Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003)


Mais de 3000 ilhas de paraíso. Para alguns isto é uma benção. Para outros... isto é uma maldição

O cinema americano nos últimos anos tem sido marcado por várias tendências modistas que estão sendo responsáveis por um impulso de produção de uma infinidade de filmes comerciais com orçamentos maiores. Existem aqueles adaptados por exemplo em personagens famosos dos quadrinhos (como “X-Men”, “Homem-Aranha”, “O Demolidor” e “Hulk”), ou aqueles baseados em vídeo games (como “Final Fantasy”, “Mortal Kombat”, “Resident Evil – O Hóspede Maldito” e “Lara Croft: Tomb Raider”), ou ainda a onda dos “crossovers” (cruzamentos entre personagens de filmes diferentes, como “Freddy x Jason” e “Alien x Predator”), e finalmente aqueles inspirados em atrações do famoso parque de diversões “DisneyWorld”, como a comédia “Beary e os Ursos Caipiras”, o humor negro “The Haunted Mansion” e a aventura de “capa-e-espada” com elementos sobrenaturais “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra” (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl), que estreou nos cinemas brasileiros em 29/08/03.
Com um orçamento generoso de US$ 140 milhões, o filme já arrecadou bem mais do que o dobro disso comprovando a eficácia da fórmula empregada, oferecendo ao grande público o que ele exatamente está esperando, ou seja, uma mistura de aventura com um pouco de horror “light”, e muita diversão numa história simples e despretensiosa. A direção é de Gore Verbinski, um cineasta em evidência no momento, vindo do bem sucedido filme de horror “O Chamado”, e a produção é do especialista em fitas de ação Jerry Bruckheimer, responsável por uma infinidade de super produções como “Ases Indomáveis”, “A Rocha”, “Armageddon”, “60 Segundos”, “Pearl Harbor” e “Falcão Negro em Perigo”, entre outros.
“Piratas do Caribe” pode ser considerado como um típico “blockbuster” que tem como prioridade maior a alta lucratividade nas salas de exibição e a conquista da simpatia popular através de uma história sem complicações, porém com muita aventura e repleta de efeitos especiais, objetivando um entretenimento sem compromisso. Seu argumento básico, uma história de piratas dos mares, já há muito tempo não era utilizado com frequência pelo cinema, cujos filmes dessa temática tiveram seu ápice entre as décadas de 1930 e 50. Mais recentemente tivemos “Piratas” (1986), de Roman Polanski, e “A Ilha da Garganta Cortada” (1995), de Renny Harlin. Porém, mesmo passado muito tempo, o gênero foi novamente bem recepcionado garantindo o sucesso do filme, para a alegria dos executivos do estúdio “Walt Disney”.

No século XVII, quando os mares ainda eram dominados por navios de piratas, o excêntrico Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp), comandante do barco “Pérola Negra”, enfrenta um motim e é abandonado numa ilha. Seu navio passa então a ser conduzido pelo Capitão Barbossa (Geoffrey Rush) e sua tripulação. Numa certa noite eles invadem a tranquila cidade de Port Royal, no Caribe, causando grande desordem e sequestrando a bela Elizabeth Swann (Keira Knightley), filha do governador local Weatherby (interpretado pelo veterano Jonathan Pryce).
Conseguindo escapar da ilha, Sparrow também chega na cidade à beira do mar e conhece o jovem Will Turner (Orlando Bloom), que é um amigo de infância da moça sequestrada, e que sem saber inicialmente, é também filho de um lendário pirata, mas que tornou-se um honesto ferreiro e hábil fabricante de espadas. Ambos decidem fazer uma aliança e partem então em busca da recuperação do navio “Pérola Negra”, além de tentar encontrar um tesouro perdido em ouro asteca, e resgatar a jovem das mãos dos piratas. E atrás em seus rastros, aparece também um grupo de soldados liderados pelo aristocrático Comodoro Norrington (Jack Davenport), noivo encomendado de Elizabeth.
Em meio a uma série de revelações, muita conversa, correrias e várias lutas, eles descobrem que na verdade os piratas são fantasmas amaldiçoados pela imortalidade, navegando como zumbis pelos oceanos até o final dos tempos, transformando-se em criaturas horrendas esqueléticas e sobrenaturais durante a noite sob a luz do luar, e cuja intenção é anular a antiga maldição utilizando o sangue da jovem Elizabeth, e o poder mágico de um medalhão de ouro que ela carrega em seu pescoço.

Pessoalmente, o gênero de cinema abordando a temática dos piratas dos mares nunca me agradou plenamente, não despertando grande interesse, e “Piratas do Caribe” não foi uma exceção, pois basicamente destaco apenas dois fatos dignos de nota no filme: os efeitos especiais com os piratas amaldiçoados mortos-vivos, com suas verdadeiras feições reveladas à noite, pela luz do luar, e a interpretação excêntrica do talentoso ator Johnny Depp, que concentra para si toda a atenção nas inúmeras cenas em que aparece. Entretanto, uma série de pontos negativos superaram os acertos como a longa duração (duas horas e vinte minutos), que deixou o filme cansativo; as inevitáveis tentativas de piadas, que não conseguiram seu objetivo com êxito (com exceção de alguns momentos engraçados com o Capitão Jack Sparrow); e principalmente as sequências super previsíveis com a obrigação de sempre concluir as tramas com os tradicionais desfechos felizes, para agradar o grande público. Em resumo, o filme é apenas mais um passatempo dispensável, sem nenhum atrativo maior senão encher de dinheiro os bolsos dos executivos do cinema americano, e que se esquece rapidamente após sua exibição.

No elenco destacam-se o cultuado e talentoso ator Johnny Depp e o jovem Orlando Bloom, num início de carreira que parece ser promissor. O americano Depp nasceu em 1963 e seu primeiro trabalho foi uma ponta no filme “A Hora do Pesadelo” (1984), aparecendo em seguida como um dos soldados do excepcional drama da guerra do Vietnã “Platoon” (1986), de Oliver Stone. Sua participação no cinema fantástico é bem significativa, atuando em filmes importantes como “Edward Mãos-de-Tesoura” (1990), tendo o privilégio de contracenar com o mestre Vincent Price pouco antes de sua morte, “Ed Wood” (1994), junto com o veterano Martin Landau, “O Último Portal” (1999), com o também experiente Frank Langella, “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999), novamente com uma ponta de Martin Landau (não creditada) e participação especial de Christopher Lee, “Do Inferno” (2001), com história inspirada em uma “graphic novel” de Alan Moore. Depp trabalhou sob o comando de diretores consagrados como Tim Burton e Roman Polanski, e “A Janela Secreta” (2004), baseado em novela de Stephen King. Quanto ao jovem inglês Orlando Bloom, nascido em 1977, apesar da curta carreira, ele é bem conhecido devido a sua significativa participação como o elfo Legolas Greenleaf, na famosa trilogia de “O Senhor dos Anéis”, baseada na obra literária de J. R. R. Tolkien e dirigida por Peter Jackson.

“Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra” (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl, 2003) – avaliação: 5 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/02/06)

Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl, Estados Unidos, 2003). Walt Disney / Touchstone / Buena Vista. Duração: 143 minutos. Direção de Gore Verbinski. Roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio. Produção de Jerry Bruckheimer. Produção Executiva de Paul Deason, Chad Oman, Pat Sandston, Mike Stenson e Bruce Hendricks. Música de Klaus Badelt. Fotografia de Dariusz Wolski. Efeitos Especiais de Terry D. Frazee. Elenco: Johnny Depp (Jack Sparrow), Orlando Bloom (Will Turner), Geoffrey Rush (Capitão Barbossa), Keira Knightley (Elizabeth Swann), Lee Arenberg (Pintel), Brye Cooper (Mallot), Jonathan Pryce (Governador Weatherby Swann), Mackenzie Crook (Ragetti), Jack Davenport (Comodoro Norrington), Damian O’Hare (Tenente Gillette), Giles New (Murtogg), Angus Barnett (Mullroy), David Bailie (Cotton), Michael Berry Jr. (Twigg), Trevor Goddard (Grapple), Kevin McNally (Joshamee Gibbs), Paula J. Newman (Estrella), Isaac C. Singleton Jr. (Bo’sun).