A maioria das longas e intermináveis franquias criadas no cinema de horror vieram de filmes originais até interessantes, mas que depois não conseguiram manter um nível mínimo de qualidade para perpetuar de maneira mais honrosa seu legado pelos anos seguintes. É o caso do filme “Brinquedo Assassino” (Child´s Play, 1988), que explorou a idéia de um boneco ser possuído através de magia negra pelo espírito de um criminoso assassino momentos antes de sua morte como humano, e que depois o boneco, apelidado de Chucky e vivo, continuaria a saga de brutais assassinatos.
Vieram depois outros filmes em 90 e 91, ainda tentando manter um clima mais sério, porém esbarrando em clichês comuns que os tornaram dispensáveis, e em 98 veio “A Noiva de Chucky”, pendendo totalmente para o humor negro e ridicularizando qualquer tentativa de horror sério com a criação de uma boneca que justificaria o título do filme. Seis anos depois a franquia foi retomada, dessa vez com a direção estreante de Don Mancini, o criador dos personagens originais e autor dos roteiros de todos os filmes da série, e em 14/01/05 entrou em cartaz nos cinemas brasileiros “O Filho de Chucky” (Seed of Chucky).
A história é bem simples e cheia de crateras colossais. Após os eventos do filme anterior, o boneco filho do casal de plástico Chucky (Voz de Brad Dourif) e Tiffany (Voz de Jennifer Tilly), é escravizado por um ventriloquista farsante, Psychs (Keith-Lee Castle), que faz shows na Inglaterra. Pensando inicialmente ser órfão e tendo praticamente como única informação sobre sua origem o fato de ter sido fabricado no Japão (o famoso “Made in Japan” gravado no braço), ele descobre em um programa na televisão que um filme está sendo produzido explorando a lenda urbana de seus pais como bonecos assassinos. Ele consegue então fugir e atravessa o oceano até Hollywood, nos Estados Unidos, onde encontra Chucky e Tiffany inanimados, revivendo-os com frases de magia negra.
A partir daí, os bonecos reiniciam suas atividades na arte de matar, tendo como algumas de suas vítimas o técnico em efeitos especiais Tony Gardner, que literalmente perdeu a cabeça (sorte de Kevin Yagher, que foi o responsável pelos efeitos nos filmes anteriores e escapou dessa), ou o rapper Redman, cujas enormes tripas quentes resolveram sair do corpo (ambos interpretaram a si mesmos). O casal de bonecos assassinos entra também em contato com a atriz Jennifer Tilly (fazendo o papel de si própria), com o objetivo de tentarem se apossar de seu corpo e do motorista e namorado dela, Stan (Steve Lawton), um incompetente que não consegue declarar seu amor à atriz.
Paralelamente a tudo isso, eles descobrem que seu filho é na verdade um boneco andrógino que está indeciso em ser menino ou menina, e que tem horríveis pesadelos com mortes violentas, não querendo seguir a carreira assassina dos pais.
Esse quinto filme do boneco assassino Chucky é essencialmente uma comédia com elementos de horror em segundo plano, e que não deve ser levado a sério, pois a imensa quantidade de situações absurdas e rombos gigantescos no roteiro possuem apenas a função de tentar tirar algumas risadas do público. Eu vi todos os filmes da série (os dois primeiros em vídeo VHS no final dos anos 80) e os outros tive o privilégio de ver no cinema (digo privilégio, pois quando se vê um filme no cinema podemos considerar que praticamente é uma oportunidade única, já que não se fazem reprises nas telonas, transformando o fato num evento raro mais tarde, independente da qualidade do filme). Gostei apenas do original de 1988, que até tem uma boa idéia. Já as partes 2 e 3 ainda tentam ser sérias, mas esbarram nos clichês, e a parte 4 é uma paródia assumida, abusando demais da comédia.
Com um orçamento de US$ 12 milhões e filmagens realizadas na Romênia, “O Filho de Chucky” explora aquela idéia de um filme dentro de outro, visto anteriormente em “O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger” e “Pânico 3”. Ele é apenas recomendado para os fãs mais ardorosos do boneco e analisando como filme de horror (mesmo que paródia), vale praticamente somente pelas homenagens e citações a outros filmes e personalidades, indo desde o clássico de Alfred Hitchcock “Psicose” (60), na cena do assassinato do chuveiro; passando pela obra prima de Stanley Kubrick “O Iluminado” (80), na cena onde Chucky enlouquecido arromba uma porta com um machado; e culminando na justa e honrosa lembrança da conceituada revista americana “Fangoria” (cuja capa apresentando uma mulher deformada serviu de inspiração para a masturbação de Chucky). Sem contar o lendário cineasta Ed Wood e seu filme “Glen or Glenda” (53), onde ele dirigiu, escreveu o roteiro e até atuou com pseudônimo no papel título, e o diretor John Waters, que faz um fotógrafo que sente no rosto a ação devastadora de um ácido corrosivo. Mas, talvez a decisão mais acertada de Don Mancini foi a sequência hilariante de Chucky mandando a tediosa cantora pop Britney Spears (feita pela sósia Nadia Dina Arigat) para o inferno ao jogar seu carro para fora da estrada num precipício.
O resto é meio difícil de aguentar, principalmente aquele boneco indeciso filho do Chucky, que não sabe se quer ser garoto (Glen) ou garota (Glenda), e que tem além de um rosto ridículo (o nome “Shiface” se encaixou perfeitamente), uma voz irritante (a do ator Billy Boyd, um dos hobbits da saga de “O Senhor dos Anéis”), sempre se lamentando em vez de seguir com orgulho os passos assassinos do pai.
Inicialmente o nome nacional do filme seria “Semente de Chucky”, uma tradução literal do original “Seed of Chucky”, mas depois foi oficializada uma mudança para o definitivo e menos inspirado título de “O Filho de Chucky”. Aliás, no começo do projeto havia a possibilidade do filme ser uma continuação direta do quarto episódio da franquia e pensou-se até no nome original “Bride of Chucky 2”. Curiosamente, o produtor executivo Guy J. Louthan teve uma pequena participação interpretando o próprio Don Mancini, o roteirista que criou a franquia e estreou agora na direção.
“O Filho de Chucky” (Seed of Chucky, 2004) # 295 – data: 18/01/05 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/02/06)
“O Filho de Chucky” (Seed of Chucky, Estados Unidos, 2004). Duração: 87 minutos. Direção e roteiro de Don Mancini. Produção de David Kirschner e Corey Sienega. Produção Executiva de Guy J. Louthan. Fotografia de Vernon Layton. Música de Pino Donaggio. Edição de Chris Dickens. Elenco: Jennifer Tilly (Ela mesmo / Voz de Tiffany), Brad Dourif (Voz de Chucky), Billy Boyd (Voz de Glen / Glenda), Hannah Spearritt (Joan), John Waters (Pete Peters), Keith-Lee Castle (Psychs), Redman (Ele mesmo), Steve Lawton (Stan), Tony Gardner (Ele mesmo), Jason Flemyng (Papai Noel), Nicholas Rowe (Advogado), Stephanie Chambers (Mãe de Claudia), Simon James Morgan (Pai de Claudia), Bethany Simons-Danville (Claudia), Rebecca Santos (Fulvia).
Vieram depois outros filmes em 90 e 91, ainda tentando manter um clima mais sério, porém esbarrando em clichês comuns que os tornaram dispensáveis, e em 98 veio “A Noiva de Chucky”, pendendo totalmente para o humor negro e ridicularizando qualquer tentativa de horror sério com a criação de uma boneca que justificaria o título do filme. Seis anos depois a franquia foi retomada, dessa vez com a direção estreante de Don Mancini, o criador dos personagens originais e autor dos roteiros de todos os filmes da série, e em 14/01/05 entrou em cartaz nos cinemas brasileiros “O Filho de Chucky” (Seed of Chucky).
A história é bem simples e cheia de crateras colossais. Após os eventos do filme anterior, o boneco filho do casal de plástico Chucky (Voz de Brad Dourif) e Tiffany (Voz de Jennifer Tilly), é escravizado por um ventriloquista farsante, Psychs (Keith-Lee Castle), que faz shows na Inglaterra. Pensando inicialmente ser órfão e tendo praticamente como única informação sobre sua origem o fato de ter sido fabricado no Japão (o famoso “Made in Japan” gravado no braço), ele descobre em um programa na televisão que um filme está sendo produzido explorando a lenda urbana de seus pais como bonecos assassinos. Ele consegue então fugir e atravessa o oceano até Hollywood, nos Estados Unidos, onde encontra Chucky e Tiffany inanimados, revivendo-os com frases de magia negra.
A partir daí, os bonecos reiniciam suas atividades na arte de matar, tendo como algumas de suas vítimas o técnico em efeitos especiais Tony Gardner, que literalmente perdeu a cabeça (sorte de Kevin Yagher, que foi o responsável pelos efeitos nos filmes anteriores e escapou dessa), ou o rapper Redman, cujas enormes tripas quentes resolveram sair do corpo (ambos interpretaram a si mesmos). O casal de bonecos assassinos entra também em contato com a atriz Jennifer Tilly (fazendo o papel de si própria), com o objetivo de tentarem se apossar de seu corpo e do motorista e namorado dela, Stan (Steve Lawton), um incompetente que não consegue declarar seu amor à atriz.
Paralelamente a tudo isso, eles descobrem que seu filho é na verdade um boneco andrógino que está indeciso em ser menino ou menina, e que tem horríveis pesadelos com mortes violentas, não querendo seguir a carreira assassina dos pais.
Esse quinto filme do boneco assassino Chucky é essencialmente uma comédia com elementos de horror em segundo plano, e que não deve ser levado a sério, pois a imensa quantidade de situações absurdas e rombos gigantescos no roteiro possuem apenas a função de tentar tirar algumas risadas do público. Eu vi todos os filmes da série (os dois primeiros em vídeo VHS no final dos anos 80) e os outros tive o privilégio de ver no cinema (digo privilégio, pois quando se vê um filme no cinema podemos considerar que praticamente é uma oportunidade única, já que não se fazem reprises nas telonas, transformando o fato num evento raro mais tarde, independente da qualidade do filme). Gostei apenas do original de 1988, que até tem uma boa idéia. Já as partes 2 e 3 ainda tentam ser sérias, mas esbarram nos clichês, e a parte 4 é uma paródia assumida, abusando demais da comédia.
Com um orçamento de US$ 12 milhões e filmagens realizadas na Romênia, “O Filho de Chucky” explora aquela idéia de um filme dentro de outro, visto anteriormente em “O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger” e “Pânico 3”. Ele é apenas recomendado para os fãs mais ardorosos do boneco e analisando como filme de horror (mesmo que paródia), vale praticamente somente pelas homenagens e citações a outros filmes e personalidades, indo desde o clássico de Alfred Hitchcock “Psicose” (60), na cena do assassinato do chuveiro; passando pela obra prima de Stanley Kubrick “O Iluminado” (80), na cena onde Chucky enlouquecido arromba uma porta com um machado; e culminando na justa e honrosa lembrança da conceituada revista americana “Fangoria” (cuja capa apresentando uma mulher deformada serviu de inspiração para a masturbação de Chucky). Sem contar o lendário cineasta Ed Wood e seu filme “Glen or Glenda” (53), onde ele dirigiu, escreveu o roteiro e até atuou com pseudônimo no papel título, e o diretor John Waters, que faz um fotógrafo que sente no rosto a ação devastadora de um ácido corrosivo. Mas, talvez a decisão mais acertada de Don Mancini foi a sequência hilariante de Chucky mandando a tediosa cantora pop Britney Spears (feita pela sósia Nadia Dina Arigat) para o inferno ao jogar seu carro para fora da estrada num precipício.
O resto é meio difícil de aguentar, principalmente aquele boneco indeciso filho do Chucky, que não sabe se quer ser garoto (Glen) ou garota (Glenda), e que tem além de um rosto ridículo (o nome “Shiface” se encaixou perfeitamente), uma voz irritante (a do ator Billy Boyd, um dos hobbits da saga de “O Senhor dos Anéis”), sempre se lamentando em vez de seguir com orgulho os passos assassinos do pai.
Inicialmente o nome nacional do filme seria “Semente de Chucky”, uma tradução literal do original “Seed of Chucky”, mas depois foi oficializada uma mudança para o definitivo e menos inspirado título de “O Filho de Chucky”. Aliás, no começo do projeto havia a possibilidade do filme ser uma continuação direta do quarto episódio da franquia e pensou-se até no nome original “Bride of Chucky 2”. Curiosamente, o produtor executivo Guy J. Louthan teve uma pequena participação interpretando o próprio Don Mancini, o roteirista que criou a franquia e estreou agora na direção.
“O Filho de Chucky” (Seed of Chucky, 2004) # 295 – data: 18/01/05 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/02/06)
“O Filho de Chucky” (Seed of Chucky, Estados Unidos, 2004). Duração: 87 minutos. Direção e roteiro de Don Mancini. Produção de David Kirschner e Corey Sienega. Produção Executiva de Guy J. Louthan. Fotografia de Vernon Layton. Música de Pino Donaggio. Edição de Chris Dickens. Elenco: Jennifer Tilly (Ela mesmo / Voz de Tiffany), Brad Dourif (Voz de Chucky), Billy Boyd (Voz de Glen / Glenda), Hannah Spearritt (Joan), John Waters (Pete Peters), Keith-Lee Castle (Psychs), Redman (Ele mesmo), Steve Lawton (Stan), Tony Gardner (Ele mesmo), Jason Flemyng (Papai Noel), Nicholas Rowe (Advogado), Stephanie Chambers (Mãe de Claudia), Simon James Morgan (Pai de Claudia), Bethany Simons-Danville (Claudia), Rebecca Santos (Fulvia).