Mansão Mal-Assombrada (2003)


A empresa americana de entretenimento “Walt Disney”, visando divulgar e incentivar a visita do público aos seus parques de diversões, resolveu transformar algumas de suas atrações específicas em filmes com orçamentos maiores para o cinema. O resultado dessa empreitada foi a produção de três filmes entre 2002 e 2003 com histórias inspiradas em determinados passeios temáticos da “Disney World”: a comédia infantil “Beary e os Ursos Caipiras” (Country Bears), a aventura de “capa-e-espada” com elementos sobrenaturais “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra” (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl), de Gore Verbinski e com o talentoso Johnny Depp, e finalmente a comédia de horror “Mansão Mal-Assombrada” (The Haunted Mansion), dirigida por Rob Minkoff, estrelada por Eddie Murphy, e que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 16/01/04.

A história é um clichê já explorado à exaustão, o tema da mansão gótica assombrada por fantasmas e atormentada por uma maldição antiga. Um casal de agentes imobiliários de New Orleans, Jim e Sara Evers (Eddie Murphy e Marsha Thomason), estão de passeio num final de semana pelo lago com seus filhos pequenos, Michael (Marc John Jefferies) e Megan (Aree Davis), com o objetivo de reunir a família num momento de descontração e longe da rotina cansativa diária. Jim é obcecado pelo trabalho, deixando muitas vezes sua família em segundo plano. Porém, durante o passeio eles são chamados para visitar uma casa enorme e de aspecto fantasmagórico, onde o corretor logo vê a oportunidade de fazer mais um bom negócio. Porém, o excêntrico herdeiro e proprietário da mansão, Edward Gracey (Nathaniel Parker), acaba ficando atraído pela bela Sara, acreditando que ela é a reencarnação de um amor do passado. Com a ocorrência de uma forte tempestade que alaga a estrada e obriga a todos permanecerem na mansão macabra por uma noite, eles acabam descobrindo passagens secretas e se deparam com eventos misteriosos como a existência de fantasmas, além de zumbis apodrecidos e uma antiga maldição rondando o lugar. Para combater os espíritos atormentados eles são auxiliados por uma vidente tagarela que vive aprisionada numa esfera verde de cristal, Madame Leota (Jennifer Tilly), e pelos empregados do castelo, Ezra (Wallace Shawn) e Emma (Dina Spybey), mas também precisam enfrentar o perigo representado pela figura sinistra do mordomo Ramsley (Terence Stamp).

“Mansão Mal-Assombrada” foi o lançamento da “Walt Disney” para a época do Natal, entrando em cartaz nos Estados Unidos no final de Novembro de 2003, e procurando atingir como seu público alvo principalmente as crianças e adolescentes, independente de serem ou não fãs de horror. No Brasil, pouco tempo depois, o filme recebeu uma cuidadosa campanha de marketing com propaganda na televisão e exposição de uma série de interessantes e bem produzidos painéis gigantes nos cinemas, com belas ilustrações da mansão com seus traços góticos e clima mórbido.
O filme é uma comédia leve com sutis toques sobrenaturais e sustos fáceis, explorando uma idéia já muito desgastada através de uma história óbvia, banal e super previsível. Vale conhecer apenas pelas únicas coisas que parecem realmente interessar que são os belos efeitos especiais dos fantasmas e principalmente dos zumbis, além dos cuidadosos cenários reproduzindo um castelo autêntico de um ambiente gótico, com todos os elementos característicos desse gênero fascinante do horror. Não faltam o tradicional cemitério familiar com suas lápides de pedra no jardim e um mausoléu fúnebre, envoltos numa neblina espessa em meio a um bosque com árvores fantasmagóricas, as tradicionais portas que rangem e fecham sozinhas, os quadros com pinturas macabras, os aposentos enormes repletos de móveis antigos, as estranhas vozes do além, os fantasmas perturbados que habitam os cantos escuros, e tudo aquilo que acabou se tornando um elemento diretamente associado aos filmes de casas amaldiçoadas no melhor estilo gótico.
Nunca fui fã do trabalho do ator Eddie Murphy, mais conhecido como humorista, e não vejo a menor graça em suas tentativas como protagonista de cenas que deveriam ser engraçadas. Em “Mansão Mal-Assombrada”, sua segunda investida na comédia de horror após “Um Vampiro no Brooklyn” (95), de Wes Craven, ele repete seu papel tradicional de comediante, novamente despertando pouco interesse, e tendo ao seu lado uma bela atriz, porém apenas comum, Marsha Thomason (de “Jogo dos Espíritos”), e um casal de crianças altamente irritantes e que poderiam tranquilamente se transformar em vítimas da fúria dos zumbis do mausoléu. O destaque do elenco fica para o mordomo de aspecto macabro e voz rouca interpretado pelo veterano ator inglês Terence Stamp (de “Star Wars: Episódio I” e “Planeta Vermelho”), que encarnou com maestria a figura típica daqueles misteriosos mordomos dos filmes de castelos assombrados por espíritos perturbados.

Uma curiosidade interessante foi uma homenagem ao filme de fantasmas “Sexto Sentido” (99), de M. Night Shyamalan, e com Bruce Willis, numa cena envolvendo o garoto Michael e a reprodução oportuna de uma frase tão famosa e conhecida que já entrou na história do cinema fantástico.

O título nacional do filme, “Mansão Mal-Assombrada”, foi felizmente bem escolhido, numa fácil tarefa em somente traduzir o original “The Haunted Mansion”. Se bem que o melhor ainda seria apenas “Mansão Assombrada”, sem a desnecessária e redundante palavra “Mal”. Eu nunca ouvi falar de uma casa “bem-assombrada”... E um outro fato que merece registro e vale como um protesto foi a incrível dificuldade em se assistir o filme numa cópia legendada, conseguindo apenas após uma enorme aventura em localizar uma sala com um horário noturno menos procurado. É compreensível que uma vez sendo o filme voltado para o público infantil, ele tenha que ter dublagem, mas os cinéfilos que apreciam ver as obras legendadas deveriam também ser um pouco mais respeitados.

O cineasta Rob Minkoff ainda tem um currículo pequeno e mais voltado para comédias, como os dois filmes da série “O Pequeno Stuart Little”, lançados em 1999 e 2002. O ator americano Eddie Murphy é um conhecido comediante negro nascido em 1961. Sua filmografia é composta por aproximadamente 40 trabalhos, a maioria de humor como a série “Um Tira da Pesada” (iniciada em 84 e com três filmes no total), além dos dois filmes de “O Professor Aloprado” (em 96 e 2000), onde demonstrou grande flexibilidade ao interpretar diversos papéis, e também do “Dr. Doolittle” (em 98 e 2001). Outros filmes de sua carreira são ainda a aventura “O Rapto do Menino Dourado” (86), e as comédias de ação “Sou Espião” e “Showtime” (ambas de 2002). Eddie Murphy está envolvido agora no projeto da refilmagem do clássico da FC “O Incrível Homem Que Encolheu” (57), com previsão de lançamento em 2005.
Na equipe técnica para a concepção dos efeitos especiais de “Mansão Mal-Assombrada” destaca-se a presença de Rick Baker. Americano nascido em New York em 1950, ele é considerado um dos mais importantes e conceituados profissionais na área de maquiagem no cinema fantástico atual. Sua carreira inclui participações em quase 50 filmes como “King Kong” (76), “O Incrível Homem Que Derreteu” (77), “Grito de Horror” / “Pague Para Entrar, Reze Para Sair” / “Um Lobisomem Americano em Londres” (todos de 81), “Videodrome – A Síndrome do Vídeo” (83), “Lobo” / “Ed Wood” (ambos de 94), “Os Espíritos” (96), “Homens de Preto” (97), “O Poderoso Joe” (98), “O Grinch” (2000), “Planeta dos Macacos” (2001), “Homens de Preto II” / “O Chamado” (ambos de 2002), contribuindo de forma decisiva para transformar em realidade vários monstros do cinema. Seus próximos projetos inclui dois lançamentos ao longo de 2004, “Hellboy”, baseado num personagem dos quadrinhos, com direção de Guillermo del Toro e com Ron Perlman, e “Cursed”, uma história de lobisomens dirigida por Wes Craven e com Christina Ricci.

“Mansão Mal-Assombrada” (The Haunted Mansion, 2003) # 216 – data: 19/01/04 – avaliação: 4,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 13/02/06)

Mansão Mal-Assombrada (The Haunted Mansion, Estados Unidos, 2003). Walt Disney Pictures. Duração: 85 minutos. Direção de Rob Minkoff. Roteiro de David Berenbaum. Produção de Andrew Gunn e Don Hahn. Produção Executiva de Rob Minkoff e Barry Bernardi. Música de Mark Mancina. Fotografia de Remi Adefarasin. Edição de Priscilla Nedd-Friendly. Desenho de Produção de John Myhre. Direção de Arte de Beat Frutiger e Tomas Voth. Efeitos Especiais de Rick Baker e Jamie Kelman. Elenco: Eddie Murphy (Jim Evers), Terence Stamp (Ramsley), Nathaniel Parker (Master Gracey), Marsha Thomason (Sara Evers), Jennifer Tilly (Madame Leota), Wallace Shawn (Ezra), Dina Spybey (Emma), Marc John Jefferies (Michael), Aree Davis (Megan), Jim Doughan (Sr. Coleman), Rachel Harris (Sra. Coleman), Steve Hytner (Sr. Silverman), Heather Juergensen (Sra. Silverman).