Colheita Maldita 2: O Sacrifício Final (1993)


O sangue daqueles que desonram o milho deve penetrar na terra

Depois dos lançamentos em bancas de jornais de vários DVDs duplos de longas e conhecidas franquias do cinema de horror como “A Casa do Espanto” (partes 1 e 2), “Amityville” (2 e 3), “Halloween” (2 e 3), e “Hellraiser” (2 e 3), chegou a vez também dos episódios 2 e 3 de “Colheita Maldita”, cujo disco foi encartado na revista “DVD Premium” Ano 3, Número 34, Março de 2005, da “NBO Editora”.
O filme que deu origem à série, “Colheita Maldita” (Children of the Corn, 84), de Fritz Kiersch, já havia sido lançado em DVD no Brasil também com distribuição nas bancas pela mesma revista “DVD Premium”, só que o número 28 (Agosto de 2003). É uma produção cultuada do cinema de horror da década de 80, com história inspirada num conto homônimo de Stephen King publicado no livro “Sombras da Noite” (Night Shift). Um casal viajando de carro atropela acidentalmente uma criança numa estrada e ao pedir ajuda numa pequena cidade próxima, descobre o local misteriosamente vazio e dominado apenas por crianças sinistras que veneram um estranho culto religioso, o qual incita-os a matar todos os adultos da cidade e a perseguir eventuais forasteiros.

Já na continuação “Colheita Maldita 2: O Sacrifício Final” (Children of the Corn 2: The Final Sacrifice, 93), de David Price, um repórter investigativo do jornal “World Inquirer”, John Garrett (Terence Knox), que anos antes foi o Sargento Zeke Anderson da ótima série de TV “Combate no Vietnã” (Tour of Duty, 1987/90), chega na pequena cidade americana de Gatlin, no interior do Estado de Nebraska, acompanhado de seu filho rebelde, o adolescente Danny (Paul Scherrer), com quem está enfrentando uma crise familiar através de constantes desentendimentos. Seu objetivo é pesquisar informações para uma matéria jornalística explorando uma carnificina que ocorreu na cidade, onde dezenas de cadáveres de adultos foram encontrados no porão de uma casa.
A princípio, a culpa pelas mortes foi direcionada aos jovens da cidade, crianças e adolescentes que eram liderados pelo sinistro Isaac Chroner (morto no filme anterior), numa estranha seita religiosa que utilizava sangue humano para adubar a terra, e que veneravam uma misteriosa criatura maligna conhecida como “Aquele Que Anda Por Trás das Fileiras”. Com o líder morto, quem assume o posto agora é Micah (Ryan Bollman), que age sob a orientação da entidade sobrenatural que controla as plantações de milho, auxiliado por Mordechai (Ted Travelstead) e Jedediah (Sean Bridgers), entre outros.
Transferidos para a cidade vizinha de Hemmingford, as crianças e adolescentes continuam silenciosamente seu plano maquiavélico de exterminar os adultos, despertando a atenção do repórter Garrett, que havia se aliado nas investigações a um indígena professor universitário de Antropologia, Frank Redbear (Ned Romero). Na cidade, o jornalista conhece também a bela Angela Casual (Rosalind Allen), proprietária de um pequeno hotel, gerando um inevitável romance entre eles, e seu filho Danny seguiu o mesmo caminho com o interesse amoroso pela adolescente Lacey Hellerstat (Christie Clark). Enquanto mortes violentas acontecem envolvendo os adultos de Hemmingford, o repórter Garrett vai coletando informações para sua matéria e tenta escapar da fúria dos adolescentes assassinos.

O filme não é ruim, tem até vários elementos positivos que transformam-no numa interessante diversão, principalmente pelas várias mortes sangrentas e diferenciadas. Porém, o problema é simples: a história é praticamente a mesma do filme original. Os roteiristas A. L. Katz e Gilbert Adler preferiram utilizar o mesmo argumento do filme de 1984 com algumas poucas alterações, transferindo as crianças assassinas para uma cidade vizinha, onde continuam a exterminar os adultos, tendo um novo líder influenciado pelo demônio que controla os milharais, e introduzindo um repórter e seu filho para tentar combatê-los.
De positivo, temos as várias cenas de assassinatos com direito a um homem morrendo de hemorragia nasal dentro de uma igreja no meio de uma missa, passando por uma velha senhora que literalmente é esmagada por sua casa, um médico picado por uma infinidade de injeções, um grupo de adultos queimados desesperadamente vivos, e indo até uma cena hilária onde uma velha senhora aleijada é arremessada em sua cadeira de rodas por um enorme caminhão contra a entrada de vidro de um bingo. Entre os pontos baixos, temos as inevitáveis cenas repletas de clichês envolvendo o romance adolescente entre Danny e Lacey, com direito àquelas cenas de heroísmo com típicos salvamentos previsíveis, além principalmente de um final tão óbvio e banal que é quase impossível não ser irritante. Se por um lado, o diretor David Price apresentou coragem em matar violentamente vários velhinhos na história, por outro lado o cineasta demonstrou também ser extremamente convencional ao escolher um desfecho previsível e sem graça.

“Colheita Maldita 2” foi seguido por mais cinco filmes numa enorme franquia desnecessária, criada pelos executivos da indústria do cinema visando os possíveis lucros explorando o argumento básico escrito por Stephen King. Porém, apesar de apresentar elementos interessantes, o conto não possui tanto potencial como seria necessário para a criação de uma série tão grande. Os outros filmes são: “Colheita Maldita 3” (Urban Harvest, 95, de James D. R. Hickox); “Colheita Maldita 4” (The Gathering, 96, de Greg Spence); “Colheita Maldita 5 – Campos do Terror” (Fields of Terror, 98, de Ethan Wiley); “Colheita Maldita 666 – Isaac Está de Volta” (Isaac’s Return, 99, de Kari Skogland); e “Colheita Maldita 7 – A Revelação” (Revelation, 2001, de Guy Magar).
A contra capa do DVD lançado nas bancas por aqui traz uma sinopse bem mal feita e até incoerente com a realidade da história (“...um bando de jovens chega a uma localidade aparentemente abandonada e logo são aprisionados, com poucas chances de escaparem vivos...”). De onde tiraram isso? Provavelmente quem escreveu nem assistiu o filme... Além do fato de ser informada a duração como sendo 68 minutos, quando na verdade é 86 (provavelmente um erro de digitação, invertendo os números). Esses são apenas alguns fatos que comprovam a falta de atenção dos responsáveis da editora pelo lançamento do filme em DVD de banca, que aliás, tem como material extra apenas uma breve sinopse e biografia do ator Terence Knox, que estão ilegíveis, convidando o colecionador que comprou o filme, a simplesmente ignorar a leitura.

“Colheita Maldita 2: O Sacrifício Final” (Children of the Corn 2: The Final Sacrifice, 1993) # 304 – data: 16/03/05 – avaliação: 6 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 18/01/06)

“Colheita Maldita 2: O Sacrifício Final” (Children of the Corn 2: The Final Sacrifice, Estados Unidos, 1993). Duração: 86 minutos. Direção de David Price. Roteiro de A. L. Katz e Gilbert Adler, baseados em conto homônimo de Stephen King. Produção de David G. Stanley, Scott A. Stone e Bill Froehlich. Produção Executiva de Lawrence Mortorff. Fotografia de Levie Isaacks. Música de Daniel Licht. Edição de Barry Zetlin. Desenho de Produção de Gregory Melton. Elenco: Terence Knox (John Garrett), Paul Scherrer (Danny Garrett), Ryan Bollman (Micah), Ned Romero (Frank Redbear), Christie Clark (Lacey Hellerstat), Rosalind Allen (Angela Casual), Ed Grady (Dr. Richard Appleby), Wallace Merck (Xerife Blaine), John Bennes (Reverendo Hollings), Joe Inscoe (David Simpson), Kellie Bennett (Mary Simpson), Ted Travelstead (Mordechai), Sean Bridgers (Jedediah), Marty Terry (Sra. Burke / Sra. West), Robert C. Treveiler (Wayde McKenzie), Leon Pridgen (Bobby Knite), Aubrey Dollar (Naomi Johnson), Kristy Angell (Ruth Gordan).