O cinema dos anos 1980 produziu uma grande
quantidade de filmes significativos que podem ser considerados clássicos
modernos uma vez já passadas quase três décadas de seus respectivos
lançamentos. Alguns exemplos são filmes como “Rambo: Programado Para Matar”
(First Blood, 1982), precursor de filmes de ação e largamente imitado,
estrelado por Sylvester Stallone como um ex-combatente da Guerra do Vietnã que
tenta se adaptar novamente à sociedade americana e é tratado de forma
preconceituosa por um xerife de uma pequena cidade do interior. Ou “The Evil
Dead” (1982), chamado no Brasil com o nome equivocado de “A Morte do Demônio”,
dirigido pelo talentoso cineasta Sam Raimi, e considerado um dos mais definitivos
filmes de horror de todos os tempos, igualmente imitado à exaustão e precursor
de uma infinidade de filmes similares, com sua história de um grupo de jovens
que se isolam numa cabana nas montanhas e entram acidentalmente em contato com
ferozes demônios que tomam posse de seus corpos. Ou ainda, continuando no
gênero horror, “Hellraiser – Renascido do Inferno” (Hellraiser, 1987), com
roteiro e direção do consagrado escritor Clive Barker, primeiro filme de uma
longa franquia com vários filmes, apresentando ao nosso mundo os temíveis
cenobitas, criaturas infernais que cultuam a dor em seu estado absoluto, tendo
como líder o cultuado “Pinhead” ou “Cabeça de Prego”.
Dentro dessa ideia, a Ficção Científica também foi
muito bem representada na década de 1980, e um dos destaques desse período
certamente foi “Robocop – O Policial do Futuro” (Robocop, 1987), dirigido pelo
cineasta holandês Paul Verhoeven em sua estreia no cinema dos Estados Unidos.
Ele que faria mais tarde ainda outros importantes filmes do gênero como “O
Vingador do Futuro” (Total Recall, 1990), com Arnold Schwarzenegger e baseado
em história de Philip K. Dick, “Tropas Estelares” (Starship Troopers, 1998),
baseado em livro de Robert A. Heinlein e com a mesma equipe técnica principal
de “Robocop”, e “O Homem Sem Sombra” (Hollow Man, 2000), com Kevin Bacon como
um cientista que torna-se invisível e transforma-se num assassino insano.
Num futuro próximo, a violência e criminalidade na
cidade de Detroit atingiram índices enormes e uma poderosa empresa de segurança
controla a polícia local. A mega corporação é presidida pelo “velho homem”
(Daniel O´Herlihy) tendo como o segundo em comando o inescrupuloso e corrupto
Richard Jones (Ronnie Cox). É dele o projeto para a construção de uma nova
cidade, “Delta City”, que estaria isenta da criminalidade e separada da chamada
“Velha Detroit”, dominada pela violência urbana. Além disso, Jones ainda
comanda uma equipe científica na criação de uma poderosa máquina robótica
denominada “ED-209” ,
fortemente armada e programada para a defesa da lei através do uso de mais
violência ainda, substituindo os tradicionais policiais humanos.
Após o
fracasso de uma exibição de simulação das ações de um “ED-209” , que culminou com a morte
violenta de um dos executivos da empresa, um cientista oportunista, Robert
Morton (Miguel Ferrer) apresenta ao presidente seu projeto alternativo para o
combate à criminalidade, constituindo-se na verdade de uma criatura mista de
andróide e humano chamada “Robocop”. Coincidentemente, uma série de tiras do
Departamento de Polícia de Detroit, comandado pelo Sargento Reed (Robert
DoQui), estavam sendo assassinados por uma perigosa gangue de traficantes de
cocaína, fato que já estava motivando uma greve geral dos policiais. Nesse
momento, surge um novo policial, Alex J. Murphy (Peter Weller, de “Mistérios e
Paixões”), recém chegado de um distrito vizinho. Ao averiguar as ações dos
traficantes, ele é emboscado juntamente com sua nova parceira, Anne Lewis
(Nancy Allen, de “Carrie, a Estranha”), a qual é ferida, mas sobrevive e acaba
presenciando seu companheiro sendo mortalmente alvejado pelos criminosos
liderados por Clarence Boddicker (Kurtwood Smith) e seus capangas Emil M.
Antonowsky (Paul McCrane), Leon C. Nash (Ray Wise), Joe P. Cox (Jesse Goins) e
Steve Minh (Calvin Jung).
Uma vez
considerado oficialmente morto em ação, Murphy é ressuscitado pelo projeto
“Robocop” e é transformado num poderoso policial andróide. Colocado nas ruas,
ele logo torna-se popular no eficiente combate ao crime, sempre respeitando as
três diretrizes de sua programação básica: servir à comunidade, proteger os
inocentes e cumprir a lei. Porém, o policial do futuro Murphy tem que lidar
também com o retorno gradativo de suas lembranças e memórias de quando era um
homem, descobrindo que tinha uma esposa e filho, além da parceira Lewis na
polícia e os eventos trágicos envolvendo a gangue de traficantes, incitando-o a
descobrir a verdade de seu passado e a planejar uma vingança contra seus
assassinos e o executivo corrupto da empresa, Richard Jones.
O filme tem excelentes efeitos especiais,
principalmente considerando sua época de produção, tanto que ganhou o cobiçado
prêmio “Oscar” de melhores efeitos sonoros, e é considerado como uma das mais
significativas produções de ficção científica dos anos 1980, com um roteiro
interessante apresentando a visão de um futuro pessimista e obscuro, com o
domínio da violência urbana e a proliferação dos interesses financeiros das
grandes corporações em detrimento do bem comum.
Curiosamente,
o filme intercala suas ações com a apresentação de um jornal televisivo e
propagandas futuristas. Num determinado momento, o jornal transmite uma notícia
sobre uma revolta militar em Acapulco, no México, onde tropas americanas se
aliaram aos nacionalistas mexicanos num confronto com rebeldes, numa
interessante crítica social demonstrando o constante imperialismo dos Estados
Unidos sobre outras nações. Já as propagandas de televisão dão destaque para
jogos de guerra nuclear e o sonho de consumo na figura de um moderno carro
chamado SUX 6000.
“Robocop – O Policial do Futuro” tem ótimas cenas
de ação e violência, mesclando elementos de ficção científica e thrillers
policiais, destacando a sequência onde o robocop invade uma fábrica de
distribuição de cocaína causando uma enorme carnificina com corpos voando pelos
ares e disparos de potentes armas de fogo para todos os lados; a cena onde um
dos traficantes responsáveis pelo seu fuzilamento é contaminado por lixo tóxico
transformando-se num monstro mutante deformado pelo ácido corrosivo; e as cenas
envolvendo o robô “ED-209” ,
com sua voz gutural e sintetizada, numa máquina assassina memorável.
Anos depois surgiram mais duas sequências
inferiores, sem a presença do diretor Paul Verhoeven no projeto, e que pouco
acrescentaram à franquia, apesar de ambas terem roteiro escrito pelo famoso
quadrinista Frank Miller: “Robocop 2”
(Robocop 2, 1990), dirigido por Irvin Kershner, e “Robocop 3” (Robocop 3, 1993), com
direção de Fred Dekker. O segundo filme ainda foi estrelado por Peter Weller,
mas o terceiro teve um novo ator no papel do “robocop”, Robert John Burke. Já a
sua parceira na polícia Anne Lewis (interpretada pela atriz Nancy Allen),
participou de ambas as sequências, porém com aparições cada vez menores. Na
segunda produção com o policial do futuro, após ele ser seriamente avariado num
confronto com traficantes de drogas no final do filme original, ele agora é
ameaçado de substituição por um andróide ainda mais avançado e agressivo. Já o
terceiro filme, disparado o mais fraco da trilogia, o policial andróide
volta-se contra a mega corporação que o criou, pois eles queriam a construção
de uma nova cidade no lugar da velha Detroit, desprezando seus habitantes e
tendo apenas interesses políticos e econômicos. Ambas as continuações foram
lançadas no mercado brasileiro de vídeo VHS e DVD.
Além desses
filmes, a franquia ainda gerou outros produtos em torno do tema entre 1988 e
1994 como revistas em quadrinhos e séries para a televisão, sendo uma delas
desenho animado. E após os marcantes ataques terroristas de 11 de setembro de
2001 aos Estados Unidos, o diretor Paul Verhoeven anunciou também sua intenção
de trazer de volta às telas o famoso “robocop”. Ele e o roteirista Edward
Neumeier discutiram possíveis histórias para um novo filme da franquia, sendo
uma das idéias a de que o policial futurista, que estava aposentado, seria
retirado de um depósito e reativado para lutar contra o terrorismo.
Assim como
ocorre em dezenas de outros filmes, o subtítulo nacional (O Policial do Futuro)
é desnecessário, ficando bem melhor apenas a reprodução do nome original, porém
os responsáveis pela distribuição de filmes no Brasil insistem na equivocada
mania de aumentar os nomes originais das produções estrangeiras que chegam em
nossos cinemas e locadoras de vídeo (isso quando não alteram completamente os
nomes, o que é ainda bem pior). Mas, a despeito desse fato negativo, o que
realmente importa é que “Robocop” tem grandes momentos de entretenimento sendo
um precursor de diversos filmes similares com policiais cibernéticos que
surgiram depois, a maioria de qualidade e ideias inferiores. O filme exerce até
hoje um fascínio interessante destacando-se com grande importância na
filmografia moderna de Ficção Científica aliada à temática com elementos policiais
futuristas.
Observação: Em 2014 foi lançada uma refilmagem, com direção do
brasileiro José Padilha. “RoboCop” traz o ator Joel Kinnaman no papel do
policial do futuro, e o elenco ainda conta com nomes consagrados como Samuel L.
Jackson, Michael Keaton e Gary Oldman.
“Robocop – O Policial do Futuro” (Robocop, 1987) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com.br / blog: www.juvenatrix.blogspot.com
(postado em 13/01/06)
Robocop – O
Policial do Futuro (Robocop, Estados Unidos, 1987). Orion Pictures
International. Duração: 103 minutos. Lançado em vídeo VHS e DVD no
Brasil. Direção de Paul Verhoeven. Roteiro de Michael Miner e Edward Neumeier.
Produção Executiva de Jon Davison. Produção de Arne Schmidt. Fotografia de Jost
Vacano. Música de Basil Poledouris. Montagem de Frank Urioste e Robert Urioste.
Efeitos Especiais: “Robocop” desenhado e criado por Rob Bottin / “ED-209” por Phil Tippett. Elenco:
Peter Weller, Nancy Allen, Ronny Cox, Kurtwood Smith, Miguel Ferrer, Robert
DoQui, Daniel O´Herlihy, Paul McCrane, Ray Wise, Jesse Goins, Calvin Jung.