Sozinho no Escuro (1982)


A mente que anda rápido é louca. A que anda devagar é sã. A mente que parou... é Deus” – Dr. Leo Bain

No início dos anos 80 do século passado, mais precisamente em 1982, um filme em especial ficou marcado pela proeza de conseguir reunir três excepcionais atores veteranos das telas numa mesma história de horror: Jack Palance (o vampiro em “Drácula – O Demônio das Trevas”, 73), Donald Pleasence (o cientista louco de “Estranhas Mutações”, 73) e Martin Landau (da série de TV de FC dos anos 70 “Espaço 1999”).
Trata-se de “Sozinho no Escuro” (Alone in the Dark), escrito e dirigido por Jack Sholder, o mesmo cineasta de “A Hora do Pesadelo 2 – A Vingança de Freddy” (85) e “O Escondido” (87). O nome original é o mesmo de uma tranqueira dirigida por Uwe Boll em 2004 e estrelada por Christian Slater e Stephen Dorff, que foi lançada em DVD por aqui com o subtítulo de “O Despertar do Mal”. Porém, as semelhanças estão apenas nisso, pois o filme de Boll, assim como outros sob sua direção como “House of the Dead – O Filme”, é uma bomba totalmente dispensável, ao contrário de “Sozinho no Escuro”, que é um filme super divertido e recomendável, seja pelo incrível elenco de ícones, seja pela interessante história básica abordando o tema da insanidade humana.

O psiquiatra Dr. Daniel Potter (Dwight Schultz) é convocado para substituir o Dr. Harry Merton (Larry Pine) no acompanhamento de internos considerados perigosos no manicômio “Haven”, sob a supervisão do diretor da instituição, Dr. Leo Bain (Donald Pleasence). Ao chegar no hospício, ele conhece Ray Curtis (Brent Jennings), o zelador do famoso e temido terceiro andar do prédio, uma ala que abriga psicopatas, onde destaca-se um grupo de quatro deles, formado pelo Coronel Frank Hawkes (Jack Palance), um ex-prisioneiro de guerra e uma espécie de líder dos lunáticos, além de Byron Sutcliff (Martin Landau), conhecido como um “padre pregador”, o obeso Ronald Elster (Erland van Lidth), e o perigoso John Skaggs (Phillip Clark), um assassino apelidado de “sangrador”, que tem a característica de sangrar pelo nariz quando está excitado e prestes a matar.
O diretor Bain faz questão de enfatizar que utiliza métodos diferentes de tratamento em seu manicômio, sendo que os pacientes psicopatas do terceiro andar podem se movimentar livremente, em celas sem grades e portas apenas controladas com eletricidade. Porém, quando ocorre um “blackout” na pequena cidade de Springwood, motivando um caos urbano com saques e tumultos nas ruas, o sistema de segurança do hospital psiquiátrico falhou pela falta de eletricidade e os loucos puderam fugir passando a aterrorizar a cidade, principalmente a família do Dr. Potter, por quem o grupo de lunáticos liderado por Frank Hawkes demonstrou uma grande aversão, onde em suas mentes insanas achavam que ele havia assassinado seu substituto, o Dr. Merton.
Os psicopatas decidem então se aproveitar da escuridão opressora da noite com a falta de eletricidade causada pelo “apagão” e cercam a casa do Dr. Potter, encurralando em seu interior o médico, sua esposa Nell (Deborah Hedwall), sua filha adolescente Lyla (Elizabeth Ward), sua irmã Toni (Lee Taylor-Allan) e o amigo dela, Tom Smith, que conhecera numa passeata pacifista contra a proliferação da energia nuclear, além do detetive da polícia Jim Barnett (Gordon Watkins). A partir daí, o Dr. Potter, “sozinho no escuro”, preso em sua própria casa e sem comunicação (o telefone foi cortado), tem que lutar por sua vida e defender sua família da ameaça dos fugitivos do hospício.

O maior destaque de “Sozinho no Escuro” certamente é a presença do trio Jack Palance, Donald Pleasence e Martin Landau, cada um deles responsável por um show particular de interpretação. Palance tem pequena participação, mas suas intervenções são bastante marcantes e carregadas de tensão, mostrando uma insanidade assustadora, somente com a expressão facial. Pleasence já era um psiquiatra na série “Halloween”, no papel do incansável Dr. Loomis em sua perseguição ao psicopata Michael Myers, e ele parece se sentir bem à vontade novamente no papel de um médico para loucos. Mas acaba recebendo na pele o resultado de suas técnicas “inovadoras” de lidar com os lunáticos. E finalmente Landau faz um padre pregador que gosta de citar frases religiosas como pretexto para suas ações insanas, e seu olhar penetrante e suas gargalhadas histéricas são realmente intimidadoras.
A maior conclusão disso tudo é que seria um péssimo negócio toparmos com qualquer um desses indivíduos nas ruas, pois eles são mais perigosos e imprevisíveis que os tão temíveis psicopatas modernos e sobrenaturais do cinema como Freddy Krueger, Jason Voorhees ou Leatherface, justamente pelo fato deles serem tão parecidos com pessoas aparentemente normais e comuns.
Uma cena memorável e sempre bem vinda num filme de horror é a nudez parcial da bela babá Bunky (Carol Levy), numa cena discreta de sexo com seu namorado Billy (Keith Reddin), onde eles não imaginavam o perigo à espreita sob a cama.

Entre as curiosidades, vale destacar que o maníaco conhecido como “sangrador” escondeu seu rosto sob uma máscara de hockey quando fugiu do hospício, lembrando o colega de insanidade Jason Voorhees, da saga “Sexta-Feira 13”, que também passou a usar uma máscara similar na parte 3 da série, filmada igualmente em 1982. A criatura fantasmagórica que apareceu numa visão perturbada de Toni, a irmã do Dr. Potter, é resultado de um trabalho de maquiagem do famoso técnico Tom Savini. Num determinado momento do filme, o Dr. Potter é obrigado por Toni a ir juntamente com a esposa Nell num bar noturno onde estava havendo um show de uma banda de rock bem fraquinha com os integrantes fantasiados de lunáticos. A banda chama-se “The Sic Fucks” e sua música barulhenta é a responsável por um comentário bem humorado do Dr. Potter (com os ouvidos tampados) onde ele dizia que já havia loucura suficiente em sua vida (uma vez que sua profissão era psiquiatra de um hospício) e ainda era obrigado a assistir um show barulhento de uma banda disfarçada de loucos.

“Sozinho no Escuro” foi lançado em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, porém o disco traz apenas o filme, e não disponibiliza nenhum material extra. Anteriormente, durante o auge do mercado de vídeo VHS, a partir de meados dos anos 80 e década de 90, o filme havia sido lançado por aqui pela “Mundial” com o nome “Noite de Pânico”.

Causarei dor aos homens, pois pecaram contra o Senhor. E seu sangue escorrerá como pó e sua carne acabará. Vocês estão destinados, entre nós, a prometer sua carne” – Dr. Leo Bain, numa seqüência de pesadelo

“Sozinho no Escuro” (Alone in the Dark, 1982) # 334 – data: 24/08/05 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 13/01/06)

Sozinho no Escuro (Alone in the Dark, Estados Unidos, 1982). New Line. Duração: 92 minutos. Direção de Jack Sholder. Roteiro de Jack Sholder, a partir de história de Jack Sholder, Robert Shaye e Michael Harrpster. Produção de Robert Shaye. Produção Executiva de Benni Korzen. Música de Renato Serio. Fotografia de Joseph Mangine. Edição de Arline Garson. Direção de Arte de Henry Shrady. Efeitos Especiais de Maquiagem de Tom Brumberger e Don Lumpkin (com colaboração de Tom Savini). Elenco: Jack Palance (Frank Hawkes), Donald Pleasence (Dr. Leo Bain), Martin Landau (Byron Sutcliff), Dwight Schultz (Dr. Daniel Potter), Erland van Lidth (Ronald Elster), Phillip Clark (John Skaggs), Brent Jennings (Ray Curtis), Deborah Hedwall (Nell Potter), Elizabeth Ward (Lyla Potter), Lee Taylor-Allan (Toni Potter), Gordon Watkins (Detetive Jim Barnett), Carol Levy (Bunky), Keith Reddin (Billy), Larry Pine (Dr. Harry Merton).