Os Anjos Rebeldes (1994)


Sou um anjo, mato os filhos mesmo com as mães tomando conta. Eu faço as cidades virarem cinzas, eu até retiro a alma das menininhas quando tenho vontade. E até que venha o vosso reino, a única coisa com que podem contar em sua existência, é jamais entender o porquê!” - Gabriel

O céu está novamente em guerra. Após Lucifer, o anjo que se revoltou contra Deus e caiu formando sua legião da perdição na escuridão do inferno, é a vez de Gabriel, um anjo rebelde que enciumado por Deus acolher os seres humanos (ou macacos falantes) em seu reino dando-lhes uma alma, lidera uma nova revolta nos céus, que se estende por milhares de anos, escritos em capítulos ocultos e não divulgados da Bíblia Sagrada, manchando de sangue as asas dos anjos.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

Gabriel, interpretado pelo canastrão Christopher Walken, vem então à Terra para se apossar da alma de um psicótico coronel do exército americano, Arnold Hawthorne, conhecido por sua frieza nos campos de batalha e por praticar canibalismo com seus inimigos, que havia morrido na reserva e cuja alma, ainda presa a seu cadáver no caixão, seria fundamental para vencer sua batalha e instaurar um novo inferno nos céus. “Se cortar a cabeça dos vermelhos, sangra. Não como a gente. A gente sangra, só que frio. Dá para saber quando vai doer... Eu fui escolhido porque matava com mais frieza.”, dizia o sanguinário Coronel Arnold Hawthorne.
Um outro anjo, Simão (Eric Stoltz), contrário às idéias de Gabriel, desce também à Terra e após violento confronto matando outro anjo, Uziel, onde fica gravemente ferido, se apossa da alma do sanguinário coronel e antes de morrer, torturado e queimado vivo por Gabriel, a repassa para o corpo de uma jovem menina descendente de indígenas chamada Maria (Moriah Shinning Dove Snyder).
Devido aos violentos e misteriosos crimes ocorridos na cidade, um detetive da polícia, Thomas Dagget (Elias Koteas), ex-seminarista que abandonou a ordenação para padre por ser atormentado por sangrentas visões de genocídio de anjos, acaba se envolvendo na trama, ajudado pela professora da menina índia, Katherine (Virginia Madsen).
O interessante é que os anjos perdem seus olhos quando morrem e não tem sexo (são hermafroditas), gerando curiosidades nos médicos legistas que efetuavam as autópsias. Eu só queria saber como eles escondiam as grandes asas...
O filme é uma fantasia com fortes elementos de horror, que surpreende ao tornar uma história bíblica, uma fábula dos céus, em algo terrivelmente real, onde os anjos descem à Terra e matam violentamente, com o auxílio de poderes sobrenaturais.
Gabriel é um anjo aparentemente dócil, mas excessivamente mal, que recruta para auxiliá-lo em seus objetivos na Terra, seres humanos que estão agonizando e pendendo no limite entre a vida e a morte, transformando-os em verdadeiros zumbis andantes, como fez com o suicida Jerry (Adam Goldberg) no momento em que se enforcava, ou com a paciente terminal Rachael (Amanda Plummer), que recrutou quando morria na UTI de um hospital.
Uma sequência bem impressionante é quando o detetive e a professora procuram Gabriel em uma mina de cobre abandonada e presenciam cenas macabras de guerra, onde aparecem visões de dezenas de anjos agonizando empalados em grossas estacas.
No final, Lucifer (Viggo Mortensen) é obrigado a intervir, pois se Gabriel vencesse instalaria um novo inferno nos céus ameaçando seu reinado de horror. A menina indígena é salva (como todo desfecho feliz e óbvio, é claro) com um ritual de exorcismo libertando-a da alma do cruel coronel. E o ex-anjo de luz mata seu oponente em violento confronto arrancando-lhe o coração, a única forma de se matar um anjo (lembre-se disso quando estiver descontente com o seu), e devorando-o como um canibal faminto, reestabelecendo assim a ordem das coisas. A guerra nos céus termina, o inferno de Lucifer não é mais ameaçado, as almas dos seres humanos finalmente alcançam o paraíso, e eu só me pergunto o seguinte: o que Deus está achando de tudo isso?
Um filme interessante, original por tratar de assuntos religiosos delicados, criando uma ficção em torno de uma história inofensiva transformando-a em algo fantástico e ao mesmo tempo real e brutal, mostrando a tênue linha que separa anjos e demônios.

Nota do Autor: “Os Anjos Rebeldes” gerou outras duas sequências formando uma trilogia, ambas também protagonizadas por Christopher Walken: “Os Anjos Rebeldes II” (The Prophecy II, 1996) e “Os Anjos Rebeldes 3” (The Prophecy 3: The Ascent, 2000).

“Os Ankos Rebeldes” (The Prophecy / God’s Army, 1994) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 17/01/06)

Os Anjos Rebeldes (The Prophecy / God’s Army, Estados Unidos, 1994). Duração: 90 minutos. Disponível em vídeo VHS, assim como as outras sequências também. Direção e Roteiro de Gregory Widen. Fotografia de Bruce Douglas Johnson e Richard Clabaugh. Produção de Joel Soisson. Música de David C. Williams. Elenco: Christopher Walken, Elias Koteas, Virginia Madsen, Eric Stoltz, Amanda Plummer, Viggo Mortensen, Moriah Shinning Dove Snyder, Adam Goldberg, Steve Hitner, J. C. Quinn.