfigurado; o porão sinistro que esconde um segredo aterrador; e a música tétrica de um órgão tocando acordes de gelar a espinha. Além de um espelho mágico que reflete a personalidade sombria escondida na jovem Amelia, que é vítima de uma maldição familiar; um alçapão que serve de inesperada armadilha; e os gritos estridentes de uma mulher chorona ecoando pelos corredores do casarão. Sem contar a presença de um homem preso no sótão, deformado pela loucura (no caso, é o marido de Selma, o Dr. Daniel Jaramillo, interpretado por Enrique Lucero, e que perdeu a sanidade nos anos forçados de reclusão, vivendo como um animal). A maquiagem da maléfica Selma, quando transformada em bruxa, com o rosto modificado simulando a região dos olhos como escuras cavidades vazias, é um dos pontos fortes do filme, passando a sensação do Mal absoluto. Curto, com apenas uma hora e quinze minutos de duração, e com uma constante atmosfera de tensão e horror sugerido, “A Maldição da Chorona” é recomendável para apreciadores do cinema gótico e histórias de bruxas e maldição familiar, e para quem procura por produções antigas (nesse caso, da década de 60 do século passado) fora do tradicional mercado americano ou europeu. (RR – 29/03/15)