As Loucas Aventuras de James West (1999)


Desde o início da história escrita, o poder de uma nação é determinado pelo tamanho do seu exército
– Dr. Arliss Loveless

A indústria americana do cinema tem passado por uma grande crise de originalidade nos últimos tempos. Os roteiristas não estão conseguindo criar novos argumentos para seus filmes e a opção mais fácil dos produtores foi utilizar idéias já existentes apostando em refilmagens ou histórias baseadas em séries de TV do passado, com resultados apenas medianos. Esse é também o caso de “As Loucas Aventuras de James West” (Wild Wild West, 1999), de Barry Sonnenfeld, diretor da comédia de humor negro “A Família Addams” (91) e da aventura de FC “Homens de Preto” (97). É um filme produzido para o cinema e baseado numa divertida série homônima de western da televisão dos saudosos anos 1960, que tinha como maior interesse apresentar elementos de horror e ficção científica em suas histórias.

O roteiro do filme é ambientado no velho oeste americano de 1869, onde um “cientista louco” ferido na guerra e aleijado sem as pernas, o diabólico Dr. Aliss Loveless (Kenneth Branagh), um confederado sulista inconformado com a derrota na guerra da Secessão, está sequestrando os melhores cientistas dos Estados Unidos para utilizá-los na criação de sofisticados dispositivos e engenhocas de destruição, com o intuito de atacar o Presidente Grant (Kevin Kline) e dominar o país com tirania definindo seu destino da forma que achar melhor. Seu objetivo é criar a “Terra de Loveless” e dividir o resto do país em colônias de outras nações como a Inglaterra, Espanha e México. Com a ajuda forçada dos principais especialistas da América em metalúrgica, química, física, hidráulica e explosivos, foram criadas uma série de invenções bizarras, destacando-se uma enorme máquina de guerra com o formato de uma aranha tarântula, de quase vinte e cinco metros de altura e enorme poder de fogo e matança em massa.
Para combatê-lo em seu plano maquiavélico, o Presidente Grant convoca os agentes secretos James West (Will Smith), um pistoleiro famoso, e também Artemus Gordon (Kevin Kline, novamente), um inteligente e cavalheiro inventor. A princípio eles são rivais no mesmo objetivo de capturar o insano Dr. Loveless, mas aos poucos vão construindo uma amizade e confiança mútua, unindo suas forças a serviço do governo americano. Para atrapalhar surge no caminho deles o violento General McGrath (Ted Levine), um assassino conhecido como “Bloodbath” (“Banho de Sangue”) ou “The Butcher of New Liberty” (“O Açougueiro de New Liberty”), por ter sido o comandante de um massacre cruel numa pequena cidade. E também aparece uma bela mulher, a atrapalhada Rita Escobar (Salma Hayek, de “Um Drink no Inferno”, 96), por quem os agentes inevitavelmente se sentem atraídos. Ela se apresenta como filha de um dos cientistas capturados e pode fornecer informações importantes para o sucesso da missão.
Depois de muita correria, perseguições, explosões, aventuras, tiroteios, brigas corporais, piadas idiotas e cenas absurdas, eles finalmente se encontram com o psicótico Dr. Loveless e sua máquina gigante de destruição que anda sobre patas mecânicas, num confronto decisivo para o destino e futuro da nação americana.

Para um fã da série de TV dos anos 1960 como eu, esse filme para o cinema baseado nas façanhas do agente secreto James West pode ser considerado em vários momentos como uma ofensa. A começar pelo próprio ator negro Will Smith, especialista em comédias e que foi pessimamente escolhido para o papel principal, uma vez que o James West da série é completamente diferente, sendo um pistoleiro temível e habilidoso, com um humor discreto e refinado, e exímio galã para as mulheres. O novo James West é ridículo, autor de piadas sem graça e atitudes idiotas que não lembra em nada o personagem em que se inspirou. Na série, James West e Artemus Gordon são amigos fiéis e importantes companheiros nas diversas e perigosas missões secretas. No filme, eles inicialmente são distantes e até rivais, para somente depois trabalharem juntos por conveniência. Outro detalhe difícil de aceitar é a horrível trilha sonora, que destruiu o charme da música tema original, e que merecia uma adaptação mais fiel e honrosa.
Algumas cenas são tão ridículas que chegam a incomodar, como uma sequência onde James West se fantasia de mulher com um vestido verde exagerado para tentar enganar o Dr. Loveless, num momento que deveria ser teoricamente tenso, quando o insano vilão está discursando suas intenções com as terras americanas, e tendo o presidente Grant sob seu cárcere. West está tão ridículo como uma prostituta barata que estragou completamente a cena. Todos os momentos previstos para servirem de humor, acabaram transformando um filme com potencial num produto totalmente descartável, fazendo-nos torcer ainda mais, e infelizmente em vão, para o sucesso dos planos maquiavélicos do Dr. Loveless em destruir seus inimigos e dominar o país ao seu modo.
Curiosamente, o filme foi agraciado em várias categorias pelo “Prêmio Framboesa de Ouro”, que escolhe os piores trabalhos entre as maiores “bombas” a cada ano. É o tipo de premiação que todos gostariam de passar longe, e “As Loucas Aventuras de James West” marcou presença significativa, apenas confirmando o imenso equívoco cometido pelos responsáveis por sua produção.
O que realmente impressiona positivamente (e provavelmente somente isso) são os belos efeitos especiais destacando a enorme tarântula mecânica, uma incrível arma de guerra que torna-se fascinante por ser inventada e construída numa época onde não era possível ainda a existência de veículos motorizados similares, constituindo-se num dos principais e mais interessantes elementos fantásticos da história.
Acredito até que “As Loucas Aventuras de James West” funcionaria melhor se fosse totalmente desvinculado da série em que se baseou, apresentando sua história de forma independente e sem o humor ridículo que estragou o que poderia ter sido um bom filme. E a similaridade com a antiga série de TV deveria ser apenas uma espécie de homenagem. Algo bem similar ocorreu também com “Perdidos no Espaço” (98), filme do cinema que também não honrou a série de TV dos anos 1960, com o folclórico Dr. Smith.

“As Loucas Aventuras de James West” foi inspirado numa série de TV de western homônima criada por Michael Garrison e produzida pela “Columbia” entre 1965 e 1969. A série teve um total de 104 episódios de 50 minutos cada, com a primeira temporada fotografada em preto e branco e as demais a cores. Exibida na televisão brasileira, era estrelada por Robert Conrad, como o agente secreto do governo americano e homem de confiança do Presidente Grant, James West, e pelo ator polonês Ross Martin (1920/1981) no papel de seu versátil companheiro, o inventor e mestre dos disfarces Artemus Gordon. Os episódios eram ambientados no velho oeste selvagem dos Estados Unidos do século XIX, onde James West e Artemus Gordon, morando num vagão de trem em constante movimento, enfrentavam todo tipo de vilões bizarros e criminosos estranhos, apoiados por uma sofisticada tecnologia inexistente na época e claramente inspirada nas aventuras mirabolantes do agente secreto inglês James Bond. Na série, víamos com frequência “cientistas loucos” que pretendiam dominar o mundo, com histórias misturando de forma interessante o western com elementos de horror, espionagem, mistério, suspense, aventura e até um pouco de ficção científica e fantasia.
Uma curiosidade é que o vilão do filme do cinema, Dr. Arliss Loveless, feito por Kenneth Branagh, tem o mesmo sobrenome de um dos mais importantes vilões da série de TV, o anão Dr. Miguelito Loveless, interpretado por Michael Dunn (1934/1972), que participou de 10 episódios, sendo um dos inimigos mais perigosos e inteligentes de James West. Outra curiosidade interessante é que a série gerou também dois filmes produzidos especialmente para a televisão e ainda inéditos no Brasil. São eles, “The Wild Wild West Revisited” (79) e “More Wild Wild West” (80), ambos com os astros originais Robert Conrad e Ross Martin repetindo seus papéis.
A escolha do título nacional do filme foi novamente bem infeliz, pois já que a série de TV recebeu o nome de “James West” quando chegou no Brasil nos anos 1970, o mais fácil, correto e coerente seria chamar o filme do cinema também de “James West”, e apenas isso, sendo totalmente desnecessário acrescentar as palavras “As Loucas Aventuras”.
Sobre o elenco, seguem algumas informações. O ator negro Will Smith nasceu em 1968 e participou anteriormente das mega produções de Ficção Científica “Independence Day” (96) e “Homens de Preto”, e um de seus próximos projetos é o thriller de FC “I, Robot”, baseado em livro homônimo de Isaac Asimov e com previsão de lançamento em 2004. Já Kenneth Branagh, nascido na Irlanda do Norte em 1960, participou de “Frankenstein de Mary Shelley” (94).

“As Loucas Aventuras de James West” (Wild Wild West, 1999) # 220 – data: 07/02/04 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/01/06)

As Loucas Aventuras de James West (Wild Wild West, Estados Unidos, 1999). Warner Bros. Duração: 107 minutos. Direção de Barry Sonnenfeld. Roteiro de S. S. Wilson, Brent Maddock, Jeffrey Price e Peter S. Seaman, baseado em história de Jim Thomas e John Thomas. Produção de Jon Peters e Barry Sonnenfeld. Fotografia de Michael Ballhaus e Stefan Czapsky. Edição de Jim Miller. Desenho de Produção de Bo Welch. Direção de Arte de Tom Duffield. Elenco: Will Smith (Capitão James West), Kevin Kline (Agente Artemus Gordon / Presidente Ulysses Simpson Grant), Kenneth Branagh (Dr. Arliss Loveless), Salma Hayek (Rita Escobar), M. Emmet Walsh (Coleman), Ted Levine (General McGrath), Frederique Van Der Wal (Amazonia), Musetta Vander (Munitia), Sofia Eng (Srta. Lippenreider), Ling Bai (Srta. East).