Dia 1: Exposição – Dia 3: Infecção – Dia 8: Epidemia – Dia 20: Evacuação – Dia 28: Devastação.
Dentre os diversos sub-gêneros do horror, os filmes abordando a temática dos “mortos-vivos” ou “zumbis” sempre despertaram uma grande atenção nos admiradores do estilo. Desde o lançamento em 1968 do cultuado clássico em preto e branco “A Noite dos Mortos-Vivos”, de George A. Romero, os filmes de zumbis assassinos e sedentos por carne humana passaram a ser produzidos em grande quantidade, povoando a imaginação dos fãs do cinema fantástico com os piores pesadelos. Romero acabou criando uma quadrilogia que ainda teve os consagrados “O Despertar dos Mortos” (1978), “O Dia dos Mortos” (1985) e “Terra dos Mortos” (2005), todos carregados de críticas pertinentes, o filme de 78 sobre a sociedade de consumo, o de 85 sobre a intransigência militar, e o de 2005 sobre a diferença de classes sociais, e seus filmes serviram de inspiração para cineastas talentosos como o italiano Lucio Fulci (falecido em 1996) exercitarem suas habilidades, ele que dirigiu um dos mais violentos exemplares do gênero, “Zombie Flesh-Eaters” (1979), lançado no Brasil em DVD pela “Works” como “Zombie – A Volta dos Mortos”.
Insistindo em apostar nessa fórmula e acreditando que o tema, mesmo apesar de desgastado e já muito explorado, ainda poderia render uma boa história de zumbis adaptada para os tempos modernos, o diretor inglês Danny Boyle lançou “Extermínio” (28 Days Later), que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 25/07/03, chegando um pouco atrasado para nós, já que estreou na Inglaterra em Novembro de 2002.
Com roteiro de Alex Garland, autor do livro que inspirou o roteiro de “A Praia” (2000), também dirigido por Danny Boyle, o filme mostra um laboratório de pesquisas com macacos utilizados como cobaias em experiências secretas, sendo invadido por um grupo de ativistas que exigem que os animais sejam libertados. Uma vez desconsiderando a informação de um técnico local de que os macacos estariam contaminados com um vírus letal transmissor da raiva, as jaulas são abertas e uma epidemia mortal se espalha pela cidade de Londres, numa enorme velocidade de devastação.
Em exatos vinte e oito dias depois (daí o título original do filme), um jovem entregador de encomendas chamado Jim (Cillian Murphy), desperta de um coma na UTI de um hospital, devido a um acidente de carro. Desorientado, ele descobre que o prédio está misteriosamente vazio e sai sem rumo pelas ruas desertas da cidade, encontrando desordem e cadáveres espalhados, além de horríveis criaturas que tentam devorá-lo, infectadas pelo vírus libertado no laboratório e que se transmite pelo sangue e saliva.
Jim acaba encontrando outros sobreviventes, Selina (Naomie Harris) e Mark (Noah Huntley), que o levam para um local seguro e informam sobre o caos instaurado na Inglaterra com a proliferação dos “infectados”, que aparecem apenas à noite para se alimentarem. Os três jovens partem pela procura dos pais de Jim na inútil tentativa de encontrá-los com vida, e após um confronto mortal com as criaturas “infectadas”, encontram outros dois remanescentes da população ainda ilesos da ação do vírus, na figura de um pai, Frank (Brendan Gleeson), e sua filha adolescente, Hannah (Megan Burns), que estão refugiados no alto de um edifício.
O grupo formado tenta sobreviver em meio ao caos até receberem informações através de uma mensagem gravada captada por um rádio, sobre as atividades de um grupo militar comandado pelo major Henry West (Chistopher Eccleston), que está convocando a todos os sobreviventes que se encontram isolados para se juntarem a ele na tentativa de combater a praga dos zumbis, receberem proteção e restabelecer a ordem. Eles decidem ir ao encontro dos militares de carro numa jornada perigosa pela cidade devastada, com direito a uma tensa seqüência passada no interior de um túnel escuro, sem saberem que ainda enfrentariam problemas reveladores com os militares, bem maiores que a ameaça dos próprios “infectados” canibais.
“Extermínio” lembra raridades do cinema fantástico do passado como “Mortos Que Matam” (The Last Man on Earth, 1964), com o lendário Vincent Price, e sua refilmagem “A Última Esperança Sobre a Terra” (The Omega Man, 1971), com Charlton Heston, ambos baseados no livro “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson, além de outros similares mais recentes como “Resident Evil – O Hóspede Maldito” (2002). Como já era esperado, o filme de Danny Boyle apresenta muitos dos elementos mais básicos e característicos presentes em filmes de zumbis e similares. Historicamente a motivação para a criação da legião de mortos-vivos do cinema teve várias origens diferentes exploradas pela infinidade de filmes do tema, desde a contaminação por uma substância oriunda de um meteoro vindo do espaço, passando por rituais de magia negra e vodu, até a ação nociva de misteriosos gases letais de experiências secretas do governo. Só que no caso de “Extermínio”, as criaturas foram geradas pela contaminação de um vírus moderno de laboratório que ao invés de originar uma doença mortal, acaba na verdade despertando a raiva e a fúria da humanidade, sentimentos primitivos sempre existentes em nossa espécie e apenas camuflados por aqueles que conseguiam controlá-los, enfatizando o quanto perigosos e “irracionais” os seres humanos podem ser. E uma das características que diferenciam os “infectados” desse filme para os tradicionais zumbis apresentados em “A Noite dos Mortos-Vivos” por exemplo, é a agilidade e rapidez nos movimentos, tornando muito mais perigosos os seus ataques fatais.
A maior e mais oportuna crítica presente no argumento de “Extermínio” é justamente a deterioração da racionalidade humana ao logo de sua história, chegando a uma condição duvidosa de civilidade nesses tempos modernos de guerras violentas por interesses econômicos e ameaças de conflitos nucleares e armas químicas. Pois em determinado momento do filme, ocorre uma inversão de valores entre os perigosos “infectados irracionais” e os remanescentes humanos, evidenciando a essência maléfica da humanidade, com seus últimos descendentes fazendo da insanidade e violência seu instinto básico de sobrevivência em meio ao caos de uma sociedade em desordem.
A primeira metade do filme é claramente superior evidenciando as conseqüências depressivas de um apocalipse, com cidades inteiras vazias, dominadas apenas à noite pelos “infectados”. A partir do momento em que o pequeno grupo de sobreviventes entra em contato com uma base militar situada próxima à Londres, a intensidade dramática da história diminui ao esbarrar em alguns clichês previsíveis, principalmente quando ocorre uma mudança muito rápida e exagerada de comportamento com o personagem Jim, que era um simples entregador de encomendas despertado de um coma, evidenciando situações que podem ser consideradas inverossímeis, apesar de toda a agressividade hostil do novo ambiente criado pela disseminação do vírus letal da raiva. E o desfecho não foi plenamente satisfatório, sendo previsível e de pequeno impacto, e que poderia ser explorado de forma mais sombria e não convencional. Apesar desses detalhes, “Extermínio” pode ser considerado mais um grande filme a abordar a temática de zumbis através de seus violentos “infectados” dos tempos modernos, sendo juntamente com “O Chamado” (The Ring), os melhores filmes de horror lançados nos cinemas brasileiros até aproximadamente a primeira metade do ano de 2003.
O diretor Danny Boyle nasceu em 1956 em Manchester, Inglaterra, e entre seus trabalhos anteriores destacam-se “Cova Rasa” (Shallow Grave, 1994), “Trainspotting – Sem Limites” (Traispotting, 1996) e “A Praia” (The Beach, 2000).
O elenco de “Extermínio” é em sua maioria composto por atores desconhecidos, exceto por Brendan Gleeson que foi visto recentemente em “Gangues de Nova York” (2002), de Martin Scorsese, e por Christopher Ecclestone, que participou de “ExistenZ” (1999), de David Cronenberg, e “Os Outros” (2001), de Alejandro Amenábar.
Curiosamente, para a gravação das cenas com a cidade de Londres deserta, simulando uma devastação causada pela proliferação de um vírus mortal, a equipe de produção realizava sempre as filmagens de manhã bem cedo, antes do início do habitual tumulto de carros e pessoas, típico de uma grande cidade, recebendo o auxílio da polícia para a organização das atividades. E um fator positivo nesse caso foi a utilização de vídeo digital para o filme, cujo processo de filmagem é muito mais rápido e prático, eliminando grande parte do trabalho e permitindo agilidade para filmar as cenas nas ruas desertas da cidade. Como resultado, temos imagens sombrias e mais associadas a um cenário urbano pós-apocalíptico. A propósito, um dos destaques de “Extermínio” é justamente uma seqüência onde o protagonista caminha desorientado numa Londres totalmente vazia, com carros tombados e sujeira para todos os lados, num incrível clima de depressão.
Aliás, todo filme que mostra situações ambientadas em cenários urbanos desertos e abandonados sempre causa um forte impacto, transmitindo um amargo sentimento de desolação e inevitavelmente impressionando o público com a possibilidade de um evento depressivo de destruição. O cinema já produziu dezenas de exemplos dentro dessa idéia e somente para ilustração alguns poucos casos podem ser conferidos em filmes recentes como “A Dança da Morte” (1994), “A Reconquista” (2000), “Vanilla Sky” (2001), e “Reino de Fogo” (2002), ou outros mais antigos como o super obscuro e raríssimo “A Invasão do Centro da Terra” (Invasion From Inner Earth, 1974), de Bill Rebane, além de episódios de séries de TV como o piloto da antiga “Além da Imaginação” (1959/64), chamado “Onde Estão Todos?”, ou “O Dia em que a Terra Acabou” de “Viagem ao Fundo do Mar” (1965/69), ou ainda mais recentemente com a excelente série “Night Visions” (2001), através do episódio “O Labirinto”, dirigido por Tobe Hooper. A idéia do fim da raça humana, com cidades inteiras vazias, destruídas ou não, certamente é uma das premissas mais apavorantes para um argumento do mais absoluto estado de horror.
Com um orçamento modesto de US$ 15 milhões, o filme surtiu um resultado satisfatório para os produtores, e numa astuta jogada de marketing eles informaram que algumas cópias exibidas nos cinemas americanos vieram com um extra interessante na forma de um final alternativo, exibido logo após os letreiros finais.
Os produtores revelaram também que o vírus de “Extermínio”, responsável pela contaminação da raça humana transformando as pessoas “infectadas” em criaturas raivosas, foi inspirado em doenças dos tempos modernos como a “aids” e o “ebola”, de origens misteriosas e que tem sido um dos grandes males da civilização dos tempos modernos, dizimando milhares de pessoas ao redor do planeta.
O título nacional “Extermínio” foi até bem escolhido, tendo relações diretas com a história do filme, porém ainda assim, o ideal seria apenas traduzir literalmente o original para “28 Dias Depois”.
O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Fox”, trazendo uma grande quantidade de informações especiais como a exibição do filme com a opção de comentários em áudio do diretor Danny Boyle e do roteirista Alex Garland (sem legendas), cenas excluídas (legendado) com comentários de Boyle e Garland (sem legendas), final alternativo (legendado), making of (legendado), galeria de produção com comentários (sem legendas), galeria de fotos com comentários (sem legendas), storyboards animados do website original, vídeo musical Jacknife Lee, e trailers.
Observação: Em 01/06/07 estreou nos cinemas brasileiros a continuação “Extermínio 2” (28 Weeks Later, Inglaterra, 2007), com direção de Juan Carlos Fresnadillo e com Danny Boyle e Alex Garland na produção executiva e Robert Carlyle no elenco.
“Extermínio” (28 Days Later, 2002) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/02/06)
Extermínio (28 Days Later, Estados Unidos / Inglaterra / Holanda, 2002). Fox Searchlight Pictures. Duração: 112 minutos. Direção de Danny Boyle. Roteiro de Alex Garland. Produção de Andrew Macdonald, Greg Caplan, Simon Fallon e Robert How. Fotografia de Anthony Dod Mantle. Música de John Murphy e Brian Eno. Edição de Chris Gill. Efeitos Especiais de Cliff Wallace. Elenco: Cillian Murphy (Jim), Naomie Harris (Selena), Noah Huntley (Mark), Brendan Gleeson (Frank), Megan Burns (Hannah), Christopher Ecclestone (Major Henry West), Alex Palmer, Bindu De Stoppani, Jukka Hiltunen, David Schneider, Toby Sedgewick, Christopher Dunne, Emma Hitching, Alexander Delamere, Kim McGarrity, Justin Hackney, Luke Mably, Marvin Campbell.
Dentre os diversos sub-gêneros do horror, os filmes abordando a temática dos “mortos-vivos” ou “zumbis” sempre despertaram uma grande atenção nos admiradores do estilo. Desde o lançamento em 1968 do cultuado clássico em preto e branco “A Noite dos Mortos-Vivos”, de George A. Romero, os filmes de zumbis assassinos e sedentos por carne humana passaram a ser produzidos em grande quantidade, povoando a imaginação dos fãs do cinema fantástico com os piores pesadelos. Romero acabou criando uma quadrilogia que ainda teve os consagrados “O Despertar dos Mortos” (1978), “O Dia dos Mortos” (1985) e “Terra dos Mortos” (2005), todos carregados de críticas pertinentes, o filme de 78 sobre a sociedade de consumo, o de 85 sobre a intransigência militar, e o de 2005 sobre a diferença de classes sociais, e seus filmes serviram de inspiração para cineastas talentosos como o italiano Lucio Fulci (falecido em 1996) exercitarem suas habilidades, ele que dirigiu um dos mais violentos exemplares do gênero, “Zombie Flesh-Eaters” (1979), lançado no Brasil em DVD pela “Works” como “Zombie – A Volta dos Mortos”.
Insistindo em apostar nessa fórmula e acreditando que o tema, mesmo apesar de desgastado e já muito explorado, ainda poderia render uma boa história de zumbis adaptada para os tempos modernos, o diretor inglês Danny Boyle lançou “Extermínio” (28 Days Later), que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 25/07/03, chegando um pouco atrasado para nós, já que estreou na Inglaterra em Novembro de 2002.
Com roteiro de Alex Garland, autor do livro que inspirou o roteiro de “A Praia” (2000), também dirigido por Danny Boyle, o filme mostra um laboratório de pesquisas com macacos utilizados como cobaias em experiências secretas, sendo invadido por um grupo de ativistas que exigem que os animais sejam libertados. Uma vez desconsiderando a informação de um técnico local de que os macacos estariam contaminados com um vírus letal transmissor da raiva, as jaulas são abertas e uma epidemia mortal se espalha pela cidade de Londres, numa enorme velocidade de devastação.
Em exatos vinte e oito dias depois (daí o título original do filme), um jovem entregador de encomendas chamado Jim (Cillian Murphy), desperta de um coma na UTI de um hospital, devido a um acidente de carro. Desorientado, ele descobre que o prédio está misteriosamente vazio e sai sem rumo pelas ruas desertas da cidade, encontrando desordem e cadáveres espalhados, além de horríveis criaturas que tentam devorá-lo, infectadas pelo vírus libertado no laboratório e que se transmite pelo sangue e saliva.
Jim acaba encontrando outros sobreviventes, Selina (Naomie Harris) e Mark (Noah Huntley), que o levam para um local seguro e informam sobre o caos instaurado na Inglaterra com a proliferação dos “infectados”, que aparecem apenas à noite para se alimentarem. Os três jovens partem pela procura dos pais de Jim na inútil tentativa de encontrá-los com vida, e após um confronto mortal com as criaturas “infectadas”, encontram outros dois remanescentes da população ainda ilesos da ação do vírus, na figura de um pai, Frank (Brendan Gleeson), e sua filha adolescente, Hannah (Megan Burns), que estão refugiados no alto de um edifício.
O grupo formado tenta sobreviver em meio ao caos até receberem informações através de uma mensagem gravada captada por um rádio, sobre as atividades de um grupo militar comandado pelo major Henry West (Chistopher Eccleston), que está convocando a todos os sobreviventes que se encontram isolados para se juntarem a ele na tentativa de combater a praga dos zumbis, receberem proteção e restabelecer a ordem. Eles decidem ir ao encontro dos militares de carro numa jornada perigosa pela cidade devastada, com direito a uma tensa seqüência passada no interior de um túnel escuro, sem saberem que ainda enfrentariam problemas reveladores com os militares, bem maiores que a ameaça dos próprios “infectados” canibais.
“Extermínio” lembra raridades do cinema fantástico do passado como “Mortos Que Matam” (The Last Man on Earth, 1964), com o lendário Vincent Price, e sua refilmagem “A Última Esperança Sobre a Terra” (The Omega Man, 1971), com Charlton Heston, ambos baseados no livro “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson, além de outros similares mais recentes como “Resident Evil – O Hóspede Maldito” (2002). Como já era esperado, o filme de Danny Boyle apresenta muitos dos elementos mais básicos e característicos presentes em filmes de zumbis e similares. Historicamente a motivação para a criação da legião de mortos-vivos do cinema teve várias origens diferentes exploradas pela infinidade de filmes do tema, desde a contaminação por uma substância oriunda de um meteoro vindo do espaço, passando por rituais de magia negra e vodu, até a ação nociva de misteriosos gases letais de experiências secretas do governo. Só que no caso de “Extermínio”, as criaturas foram geradas pela contaminação de um vírus moderno de laboratório que ao invés de originar uma doença mortal, acaba na verdade despertando a raiva e a fúria da humanidade, sentimentos primitivos sempre existentes em nossa espécie e apenas camuflados por aqueles que conseguiam controlá-los, enfatizando o quanto perigosos e “irracionais” os seres humanos podem ser. E uma das características que diferenciam os “infectados” desse filme para os tradicionais zumbis apresentados em “A Noite dos Mortos-Vivos” por exemplo, é a agilidade e rapidez nos movimentos, tornando muito mais perigosos os seus ataques fatais.
A maior e mais oportuna crítica presente no argumento de “Extermínio” é justamente a deterioração da racionalidade humana ao logo de sua história, chegando a uma condição duvidosa de civilidade nesses tempos modernos de guerras violentas por interesses econômicos e ameaças de conflitos nucleares e armas químicas. Pois em determinado momento do filme, ocorre uma inversão de valores entre os perigosos “infectados irracionais” e os remanescentes humanos, evidenciando a essência maléfica da humanidade, com seus últimos descendentes fazendo da insanidade e violência seu instinto básico de sobrevivência em meio ao caos de uma sociedade em desordem.
A primeira metade do filme é claramente superior evidenciando as conseqüências depressivas de um apocalipse, com cidades inteiras vazias, dominadas apenas à noite pelos “infectados”. A partir do momento em que o pequeno grupo de sobreviventes entra em contato com uma base militar situada próxima à Londres, a intensidade dramática da história diminui ao esbarrar em alguns clichês previsíveis, principalmente quando ocorre uma mudança muito rápida e exagerada de comportamento com o personagem Jim, que era um simples entregador de encomendas despertado de um coma, evidenciando situações que podem ser consideradas inverossímeis, apesar de toda a agressividade hostil do novo ambiente criado pela disseminação do vírus letal da raiva. E o desfecho não foi plenamente satisfatório, sendo previsível e de pequeno impacto, e que poderia ser explorado de forma mais sombria e não convencional. Apesar desses detalhes, “Extermínio” pode ser considerado mais um grande filme a abordar a temática de zumbis através de seus violentos “infectados” dos tempos modernos, sendo juntamente com “O Chamado” (The Ring), os melhores filmes de horror lançados nos cinemas brasileiros até aproximadamente a primeira metade do ano de 2003.
O diretor Danny Boyle nasceu em 1956 em Manchester, Inglaterra, e entre seus trabalhos anteriores destacam-se “Cova Rasa” (Shallow Grave, 1994), “Trainspotting – Sem Limites” (Traispotting, 1996) e “A Praia” (The Beach, 2000).
O elenco de “Extermínio” é em sua maioria composto por atores desconhecidos, exceto por Brendan Gleeson que foi visto recentemente em “Gangues de Nova York” (2002), de Martin Scorsese, e por Christopher Ecclestone, que participou de “ExistenZ” (1999), de David Cronenberg, e “Os Outros” (2001), de Alejandro Amenábar.
Curiosamente, para a gravação das cenas com a cidade de Londres deserta, simulando uma devastação causada pela proliferação de um vírus mortal, a equipe de produção realizava sempre as filmagens de manhã bem cedo, antes do início do habitual tumulto de carros e pessoas, típico de uma grande cidade, recebendo o auxílio da polícia para a organização das atividades. E um fator positivo nesse caso foi a utilização de vídeo digital para o filme, cujo processo de filmagem é muito mais rápido e prático, eliminando grande parte do trabalho e permitindo agilidade para filmar as cenas nas ruas desertas da cidade. Como resultado, temos imagens sombrias e mais associadas a um cenário urbano pós-apocalíptico. A propósito, um dos destaques de “Extermínio” é justamente uma seqüência onde o protagonista caminha desorientado numa Londres totalmente vazia, com carros tombados e sujeira para todos os lados, num incrível clima de depressão.
Aliás, todo filme que mostra situações ambientadas em cenários urbanos desertos e abandonados sempre causa um forte impacto, transmitindo um amargo sentimento de desolação e inevitavelmente impressionando o público com a possibilidade de um evento depressivo de destruição. O cinema já produziu dezenas de exemplos dentro dessa idéia e somente para ilustração alguns poucos casos podem ser conferidos em filmes recentes como “A Dança da Morte” (1994), “A Reconquista” (2000), “Vanilla Sky” (2001), e “Reino de Fogo” (2002), ou outros mais antigos como o super obscuro e raríssimo “A Invasão do Centro da Terra” (Invasion From Inner Earth, 1974), de Bill Rebane, além de episódios de séries de TV como o piloto da antiga “Além da Imaginação” (1959/64), chamado “Onde Estão Todos?”, ou “O Dia em que a Terra Acabou” de “Viagem ao Fundo do Mar” (1965/69), ou ainda mais recentemente com a excelente série “Night Visions” (2001), através do episódio “O Labirinto”, dirigido por Tobe Hooper. A idéia do fim da raça humana, com cidades inteiras vazias, destruídas ou não, certamente é uma das premissas mais apavorantes para um argumento do mais absoluto estado de horror.
Com um orçamento modesto de US$ 15 milhões, o filme surtiu um resultado satisfatório para os produtores, e numa astuta jogada de marketing eles informaram que algumas cópias exibidas nos cinemas americanos vieram com um extra interessante na forma de um final alternativo, exibido logo após os letreiros finais.
Os produtores revelaram também que o vírus de “Extermínio”, responsável pela contaminação da raça humana transformando as pessoas “infectadas” em criaturas raivosas, foi inspirado em doenças dos tempos modernos como a “aids” e o “ebola”, de origens misteriosas e que tem sido um dos grandes males da civilização dos tempos modernos, dizimando milhares de pessoas ao redor do planeta.
O título nacional “Extermínio” foi até bem escolhido, tendo relações diretas com a história do filme, porém ainda assim, o ideal seria apenas traduzir literalmente o original para “28 Dias Depois”.
O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Fox”, trazendo uma grande quantidade de informações especiais como a exibição do filme com a opção de comentários em áudio do diretor Danny Boyle e do roteirista Alex Garland (sem legendas), cenas excluídas (legendado) com comentários de Boyle e Garland (sem legendas), final alternativo (legendado), making of (legendado), galeria de produção com comentários (sem legendas), galeria de fotos com comentários (sem legendas), storyboards animados do website original, vídeo musical Jacknife Lee, e trailers.
Observação: Em 01/06/07 estreou nos cinemas brasileiros a continuação “Extermínio 2” (28 Weeks Later, Inglaterra, 2007), com direção de Juan Carlos Fresnadillo e com Danny Boyle e Alex Garland na produção executiva e Robert Carlyle no elenco.
“Extermínio” (28 Days Later, 2002) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/02/06)
Extermínio (28 Days Later, Estados Unidos / Inglaterra / Holanda, 2002). Fox Searchlight Pictures. Duração: 112 minutos. Direção de Danny Boyle. Roteiro de Alex Garland. Produção de Andrew Macdonald, Greg Caplan, Simon Fallon e Robert How. Fotografia de Anthony Dod Mantle. Música de John Murphy e Brian Eno. Edição de Chris Gill. Efeitos Especiais de Cliff Wallace. Elenco: Cillian Murphy (Jim), Naomie Harris (Selena), Noah Huntley (Mark), Brendan Gleeson (Frank), Megan Burns (Hannah), Christopher Ecclestone (Major Henry West), Alex Palmer, Bindu De Stoppani, Jukka Hiltunen, David Schneider, Toby Sedgewick, Christopher Dunne, Emma Hitching, Alexander Delamere, Kim McGarrity, Justin Hackney, Luke Mably, Marvin Campbell.