Identidade (2003)


Identidade é um segredo. Identidade é um mistério. Identidade é um assassino.

Apesar da infinidade de filmes comuns que são produzidos todos os anos nos Estados Unidos explorando em seus argumentos histórias de horror e suspense, alguns tem se destacado por apresentar tramas realmente envolventes e que conseguem ainda fascinar o público que aprecia e prestigia o cinema fantástico. É o caso de “Identidade” (Identity), de James Mangold, que estreou nos cinemas brasileiros em 26/09/03, e que tem um roteiro básico levemente inspirado no excepcional “O Caso dos Dez Negrinhos”, da rainha do mistério Agatha Christie. Curiosamente, o livro não foi creditado, mas apenas citado rapidamente por uma das personagens num momento de tensão onde as ações do filme lembravam a história da obra escrita pela famosa autora inglesa.
No livro, um grupo de dez pessoas são convidadas a passar um final de semana hospedados numa bela ilha, e são misteriosamente assassinados um a um num maquiavélico plano de vingança de seu anfitrião desconhecido. Essa história já havia sido muito bem filmada em 1945 em “O Vingador Invisível” (And Then There Were None), de Rene Clair.
Em “Identidade”, o filme inicia com um psiquiatra (Alfred Molina) tentando defender seu cliente, um assassino condenado à morte por seus crimes, Malcolm Rivers (Pruitt Taylor Vince), alegando insanidade numa audiência convocada às pressas com o Juiz responsável pelo caso (Holmes Osborne), no meio de uma madrugada e na véspera da execução do réu.
Paralelamente a ação se volta para um grupo de dez pessoas que devido a uma série de coincidências e eventos relacionados entre si, se encontram num motel à beira de uma estrada durante uma furiosa e incessante tempestade que obstruiu todas as possibilidades de saídas. Todos possuem um passado estranho envolto em segredos existindo uma misteriosa relação entre eles para seus destinos se cruzarem naquele lugar, começando pelo próprio gerente do motel, o nervoso Larry (John Hawkes). Primeiramente ele recebe a visita do desesperado George York (John C. McGinley), junto com seu filho mudo Timmy (Bret Loehr), trazendo nos braços sua esposa Alice (Leila Kenzle), gravemente ferida num atropelamento causado pelo ex-policial e agora motorista Ed (John Cusack), que transportava sua cliente Caroline Suzanne (Rebecca De Mornay), uma atriz decadente e arrogante. Ao tentar buscar ajuda médica para a mulher que atropelou, Ed encontra no caminho e dá carona a uma bela prostituta que viajava sozinha e que teve o carro quebrado, Paris (Amanda Peet), e posteriormente um casal de jovens também presos pelo alagamento da estrada, Lou (William Lee Scott) e Ginny (Clea DuVall). Para completar o grupo chega mais tarde e também é obrigado a hospedar-se no motel, o policial Rhodes (Ray Liotta), que está transportando um assassino perigoso, Robert Maine (Jake Busey).
A partir daí, as mortes violentas tem início, num fascinante clima de claustrofobia, acentuado pela escuridão da noite, a forte tempestade, o isolamento forçado de um grupo de pessoas estranhas entre si num motel à beira da estrada, e a ação misteriosa de um assassino serial, com direito à cabeças decapitadas e esfaqueamentos sangrentos. Após uma série de reviravoltas e revelações curiosas sobre os personagens e a trágica situação em que se encontravam, ambas as tramas (o grupo de pessoas sendo assassinadas no motel e a tentativa do psiquiatra em inocentar seu cliente maníaco) se relacionam num desfecho satisfatório e interessante, no tradicional estilo “surpresa”, enfatizando os elementos sobrenaturais e de mistério que envolvem toda a história.
Uma cena de destaque e que merece um registro especial foi a sequência de atropelamento da personagem Alice York no início do filme, numa violência perturbadora, aproximando-se com méritos de uma situação verdadeira. Aliás, o cinema tem conseguido simular atropelamentos com incrível realismo, como já pudemos conferir na famosa e muito comentada cena envolvendo Brad Pitt em “Encontro Marcado” (1998), onde só ficou faltando o sangue em profusão (talvez ocultado de forma proposital justamente para diminuir a intensidade do choque no espectador).
O cineasta James Mangold nasceu em 1964 em New York, e entre seus trabalhos na direção destacam-se o policial “Cop Land” (1997), com os astros Robert De Niro, Harvey Keitel e Sylvester Stallone, o suspense “Garota Interrompida” (1999) e a aventura romântica com elementos de ficção científica “Kate & Leopold” (2001), com Meg Ryan e Hugh Jackman.
O roteirista Michael Cooney possui um currículo pequeno onde destaca-se um trabalho na direção da comédia de humor negro “Jack Frost” (1997) e sua respectiva continuação produzida em 2000, além do roteiro do suspense de ficção científica “The I Inside” (2003), dirigido por Roland Suso Richter.
O elenco de “Identidade” é liderado por dois atores bastante conhecidos do grande público, John Cusack e Ray Liotta, sendo que o primeiro nasceu em 28 de junho de 1966 em Evanston, no Estado americano de Illinois e foi um dos soldados do excelente drama da Segunda Guerra Mundial “Além da Linha Vermelha” (1998). Já Ray Liotta é americano de New Jersey nascido no final de 1955, tendo participado de filmes interessantes como o já citado policial “Cop Land”, o suspense “Turbulência” (1997), como um psicopata que ataca os passageiros de um avião em pleno vôo, e “Hannibal” (2001), segundo filme da franquia do assassino canibal Dr. Lecter (Anthony Hopkins), sendo que aqui Liotta teve a infelicidade de experimentar o gosto de seu próprio cérebro frito.
O restante da equipe de atores coadjuvantes é formado por rostos também vistos em vários outros filmes interessantes. Amanda Peet é americana de New York, nascida em 1972 e participou da comédia “Meu Vizinho Mafioso” em 2000 e do drama urbano “Fora de Controle” (2002), com Samuel L. Jackson. Também nascido em New York, em 1959, John C. McGinley foi um dos oficiais do exército americano no clássico moderno sobre a guerra do Vietnã “Platoon” (1986). A jovem atriz Clea DuVall nasceu em 1977 em Los Angeles e esteve na FC de horror “A Prova Final” (1998), no já citado “Garota Interrompida” e em “Fantasma de Marte” (2001), de John Carpenter. O experiente ator inglês Alfred Molina, nascido em Londres em 1953, esteve na FC de horror “A Experiência” (1995) e será um dos vilões em “Homem-Aranha II”, a ser lançado em 2004. Jake Busey é filho do veterano ator Gary Busey, e já esteve em filmes como “Tropas Estelares” e “Contato” (ambos de 1997), além do horror “Os Espíritos” (1996), de Peter Jackson. A bela Rebecca De Mornay nasceu na California em 1962 e atuou ao lado de Jon Voight no excepcional “Expresso Para o Inferno” (1986), além de ser a protagonista do suspense “A Mão Que Balança o Berço” (1992). Dos outros atores menores, John Hawkes esteve em “Mar em Fúria” (2000), William Lee Scott foi coadjuvante na FC “Gattaca – Experiência Genética” (1997), e Pruitt Taylor Vince, nascido em 1960, participou de “A Cela” em 2000, com Jennifer Lopez e “Simone” dois anos depois, com Al Pacino.
“Identidade” é um excelente filme de horror e suspense psicológico e certamente está entre os melhores lançamentos do gênero nos cinemas brasileiros no ano de 2003, figurando ao lado de “O Chamado” (The Ring) e “Extermínio” (28 Days Later) no pódio daquilo que de melhor foi exibido em nossas telas grandes, demonstrando também que o Horror ainda é um gênero que consegue exercer grande fascínio ao apresentar histórias inteligentes em filmes de puro entretenimento, apesar de seus temas básicos já terem sido explorados exaustivamente (e em muitas vezes de forma equivocada) ao longo das últimas décadas.
Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 07/08/06, pela TV Globo, na sessão “Tela Quente”.

“Identidade” (Identity, 2003) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/02/06)

Identidade (Identity, Estados Unidos, 2003). Duração: 90 minutos. Direção de James Mangold. Roteiro de Michael Cooney. Produção de Stuart M. Besser, Dixie J. Capp e Cathy Konrad. Música de Alan Silvestri. Fotografia de Phedon Papamichael. Edição de David Brenner. Elenco: John Cusack (Ed), Ray Liotta (Rhodes), Amanda Peet (Paris), John C. McGinley (George York), Jake Busey (Robert Maine), John Hawkes (Larry), Clea DuVall (Ginny), William Lee Scott (Lou), Rebecca De Mornay (Caroline Suzanne), Alfred Molina (Psiquiatra), Bret Loehr (Timmy York), Pruitt Taylor Vince (Malcolm Rivers), Leila Kenzle (Alice York), Holmes Osborne (Juiz).