O Enigma de Talos (1998)


Ouçam, todos os que chegaram aqui, os que vivem sua existência, evitem este lugar abandonado por tudo que é sagrado. Eu que pequei no Lugar da Verdade. Eu que matei os inocentes. Eu que confundi terror com prazer.” – maldição escrita na tumba da múmia Talos

A maioria dos filmes que apresentam como tema uma múmia revelam também uma maldição como lenda em torno da profanação de sua tumba. Este é o caso igualmente de “O Enigma de Talos” (Talos the Mummy, 1998), que tem o privilégio de contar com a participação ilustre, mesmo que pequena apenas no prólogo de dez minutos, do lendário ator Christopher Lee, mais conhecido como o eterno Conde Drácula dos saudosos filmes ingleses da “Hammer” entre o final da década de 50 e meados dos anos 70 do século passado.

A história é simples e trivial, sem grandes variações em relação aos tradicionais clichês de filmes de múmias. Começa no Egito em 1942, mais precisamente numa região conhecida como “Valley of the Kings”, onde uma expedição arqueológica liderada por Sir Richard Turkel (Christopher Lee), procura por tesouros escondidos que pertenceram ao Alto Sacerdote Maya. Porém, o que eles acabam encontrando é uma tumba proibida de um antigo príncipe grego feiticeiro chamado Talos, que foi enterrado há três mil anos atrás com seus órgãos internos removidos. Apesar de identificarem uma maldição inscrita no túmulo da múmia (reproduzida no início desse artigo), os arqueólogos continuaram as escavações e libertaram um terrível mal.
Passados mais de cinquenta anos, a neta de Sir Richard, Samantha Turkel (a bela Louise Lombard), faz parte de um grupo científico do Museu Britânico que está trabalhando no sítio arqueológico onde foi encontrado o túmulo de Talos. A expedição é liderada por Burke (Gerard Butler), noivo de Samantha, e conta ainda com um paranormal, Bradley Cortese (Sean Pertwee), e uma médica, Dra. Claire Mulrooney (Lysette Anthony), além da coordenação externa do Prof. Marcus (Michael Lerner). A equipe consegue localizar a tumba de Talos e remove os envoltórios de sua múmia, transportando-os para Londres, na Inglaterra, e recolhendo também um amuleto misterioso que estava no túmulo. Porém, os trabalhos foram tumultuados por uma série de ocorrências estranhas envolvendo membros ao redor da expedição, com acessos de loucura e comportamentos violentos.
Sete meses depois do incidente no Egito, os envoltórios de Talos estão expostos num museu em Londres e repentinamente desaparecem, coincidindo com a chegada de um raro alinhamento planetário. Paralelamente, várias pessoas começam a ser assassinadas brutalmente e com seus órgãos internos removidos de forma misteriosa e cirúrgica. Quando um político do senado americano é encontrado morto e com os olhos retirados, a embaixada dos Estados Unidos decide enviar o detetive Riley (Jason Scott Lee) para investigar o caso e a possível existência de um serial killer, auxiliado por um policial inglês, Bartone (Jack Davenport).
Outras mortes acontecem (não poupando nem um cachorro que guiava um cego), com as vítimas aparecendo sem determinados órgãos como os pulmões, fígado e maxilar, despertando a atenção do detetive Riley para as investigações e incitando a reação perturbada de um dos arqueólogos da equipe que trouxe os envoltórios de Talos para o museu britânico, Bradley Cortese, que possui estranhos poderes paranormais, na tentativa de alertar as pessoas, especialmente a amiga curandeira espiritual Edith Butros (Shelley Duvall), de uma possível conspiração para a ressurreição de Talos no mundo moderno, durante um evento astrológico envolvendo um raro alinhamento planetário que estaria se formando em breve.

“O Enigma de Talos” é apenas mais um filme comum sobre múmia, que tem como única vantagem em relação às outras produções similares, a honra de ter Christopher Lee no elenco, mesmo que por muito pouco tempo. A história é óbvia e previsível demais, carregada de uma infinidade de situações absurdas, partindo de uma premissa difícil de assimilar, ou seja, as ações assassinas e excessivamente sobrenaturais de um monte de trapos (ou envoltórios, como frisou a personagem Samantha Turkel) da múmia de um antigo feiticeiro herege, que está recolhendo os órgãos internos de suas vítimas num esforço para recompor seu corpo, num plano maquiavélico de transmutação para nosso mundo. O maior destaque do filme, além da beleza da atriz Louise Lombard, é o ousado desfecho escolhido pelos produtores, num estilo parecido com “O Décimo Oitavo Anjo” (The Eighteenth Angel), lançado no mesmo ano, deixando de lado aqueles típicos finais apropriados para agradar ao grande público.

Entre as curiosidades, tem uma cena passada na Fundação Turkel, uma entidade criada pelo prestigiado arqueólogo Sir Richard, onde aparece rapidamente um quadro com uma pintura muito bem produzida de Christopher Lee. E as filmagens ocorreram em locações e estúdios em Luxemburgo, um país menor da Europa que oferece custos mais baixos de produção.
O filme foi lançado em DVD na Inglaterra com o nome original “Talos the Mummy” e nos Estados Unidos como “Tale of the Mummy”. No Brasil, foi lançado em DVD como “O Enigma de Talos” através da “PlayArte”, tendo também distribuição nas bancas com um preço mais acessível, sob encomenda da “Editora D+T”. O DVD traz como material extra apenas uma biografia curta do veterano ator inglês Christopher Lee, nascido em 1922 e que foi condecorado em 2001 pela Rainha Elizabeth com uma medalha de Comandante da Ordem do Império Britânico, e também do ator Jason Scott Lee, americano de Los Angeles nascido em 1966 e com um currículo composto por filmes como “O Soldado do Futuro” (98), “Drácula II – A Ascensão” e “Timecop 2: O Guardião do Tempo” (ambos de 2003). A contra capa do DVD tem dois erros grotescos. Logo abaixo do nome de Christopher Lee aparecem os títulos de alguns filmes em que ele atuou, e houve uma confusão com a citação de “A Casa da Noite Eterna” (73), estrelado por Roddy McDowall, em vez de provavelmente a antologia “A Casa Que Pingava Sangue” (70), esse sim um filme onde Lee participou em uma das histórias. E o mesmo engano aconteceu também no caso de Jason Scott Lee, onde foi citado o filme “Soldado Universal”, com Jean-Claude Van Damme, quando provavelmente era para ser “O Soldado do Futuro”, com Kurt Russell.

Eu derrotei a vontade de Amun-Ra. Nunca antes olhos humanos viram tal esplendor. Levante-se e ajoelhe-se aos pés de Talos” – da múmia Talos para a arqueóloga Samantha Turkel

“O Enigma de Talos” (Talos the Mummy, 1998) # 288 – data: 23/12/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 20/01/06)

“O Enigma de Talos” (Talos the Mummy / Tale of the Mummy, Estados Unidos / Inglaterra / Luxemburgo, 1998). Duração: 119 minutos. Direção de Russell Mulcahy. Roteiro de John Esposito e Russell Mulcahy, a partir de história de Keith Williams e Russell Mulcahy. Produção de Silvio Maruglia, Daniel Sladek e Jeffrey White. Produção Executiva de Romain Schroeder, Phil Botana e Scott Vandiver. Fotografia de Gabriel Beristain. Música de Stefano Mainetti. Edição de Armen Minasian. Direção de Arte de Simon Bowles e Peter Powis. Desenho de Produção de Bryce Walmsley. Elenco: Jason Scott Lee (Detetive Riley), Louise Lombard (Samantha Turkel), Sean Pertwee (Bradley Cortese), Lysette Anthony (Dra. Claire Mulrooney), Christopher Lee (Sir Richard Turkel), Shelley Duvall (Edith Butros), Michael Lerner (Prof. Marcus), Jack Davenport (Detetive Bartone), Gerard Butler (Burke), Honor Blackman, Roger Morrisey, Jon Polito, Ronan Vibert, Bill Treacher, Elizabeth Power, Cyrill Nri, Edward Tudor-Pole, Craig Stout, Anthony Beselle, Jamie Treacher, Ann Overstail, Alex Torino, David Sterne, David Henry, Leslie Woodhall.