Halloween II (1981)


Eles não puderam detê-lo... Agora ele está de volta... O pesadelo não acabou.

São poucos os filmes considerados como sequência que conseguiram manter a qualidade de seu original, e ainda mais, que continuaram realmente a história a partir do momento exato onde terminou o anterior. “Halloween II” (1981), de Rick Rosenthal, continuação do clássico de John Carpenter produzido em 1978 e que iniciou a sangrenta saga cinematográfica do psicopata Michael Myers, pode ser considerado um desses casos raros, e que juntamente com seu filme anterior formam uma interessante história de aproximadamente 3 horas de duração.
A franquia gerou vários outros filmes, sendo o último produzido em 2002, “Halloween: Ressurreição”, lançado um ano depois no Brasil, e coincidentemente também dirigido pelo próprio Rick Rosenthal. Porém, a história do assassino mascarado Michael Myers poderia ter sido concluída apenas com os dois primeiros filmes da longa série. Pois o terceiro, “A Noite das Bruxas” (1982), não tem nada relacionado ao universo ficcional da saga, tanto que Michael Myers nem faz parte da trama, e os outros filmes produzidos a partir de 1988, foram criados claramente por interesses comerciais através dos lucros das bilheterias, pois os produtores transformaram o psicopata num ser imortal e indestrutível, com roteiros óbvios, previsíveis e repletos de clichês desgastados.
Em “Halloween II”, a história inicia logo após o psiquiatra Dr. Sam Loomis (Donald Pleasence) salvar a babá Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) no filme anterior, ao disparar vários tiros de revólver no psicopata Michael Myers (Dick Warlock), que utiliza uma máscara de “bicho papão” (boogeyman) para ocultar seu rosto, e uma faca para matar suas vítimas. Porém, mesmo caindo baleado do alto da sacada de uma casa, Michael Myers consegue fugir, levando em seu currículo o assassinato de três jovens e sendo perseguido pela polícia da pequena cidade de Haddonfield, em Illinois.
Enquanto Laurie é levada ao hospital local, o Dr. Loomis se junta ao xerife Leigh Brackett (Charles Cyphers) e partem à procura do maníaco Michael Myers, que era seu paciente na distante cidade de Smith’s Grove por quinze longos anos, até conseguir escapar do hospital psiquiátrico em que estava internado, e iniciar sua vingança na cidade natal (conforme eventos relatados no filme original de 1978). É noite, e como o psicopata estava obcecado em matar Laurie, numa motivação que vem de um segredo revelado por Marion Chambers (Nancy Stephens), funcionária do manicômio de onde Myers fugiu, ele vai ao encontro da jovem no hospital de Haddonfield, e até encontrá-la, deixa um rastro enorme de vítimas que cruzam seu caminho, entre várias enfermeiras e até um experiente médico plantonista, Dr. Mixter (interpretado pelo veterano Ford Rainey).
Entre as cenas de mortes, destaca-se aquela em que uma bela enfermeira nua tem seu rosto completamente queimado em feridas pútridas e gosmentas ao ser violentamente mergulhado numa banheira com água fervendo utilizada para fisioterapia dos pacientes, isso após o assassino ter matado seu namorado momentos antes.
Após muita correria, perseguições, disparos de revólver, cortes brutais com faca, muito sangue e mortes violentas, finalmente Michael Myers se confronta num momento de extrema tensão com Laurie e o Dr. Loomis, numa sequência literalmente explosiva, fechando a história de forma satisfatória, e que deveria e poderia ser definitiva se os produtores não continuassem a saga do psicopata mascarado com vários outros filmes seguintes, com roteiros descartáveis e onde predominariam uma infinidade de situações absurdas e desnecessárias.
“Halloween II” tem bem mais mortes, violência e ação que seu filme anterior, o clássico de 1978 dirigido por John Carpenter, que é mais voltado para um suspense psicológico numa história conduzida num ritmo mais cadenciado. E nessa continuação ficou evidente a invulnerabilidade do maníaco Michael Myers, reforçando sua característica imortal e força descomunal que viriam a ser exaustivamente exploradas nos filmes seguintes, através da sua reação com desprezo aos inúmeros disparos de revólver que liquidariam um ser humano normal facilmente. No filme original essa característica não existia, aproximando o psicopata de um homem de força comum, diferenciado apenas nas atitudes violentas e na sede de vingança e fúria assassina.
A história se passa durante a noite com a escuridão reforçando ainda mais um clima sombrio de morte pairando sobre a pequena cidade de Haddonfield, com um perigoso assassino solto nas ruas e rasgando a carne de suas vítimas. Porém, é inevitável não notar uma falha grotesca no roteiro quanto ao hospital onde foi internada Laurie, e para onde Myers se dirigiu e aumentou significativamente o índice de mortandade local. Numa situação completamente inverossímil, o hospital estava durante todo o tempo escuro e vazio demais, facilitando as ações do psicopata, que aliás não teve que se preocupar nem com a polícia, sempre longe dali.
Uma curiosidade interessante em “Halloween II” foi a homenagem que John Carpenter e Rick Rosenthal fizeram ao também cineasta George A. Romero, quando o porteiro e guarda do hospital está com a televisão ligada para se distrair em seu turno noturno e justamente está sendo exibido o clássico absoluto do horror “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead, 1968), primeiro filme da famosa trilogia de zumbis de Romero. Esse tipo de homenagem já havia sido feita antes no filme original de 1978, quando a babá Laurie está tomando conta de duas crianças, e a televisão exibia cenas de dois grandes clássicos da ficção científica, “O Monstro do Ártico” (The Thing, 1951), de Howard Hawks, e “Planeta Proibido” (Forbidden Planet, 1956), de Fred McLeod Wilcox.
O ator inglês Donald Pleasence nasceu em 5 de outubro de 1919, e faleceu em 2 de fevereiro de 1995 na França, participando de aproximadamente 150 filmes de todos os gêneros, na maioria como coadjuvante. Porém, ficou marcado e é muito lembrado por suas participações em filmes de horror como “A Carne e o Diabo” (1959, ao lado de Peter Cushing), “Circo dos Horrores” (60), “Viagem Fantástica” (66), “THX 1138” (71), “Estranhas Mutações” (73), “Drácula” (79), “Fuga de New York” (81), “Drácula em Veneza” (86), “Príncipe das Sombras” (87) e “Enterrado Vivo” (89), entre outros.
A atriz americana Jamie Lee Curtis nasceu em 22 de novembro de 1958, sendo filha de artistas, o casal de atores Tony Curtis e Janet Leigh (atriz da famosa “cena do chuveiro” no clássico “Psicose”, 1960). Sua participação em filmes de horror e ficção científica é pequena mas ela sempre é lembrada principalmente por sua atuação nos dois primeiros filmes da série “Halloween” e mais recentemente por voltar em “Halloween H20” (1998) e “Halloween: Ressurreição” (2002). Em sua filmografia destacam-se também “Fog – A Bruma Assassina” (1980), “Fuga de New York” (1981) e “Vírus” (1999), no gênero fantástico, e “True Lies” (1995), um “blockbuster” de ação onde atuou ao lado de Arnold Schwarzenegger.

“Halloween II” (Halloween II, 1981) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/01/06)

Halloween II (Halloween II, Estados Unidos, 1981). Duração: 92 minutos. Direção de Rick Rosenthal. Roteiro e Produção de John Carpenter e Debra Hill. Produção Executiva de Moustapha Akkad. Música de John Carpenter e Alan Howarth. Fotografia de Dean Cundey. Elenco: Donald Pleasence (Dr. Sam Loomis), Jamie Lee Curtis (Laurie Strode), Charles Cyphers (Xerife Leigh Brackett), Lance Guest (Jimmy Lloyd), Dick Warlock (Michael Myers), Hunter von Leer (Deputado Gary Hunt), Nancy Stephens (Marion Chambers), Tawny Moyer (Enfermeira Jill Franco), Ana Alicia (Enfermeira Janet Marshall), Pamela Susan Shoop (Enfermeira Karen Bailey), Gloria Gifford (Enfermeira chefe Mrs. Alves), Ford Rainey (Dr. Mixter), Leo Rossi (Budd).