“Carne humana para hamburgers intergaláticos”
A “Editora Van Blad” lançou no formato VCD com distribuição nas bancas de jornais no início de Fevereiro de 2005 pela revista “VCD Collection” ano 1, número 4, o primeiro trabalho de maior porte do cineasta Peter Jackson, responsável por “Meet the Feebles” (89), “Fome Animal” (92), “Os Espíritos” (96) e a trilogia de “O Senhor dos Anéis” (2001/02/03). Trata-se de “Trash, Náusea Total” (Bad Taste, 87), que já havia sido lançado no Brasil no formato VHS e fora de catálogo há muito tempo.
É um filme de baixo orçamento e muita violência e sangue, onde Peter Jackson fez de tudo, desde atuar em dois papéis diferentes, dirigir, produzir, escrever o roteiro, editar e até criar os efeitos especiais e a maquiagem, além da direção da fotografia, filmando nos finais de semana com amigos e uma câmera 16 mm. Inicialmente, a idéia era apenas um projeto de curta metragem com cerca de dez minutos, abordando basicamente uma história de canibais e que chamava-se “Roast of the Day” (algo como “O Assado do Dia”), com os trabalhos se iniciando em 1983. Porém, com o passar do tempo foram surgindo novas idéias e com o lançamento bem sucedido de “The Evil Dead”, de Sam Raimi, o filme de Peter Jackson foi aumentado para quase uma hora e meia em quatro anos de filmagens, e o roteiro recebeu mudanças interessantes passando a se chamar “Bad Taste”, ou “Mau Gosto” / “Sabor Ruim” em traduções literais. Aliás, o nome nacional escolhido é até interessante pois “Náusea Total” é bastante coerente com a história (sem o desnecessário “Trash” colocado para aproveitar a moda “trashmania” que surgiu no Brasil na época).
Um coletor de impostos, Giles Copland (Craig Smith), vai até uma pequena cidade do interior da Nova Zelândia chamada Kaihoro, e encontra tudo estranhamente vazio, sendo surpreendido pela perseguição de um psicopata armado com uma faca enorme, Robert (Peter Jackson, com barba). Ao pedir socorro numa das casas, Giles é recebido por um grupo de alienígenas disfarçados de humanos, que o capturam para tornar-se o cardápio. Os extraterrestres vieram ao nosso planeta com o objetivo de estocar carne humana para vender como alimento numa famosa rede intergaláctica de restaurantes chamada de “Deliciosas Mordidas” (que por sua vez precisava apresentar uma iguaria diferente aos seus clientes para combater a concorrente “Frituras Lunáticas”).
Porém, para enfrentá-los e salvar o coletor de impostos de se tornar janta dos alienígenas canibais, surge um grupo bizarro de agentes especiais fortemente armados, representando o “Serviço de Defesa e Investigação Alienígena” (ou A.I.D.S. – “Alien Investigation and Defense Service”) do governo neozelandês. O grupo é formado pelo nerd Derek (Peter Jackson, sem barba), companheiro de Barry (Pete O´Herne), além da dupla Frank (Mike Minett) e Ozzy (Terry Potter).
O filme é uma paródia super divertida e extremamente sangrenta, repleta de situações hilárias e fortes cenas de violência com direito a cabeças explodidas à bala, banhos de sangue em profusão, vísceras expostas, desmembramentos, dilacerações, canibalismo, e todo tipo de atrocidades. Algumas cenas são antológicas e que merecem destaque como quando o alienígena Robert vomita uma imensa gosma verde num prato, a qual é considerada um delicioso mingau que deve ser experimentado pelos companheiros, obrigando o agente Frank disfarçado a comer um pouco da fina iguaria. Ou ainda quando o outro agente especial Ozzy (que lembra um soldado tipo “Rambo”) dispara uma arma enorme contra a casa onde os alienígenas estão escondidos, e o imenso projétil atravessa as janelas abertas e acerta uma ovelha que estava pastando distraída nos fundos, explodindo o bicho num monte de sangue e carne destroçada.
Algumas homenagens também podem ser reparadas como numa cena onde Peter Jackson referencia o momento de dormir dos integrantes da família de “Os Waltons”, famosa série de TV dos anos 70. Ou ainda num cena homenageando o clássico moderno “O Iluminado” (1980), quando Derek está enlouquecido depois de bater a cabeça e perder partes do cérebro (e também de misturar pedaços de cérebros dos alienígenas ao seu próprio), e arrombar uma porta com uma serra elétrica, numa cena similar àquela de Jack Nicholson no filme de Stanley Kubrick.
Sem contar a completamente estranha e hilária nave espacial dos alienígenas (que só rivaliza com a nave de “Palhaços Assassinos” / “Killer Clowns From Outer Space”, 88). Aliás, uma curiosidade é que não existem mulheres entre os principais personagens (existem apenas uma ou outra embaixo de fantasias interpretando alienígenas masculinos). E o cineasta multifuncional Peter Jackson durante o período em que filmava “Trash, Náusea Total” (quatro longos anos), conheceu a roteirista Francis Walsh,que se tornou sua esposa e parceira em muitos trabalhos posteriores como a badalada saga “O Senhor dos Anéis”.
“Trash, Náusea Total” é recomendado para todos aqueles que apreciam o cinema fantástico de baixo orçamento, produções menores e mais caseiras com histórias bizarras e não convencionais. É indicado também para os fãs do cineasta Peter Jackson, que antes de tornar-se mundialmente conhecido pela trilogia de “O Senhor dos Anéis”, já fazia seus filmes baratos com temas escatológicos. E para os colecionadores de filmes, certamente vale a pena adquirir o VCD distribuído nas bancas de jornais, como um item indispensável em qualquer videoteca de horror.
A “Editora Van Blad”, a exemplo do que já havia ocorrido com o lançamento anterior do VCD de “O Túnel do Horror” (uma antologia com um episódio baseado em conto de Stephen King), cometeu novamente alguns equívocos que inevitavelmente incomodam. A começar pela capa do VCD, informando duas vezes que o filme é do diretor Peter Jackson (bastava uma única vez, não precisava mencionar o fato no topo e embaixo da ilustração de capa). Porém, eles acertaram em reproduzir o cartaz original, onde um alienígena faz um gesto obsceno com o dedo médio (nos Estados Unidos, houve um fato ridículo sobre a distribuição do vídeo, onde acrescentaram mais um dedo ao lado do dedo médio do alienígena, não simulando mais um gesto obsceno e sim um dispensável sinal tipo “paz e amor”).
Na contra capa do VCD, a sinopse tem um erro grotesco, mencionando que o filme tem muitas “decepções”, onde provavelmente eles queriam dizer “decepamentos” (pois a palavra “decepação” não existe no famoso dicionário da língua portuguesa “Aurélio”). Sem contar que quem fez a arte final trocou uma simples palavra no nome de Peter Jackson, que ficou como “Oeter”. Tem também a informação “Tempo VCD: 60 min”, que não faz o menor sentido, já que o filme tem 88 minutos e não foi cortado (ainda bem...). A editora deveria se preocupar mais com o trabalho de revisão para a arte final das capas do VCD.
Já a revista “VCD Collection” número 4, tem como maior erro colocar na capa uma foto onde destaca um “orc” de “O Senhor dos Anéis”, quando o certo deveria ser uma imagem relacionada ao filme que está sendo lançado pela revista, ou seja, um cartaz ou foto de “Bad Taste”.
“Trash, Náusea Total” (Bad Taste, 1987) # 299 – data: 13/02/05 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 16/01/06)
“Trash, Náusea Total” (Bad Taste, Nova Zelândia, 1987). Duração: 88 minutos. Direção, produção, roteiro, fotografia, edição, efeitos especiais e maquiagem de Peter Jackson. Música de Michelle Scullion. Elenco: Peter Jackson (Derek / Robert), Barry (Pete O´Herne), Frank (Mike Minett), Ozzy (Terry Potter), Craig Smith (Giles Copland), Doug Wren (Líder alienígena), Dean Lawrie, Peter Vere-Jones, Ken Hammon, Robin Griggs, Michael Gooch, Peter Gooch, Laurie Yarrall, Shane Yarrall, Philip Lamey.
A “Editora Van Blad” lançou no formato VCD com distribuição nas bancas de jornais no início de Fevereiro de 2005 pela revista “VCD Collection” ano 1, número 4, o primeiro trabalho de maior porte do cineasta Peter Jackson, responsável por “Meet the Feebles” (89), “Fome Animal” (92), “Os Espíritos” (96) e a trilogia de “O Senhor dos Anéis” (2001/02/03). Trata-se de “Trash, Náusea Total” (Bad Taste, 87), que já havia sido lançado no Brasil no formato VHS e fora de catálogo há muito tempo.
É um filme de baixo orçamento e muita violência e sangue, onde Peter Jackson fez de tudo, desde atuar em dois papéis diferentes, dirigir, produzir, escrever o roteiro, editar e até criar os efeitos especiais e a maquiagem, além da direção da fotografia, filmando nos finais de semana com amigos e uma câmera 16 mm. Inicialmente, a idéia era apenas um projeto de curta metragem com cerca de dez minutos, abordando basicamente uma história de canibais e que chamava-se “Roast of the Day” (algo como “O Assado do Dia”), com os trabalhos se iniciando em 1983. Porém, com o passar do tempo foram surgindo novas idéias e com o lançamento bem sucedido de “The Evil Dead”, de Sam Raimi, o filme de Peter Jackson foi aumentado para quase uma hora e meia em quatro anos de filmagens, e o roteiro recebeu mudanças interessantes passando a se chamar “Bad Taste”, ou “Mau Gosto” / “Sabor Ruim” em traduções literais. Aliás, o nome nacional escolhido é até interessante pois “Náusea Total” é bastante coerente com a história (sem o desnecessário “Trash” colocado para aproveitar a moda “trashmania” que surgiu no Brasil na época).
Um coletor de impostos, Giles Copland (Craig Smith), vai até uma pequena cidade do interior da Nova Zelândia chamada Kaihoro, e encontra tudo estranhamente vazio, sendo surpreendido pela perseguição de um psicopata armado com uma faca enorme, Robert (Peter Jackson, com barba). Ao pedir socorro numa das casas, Giles é recebido por um grupo de alienígenas disfarçados de humanos, que o capturam para tornar-se o cardápio. Os extraterrestres vieram ao nosso planeta com o objetivo de estocar carne humana para vender como alimento numa famosa rede intergaláctica de restaurantes chamada de “Deliciosas Mordidas” (que por sua vez precisava apresentar uma iguaria diferente aos seus clientes para combater a concorrente “Frituras Lunáticas”).
Porém, para enfrentá-los e salvar o coletor de impostos de se tornar janta dos alienígenas canibais, surge um grupo bizarro de agentes especiais fortemente armados, representando o “Serviço de Defesa e Investigação Alienígena” (ou A.I.D.S. – “Alien Investigation and Defense Service”) do governo neozelandês. O grupo é formado pelo nerd Derek (Peter Jackson, sem barba), companheiro de Barry (Pete O´Herne), além da dupla Frank (Mike Minett) e Ozzy (Terry Potter).
O filme é uma paródia super divertida e extremamente sangrenta, repleta de situações hilárias e fortes cenas de violência com direito a cabeças explodidas à bala, banhos de sangue em profusão, vísceras expostas, desmembramentos, dilacerações, canibalismo, e todo tipo de atrocidades. Algumas cenas são antológicas e que merecem destaque como quando o alienígena Robert vomita uma imensa gosma verde num prato, a qual é considerada um delicioso mingau que deve ser experimentado pelos companheiros, obrigando o agente Frank disfarçado a comer um pouco da fina iguaria. Ou ainda quando o outro agente especial Ozzy (que lembra um soldado tipo “Rambo”) dispara uma arma enorme contra a casa onde os alienígenas estão escondidos, e o imenso projétil atravessa as janelas abertas e acerta uma ovelha que estava pastando distraída nos fundos, explodindo o bicho num monte de sangue e carne destroçada.
Algumas homenagens também podem ser reparadas como numa cena onde Peter Jackson referencia o momento de dormir dos integrantes da família de “Os Waltons”, famosa série de TV dos anos 70. Ou ainda num cena homenageando o clássico moderno “O Iluminado” (1980), quando Derek está enlouquecido depois de bater a cabeça e perder partes do cérebro (e também de misturar pedaços de cérebros dos alienígenas ao seu próprio), e arrombar uma porta com uma serra elétrica, numa cena similar àquela de Jack Nicholson no filme de Stanley Kubrick.
Sem contar a completamente estranha e hilária nave espacial dos alienígenas (que só rivaliza com a nave de “Palhaços Assassinos” / “Killer Clowns From Outer Space”, 88). Aliás, uma curiosidade é que não existem mulheres entre os principais personagens (existem apenas uma ou outra embaixo de fantasias interpretando alienígenas masculinos). E o cineasta multifuncional Peter Jackson durante o período em que filmava “Trash, Náusea Total” (quatro longos anos), conheceu a roteirista Francis Walsh,que se tornou sua esposa e parceira em muitos trabalhos posteriores como a badalada saga “O Senhor dos Anéis”.
“Trash, Náusea Total” é recomendado para todos aqueles que apreciam o cinema fantástico de baixo orçamento, produções menores e mais caseiras com histórias bizarras e não convencionais. É indicado também para os fãs do cineasta Peter Jackson, que antes de tornar-se mundialmente conhecido pela trilogia de “O Senhor dos Anéis”, já fazia seus filmes baratos com temas escatológicos. E para os colecionadores de filmes, certamente vale a pena adquirir o VCD distribuído nas bancas de jornais, como um item indispensável em qualquer videoteca de horror.
A “Editora Van Blad”, a exemplo do que já havia ocorrido com o lançamento anterior do VCD de “O Túnel do Horror” (uma antologia com um episódio baseado em conto de Stephen King), cometeu novamente alguns equívocos que inevitavelmente incomodam. A começar pela capa do VCD, informando duas vezes que o filme é do diretor Peter Jackson (bastava uma única vez, não precisava mencionar o fato no topo e embaixo da ilustração de capa). Porém, eles acertaram em reproduzir o cartaz original, onde um alienígena faz um gesto obsceno com o dedo médio (nos Estados Unidos, houve um fato ridículo sobre a distribuição do vídeo, onde acrescentaram mais um dedo ao lado do dedo médio do alienígena, não simulando mais um gesto obsceno e sim um dispensável sinal tipo “paz e amor”).
Na contra capa do VCD, a sinopse tem um erro grotesco, mencionando que o filme tem muitas “decepções”, onde provavelmente eles queriam dizer “decepamentos” (pois a palavra “decepação” não existe no famoso dicionário da língua portuguesa “Aurélio”). Sem contar que quem fez a arte final trocou uma simples palavra no nome de Peter Jackson, que ficou como “Oeter”. Tem também a informação “Tempo VCD: 60 min”, que não faz o menor sentido, já que o filme tem 88 minutos e não foi cortado (ainda bem...). A editora deveria se preocupar mais com o trabalho de revisão para a arte final das capas do VCD.
Já a revista “VCD Collection” número 4, tem como maior erro colocar na capa uma foto onde destaca um “orc” de “O Senhor dos Anéis”, quando o certo deveria ser uma imagem relacionada ao filme que está sendo lançado pela revista, ou seja, um cartaz ou foto de “Bad Taste”.
“Trash, Náusea Total” (Bad Taste, 1987) # 299 – data: 13/02/05 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 16/01/06)
“Trash, Náusea Total” (Bad Taste, Nova Zelândia, 1987). Duração: 88 minutos. Direção, produção, roteiro, fotografia, edição, efeitos especiais e maquiagem de Peter Jackson. Música de Michelle Scullion. Elenco: Peter Jackson (Derek / Robert), Barry (Pete O´Herne), Frank (Mike Minett), Ozzy (Terry Potter), Craig Smith (Giles Copland), Doug Wren (Líder alienígena), Dean Lawrie, Peter Vere-Jones, Ken Hammon, Robin Griggs, Michael Gooch, Peter Gooch, Laurie Yarrall, Shane Yarrall, Philip Lamey.