Navio Fantasma (2002)


A produtora “Dark Castle Entertainment”, que tem o consagrado diretor Robert Zemeckis entre seus executivos, foi a responsável pelo lançamento dos apenas medianos “A Casa da Colina” (1999) e “Treze Fantasmas” (2001), que exploraram histórias sobre casas assombradas, sendo na verdade refilmagens homônimas dos antigos “House on Haunted Hill” (1958) e “Thirteen Ghosts” (1960), ambos dirigidos por William Castle. Agora, a produtora retorna lançando outro filme no mesmo estilo, porém superior, “Navio Fantasma” (Ghost Ship), que estreou nos cinemas brasileiros em 14/02/03, novamente com a direção de Steve Beck (o mesmo de “Treze Fantasmas”), a partir de uma história de Mark Hanlon.

Uma equipe profissional de resgate de navios em alto mar, à bordo do barco rebocador “Arctic Warrior”, tem seus serviços requisitados por um piloto da força aérea canadense, Jack Ferriman (Desmond Harrington, de “O Buraco”), para investigarem o misterioso surgimento da carcaça abandonada de um imenso navio na costa do Alasca, no Mar Bering.
O grupo de seis pessoas é formado pelo líder Capitão Sean Murphy (Gabriel Byrne, de “Fim dos Dias” e “Stigmata”), que tem como sósia a chefe Maureen Epps (Julianna Margulies, de “Dinossauro”), além do restante da tripulação, o imediato Greer (Isaiah Washington, de “Crime Verdadeiro”) e os técnicos Dodge (Ron Eldard, de “Impacto Profundo”), Munder (Karl Urban) e Santos (Alex Dimitriades).
O piloto Ferriman junta-se ao grupo de salvamento propondo a eles parceria nos lucros caso encontrassem materiais de valor no interior do navio à deriva, pois de acordo com leis internacionais, qualquer navio encontrado em águas não pertencentes a nenhuma nação, pode ser apossado por quem o encontrou. Eles descobrem então que a embarcação é na verdade os restos totalmente deteriorados do navio de alto padrão italiano “Antonia Graza”, construído em 1954. Os transatlânticos italianos eram muito conhecidos por não serem velozes, porém extremamente luxuosos, e esse especificamente desapareceu de forma repentina em 21 de maio de 1962, sem dar sinais ou qualquer contato, quando viajava para os Estados Unidos, permanecendo oculto por longos 40 anos. Ao interceptarem o navio, o grupo de resgate percebe que ele está vazio e sem vida, não encontrando nenhuma explicação lógica para seu desaparecimento e para o destino das centenas de tripulantes e passageiros, porém descobrem também uma grande quantidade de barras de ouro.
Pensando exclusivamente nos lucros com a descoberta, e após um misterioso acidente que causou o naufrágio do rebocador, o grupo não imaginava que estava entrando em contato com um navio amaldiçoado e que enfrentaria eventos sobrenaturais de uma terrível força maligna que habitava o local, a qual se tornaria mortalmente ameaçadora para suas vidas.

“Navio Fantasma” novamente apresenta um roteiro dentro de um subgênero do cinema de horror explorado à exaustão numa infinidade de produções parecidas, através de histórias de ambientes assombrados por fantasmas. Porém, dessa vez o palco não é uma macabra mansão gótica e sim um estranho navio perdido na vastidão do oceano, fato que intensifica ainda mais o sentimento de solidão e o desespero pela impossibilidade de fuga, lembrando outro filme igualmente interessante, “Enigma do Horizonte” (Event Horizon, 1997), de Paul W. S. Anderson, cuja assombração está presente numa imensa nave vagando perdida no espaço, com toques no melhor estilo de “Hellraiser”.
Apesar dos inevitáveis clichês característicos do gênero, o filme é um bom entretenimento trazendo alguns sustos, e principalmente várias cenas sangrentas com direito a corpos cortados ao meio e violentos fuzilamentos (em especial vale registrar uma sequência envolvendo um acidente de um mecânico com uma enorme engrenagem). Os cenários são bem convincentes e fantasmagóricos destacando o imenso navio deteriorado pela esmagadora ação do tempo.
Podemos notar também algumas similaridades com outras produções divertidas como “Tentáculos” (Deep Rising, 1998), de Stephen Sommers, cuja história mostra um imenso navio de luxo à deriva no oceano, sendo interceptado por um grupo de criminosos que pretendiam saqueá-lo e ao entrarem à bordo, eles descobrem um cenário de morte e destruição, passando a serem perseguidos por horrendas criaturas com enormes tentáculos, oriundas das profundezas desconhecidas e abissais do mar da China. Ou ainda como o bem mais velho, raro e obscuro “Navio da Morte” (Death Ship, 1980), fita canadense estrelada por George Kennedy e Richard Crenna sobre um navio militar assombrado por demônios e fantasmas encontrado vazio no meio do mar e que havia servido de palco para sessões de interrogatórios e torturas dos nazistas contra prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial. O belo cartaz original desse filme deve ter inspirado o poster promocional de “Navio Fantasma”, pois ambos são incrivelmente parecidos, para não dizer que o mais recente é uma cópia perfeita de seu antecessor.
Como curiosidade, a idéia básica do filme “Navio Fantasma” possui fortes referências num antigo e famoso caso real de uma embarcação chamada “Mary Celeste” (aliás, citado no próprio filme), que partiu dos Estados Unidos em 1872 com destino à Europa, e foi encontrado várias semanas depois vagando errante na imensidão do Oceano Atlântico, sem avarias significativas, com a carga quase intacta e completamente vazio. Sua tripulação desapareceu sem deixar vestígios ou explicações, sendo um mistério até hoje, principalmente pelo fato improvável do barco navegar sozinho por longas distâncias até ser interceptado, e com o caso sendo transformado em uma lenda tradicional popular geralmente conhecida como “Navio Fantasma”.
O elenco é pouco conhecido destacando-se o veterano Gabriel Byrne, já visto em outros filmes de horror, e a atriz Julianna Margulies numa interpretação determinada, novamente num personagem já bem comum no gênero, uma heroína inspirada na famosa Tenente Ripley feita por Sigourney Weaver no clássico “Alien”/1979, de Ridley Scott.
Os destaques vão para a cena inicial de forte impacto, envolvendo o navio “Antonia Graza” em seus dias de glória, com dezenas de passageiros dançando num imenso salão e sendo vítimas de um cabo de aço “assassino”, com um resultado extremamente sangrento e bem filmado. E para as cenas onde aparece o fantasma de uma pequena garota, Katie Hargrove (Emily Browning), reservando alguns sustos, ela que tentava avisar a heroína Epps sobre os perigos do navio. É interessante notar a tendência dos roteiristas em apresentar “garotinhas meigas” em papéis misteriosos em seus filmes, como pode ser visto também no excepcional “O Chamado” (The Ring) com a temível Samara Morgan, ou ainda em “Resident Evil – O Hóspede Maldito”, na figura virtual representativa do computador central “Rainha Vermelha”, que controlava o laboratório secreto da “Umbrella Corporation”.

“Navio Fantasma” (Ghost Ship, 2002) – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 16/02/06)

Navio Fantasma (Ghost Ship, Estados Unidos, 2002, Warner Brothers Pictures / Village Roadshow Pictures / NPV Entertainment / Dark Castle Entertainment). Filmado no “Warner Roadshow Studios” em Gold Coast, Austrália. Duração: 91 minutos. Direção de Steve Beck. Roteiro de Mark Hanlon e John Pogue, baseado em história de Mark Hanlon. Produção de Joel Silver, Robert Zemeckis e Gilbert Adler. Fotografia de Gale Tattersall. Música de John Frizzell. Produção Executiva de Bruce Berman e Steve Richards. Montagem de Roger Barton. Maquiagem de Nikki Gooley. Direção de Arte de Richard Hobbs. Efeitos Especiais de Brian Cox. Efeitos Visuais de Dale Duguid. Elenco: Gabriel Byrne (Capitão Sean Murphy), Julianna Margulies (Maureen Epps), Isaiah Washington (Greer), Ron Eldard (Dodge), Karl Urban (Munder), Alex Dimitriades (Santos), Desmond Harrington (Jack Ferriman), Emily Browning (Katie Hargrove), Francesca Rettondini (Francesca), Boris Brkic (Chefe Stewart), Bob Ruggiero, Iain Gardiner, Cameron Watt.