O Planeta dos Desaparecidos (Battle of the Worlds, Itália, 1961)


A “Works Editora” lançou em DVD no Brasil um pacote com vários filmes divertidos de baixo orçamento, numa coleção de Ficção Científica com produções principalmente dos anos 50 e 60 do século passado, feitas nos Estados Unidos, Itália e Japão. Desse pacote com 10 DVD´s e dois filmes em cada, temos “O Planeta dos Desaparecidos” (Battle of the Worlds, 1961), que divide o disco com “Destino: Espaço Sideral” (Assignment: Outer Space, 1960), ambos filmes italianos dirigidos por Antonio Margheriti.
Como materiais extras, temos apenas uma sinopse (ridícula de tão curta e superficial, que nem deveria existir), e as biografias curtas e inexpressivas do cineasta Antonio Margheriti e do ator inglês Claude Rains. Mas, em compensação, o texto informativo que vem na contra capa do DVD, de autoria de Edson Negromonte, tem grande qualidade e merece ser enaltecido.

A história, de autoria de Ennio De Concini, é simples, como a maioria dos roteiros carregados de exageros daquele período divertido do cinema fantástico. Mas, mesmo assim, esses roteiros sempre despertaram um interesse especial pela presença de naves espaciais, discos voadores, planetas desconhecidos, estações de pesquisa, instrumentos, equipamentos e vestuário futuristas, e todos os elementos tradicionais dos filmes bagaceiros de ficção científica do passado.
O célebre cientista Prof. Benson (Claude Rains) descobriu a princípio que um planeta está viajando pelo espaço e numa rota de colisão com a Terra. Apelidado por ele como “Forasteiro” (no inglês, “Outsider”), mais tarde e após uma análise com cálculos matemáticos complexos, o homem da ciência corrigiu a informação inicial e avisou que o planeta não deveria mais se chocar com o nosso mundo. Entretanto, sua aproximação traz como conseqüências grandes alterações climáticas ao redor do globo, entre tempestades, inundações e furacões.
E, após verificar que o planeta intruso permaneceu misteriosamente estacionado em órbita da Terra, a situação ficou ainda mais preocupante. O comando terrestre, que possui bases e estações de pesquisa estabelecidas na nossa lua e em Marte, e é liderado pelo Comandante Robert Cole (Bill Carter), decide interceptar o planeta enviando uma nave em missão de reconhecimento, a qual foi recebida com hostilidade pelo invasor com um ataque de uma frota de discos voadores.
Após interceptarem uma nave alienígena, que cai em solo terrestre, e descobrirem que são monitoradas à distância, sem pilotos, o Prof. Benson inventou uma forma de neutralizar os discos voadores e os oficiais decidiram fazer uma nova viagem ao planeta forasteiro, levando agora o famoso cientista com eles, além de sua assistente, Eve Barnett (Maya Brent), e seu noivo, o astrônomo Dr. Fred Steele (Umberto Orsini), entre outros. Lá chegando, a expedição descobriu em seu interior a existência de um imenso cérebro eletrônico responsável pelo controle do planeta, e que precisa ser desativado antes que uma guerra interplanetária tenha início e possa significar o fim da Terra.

Os sentimentos humanos são inconsistentes. Na verdade, eles são os únicos elementos inconsistentes em toda a natureza” – Prof. Benson, um cientista exageradamente abnegado e excêntrico

“O Planeta dos Desaparecidos” é uma “space opera” cujo roteiro tem muitos furos, algo que de certa forma já seria esperado num filme bagaceiro de FC. Alguns poucos exemplos que podem ser citados:
* o fato do cientista Prof. Benson ser tão rápido e infalível em seus cálculos, parecendo ser o único cientista capaz de uma série de descobertas sucessivas incríveis no mundo todo, além de demonstrar uma improvável autoridade sobre os oficiais do alto comando (claro que é bastante providencial ao roteiro que toda a trama deva girar em torno dele e do ator Claude Rains);
* os graves problemas climáticos que assolam a Terra por causa da proximidade do planetóide intruso, misteriosamente (e também de forma oportuna para o autor da história), não afetam a ilha onde está localizada a estação de observação e a casa do Prof. Benson, e de onde foi descoberta a chegada do “Forasteiro”;
* temos as presenças dispensáveis das duas principais mulheres do filme, Eve, a noiva do astrônomo Fred Steele, e Cathy (Carol Danell), esposa do Comandante Robert Cole, as quais não possuem função relevante na trama, parecendo mesmo que as atrizes foram escaladas para o elenco apenas para não faltarem belas mulheres no filme.

Os efeitos especiais compõem a parte mais divertida de “O Planeta dos Desaparecidos”, muito interessantes para a época de produção, há cerca de 50 anos atrás, com as maquetes dos foguetes espaciais terrestres e os discos voadores alienígenas, a representação da estação de pesquisa marciana, a ambientação do planeta “forasteiro”, a batalha espacial, etc. É extremamente curioso notar que dezesseis anos depois, em 1977, George Lucas revolucionou esses efeitos com o clássico “Star Wars”, e atualmente no início do século 21, com a crescente tecnologia de computação gráfica, todos esses efeitos especiais datados passaram logicamente a serem considerados hilários e toscos.
O italiano Antonio Margheriti (1930 / 2002) tem uma carreira extensa de quase 40 anos, dividido entre a direção, roteiro e produção, sendo que na maioria de seus filmes ele utilizou o pseudônimo Anthony Dawson. Ele dirigiu “Castle of Blood / Danza Macabra” (1964), com Barbara Steele, e “Cannibal Apocalypse” (1980), com John Saxon, entre outros.
Claude Rains (1889 / 1967) é um rosto conhecido no cinema fantástico, tendo estrelado filmes importantes como “O Homem Invisível” (1933, aqui ele é o cientista que descobre a invisibilidade, inspirado no livro de H. G. Wells), “O Lobisomem” (41, aqui faz o papel de Sir John Talbot, o pai do homem amaldiçoado pela licantropia), “O Fantasma da Ópera” (1943, como o personagem título da obra literária de Gaston Leroux) e “O Mundo Perdido” (1960, como o arrogante cientista e explorador Prof. Challenger, baseado no divertido livro de Sir Arthur Conan Doyle). Curiosamente, o ator italiano Giuliano Gemma, que ainda era desconhecido e interpretou apenas um papel pequeno nesse que é um de seus primeiros filmes, iria se tornar famoso mais tarde principalmente em diversos “spaghetti westerns”.

Se abrissem seu peito, achariam uma fórmula no lugar de seu coração
– Comandante Robert Cole, falando sobre o Prof. Benson

“O Planeta dos Desaparecidos” (1961) # 473 – data: 31/12/07
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O Planeta dos Desaparecidos (Battle of the Worlds / Il Pianeta degli Uomini Spenti, Itália, 1961). Duração: 83 minutos. Direção de Anthony Dawson (pseudônimo de Antonio Margheriti). Roteiro de Vassilij Petrov (pseudônimo de Ennio De Concini). Produção de Tommaso Sagone. Fotografia de Marcello Masciocchi. Música de Mario Migliardi. Edição de Jorge Serrallonga. Direção de Arte de Umberta Cesarano. Desenho de Produção de Giorgio Giovannini. Elenco: Claude Rains, Bill Carter, Umberto Orsini, Maya Brent, Jacqueline Derval, Renzo Palmer, Carlo D´Angelo, Carol Danell, Jim Dolle, Giuseppe Pollini, John Stacy, Aldo D´Ambrosio, Massimo Righi, Giuliano Gemma, Anna Maria Mustari.

A Bússola de Ouro (The Golden Compass, EUA / ING, 2007)


Com direção de Chris Weitz e baseado em livro de Philip Pullman, “A Bússola de Ouro” (The Golden Compass, 2007), que estreou nos cinemas brasileiros em 25/12/07, é o primeiro filme de uma trilogia.
Num mundo paralelo, as pessoas vivem com suas almas incorporadas em animais, em representações físicas chamadas “Daemons”. Nesse universo alternativo existe um império religioso conhecido como “Magistério” que tem a intenção de controlar a liberdade de todos os povos. Para combatê-lo surge uma menina, Lyra Belacqua (Dakota Blue Richards), que tem o poder de interpretar a leitura de um artefato mágico, a “bússola de ouro”, que revela a verdade sobre todas as coisas.
Ao seu lado está um grupo de protetores formado pelo explorador aeronauta Lee Scoresby (Sam Elliott), pela rainha das feiticeiras, Serafina Pekkala (Eva Green) e por um urso polar imponente de uma raça guerreira, Iorek Byrnison (voz de Ian McKellen, o mago Gandalf da trilogia “O Senhor dos Anéis”), além do cientista Lord Asriel (Daniel Craig), que pesquisa uma forma de se comunicar com os outros mundos paralelos estudando uma substância misteriosa chamada de “Pó”. A vilã fica por conta de Mrs. Coulter (Nicole Kidman), aliada do Magistério.
História complexa e repleta de elementos de pura fantasia, sendo necessária uma boa dose de concentração para assimilar todas as informações apresentadas ao espectador. Destaque para os belos efeitos especiais e a presença sempre valiosa do astro Christopher Lee, mesmo numa participação super rápida como um conselheiro do alto comando do Magistério.
Curiosidades: A atriz inglesa Clare Higgins, que faz o papel de uma gípsia chamada Ma Costa, participou dos dois primeiros filmes da cultuada franquia “Hellraiser”, inspirada na obra literária de Clive Barker. Sugiro assistir a versão original em inglês com legendas, pois é uma heresia não ouvir as vozes guturais de Christopher Lee e Ian McKellen.

“A Bússola de Ouro” (The Golden Compass, Estados Unidos / Inglaterra, 2007) # 472 – data: 30/12/07
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Sam´s Lake (Canadá / EUA / Coréia do Sul, 2005)


Em 2002 o cineasta canadense Andrew C. Erin escreveu e dirigiu um curta metragem de um pouco menos de trinta minutos chamado “Sam´s Lake”. Um típico “slasher movie” com jovens sendo perseguidos por um assassino numa floresta. Três anos depois, ele conseguiu transformar seu projeto num filme com cerca de uma hora e meia de duração, onde procurou desenvolver com mais liberdade sua idéia.
Um grupo de cinco jovens decide passar um final de semana bem afastado do agito da cidade, hospedando-se numa casa localizada numa floresta que tem um lago belíssimo. A casa pertence à família de Sam (Fay Masterson), uma jovem que perdeu os pais e mudou-se para a cidade, convidando seus amigos para alguns dias de descanso no silêncio de um lugar isolado. Seus amigos são os namorados Franklin (Stephen Bishop) e Melanie (Megan Fahlenbock), além de Kate (Sandrine Holt) e o rapaz gay Dominik (Salvatore Antonio). Todos eles enfrentam problemas em suas vidas conturbadas, desde a intolerância da sociedade, passando por brigas até histórias com passado traumático, e por isso tornaram-se uma pequena família.
Chegando lá, eles encontram Jesse (William Gregory Lee), uma amigo de infância de Sam, e juntos passam a noite em volta de uma fogueira contando relatos macabros, como uma lenda local sobre um jovem adolescente que matou a família, os pais e a irmã, num ato de vingança e loucura. Ele havia fugido de uma clínica psiquiátrica e vivido como um animal na floresta. Depois que o grupo de amigos decide se aventurar numa visita noturna à antiga casa onde ocorreu o massacre, a aparente tranqüilidade do local transforma-se num novo palco de mortes.
Com uma sinopse dessas, o que vem à mente é mais um filme “slasher” com os velhos clichês de sempre, ou seja, jovens que vão para uma casa no meio da floresta com uma lenda local sobre um assassino com paradeiro desconhecido. Tem até as tradicionais cenas com um cara esquisito (no caso, o dono de uma loja de conveniências), que tenta avisar os forasteiros sobre o perigo, a roda de amigos em volta da fogueira para contar histórias assustadoras, a visita imprudente dos jovens acéfalos ao local do crime sangrento, e até a descoberta de um diário secreto do assassino.
Mas, parece que o diretor inseriu todos esses elementos clichês de forma intencional, podendo servir como uma homenagem ao gênero ou talvez para desviar um pouco a atenção do espectador, fazendo-o pensar que se trata de apenas mais um “slasher” banal. Porém, há uma reviravolta no segmento final que é razoavelmente convincente, mudando o rumo dos acontecimentos, apesar de que a partir daí também uma nova sucessão de clichês vem à tona, com aquelas perseguições e correrias de sempre, além de um desfecho mais que previsível.
No final das contas, é uma produção de baixo orçamento com uma história trivial (acrescentando-se uma reviravolta, talvez o único ponto a favor), onde quase não há violência e as poucas cenas de mortes são filmadas “off-screen”.

“Sam´s Lake” (Sam´s Lake, Canadá / Estados Unidos / Coréia do Sul, 2005) # 471 – data: 29/12/07
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30 Dias de Noite (30 Days of Night, EUA, 2007)


Quando o homem se encontra com uma força que não pode destruir, ele destrói a si mesmo. Que praga são vocês.

30 Dias de Noite” (30 Days of Night, 2007) estreou nos cinemas brasileiros em 07/12/07, baseado numa história em quadrinhos de Steve Niles e filmado em locações na Nova Zelândia.
Um vilarejo gelado localizado no Alasca fica trinta dias sem a luz do sol durante o inverno, e seus habitantes tornam-se vítimas de um feroz grupo organizado de vampiros predadores que, sob a liderança de Marlow (Danny Huston), aproveitam a escuridão de um mês inteiro para se alimentarem dos humanos, que tentam sobreviver aos ataques, tendo à frente o xerife local, Eben Oleson (Josh Hartnett).
Os grandes destaques são o clima sufocante e o intenso sentimento de claustrofobia de um grupo encurralado de pessoas num lugar envolto em trevas e sem escapatória, enfrentando a fúria animalesca de vampiros sedentos por seu sangue, e as próprias criaturas da noite, extremamente violentas, que destroçam sem piedade suas vítimas e se comunicam num idioma próprio. Eles demonstram uma imensa distância daqueles vampiros aristocráticos e sedutores abordados mais frequentemente na literatura e cinema.

Levamos séculos para fazer com que acreditassem que nós somos um pesadelo. Não podemos dar uma razão para que suspeitem. Destruam todos!
Nota do Autor (02/11/10): Teve uma sequência em 2010 lançada no Brasil em DVD como “30 Dias de Noite 2: Dias Sombrios” (30 Days of Night: Dark Days), com a ambientação na cidade de Los Angeles.

“30 Dias de Noite” (30 Days of Night, EUA, 2007) # 470 – data: 26/12/07
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