Cemitério Macabro (Grave Secrets: The Legacy of Hilltop Drive, 1992)


Os filmes que tratam do subgênero “Casa Mal Assombrada” sempre despertaram grande interesse nos apreciadores do cinema de horror. Clássicos do passado como “Os Inocentes” (1961), “Desafio ao Além” (1963) e “A Casa de Noite Eterna” (1973), ou clássicos mais modernos como “Horror em Amityville” (1979), “O Iluminado” (1980) e “Poltergeist, o Fenômeno” (1982), ou também obras ainda mais recentes como “A Casa Amaldiçoada” (1999, num patamar inferior) e “Os Outros” (2001, este sim num nível elevado), são apenas alguns exemplos de filmes que retrataram com maestria o ambiente de claustrofobia de uma casa possuída por fantasmas malignos, e todo o horror psicológico que envolve a tortuosa relação com seus moradores.
Outro filme que trata do mesmo tema é “Cemitério Macabro” (Grave Secrets: the Legacy of Hilltop Drive), produzido em 1992 especialmente para a televisão, e que pode ser considerado fruto do cruzamento entre os filmes “Horror em Amityville”, devido ao fato de se basear supostamente num caso real, narrado no livro “The Black Hope Horror”, de Ben Williams, Jean Williams e John Bruce Shoemaker, e “Poltergeist”, pela descoberta que o real motivo da assombração é que a casa foi construída sobre um cemitério antigo e abandonado, com centenas de covas alojando cadáveres à procura de paz e descanso.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

Após muitos anos procurando pela casa ideal para morar, o casal Jean (Patty Duke) e Shag Williams (David Selby) finalmente compra uma bela construção numa rua chamada “Hilltop Drive”, na cidade de Crosby, Texas, onde vão viver com sua pequena neta Carli (Kimberly Cullum). Entre seus novos vizinhos está Sam Haney (David Soul, que fazia o personagem Hutch da nostálgica série policial de TV “Starsky & Hutch – Justiça em Dobro”, de 1975).
Porém, de forma enigmática alguns eventos inexplicáveis começam a surgir com frequência como descargas sanitárias aleatórias, portas que batem sozinhas, estranhas sombras que invadem os cômodos, vazamentos de líquidos negros do teto, vozes durante a noite, acionamentos espontâneos do portão da garagem, luzes que piscam automaticamente, aparecimento de imagens de cobras e a morte misteriosa dos animais de estimação como pássaros e filhotes de gatos. Com o passar do tempo e a intensificação dos eventos anormais, fatos que também aconteciam com outras três casas vizinhas, e principalmente depois que um dos vizinhos encontrou duas ossadas de cadáveres enterradas em seu quintal quando escavava a terra para construir uma piscina, a família Williams decidiu investigar a provável origem dos fenômenos.
Eles descobriram que no passado existiu um cemitério de escravos negros chamado “Black Hope” com centenas de corpos enterrados exatamente no local onde foi construída sua casa. Tentando acionar sem sucesso a seguradora que vendeu a propriedade para eles com o objetivo de recuperar o dinheiro investido e comprar outra casa longe dali, eles são obrigados a enfrentar as assombrações até não suportarem mais e fugirem abandonando sua casa aos espíritos atormentados do cemitério sob suas terras.

O fato de ser supostamente inspirado num caso real, que dizia que quatro famílias de “Hilltop Drive” foram obrigadas a abandonarem suas casas sem receberem nenhuma indenização por serem construídas em cima de um cemitério, certamente fortalece o clima de mistério e horror que envolvem a história da família Williams. Porém, “Cemitério Macabro” é apenas mais um filme morno, sem praticamente nenhuma cena realmente assustadora, nenhum efeito especial convincente (devido certamente ao pequeno orçamento da produção), e com todos os exaustivos e até banais clichês característicos de fitas no estilo “casa mal assombrada”, mas filmados sem nenhuma criatividade. É apenas um filme tipicamente para a TV sem acrescentar nada ao gênero, sendo incomparavelmente inferior aos outros já citados anteriormente.
O filme foi lançado em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, sem materiais extras.
A veterana atriz Patty Duke (Jean Williams) foi muito famosa na televisão do passado, iniciando sua carreira bem cedo, ainda criança, e ganhando inclusive um Prêmio “Oscar” de atriz coadjuvante pelo filme “O Milagre de Anne Sullivan” (The Miracle Worker, 1962), estrelando ao lado de Anne Bancroft, e interpretando Helen Keller, uma adolescente surda e muda. Seu sucesso foi tão grande que ganhou uma série de TV com seu nome, “The Patty Duke Show”, produzida entre os anos de 1963 e 66. Na área do cinema fantástico, entre outros, ela participou em 1959 do divertido filme “B” de ficção científica e horror “Quarta Dimensão” (4D Man), de Irvin S. Yeaworth Jr. Na década de 1970 fez dois filmes de horror, a produção para a TV “Curse of the Black Widow” (1977), e “The Swarm” (1978), de Irwin Allen. E curiosamente em 1989, ela estrelou outra produção para a TV, num papel similar ao que fez em “Cemitério Macabro”, enfrentando fantasmas e assombrações em “The Evil Escapes”, o quarto filme da franquia “Horror em Amityville”, que já conta com 9 filmes, sendo o último, “Amityville 2000”, um documentário com as pessoas reais que viveram as misteriosas manifestações sobrenaturais na famosa casa em Amityville, incluindo o escritor Jay Anson, autor do livro sobre o caso e que inspirou o filme original de 1979.
O ator David Selby (Shag Williams) é conhecido principalmente por sua participação na famosa série gótica de TV criada por Art Wallace, “Dark Shadows” (1966/71), no papel de Quentin Collins, um lobisomem. A série mostrava os mistérios que envolviam uma família atormentada por maldições de vampiros, bruxas e lobisomens.
O nome nacional escolhido para o filme não é o ideal (aliás, o cemitério está muito longe de ser macabro), e seria mais interessante um título mais próximo do original, algo como “Segredos do Cemitério”.
A história diz que foram retirados apenas os dois corpos encontrados na escavação da piscina (e aqui lembro-me de uma cena muito bem feita de “Poltergeist”, onde a personagem Diane Freeling, feita pela atriz JoBeth Williams, faz um mergulho num buraco escavado para uma futura piscina, encontrando-se com alguns esqueletos macabros), e que os outros túmulos permaneceram em seus locais de origem. Não sei se o que foi relatado em “Cemitério Macabro” foi uma história real, mas o que posso garantir é que a precariedade desse filme certamente despertaria a ira de qualquer morto que estivesse enterrado nas redondezas, com seu espírito atormentado clamando para que façam um filme mais original e menos previsível e descartável.

“Cemitério Macabro” (Grave Secrets: The Legacy of Hilltop Drive, 1992) – avaliação: 3 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 17/01/06)

Cemitério Macabro (Grave Secrets: The Legacy of Hilltop Drive, Estados Unidos, 1992). Duração: 94 minutos. Filme produzido especialmente para a televisão, pela “Hearst Entertainment Productions”, também conhecido pelos títulos “Grave Secrets” ou “Haunting on Hilltop Drive”. Direção de John Patterson. Roteiro de Gregory Goodell, baseado no livro “The Black Hope Horror”, de Ben Williams, Jean Williams e John Bruce Shoemaker. Produção de Angela Bronstad, Gregory Goodell, Dennis Stuart Murphy e Freda Rothstein. Fotografia de Shelly Johnson. Música de Patrick Williams. Edição de Edward M. Abroms. Efeitos Especiais de Joseph P. Mercurio, Vincent Montefusco e Beecher Tomlinson. Elenco: Patty Duke (Jean Williams), David Soul (Sam Haney), David Selby (Shag Williams), Kimberly Cullum (Carli), Frances Bay, Kiersten Warren, Kelly Rowan, Rick Fitts, Julius Harris, James Lashly, Maggie Roswell, Don Fischer, Jill Andre, Muriel Minot.