O Emissário de Outro Mundo (Not of This Earth, EUA, 1957, PB)

 


"Você está prestes a se aventurar na dimensão do Impossível! Para entrar neste reino você deve libertar sua mente dos grilhões terrenos que a prendem! Se os eventos que você está prestes a testemunhar são inacreditáveis, é apenas porque sua a imaginação está acorrentada! Sente-se, relaxe e acredite... para que você possa atravessar a fronteira do tempo e do espaço... para aquela terra que você às vezes visita em seus sonhos!"

 

O produtor e diretor americano Roger Corman é conhecido como “O Rei dos Filmes B” por seu talento notável em fazer filmes bagaceiros de horror e ficção científica com orçamentos reduzidos, efeitos toscos e histórias bizarras. Um de seus primeiros filmes é “O Emissário de Outro Mundo” (Not of This Earth, 1957), com fotografia em preto e branco, roteiro do também especialista em tranqueiras divertidas Charles B. Griffith, e com apenas 67 minutos de duração.  

 

Um alienígena do planeta Davanna, Paul Johnson (Paul Birch), é enviado à Terra num aparelho de teletransporte com a missão de estudar os seres humanos e analisar a possibilidade de utilizar o sangue para tentar salvar sua raça de uma doença causada pela radiação após uma guerra nuclear. Se obter sucesso, a intenção é dominar a humanidade numa invasão hostil.

Ao chegar aqui, ele coleta o sangue das vítimas que são mortas apenas com o seu olhar fulminante de terríveis olhos brancos (lentes de contato de plástico bastante desconfortáveis, segundo o ator Paul Birch), que o obriga a usar óculos escuros todo o tempo, tornando-se um homem misterioso de poucas palavras, um assassino serial sem emoções e que tem aversão a ruídos, que afetam seus ouvidos.  

Para ajudá-lo na missão, ele contrata os serviços de Jeremy Perrin (Jonathan Haze, de “A Loja dos Horrores”, 1960, também de Corman), que faz de tudo, desde motorista a serviços gerais caseiros, e também recruta a enfermeira Nadine Storey (Beverly Garland), para cuidar de sua saúde e monitorar transfusões regulares de sangue humano, para avaliar os resultados e a possibilidade de ser a salvação para a sua espécie doente em vias de extinção e que ainda enfrenta também conflitos políticos pós guerra. O “emissário de outro mundo” também utiliza sob o seu controle hipnótico os serviços do médico Dr. F. W. Rochelle (William Roerick), para estudar o sangue alienígena e os testes de sangue humano na criatura “que não é desta Terra”.

Resta aos humanos descobrirem as reais intenções do alienígena e tentar evitar o sucesso de sua missão, contando também com a ajuda do policial Harry Sherbourne (Morgan Jones), namorado da enfermeira Nadine.   

 

“O Emissário de Outro Mundo” é outro filme bagaceiro divertido dos anos 1950 que explora o tema de invasão alienígena hostil, um assunto recorrente no cinema fantástico do período após a Segunda Guerra Mundial e durante a tensão da guerra fria entre EUA e URSS. É uma produção de orçamento minúsculo e filmada em poucos dias, especialidade de Corman, que aposta mais no roteiro bizarro de ficção científica com elementos de horror em vez de mostrar os tradicionais monstros bagaceiros. Pois temos apenas uma pequena criatura alienígena flutuante com formato de guarda-chuva, tosca ao extremo (criação de Paul Blaisdell), que tem uma pequena cena de ataque, pendurada por fios que são facilmente perceptíveis, garantindo a diversão dos apreciadores dessas tranqueiras.     

 

O filme está em domínio público e disponível legendado no “Youtube”. Também foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” na coleção “Clássicos Sci-Fi” Volume 3. Ganhou duas refilmagens, uma em 1988 chamada por aqui “Vampiro das Estrelas”, dirigido por Jim Wynorski e com a atriz Traci Lords, e outro em 1995 com o título “O Extraterrestre”, também produzido por Corman. 

 

Curiosamente, o ator Paul Birch abandonou o filme antes da conclusão, após desentendimentos graves com Roger Corman e as cenas finais do alienígena foram filmadas com outro ator, Lyle Latell, que é bem parecido fisicamente. Outro detalhe curioso é a escolha de um chinês aleatório para servir de vítima, sendo capturado e enviado no aparelho de raio transmissor para o planeta Davanna, com o objetivo de vivissecção pelos alienígenas, mas que foi esmagado pela máquina ao chegar no destino.

Foi lançado nos cinemas americanos na época num programa duplo com “A Ilha do Pavor” (Attack of the Crab Monsters), outra bagaceira de Corman com roteiro de Charles B. Griffith. 

 

(RR – 21/02/22)







A Invasão dos Discos Voadores (Earth vs. the Flying Saucers, EUA, 1956, PB)

 


“Povo da Terra... Atenção! Estamos falando com vocês de milhares de milhas além do seu planeta. Observem o Sol para um aviso. Depois de erupções no Sol, haverá oito dias e noites de convulsões meteorológicas. Depois disso, aterrissaremos na capital dos Estados Unidos. Que todas as nações estejam presentes em Washington para uma conferência pacífica.” – alerta alienígena

 

Para quem se lembra daqueles filmes nostálgicos de Ficção Científica que eram exibidos na “Sessão da Tarde” da TV Globo principalmente nos anos 70 e 80 do século passado, como “Planeta dos Macacos” (1968), “A Máquina do Tempo” (1960), “Viagem Fantástica” (1966), “O Dia Em Que a Terra Parou” (1951), “A Guerra dos Mundos” (1954), “Guerra Entre Planetas” (1955), “Planeta Proibido” (1956), entre muitos outros, vale registrar outra preciosidade daqueles bons tempos, “A Invasão dos Discos Voadores” (Earth vs. The Flying Saucers, 1956), dirigido por Fred F. Sears a partir de uma história de Curt Siodmak, e com efeitos especiais em “stop motion” de Ray Harryhausen.

 

O cientista Dr. Russell A. Marvin (Hugh Marlowe, que também esteve em “O Dia Em Que a Terra Parou” e “Vinte Milhões de Léguas a Marte”), com a ajuda da esposa e secretária Carol (Joan Taylor), lidera um projeto científico para o governo americano, que consiste no lançamento de foguetes (chamados de “pássaros”) para testes de exploração espacial. Depois que eles são interceptados e destruídos por seres extraterrestres, ocorre uma invasão hostil na Terra, através do ataque de discos voadores de uma tecnologia avançada, pilotados por alienígenas vestidos com uma armadura mecânica e eletrônica. Cabe ao cientista Dr. Marvin, o típico herói americano, auxiliado pelo Major Huglin (Donald Curtis), projetar uma arma sônica para o contra-ataque e salvar o planeta da ameaça alienígena.   

 

“A Invasão dos Discos Voadores” é um daqueles filmes divertidos do cinema fantástico da década de 1950, com fotografia original em preto e branco (existe uma versão colorizada por computador para o lançamento em DVD), e história típica de invasão alienígena associada à paranoia política da ameaça comunista aos Estados Unidos no conturbado período da guerra fria.

Curto (1h 23min) e bastante dinâmico, não há enrolação e as coisas acontecem rapidamente, com o surgimento dos tradicionais discos voadores de outro mundo invadindo nosso planeta, deixando evidente suas intenções hostis e impondo uma superioridade bélica com raios desintegradores. Para combatê-los, a humanidade, obviamente representada pela supremacia americana sempre propagada nos filmes, encontra a salvação através de canhões sônicos de alta frequência, que conseguem desestabilizar as naves e derrubá-las.

Tem a tradicional narração “em off”, um recurso muito utilizado nos filmes daquele período. A história é simples, utilizando-se de clichês largamente explorados no tema de invasão alienígena, e o que vale mesmo são as cenas antológicas dos ataques dos discos voadores em efeitos de “stop motion” de Ray Harryhausen, o mestre eterno dessa técnica, com resultados excelentes de puro entretenimento, principalmente pelas dificuldades da época da produção, sem a artificialidade da computação gráfica.

Os destaques certamente vão para as naves redondas do espaço sideral, os alienígenas em suas armaduras metálicas que lembram robôs, a sala de comando com computadores imensos repletos de luzes piscando e outros elementos característicos do cinema fantástico bagaceiro dos anos 1950. É um filme memorável, não tanto pela história clichê e previsível, enfatizando sempre o heroísmo americano como salvador da Terra, mas pelos incríveis efeitos com maquetes, bonecos e trucagens sempre bem executados e muito divertidos, num esforço de trabalho que deve ser enaltecido.     

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela “Classicline” com as versões em preto e branco e colorido. Aliás, como o filme está em domínio público, ambas as versões podem ser facilmente encontradas no “Youtube”, e com a dublagem clássica de quando foi exibido na televisão por aqui, com aquelas vozes dos dubladores que ficaram eternizadas em nossas memórias.

Curiosamente, a destruição de Washington pelos discos voadores foi homenageada em “Marte Ataca!” (1996), de Tim Burton.

 

(RR – 15/02/22)








The Brain Eaters (EUA, 1958, PB)

 


“Até há algumas semanas atrás, Riverdale era um lugar sossegado. Esse sábado, após a meia noite, o pesadelo já começou.”

– Glenn Cameron

 

Com produção executiva não creditada de Roger Corman, o “Rei dos Filmes B”, “The Brain Eaters” (1958) é uma tranqueira de orçamento minúsculo com fotografia em preto e branco, direção de Bruno VeSota (que é mais conhecido como ator), e roteiro de Gordon Urquhart, baseado em história não creditada de Robert A. Heinlein (autor de “Tropas Estelares”).

 

Um estranho e misterioso objeto conoidal surge nos arredores da pequena cidade de Riverdale, em Illinois, Estados Unidos, despertando a atenção das autoridades e do governo, coincidindo com a ocorrência de ataques e assassinatos na região.

O cientista Dr. Paul Kettering (Ed Nelson, que também é produtor do filme), com o auxílio da assistente Alice Summers (Joanna Lee) e do Dr. Wyler (David Hughes), está trabalhando para descobrir o que é o objeto. Eles também recebem a ajuda do casal Glenn Cameron (Alan Frost) e Elaine (Jody Fair), que foram os primeiros a encontrar o imenso cone. E para completar o time de investigação, vindo diretamente de Washington, temos o Senador Walter K. Powers (Cornelius Keefe) representando os interesses do governo.

Cabe a todos trabalharem em equipe para descobrirem a origem da nave, a real intenção das sinistras criaturas invasoras e impedir que o caos se espalhe para fora da pequena cidade.     

 

“The Brain Eaters” tem posters e trailers com frases sensacionalistas e título chamativo e exagerado, uma estratégia promocional típica dos filmes bagaceiros de FC&Horror da década de 1950. É bem curto (só 61 minutos), com sua história de paranoia de invasão comunista no estilo de “Vampiros de Almas” (1956), um tema bastante explorado no período da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética. Através de criaturas ancestrais de milhões de anos vindas do centro da Terra, que controlam a mente das pessoas com lesmas parasitas infiltradas no sistema nervoso na base do pescoço, criando escravos zumbis “devoradores de cérebro” sob seu comando, com a intenção de instaurar uma sociedade utópica na humanidade, alegando igualdade e ausência de conflitos ou violência.

As criaturas aparecem pouco e mais no terço final, com efeitos práticos tão bagaceiros que inevitavelmente tornam-se divertidos. Utilizando brinquedos simples de corda revestidos com pelos de casaco e com um par de antenas toscas. A nave em forma de cone também é um destaque, com seus quinze metros de altura e objeto de investigação para determinar sua origem ameaçadora.

Os erros de continuidade são comuns, alternando sem coerência cenas noturnas com diurnas, e não há qualquer suspense sobre quem está ou não controlado pelas parasitas, um fato que poderia ser melhor explorado.

 

Curiosamente, tem a participação rápida do ator Leonard Nimoy (1931 / 2015) em início de carreira, como o Prof. Cole, um sábio ermitão controlado pelas criaturas do título, numa cena única dentro do objeto em forma de cone, e irreconhecível num ambiente envolto em muita névoa. Ele que foi imortalizado na cultura pop pelo personagem Sr Spock, um alienígena vulcano que faz parte da tripulação da nave estelar Enterprise, na cultuada série de FC “Jornada nas Estrelas” (Star Trek, 1966/1969).

Outra curiosidade é o roteiro ser inspirado de forma não autorizada pela história “The Puppet Masters” (1951), do escritor Robert A. Heinlein (1907 / 1988). Ele processou os produtores, que foram obrigados a fazer um acordo fora da justiça. A mesma história foi adaptada também em 1994 em “Sob o Domínio dos Aliens”, de Stuart Orme e com Donald Sutherland.   

 

(RR – 06/02/22)