Amityville 3-D (1983)


O escritor Jay Anson lançou um interessante livro chamado “Horror em Amityville” (The Amityville Horror), contando uma típica história de fantasmas e assombrações, inspirada em eventos reais ocorridos em 1975, onde uma família formada pelo casal George e Kathy Lutz e seus filhos pequenos, mudou-se para uma mansão em Amityville, Long Island, e passou a enfrentar uma série de situações misteriosas envolvendo fenômenos paranormais em vários cômodos da casa, num horror cada vez mais progressivo que culminou com a fuga desesperada dos novos moradores depois de 28 dias. A história anterior da casa revelava que um jovem, Ronald DeFeo, matou sua família com uma espingarda, alegando estar recebendo orientações de uma estranha voz em sua mente, e que os espíritos perturbados dos que morreram assassinados ainda permaneciam assombrando o local.
O livro serviu de base para a realização de um filme em 1979, lançado em VHS por aqui como “A Cidade do Horror” (The Amityville Horror), de Stuart Rosenberg. Por abordar uma temática sempre interessante para os fãs do cinema de horror, a famosa história de “mansão assombrada”, e reforçada ainda pela idéia da existência de fatos reais sobre o caso, o filme tornou-se um grande sucesso e originou uma enorme franquia com mais outros oito filmes, todos inferiores ao original, e a partir da parte 3, os roteiros nem tinham uma relação coerente com o argumento principal que inspirou todo o universo ficcional em torno de “Horror em Amityville”.
O segundo filme, dirigido por Damiano Damiani, lançado na televisão e no mercado de vídeo VHS como “Terror em Amityville” (Amityville 2 – The Possession, 1982), e depois em DVD de banca como “Amityville 2”, tem seu argumento justamente enfocando os eventos anteriores à chegada da família Lutz à Amityville, e os quais seriam a motivação para a assombração na casa. O roteiro conta a história de um jovem que matou sua família, alegando estar sob o comando de uma voz externa, sendo preso e considerado possuído por um demônio, precisando receber um exorcismo a cargo de um padre católico.
A terceira parte inicia um ciclo de histórias que não são sequências cronológicas do filme original, além também de não existirem relações com os fatos reais que aconteceram na mansão, demonstrando claramente que os produtores apenas queriam lançar filmes utilizando a marca “Amityville”, que já estava bem conhecida entre o público. Em 1983 foi produzido então “Amityville 3-D”, lançado em DVD de banca e que já havia sido distribuído em VHS no Brasil com os nomes “Amityville 3 – O Demônio” (“Amityville 3 – The Demon”) e “Pesadelo Mortal – Amityville 3”, além de também ser conhecido como “Amityville – A Casa do Medo”, no lançamento no cinema.

A história começa apresentando o repórter investigativo John Baxter (Tony Roberts) e sua colega de trabalho, a fotógrafa Melanie (Candy Clark), que estão a serviço de uma revista chamada “Reveal”, especializada em desmascarar fraudes paranormais. Eles então simulam a participação numa sessão espírita suspeita comandada pelo casal de idosos Harold e Emma Caswell (John Beal e Leora Dana, respectivamente), que utilizam uma imponente mansão em Amityville como base. Após a revelação de ser apenas mais uma farsa, ao serem encontrados diversos equipamentos no porão, próprios para a criação de efeitos especiais que dariam a impressão de manifestação de espíritos, o repórter entra em contato com o proprietário da enorme casa, o agente imobiliário Clifford Sanders (John Harkins), que foi acusado de ser cúmplice nas sessões espíritas falsas. Tentando se livrar do problema, ele explica que a mansão não tem valor comercial pois foi palco no passado de uma chacina cometida contra uma família inteira, e oferece o imóvel por um preço irrisório para o repórter Baxter. Uma vez que o jornalista está enfrentando uma crise conjugal com sua esposa Nancy (Tess Harper), num início de separação, ele decide comprar a casa em Amityville para morar sozinho, convidando sua bela filha de dezesseis anos, Susan (Lori Loughlin), para visitá-lo regularmente.
Numa dessas visitas, Susan e um grupo de amigos formado pela loirinha Lisa (Meg Ryan) e por Jeff (Neill Barry) e Roger (Peter Kowanko), decidem fazer aquela tradicional brincadeira do copo, numa tentativa de comunicação com os espíritos presos na casa, com um resultado assustador. E em outra oportunidade eles fazem um passeio de barco no enorme lago nos fundos da mansão, que culminou numa tragédia onde Susan morreu afogada. Porém, sua mãe Nancy insiste em afirmar que a filha ainda está viva, por causa de uma misteriosa aparição no interior da casa. O repórter Baxter decide então realizar uma investigação convidando uma equipe científica, liderada pelo Dr. Elliot West (Robert Joy), do Instituto de Pesquisas Paranormais da Universidade de Long Island. Eles verificam a presença de fenômenos sobrenaturais misteriosos no interior da casa, além da existência de um estranho poço no porão que mais parece um perigoso portal para as profundezas sombrias do inferno.

“Amityville 3-D” é apenas mais um filme de horror discreto, abordando temas sobrenaturais numa mansão assombrada, sendo bem inferior aos dois filmes anteriores da série, que pelo menos tinham histórias inspiradas em eventos reais. Esse terceiro filme, que não tem qualquer relação com os anteriores, procura explorar num ritmo excessivamente lento, a presença de uma entidade maligna na casa, responsável pelas mortes de alguns personagens em situações misteriosas. Mas nem mesmo essas poucas mortes despertam muito interesse, num roteiro previsível e arrastado demais para um filme de horror, evidenciando uma enorme quantidade de furos e situações mal desenvolvidas. O único elemento interessante é a existência de um poço no porão da casa, uma espécie de “Boca do Inferno” (curiosamente, o nome do melhor e mais completo site de horror da internet brasileira), que reserva alguns poucos momentos mais tensos com a aparição de uma criatura bizarra, aliás, num efeito exageradamente risível, paupérrimo e tosco. Resumindo, o filme vale apenas como curiosidade por fazer parte da conhecida série “Horror em Amityville”, e para quem aprecia histórias (mesmo fracas) sobre casas assombradas.

O filme foi concebido originalmente para exibição nos cinemas com o recurso de visualização em três dimensões, tanto que existem diversas cenas propositais ao longo da história justamente para explorar esse recurso, como por exemplo um cano que atravessa o vidro de um carro num acidente de trânsito, vindo perigosamente em direção ao espectador, ou ainda quando um assistente da equipe de investigação de fenômenos paranormais do Dr. West movimenta um microfone próximo da câmera, simulando a sensação de passar muito perto do rosto do público que está assistindo.
“Amityville 3-D” foi lançado em DVD com distribuição nas bancas por um preço mais popular, encartado na revista “DVD Premium” Ano 3, Número 34 (Maio de 2004), da “NBO Editora”, juntamente com o segundo filme da série. Apesar de manter o “3-D” no nome, o filme está em “2-D”, como corretamente informa a distribuidora na capa do DVD. Como material extra, apenas estão disponíveis uma breve sinopse e pequenas biografias do casal de atores principais, Tony Roberts e Tess Harper. Cada lado do disco tem um filme, num recurso que tem sido utilizado regularmente para a distribuição de filmes de horror em DVD no Brasil. O mesmo aconteceu, por exemplo, com as partes 2 e 3 da série “Halloween”, do psicopata mascarado Michael Myers, lançado nas bancas em Outubro de 2003 pela mesma editora e revista, só que na edição número 29. Aliás, a “DVD Premium” já lançou vários outros filmes interessantes dos anos 80 como “Colheita Maldita” (84) e “A Casa do Espanto” (86).
Curiosamente, a bela e hoje famosa atriz Meg Ryan, participou do filme em início de carreira, interpretando um papel simples e coadjuvante, uma amiga de Susan Baxter chamada Lisa. Aliás, apenas para aproveitar sua conhecida fama atual, seu nome e foto foram colocados em destaque na capa do DVD, numa jogada puramente comercial.

Além das já citadas partes 1, 2 e 3, a franquia “Horror em Amityville” é ainda composta por mais seis filmes. São eles: “Amityville 4: A Maldição” em VHS e “Amityville 4 – A Fuga do Mal” em DVD (Amityville 4: The Evil Escapes, 1989), de Tom Berry, “A Maldição de Amityville” (The Amityville Curse, 1990), de Sandor Stern, “Amityville – Uma Questão de Hora” (Amityville 1992: It’s About Time, 1992), de Tony Randell, “Amityville – A Nova Geração” (Amityville: A New Generation, 1993), de John Murlowski, “Amityville – A Casa Maldita” (Amityville: Dollhouse, 1996), de Steve White, e finalmente por “Amityville 2000” (2000), de Daniel Farrands. Este último é na verdade um documentário para a televisão enfocando as atrocidades reais acontecidas na mansão amaldiçoada, apresentando depoimentos do escritor Jay Anson e do casal George e Kathy Lutz, sendo conhecido também por “The Amityville Horror 9” ou “The Amityville Horror: 25 Years Later”.
A partir da parte 4, as histórias não são mais ambientadas na famosa mansão amaldiçoada, sendo que a relação com a casa vem do fato de determinados objetos possuídos por espíritos malignos serem transferidos por algum motivo de Amityville para as casas de outras pessoas, criando o gancho para uma história de assombração, e confirmando a extrema falta de criatividade dos produtores, querendo lucrar de forma fácil em cima do nome “Amityville”, sem ao menos se preocuparem com um roteiro decente. A única coisa que variava era o tipo de objeto possuído, indo de um abajur, passando por um relógio e um espelho, até culminar numa casa de bonecas parecida com a mansão original.
Em 2005 houve a produção de uma refilmagem do filme original de 1979, que estreou nos cinemas brasileiros em 19/08/05 com o nome “Horror em Amityville” (The Amityville Horror). O novo filme da série foi dirigido por Andrew Douglas e produzido por Michael Bay, a partir de um roteiro de Scott Kosar. A princípio, dois estúdios demonstravam interesse em refilmar a história original, a “MGM” e a “Dimension”. Ambos entraram num acordo e acertaram fazer um único novo filme da casa maldita, com a “MGM” se responsabilizando pelo lançamento nos Estados Unidos, e a “Dimension” encarregada da distribuição pelo resto do mundo. O início das filmagens ocorreu no segundo semestre de 2004. Pelo jeito, a marca comercial “Amityville” ainda desperta interesse dos executivos do cinema, podendo gerar bons lucros, e provavelmente deverá permanecer por muito tempo mais...

Observações: (15/09/17)
1) Em 14/09/2017 entrou em cartaz nos cinemas brasileiros “Amityville – O Despertar” (Amityville – The Awakening).
2) Foram produzidos muitos filmes utilizando de forma não autorizada o nome da franquia “Amityville”. Segue link interessante com a relação deles:

“Amityville 3-D” (1983) # 253 – data: 15/05/04 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com.br / blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 05/01/06)

“Amityville 3-D” (Amityville 3-D, Estados Unidos, 1983). Fox. Duração: 90 minutos. Direção de Richard Fleischer. Roteiro de David Ambrose e William Wales. Produção de Stephen F. Kesten. Fotografia de Fred Schuler. Música de Howard Blake. Edição de Frank J. Urioste. Direção de Arte de Giorgio Postiglione e Justin Scoppa Jr.. Elenco: Tony Roberts (John Baxter), Tess Harper (Nancy Baxter), Robert Joy (Dr. Elliot West), Candy Clark (Melanie), John Beal (Harold Caswell), Leora Dana (Emma Caswell), John Harkins (Clifford Sanders), Lori Loughlin (Susan Baxter), Meg Ryan (Lisa), Neill Barry (Jeff), Peter Kowanko (Roger), Rikke Borge, Carlos Romano, Jorge Zepeda, Raquel Pankowsky.