Rios Vermelhos (2000)


Somos os mestres e os escravos. Estamos em toda parte e lugar nenhum. Os Mestres dos Rios Vermelhos

A oportunidade em se conhecer um trabalho produzido fora dos Estados Unidos sempre é bem vinda. Mais um exemplo é o filme policial com elementos de horror “Rios Vermelhos” (Les Rivières Pourpres / The Crimson Rivers, França, 2000), dirigido por Mathieu Kassovitz e com história baseada no livro “Red Blood Rivers”, de Jean-Christophe Grangé. Mesmo que nesse caso específico sejam apresentadas poucas diferenças em relação ao cinema convencional do gênero produzido em Hollywood, ainda há um interesse especial em se conhecer uma obra proveniente da Europa, onde o cinema fantástico sempre esteve bem representado, principalmente através dos filmes produzidos por países como Inglaterra, França, Itália e Espanha, entre outros.

A história de “Rios Vermelhos” começa na pequena cidade de Guernon, no interior da França, onde ocorre um assassinato bizarro de um jovem, com requintes de crueldade e tortura, próximo a uma tradicional universidade, a mais importante instituição do local e uma das mais conhecidas na Europa, com 1.200 alunos e uma grande estrutura, tendo um hospital e recursos de abastecimento próprios, como água e energia elétrica. O violento crime abala os habitantes da cidade, com a vítima apresentando cortes profundos no corpo, as mãos amputadas e os olhos retirados, além de ser encontrado pendurado no alto de um penhasco. Para investigar o mistério envolvendo o caso é enviado de Paris um veterano policial, Comissário Pierre Niémans (Jean Reno), profissional experiente e que tem um curioso medo de cachorros.
Enquanto isso, numa outra cidade distante cem quilômetros dali, um outro policial mais jovem, Tenente Max Kerkerian (Vincent Cassel), está também participando de uma investigação, dessa vez sobre a violação de um túmulo de uma garota morta há dezoito anos atrás, com suásticas nazistas pichadas no mausoléu, e a suposta relação desse fato com o sumiço de seus documentos pessoais que estavam arquivados numa escola, além das ações de um grupo local de skinheads. A criança morreu de forma misteriosa num atropelamento por um caminhão e após o incidente sua mãe enlouqueceu e se internou num convento, confinada num quarto escuro.
Ambos os policiais acabam se encontrando e uma vez cruzando informações eles descobrem a existência de relações entre os crimes, passando a unir seus esforços para um trabalho de equipe na solução do mistério. Mais mortes brutais acontecem, e as investigações complexas envolvem outras pessoas como o médico oftalmologista Dr. Chernezé (Jean-Pierre Cassel) e a professora Fanny (Nadia Farès), além de uma série de segredos obscuros e conspiração envolvendo a universidade e ideais nazistas por trás dos sangrentos assassinatos.

“Rios Vermelhos” é mais um thriller policial de horror, trazendo basicamente um assassino habilidoso na arte de matar e o desgastante conflito com seus perseguidores implacáveis, num gênero liderado pelo excepcional “Seven – Os Sete Crimes Capitais” (95), com Morgan Freeman e Brad Pitt. De lá para cá, só para citar alguns bons exemplos de filmes similares, vieram em seu rastro “O Principal Suspeito” (98), com Nick Nolte, “Ressurreição – Retalhos de Um Crime” (99), com Christopher Lambert, “O Colecionador de Ossos” (99), com Denzel Washington e Angelina Jolie, “O Observador” (The Watcher, 2000), com Keanu Reeves, “Psicopata Americano” (American Psycho, 2000), com Christian Bale, “Insônia” (2002), com Al Pacino e Robin Williams, entre outros. Todos os filmes procuram explorar em seus argumentos as conturbadas relações entre o psicopata e seus rivais, policiais detetives determinados em seus ofícios, mas também exaustos pela enorme pressão psicológica envolvendo as investigações.
Seguindo a mesma idéia que geralmente acontece nos filmes desse gênero, “Rios Vermelhos” apresenta todos aqueles clichês característicos como a dupla de policiais investigando uma série de mortes violentas, formada por um detetive mais experiente com seu parceiro mais jovem e impetuoso, os tiroteios, as perseguições de carro, as lutas corporais, as reviravoltas e surpresas na condução das investigações, os assassinatos com requintes de crueldade, habilmente planejados, e todos os elementos já conhecidos pelos apreciadores desses tipos de filmes.
Porém, mesmo não apresentando nada realmente original, ou que já não se tenha visto em filmes anteriores, “Rios Vermelhos” cumpre a sua função principal de entreter com uma história interessante que atrai o espectador a participar da investigação dos assassinatos juntamente com os policiais, descobrindo aos poucos as pistas, informações, revelações e diversas situações, que uma vez estudadas e relacionadas entre si, poderiam levar a desvendar o mistério e solucionar o caso.
Como destaques positivos, vale ressaltar os créditos iniciais apresentados sobre imagens de um cadáver com profundos cortes no corpo, assim como o bom trabalho de fotografia realçando a beleza natural e as paisagens das montanhas geladas francesas. E uma curiosidade interessante é a frase verdadeira dita pelo Dr. Chernezé ao Comissário Niémans, quando este demonstrou um desconfortável sentimento de medo perante um grupo de cães: “Só se teme uma coisa no cachorro. O dono”.

“Rios Vermelhos” recebeu o nome de “The Crimson Rivers” em sua distribuição nos Estados Unidos, e em 2004 está previsto o lançamento de uma continuação chamada “Les Rivières Pourpres 2 – Les Anges de L’Apocalypse” ou “Crimson Rivers 2: Angels of the Apocalypse”, com direção de Olivier Dahan e roteiro de Luc Besson, além do retorno de Jean Reno no papel do policial Niémans.
O cineasta francês Mathieu Kassovitz nasceu em 1967 e já atuou também na frente das câmeras, tendo uma significativa filmografia como ator. Ele apareceu em algumas pequenas e rápidas cenas não creditadas em “Rios Vermelhos”. E em 2003, ele dirigiu o thriller psicológico “Na Companhia do Medo” (Gothika), com Halle Berry e Penélope Cruz. O elenco é liderado pelo experiente ator marroquino Jean Reno, nascido em 1948 e com mais de 50 trabalhos em seu carreira. Entre seus filmes americanos, estão “Missão Impossível” (96), “Godzilla” e “Ronin” (ambos de 98), e “Rollerball” (2002), uma fraca refilmagem de um filme homônimo de FC de 1975. Completando a dupla de protagonistas principais, temos o francês Vincent Cassel, nascido em 1966 e com dois outros filmes franceses muito interessantes em seu currículo: “O Pacto dos Lobos” (2001) e “Irreversível” (2002). Curiosamente, em “Rios Vermelhos” ele atuou pela primeira vez ao lado de seu pai, Jean-Pierre Cassel, que interpretou o papel do médico Dr. Bernard Chernezé, e que é um ator muito famoso em seu país.

Feliz daquele que pode penetrar na razão secreta das coisas

“Rios Vermelhos” (Les Rivières Pourpres / The Crimson Rivers, 2000) # 224 – data: 21/02/04 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/02/06)

Rios Vermelhos (Les Rivières Pourpres / The Crimson Rivers, França, 2000). Duração: 106 minutos. Direção de Mathieu Kassovitz. Roteiro de Jean-Christophe Grangé e Mathieu Kassovitz, baseado no livro “Red Blood Rivers”, de Jean-Christophe Grangé. Produção de Alain Goldman. Música de Bruno Coulais. Fotografia de Thierry Arbogast. Edição de Maryline Monthieux. Desenho de Produção de Thierry Flamand. Elenco: Jean Reno (Comissário Pierre Niémans), Vincent Cassel (Tenente Max Kerkerian), Nadia Farès (Fanny Ferreira), Dominique Sanda (Freira Andrée), Karim Belkhadra (Capitão Dahmane), Jean-Pierre Cassel (Dr. Bernard Chernezé), Didier Flamand (Diretor de educação), François Levantal (Cirurgião), Francine Bergé (Diretora da escola).