Mutantes Assassinos (Snakehead Terror, 2004)


É curioso observar e extremamente bizarro imaginar como existem profissionais da indústria de cinema (apesar de que pertencentes a uma categoria secundária), que se dedicam a produzir filmes baratos de horror com ideias tão óbvias e exageradamente já exploradas, sempre insistindo com os velhos e conhecidos clichês, como por exemplo aquele do tipo “produto químico contamina lago e transforma os peixes em monstros mutantes assassinos devoradores de carne humana”. Pois em 2004 foi lançado mais um filme exatamente com esse argumento básico: “Mutantes Assassinos” (Snakehead Terror), dirigido por Paul Ziller e que traz curiosamente no elenco o ator William B. Davis, mais conhecido como o misterioso vilão “canceroso” da cultuada série de TV “Arquivo X”.

Numa pequena cidade do interior, que tem como atração o parque florestal do Lago Cultus, as autoridades locais foram obrigadas a despejar produtos químicos venenosos no imenso lago para dizimar uma população de peixes agressivos conhecidos como “snakehead” (do título original), que estavam devorando as outras espécies prejudicando o ecossistema, a pesca e os bons negócios do comércio da cidade. Dois anos depois, quando todos imaginavam que os peixes predadores tinham desaparecido, animais mortos trucidados por dentes afiados como um urso e um cachorro começam a aparecer nas margens do lago, chamando a atenção do xerife Patrick James (Bruce Boxleitner). O mistério aumenta ainda mais quando surge o cadáver mordido de um velho caçador, Ray Wilkens (Don MacKay), e quando o jovem James (Matthew MacCaull), namorado da adolescente Amber (Chelan Simmons), filha do xerife, é atacado violentamente enquanto nadava no lago.
Tentando com dificuldade interditar o lago para evitar mais mortes enquanto investiga a origem dos assassinatos brutais, o xerife solicita a ajuda de uma bióloga do Departamento de Recursos Naturais, a bela Lori Dale (Carol Alt), e também do médico legista local, Dr. Jenkins (o veterano William B. Davis), onde juntos chegam à conclusão que os causadores das mortes sangrentas são os peixes snakehead, que misteriosamente sobreviveram do ataque de veneno no passado.
Enquanto isso, um grupo de adolescentes tenta resolver o problema por conta própria e saem de barco à procura dos mutantes assassinos. A jovem Amber, magoada com a morte do namorado, e com uma inteligência de uma ostra, reúne seus amigos Craig (Chad Krowchuk), Luke (Ryan McDonell) e Jagger (Juliana Wimbles), e juntos irão oferecer suas carnes para o deleite das criaturas famintas. E para piorar ainda mais a situação, descobre-se que hormônios humanos de crescimento estavam sendo jogados no lago para tentar erguer a atividade pesqueira local em crise, trazendo como resultado desastroso o fato dos peixes mutantes ficarem gigantescos e ainda mais ameaçadores, adquirindo a capacidade de se locomoverem pela terra, em busca de alimento, principalmente a carne humana de quem invadisse seus domínios.

É engraçado, mas quanto mais for absurdo o roteiro, quanto mais elementos ridículos um filme apresentar em sua história, mais curiosidade eu tenho em vê-lo, e principalmente quando a intenção dos produtores é a de filmar algo sério, não apelando intencionalmente para a comédia com piadas idiotas. Talvez porque eu queira ver com os próprios olhos o resultado final de um monte de besteiras agrupadas num filme, e isso pode talvez explicar um dos motivos de tanta atração pelos chamados filmes “trash”, aquele tipo de cinema “lixo” que pode ser mesmo uma grande porcaria dispensável, ou até algo que proporcione uma diversão rápida justamente por ser tão ruim. De qualquer maneira, independente de como classificar a tranqueira, se descartável ou recomendável, confesso que tenho uma incrível curiosidade de ver tralhas, principalmente dentro da temática de “cientistas loucos”, “homens transformados em monstros” e “criaturas mutantes assassinas”, entre outros subgêneros do cinema de horror bagaceiro. Vale sempre lembrar que os nostálgicos anos 50 do século passado foram os principais na produção de filmes paupérrimos com esses argumentos, presenteando-nos com uma infinidade de tranqueiras tão toscas e com histórias tão inacreditavelmente ruins que hoje são pérolas cultuadas por colecionadores.
“Mutantes Assassinos” lembra bastante outros filmes similares como os divertidos “Pânico no Lago” (Lake Placid, 99), sobre um crocodilo imenso e que até foi exibido nos cinemas, e “Frankenfish – A Criatura Assassina” (Frankenfish, 2004), sobre um peixe enorme mutante e que foi lançado por aqui somente no mercado de vídeo, só para citar dois exemplos. O termo “frankenfish” é até citado numa notícia de jornal.
Porém, analisando rapidamente, o filme é ruim de uma maneira geral, pois tem um roteiro (escrito por A. G. Lawrence) infestado de situações absurdas (como a ideia daqueles adolescentes idiotas saírem de barco para caçarem os peixes mutantes), os efeitos especiais são bem toscos, e o elenco é completamente inexpressivo. É claro que tem que ter um casal de heróis, sendo nesse caso o xerife local e a mocinha bióloga que aparece para ajudá-lo com o conhecimento científico. É claro que devem existir personagens dispensáveis inseridos na história apenas para servirem de comida e justificarem os ataques dos peixes mutantes. É claro que sempre tem um personagem que é mais idiota que os outros, como o completamente incompetente policial Reece (Bro Gilbert). E é claro que na maioria desses tipos de filmes, o desfecho é sempre o mesmo, previsível e dispensável.
Talvez, contrastando a ruindade geral, no quesito “sangue e tripas”, até existam algumas cenas razoáveis com mortes violentas, e pode ser que os peixes mutantes assassinos devoradores de carne humana despertem algum interesse, mas sem muita exigência. No mais, é só. Ou seja, saciei novamente minha curiosidade por tranqueiras e cheguei à conclusão que “Mutantes Assassinos” é uma bomba e somente vale mesmo se for por curiosidade em se conhecer todos os tipos de cinema de horror.

“Mutantes Assassinos” (Snakehead Terror, Canadá, 2004) # 364 – data: 20/01/06 – avaliação: 3 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 20/01/06)