“A única coisa necessária para que o mal triunfe é os homens bons não fazerem nada.”
Essa frase, reproduzida antes dos créditos finais de “Lágrimas do Sol” (Tears of the Sun), consegue transmitir em poucas palavras uma mensagem verdadeira sobre a essência básica da humanidade, que teve e continua tendo sua história escrita com o sangue derramado em guerras estúpidas que somente contribuem para intensificar e confirmar lamentavelmente o incrível grau de irracionalidade presente em nossa espécie.
O filme entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 17/10/03, com direção de Antoine Fuqua, jovem cineasta com um currículo ainda pequeno onde destaca-se “Dia de Treinamento” (2001), com Denzel Washington e Ethan Hawke. O elenco principal é formado pelo experiente Bruce Willis e pela lindíssima italiana Monica Bellucci.
A história fictícia é ambientada na Nigéria, um país localizado nas imediações centrais da África, e que está sofrendo uma longa e violenta guerra civil impulsionada por interesses políticos e diferenças raciais. Os Estados Unidos, com sua política externa imperialista e sempre posicionada no patrulhamento dos vários conflitos ao redor do mundo, estão localizados com seu exército num porta-aviões na costa do continente africano.
Quando os conflitos internos estão atingindo o ápice, e o governo democrático é deposto com o assassinato da família presidencial nigeriana por um grupo militar rebelde que pretende tomar o poder com a força e violência, os americanos decidem enviar uma equipe de resgate da infantaria da Marinha para retirar alguns civis internacionais que estão trabalhando de forma voluntária num hospital católico improvisado numa pequena vila no meio da floresta. Um padre, algumas freiras e uma médica, a Dra. Kendricks (interpretada pela bela Monica Bellucci), são o alvo e objetivo da missão de resgate, a qual por sua vez, é liderada pelo Tenente Waters (Bruce Willis) com seu imediato Red (Cole Hauser), entre outros soldados.
As ações passam a se complicar perigosamente quando ao encontrarem a Dra. Kendricks, os soldados são informados por ela que o resgate só será realizado se seus pacientes refugiados e feridos da guerra forem junto com eles e deixados como exilados políticos na fronteira com o Camarões, um país vizinho. A partir daí, uma série de reviravoltas, revelações, tiroteios, explosões, cenas violentas de batalhas, massacres covardes de civis, atos exagerados de heroísmo, passam a conduzir a história transformando a missão de resgate numa jornada desesperada para fugir do inferno na selva, com uma luta incessante pela vida.
Em “Lágrimas do Sol” encontraremos todos os velhos e tradicionais clichês de filmes de guerra, colocando inevitavelmente os americanos como os eternos heróis e salvadores do mundo. Não faltaram as cenas exaltando a coragem e bravura dos soldados no campo de batalha, as frases previsíveis do tipo “vamos salvá-los ou morreremos tentando”, a idéia de sempre mostrar os militares rebeldes africanos apenas como vilões carniceiros e desumanos, etc. Esquecendo-se desses detalhes e analisando apenas o argumento central, como drama de guerra o filme funciona muito bem, através de convincentes e realistas cenas de batalha e de momentos de pura insanidade de um ambiente de guerra, manipulando as emoções do público aos mostrar a selvageria e bestialidade dos conflitos impulsionados por motivações banais como diferenças raciais e demonstração de poder.
Numa sequência em especial, o grupo de soldados americanos decide interceder num ataque selvagem de uma milícia rebelde a uma tribo, onde estavam dizimando as pessoas violentamente, ateando fogo em seus corpos e mutilando as mulheres, estuprando-as e cortando-lhes os seios inteiros para evitar de amamentarem seus filhos, tudo devido a incompatibilidade de raças. Outra cena marcante foi justamente a expressão do olhar do Tenente Waters nesse mesmo episódio do massacre de civis, com a câmera focalizando por longos segundos seu rosto marcado pelo cansaço, observando com a necessária frieza de um soldado em ação, as barbaridades que aconteciam a sua volta, elementos comuns de um ambiente dominado pela dor e a morte. Essa sequência lembra uma outra similar, porém bem mais efetiva e marcante, no filme anterior “Além da Linha Vermelha” (The Thin Red Line, 1998), sobre a Segunda Guerra Mundial, onde o soldado americano interpretado por Jim Caviezel está a todo momento observando o horror em estado absoluto materializado a sua volta, com uma impressionante expressão no olhar que vale mais do que cem palavras, em momentos antológicos e inesquecíveis do cinema retratando a insanidade de uma guerra.
Confesso que no passado, eu não era fã do ator Bruce Willis, principalmente pela sua participação na série de TV “A Gata e o Rato” (Moonlightning, 1985), ao lado da bela Cybill Shepherd. Depois veio a série de filmes que o consagrou, “Duro de Matar” (Die Hard), iniciada em 1988 e com a quarta parte já anunciada para 2004, onde ele interpretou o policial durão John McClane. Em ambos os casos, não foi despertado em mim algum interesse maior. Mas Bruce Willis passou a ser frequentemente requisitado para atuar em vários filmes “blockbuster” de ação. E em 1994, numa pequena mas bem intensa participação como coadjuvante no clássico moderno “Tempo de Violência” (Pulp Fiction, 1994), de Quentin Tarantino, e como ator principal em “O Último Matador” (Last Man Standing, 1996), meu conceito sobre ele aumentou significativamente. Desde então, mesmo não sendo grande admirador do ator Bruce Willis, tenho procurado acompanhar a maior parte de seus filmes como “O Falcão Está a Solta” (1991), “Os Doze Macacos” (1995), “O Quinto Elemento” e “O Chacal” (ambos de 1997), “Código para o Inferno”, “Armageddon” e “Nova Yorque Sitiada” (todos de 1998), “O Sexto Sentido” (1999), “Meu Vizinho Mafioso” e “Corpo Fechado” (ambos de 2000), “Vida Bandida” (2001) e “A Guerra de Hart” (2002), sendo que a característica principal notável em todos esses títulos é uma oscilação no nível de qualidade, variando entre bons filmes e outros pouco interessantes. Mas o trabalho do ator acabou mantendo uma boa regularidade, fazendo com que seu nome se transformasse numa atração de marketing, sendo um astro de grande apelo popular, muito conhecido pelo público e bem pago por suas participações. Bruce Willis nasceu em 1955 na Alemanha e sua carreira artística já inclui mais de 50 filmes.
Já a italiana Monica Bellucci, nascida em Perugia em 1968, certamente é uma das mais belas atrizes em atividade no mundo inteiro. Sua carreira ainda é curta, sendo descoberta recentemente pelo cinema americano. Entre os trabalhos anteriores, destacam-se algumas produções francesas como o ótimo horror “O Pacto dos Lobos” (2001), onde interpretou o papel da misteriosa prostituta Sylvia, a comédia “Asterix e Obelix – Missão Cleópatra” (2002), como a bela rainha do título, o perturbador suspense “Irreversível” (2002), como Alex, uma mulher que foi violentamente estuprada, e os dois últimos filmes da trilogia de “Matrix”, ambos produzidos em 2003, “Reloaded” e “Revolutions”, como a sensual Persephone. Sua beleza exerce um fascínio impressionante no público, mesmo interpretando uma personagem em condições precárias num ambiente hostil, como é o caso da Dra. Kendricks, sempre suada e suja tentando sobreviver no meio de uma guerra em um país pobre africano. Chego a afirmar que sua presença em “Lágrimas do Sol” já é motivo suficiente para despertar interesse em conhecer o filme. E é até totalmente compreensível a atitude não convencional do disciplinado e rígido Tenente Waters em desobedecer ordens superiores do Capitão Rhodes (Tom Skerrit), e alterar a missão de resgate, colocando em risco a vida de seus soldados, devido à influência da Dra. Kendricks com sua beleza enigmática. Eu faria o mesmo sem pensar. O próprio oficial americano revelou meio confuso a um soldado sob seu comando, quando questionado sobre a razão da mudança de planos no meio da missão, respondendo que “quando eu descobrir o motivo eu avisarei...”. A bela médica e um pouco de senso de humanidade certamente influenciaram em sua decisão...
“Lágrimas do Sol” (Tears of the Sun, 2003) – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 10/02/06)
Lágrimas do Sol (Tears of the Sun, Estados Unidos, 2003). Duração: 121 minutos. Direção de Antoine Fuqua. Roteiro de Alex Lasker e Patrick Cirillo. Produção de Ian Bryce, Mike Lobell e Arnold Rifkin. Música de Hans Zimmer. Fotografia de Mauro Fiore. Elenco: Bruce Willis (Tenente A. K. Waters), Monica Bellucci (Dra. Lena Fiore Kendricks), Cole Hauser (James “Red” Atkins), Eamonn Walker (Ellis “Zee” Pettigrew), Johnny Messner (Kelly Lake), Nick Chinlund (Michael “Slo” Slowenski), Paul Francis (Danny “Doc” Kelley), Charles Ingram (Demetrius “Silk” Owens), Chad Smith (Jason “Flea” Mabry), Tom Skerrit (Capitão Bill Rhodes), Malick Bowens (Coronel Idris Sadick), Sammi Rotibi (Arthur Azuka), Benjamin Ochieng (Coronel Emanuel Okeze), Fionnula Flanagan (Irmã Grace).
Essa frase, reproduzida antes dos créditos finais de “Lágrimas do Sol” (Tears of the Sun), consegue transmitir em poucas palavras uma mensagem verdadeira sobre a essência básica da humanidade, que teve e continua tendo sua história escrita com o sangue derramado em guerras estúpidas que somente contribuem para intensificar e confirmar lamentavelmente o incrível grau de irracionalidade presente em nossa espécie.
O filme entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 17/10/03, com direção de Antoine Fuqua, jovem cineasta com um currículo ainda pequeno onde destaca-se “Dia de Treinamento” (2001), com Denzel Washington e Ethan Hawke. O elenco principal é formado pelo experiente Bruce Willis e pela lindíssima italiana Monica Bellucci.
A história fictícia é ambientada na Nigéria, um país localizado nas imediações centrais da África, e que está sofrendo uma longa e violenta guerra civil impulsionada por interesses políticos e diferenças raciais. Os Estados Unidos, com sua política externa imperialista e sempre posicionada no patrulhamento dos vários conflitos ao redor do mundo, estão localizados com seu exército num porta-aviões na costa do continente africano.
Quando os conflitos internos estão atingindo o ápice, e o governo democrático é deposto com o assassinato da família presidencial nigeriana por um grupo militar rebelde que pretende tomar o poder com a força e violência, os americanos decidem enviar uma equipe de resgate da infantaria da Marinha para retirar alguns civis internacionais que estão trabalhando de forma voluntária num hospital católico improvisado numa pequena vila no meio da floresta. Um padre, algumas freiras e uma médica, a Dra. Kendricks (interpretada pela bela Monica Bellucci), são o alvo e objetivo da missão de resgate, a qual por sua vez, é liderada pelo Tenente Waters (Bruce Willis) com seu imediato Red (Cole Hauser), entre outros soldados.
As ações passam a se complicar perigosamente quando ao encontrarem a Dra. Kendricks, os soldados são informados por ela que o resgate só será realizado se seus pacientes refugiados e feridos da guerra forem junto com eles e deixados como exilados políticos na fronteira com o Camarões, um país vizinho. A partir daí, uma série de reviravoltas, revelações, tiroteios, explosões, cenas violentas de batalhas, massacres covardes de civis, atos exagerados de heroísmo, passam a conduzir a história transformando a missão de resgate numa jornada desesperada para fugir do inferno na selva, com uma luta incessante pela vida.
Em “Lágrimas do Sol” encontraremos todos os velhos e tradicionais clichês de filmes de guerra, colocando inevitavelmente os americanos como os eternos heróis e salvadores do mundo. Não faltaram as cenas exaltando a coragem e bravura dos soldados no campo de batalha, as frases previsíveis do tipo “vamos salvá-los ou morreremos tentando”, a idéia de sempre mostrar os militares rebeldes africanos apenas como vilões carniceiros e desumanos, etc. Esquecendo-se desses detalhes e analisando apenas o argumento central, como drama de guerra o filme funciona muito bem, através de convincentes e realistas cenas de batalha e de momentos de pura insanidade de um ambiente de guerra, manipulando as emoções do público aos mostrar a selvageria e bestialidade dos conflitos impulsionados por motivações banais como diferenças raciais e demonstração de poder.
Numa sequência em especial, o grupo de soldados americanos decide interceder num ataque selvagem de uma milícia rebelde a uma tribo, onde estavam dizimando as pessoas violentamente, ateando fogo em seus corpos e mutilando as mulheres, estuprando-as e cortando-lhes os seios inteiros para evitar de amamentarem seus filhos, tudo devido a incompatibilidade de raças. Outra cena marcante foi justamente a expressão do olhar do Tenente Waters nesse mesmo episódio do massacre de civis, com a câmera focalizando por longos segundos seu rosto marcado pelo cansaço, observando com a necessária frieza de um soldado em ação, as barbaridades que aconteciam a sua volta, elementos comuns de um ambiente dominado pela dor e a morte. Essa sequência lembra uma outra similar, porém bem mais efetiva e marcante, no filme anterior “Além da Linha Vermelha” (The Thin Red Line, 1998), sobre a Segunda Guerra Mundial, onde o soldado americano interpretado por Jim Caviezel está a todo momento observando o horror em estado absoluto materializado a sua volta, com uma impressionante expressão no olhar que vale mais do que cem palavras, em momentos antológicos e inesquecíveis do cinema retratando a insanidade de uma guerra.
Confesso que no passado, eu não era fã do ator Bruce Willis, principalmente pela sua participação na série de TV “A Gata e o Rato” (Moonlightning, 1985), ao lado da bela Cybill Shepherd. Depois veio a série de filmes que o consagrou, “Duro de Matar” (Die Hard), iniciada em 1988 e com a quarta parte já anunciada para 2004, onde ele interpretou o policial durão John McClane. Em ambos os casos, não foi despertado em mim algum interesse maior. Mas Bruce Willis passou a ser frequentemente requisitado para atuar em vários filmes “blockbuster” de ação. E em 1994, numa pequena mas bem intensa participação como coadjuvante no clássico moderno “Tempo de Violência” (Pulp Fiction, 1994), de Quentin Tarantino, e como ator principal em “O Último Matador” (Last Man Standing, 1996), meu conceito sobre ele aumentou significativamente. Desde então, mesmo não sendo grande admirador do ator Bruce Willis, tenho procurado acompanhar a maior parte de seus filmes como “O Falcão Está a Solta” (1991), “Os Doze Macacos” (1995), “O Quinto Elemento” e “O Chacal” (ambos de 1997), “Código para o Inferno”, “Armageddon” e “Nova Yorque Sitiada” (todos de 1998), “O Sexto Sentido” (1999), “Meu Vizinho Mafioso” e “Corpo Fechado” (ambos de 2000), “Vida Bandida” (2001) e “A Guerra de Hart” (2002), sendo que a característica principal notável em todos esses títulos é uma oscilação no nível de qualidade, variando entre bons filmes e outros pouco interessantes. Mas o trabalho do ator acabou mantendo uma boa regularidade, fazendo com que seu nome se transformasse numa atração de marketing, sendo um astro de grande apelo popular, muito conhecido pelo público e bem pago por suas participações. Bruce Willis nasceu em 1955 na Alemanha e sua carreira artística já inclui mais de 50 filmes.
Já a italiana Monica Bellucci, nascida em Perugia em 1968, certamente é uma das mais belas atrizes em atividade no mundo inteiro. Sua carreira ainda é curta, sendo descoberta recentemente pelo cinema americano. Entre os trabalhos anteriores, destacam-se algumas produções francesas como o ótimo horror “O Pacto dos Lobos” (2001), onde interpretou o papel da misteriosa prostituta Sylvia, a comédia “Asterix e Obelix – Missão Cleópatra” (2002), como a bela rainha do título, o perturbador suspense “Irreversível” (2002), como Alex, uma mulher que foi violentamente estuprada, e os dois últimos filmes da trilogia de “Matrix”, ambos produzidos em 2003, “Reloaded” e “Revolutions”, como a sensual Persephone. Sua beleza exerce um fascínio impressionante no público, mesmo interpretando uma personagem em condições precárias num ambiente hostil, como é o caso da Dra. Kendricks, sempre suada e suja tentando sobreviver no meio de uma guerra em um país pobre africano. Chego a afirmar que sua presença em “Lágrimas do Sol” já é motivo suficiente para despertar interesse em conhecer o filme. E é até totalmente compreensível a atitude não convencional do disciplinado e rígido Tenente Waters em desobedecer ordens superiores do Capitão Rhodes (Tom Skerrit), e alterar a missão de resgate, colocando em risco a vida de seus soldados, devido à influência da Dra. Kendricks com sua beleza enigmática. Eu faria o mesmo sem pensar. O próprio oficial americano revelou meio confuso a um soldado sob seu comando, quando questionado sobre a razão da mudança de planos no meio da missão, respondendo que “quando eu descobrir o motivo eu avisarei...”. A bela médica e um pouco de senso de humanidade certamente influenciaram em sua decisão...
“Lágrimas do Sol” (Tears of the Sun, 2003) – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 10/02/06)
Lágrimas do Sol (Tears of the Sun, Estados Unidos, 2003). Duração: 121 minutos. Direção de Antoine Fuqua. Roteiro de Alex Lasker e Patrick Cirillo. Produção de Ian Bryce, Mike Lobell e Arnold Rifkin. Música de Hans Zimmer. Fotografia de Mauro Fiore. Elenco: Bruce Willis (Tenente A. K. Waters), Monica Bellucci (Dra. Lena Fiore Kendricks), Cole Hauser (James “Red” Atkins), Eamonn Walker (Ellis “Zee” Pettigrew), Johnny Messner (Kelly Lake), Nick Chinlund (Michael “Slo” Slowenski), Paul Francis (Danny “Doc” Kelley), Charles Ingram (Demetrius “Silk” Owens), Chad Smith (Jason “Flea” Mabry), Tom Skerrit (Capitão Bill Rhodes), Malick Bowens (Coronel Idris Sadick), Sammi Rotibi (Arthur Azuka), Benjamin Ochieng (Coronel Emanuel Okeze), Fionnula Flanagan (Irmã Grace).