O Enviado (2004)


Geralmente a existência de um elenco conhecido desperta o interesse dos fãs em assistir um filme, mas nem sempre esses atores talentosos conseguem garantir seu sucesso. Uma prova disso é “O Enviado” (Godsend), que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 24/09/04 e que apesar de ter o grande Robert De Niro ao lado do casal Greg Kinnear e Rebecca Romijn-Stamos, é um filme tão convencional e com um roteiro tão confuso e cheio de furos e clichês que nem os atores famosos puderam evitar seu resultado insatisfatório e inevitável fracasso.

A história é sobre a família Duncan, formada pelo pai Paul (Greg Kinnear, de “O Dom da Premonição”), um professor de biologia, a mãe Jessie (Rebecca Romijn-Stamos, de “Femme Fatale”), uma fotógrafa, e o alegre filho Adam (Cameron Bright). Eles viviam felizes até o oitavo aniversário de Adam, quando o garoto morre num violento acidente de carro (aqui o filme perdeu uma grande oportunidade de mostrar em detalhes um atropelamento). Arrasado com a morte trágica do filho, o casal é surpreendido pela visita do Dr. Richard Wells (Robert De Niro), um renomado geneticista que já foi professor de Jessie e que faz uma proposta incrível para eles: a clonagem do filho morto, num procedimento similar a uma inseminação artificial.
Inicialmente relutantes com a surpresa da proposta, principalmente o pai Paul pelas questões éticas, morais e a legalidade do procedimento, logo depois eles aceitam a oferta na esperança de aliviar seus sofrimentos com a perda prematura do filho, ganhando uma nova oportunidade de terem o menino de volta, mesmo que na figura de um clone.
A partir daí, eles são obrigados a se mudarem para uma cidade pequena e distante, onde se localiza o instituto de fertilização “Godsend” (daí o título original do filme), comandado pelo Dr. Richard Wells, onde ganham da clínica uma bela e enorme casa, emprego e vida nova para criarem o filho Adam, numa exigência necessária para se afastarem dos antigos amigos e familiares pois ninguém poderia saber da experiência ilegal de clonagem. Eles voltaram a viver felizes novamente até o filho completar oito anos, quando a partir de então, ingressando num período de vida inédito até para seu predecessor original, o garoto copiado começou a enfrentar uma série de eventos desconhecidos, sofrendo terríveis terrores noturnos com pesadelos e alucinações onde era atormentado pelo espectro de um garoto chamado Zachary, apresentando uma nova e misteriosa personalidade que poderia mudar o rumo das vidas de todos ao seu redor.

“O Enviado” é um thriller com elementos de ficção científica (através do tema da clonagem humana) e de horror (através da manifestação de uma personalidade maligna no garoto clonado), que infelizmente possui uma história confusa e que se sustenta praticamente apenas na tentativa de suspense com sustos fáceis que não convencem em nenhum momento. Essa idéia de crianças aparentemente dóceis se transformando em figuras ameaçadoras com olhares e expressões malignos é uma temática já tão explorada pelo cinema que já perdeu um pouco daquele efeito perturbador sobre o público, e no caso especificamente desse filme, o garoto influenciado pelo fantasma de um outro menino com um passado trágico não consegue transmitir aquela sensação de desconforto que deveria. A história toda é fantasiosa demais, principalmente pelo fato da família Duncan decidir clonar o filho morto e ser por isso obrigada a se isolar de tudo e todos que conheciam, afastando-se da vida anterior para ingressarem num mundo novo que gira em torno de uma experiência de clonagem que não pode ser descoberta devido a sua ilegalidade.

Entre as várias curiosidades podemos citar:
* “O Enviado” teve o trabalho de filmagens concluído no final de 2002, mas o filme somente entrou em cartaz nos cinemas americanos em 30/04/04, depois de adiamentos e somente quase cinco meses depois é que veio para o Brasil.
* As locações foram no Canadá, na cidade de Toronto, e a produtora “Lions Gate” fez uma promoção interessante permitindo que os fãs pudessem escolher qual seria o poster oficial do filme.
* Aliás, a produtora também utilizou outra idéia bem sucedida para a divulgação através da internet, lançando além do tradicional site com informações gerais do filme (www.godsendthemovie.com), um outro portal especificamente sobre o fictício “Instituto Godsend”, a clínica responsável pela clonagem do personagem Adam, o garoto de oito anos morto num atropelamento de carro no filme. Com o endereço eletrônico www.godsendinstitute.org muitos internautas acessaram o site e enviaram mensagens de protesto pela prática ilegal de clonagem humana, pois acreditaram que a clínica fosse real, já que não foi colocada nenhuma relação com o filme, demonstrando o bom resultado esperado pelos produtores ao criar um movimento e interesse em torno do assunto e da produção cinematográfica. Esse tipo de divulgação pela internet está cada vez mais sendo utilizado pelos produtores devido ao baixo custo e grande resposta dos visitantes, tendo como o maior exemplo de sucesso dessa tática promocional a lenda criada em torno dos eventos do filme “A Bruxa de Blair” (The Blair Witch Project, 1999), onde todos acreditavam serem reais antes de irem ao cinema.
* O diretor inglês Nick Hamm (de “O Buraco”), filmou vários finais diferentes e teve grande dificuldade na escolha daquele que se tornou o oficial. Não sei quanto às outras alternativas, mas a escolhida foi extremamente decepcionante e sem graça, com o filme tendo um desfecho irritante, que apenas manteve e confirmou o desinteresse da história.

“O Enviado” (Godsend, 2004) # 272 – data: 26/09/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 20/02/06)

“O Enviado” (Godsend, Estados Unidos / Canadá, 2004). Lions Gate. Duração: 102 minutos. Direção de Nick Hamm. Roteiro de Mark Bomback. Produção de Marc Butan, Sean O´Keefe, Cathy Schulman, Mark Bomback e Steve Mitchell. Produção Executiva de Michael Burna, Mark Canton, Mark Cuban, Jon Feltheimer, Eric Kopeloff, Michael Paseornek e Todd Wagner. Fotografia de Kramer Morgenthau. Música de Brian Tyler. Edição de Niven Howie e Steve Mirkovich. Desenho de Produção de Doug Kraner. Direção de Arte de Arvinder Grewal, Nicolas Lepage e Jarik Van Sluijs. Elenco: Greg Kinnear (Paul Duncan), Rebecca Romijn-Stamos (Jessie Duncan), Robert De Niro (Dr. Richard Wells), Cameron Bright (Adam Duncan), Merwin Mondesir, Sava Drayton, Jake Simons, Elle Downs, Edie Inksetter, Raoul Bhaneja, Jenny Levie, Thomas Chambers, Munro Chambers, Jeff Christensen.