A Casa da Colina (House on Haunted Hill, 1999)


Criada com o propósito de lançar filmes de horror, a produtora americana “Dark Castle”, de Joel Silver e Robert Zemeckis, entrou no mercado do entretenimento em 1999 com “A Casa da Colina” (House on Haunted Hill), refilmagem de “A Casa dos Maus Espíritos” (58), de William Castle e que tinha na liderança do elenco o lendário astro Vincent Price. Logo depois vieram mais três filmes, “Treze Fantasmas” (Thirteen Ghosts, 2001), outra refilmagem de um filme de 1960, “Navio Fantasma” (Ghost Ship, 2002) e “Na Companhia do Medo” (Gothika, 2003), todos sendo filmes explorando fantasmas e assombrações.
“A Casa da Colina” foi dirigido por William Malone (de “Medopontocombr”) a partir de um roteiro de Dick Beebe (de “A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras”), que por sua vez se baseou numa história do escritor Robb White (1909-1990), frequente colaborador de William Castle em vários filmes dos anos 1950 e 60 como “Macabre” (58), “Força Diabólica” (59), “Treze Fantasmas” (60) e “Homicidal” (61).

A história é sobre um excêntrico e milionário empresário do ramo de parques de diversões, Stephen Price (Geoffrey Rush), que tem um casamento totalmente instável com a traiçoeira Evelyn (a bela Famke Janssen). Atendendo a um estranho pedido dela, ele resolve comemorar a festa de aniversário da esposa numa imensa mansão em Los Angeles abandonada há décadas, e que no passado fora um instituto psiquiátrico para criminosos insanos, servindo de palco para as atividades macabras de um sádico e perturbado psiquiatra, Dr. Vannacutt (Jeffrey Combs). O médico realizava experiências indizíveis em seus pacientes alegando serem tratamentos para a esquizofrenia, com direito à dolorosas sessões de torturas e eletrocussão que muitas vezes levavam à morte, até que uma revolta dos internos em 1931 provocou um incêndio que resultou numa enorme carnificina, dando a fama de maldita para a mansão, com os espíritos atormentados dos pacientes ainda vagando desorientados e à procura de vingança.
Price aluga então a enorme casa, com uma aparência de uma imponente torre que fica no alto de uma colina assombrada (daí o título original de “House on Haunted Hill” ou “A Casa da Colina” no Brasil), através de um herdeiro do imóvel, Watson Pritchett (Chris Kattan), um sujeito histérico, irritante e estressado que revela que o local está amaldiçoado por causa de seu passado misterioso e sangrento.
O empresário convida cinco pessoas totalmente estranhas entre si, oferecendo a elas um prêmio tentador de US$ 1 milhão para cada, caso conseguissem passar uma noite na mansão assombrada e sobrevivessem a essa assustadora experiência. O grupo é formado, além do atrapalhado e já citado Pritchett, ainda pelo médico Dr. Donald Blackburn (Peter Gallagher), a executiva Sara Wolfe (Ali Larter), o ex-jogador de basquete Eddie Baker (Taye Diggs), e a loira em busca de fama e ex-apresentadora de TV Melissa Margaret Marr (Bridgette Wilson). Porém, os verdadeiros convidados de Price são outros e aparecem em seus lugares pessoas totalmente desconhecidas dele, constituindo-se no primeiro mistério da história.
Pensando inicialmente apenas em se divertir, Price instala secretamente uma série de equipamentos na casa com o objetivo de assustar os convidados da maneira mais convincente possível para conseguir suas desistências e ganhar o desafio, com os truques sendo supervisionados pelo técnico Carl Schecter (Max Perlich). Mas o que ninguém esperava era que a própria mansão guardava um segredo de uma maldição entre suas paredes, e o terror passaria a ser real, com todas as portas se trancando sozinhas e não permitindo a saída de ninguém, obrigando a todos a lutarem agora por suas vidas.

“A Casa da Colina” é mais um filme de horror com uma história de casa assombrada por fantasmas perturbados. Não apresenta elementos novos, pelo contrário, desfila todos aqueles clichês característicos do tema, com os tradicionais sustos fáceis, personagens estereotipados e algumas mortes violentas. O roteiro até que esforçou-se em criar uma história atraente, com direito a várias revelações, reviravoltas, suspense e tramas que se completam, conseguindo manter um certo interesse, acentuado pela intensidade das cenas envolvendo uma macabra entidade formada por vários espíritos atormentados em busca de vingança, e pelo visual fascinante da enorme torre, destacando-se um belíssimo teto de vidro no salão principal, onde uma série de imagens surrealistas servia de inspiração para as atrocidades do Dr. Vannacutt. As salas abandonadas no porão, onde eram realizadas as torturas dos pacientes, também transmitiam um clima mórbido com suas camas, instrumentos e aparelhagens médicas corroídas pela ação devastadora do tempo, e impregnadas com uma sensação obscura de morte e dor, num ambiente macabro de desolação.
O maior defeito do filme é o péssimo desfecho, com um final extremamente óbvio e super previsível, totalmente conveniente para agradar talvez apenas aquele público escolhido pelos executivos para pagar os custos da produção e encher seus bolsos de lucros. Fora isso, e para os apreciadores menos exigentes do atual cinema de horror, “A Casa da Colina” até que pode garantir cerca de uma hora e meia de diversão rápida.

Seguem várias curiosidades interessantes sobre “A Casa da Colina”, seus realizadores e os bastidores da produção.
Um dos executivos da equipe de produção é Terry Castle, filha do lendário cineasta e produtor William Castle (1914-1977). O roteirista Dick Beebe atuou no filme numa cena rápida como um dos enfermeiros do sanatório, ajudante do sádico Dr. Vannacutt. O polêmico cantor de rock Marilyn Manson, nascido em 1969 no Estado americano de Ohio, participa da trilha sonora de “A Casa da Colina”, mas não é creditado, cantando sua versão para a música “Sweet Dreams”, da banda inglesa “The Eurythmics”. Ele já teve seu trabalho visto outras vezes no cinema fantástico, em filmes como “Spawn”, “Matrix”, “A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras”, “O Dia do Terror”, “Do Inferno”, “Resident Evil” e “Matrix Reloaded”. O profissional responsável pela fotografia do filme, Rick Bota, alguns anos depois iniciaria sua carreira de diretor, estreando com o sexto filme da famosa franquia dos cenobitas, “Hellraiser VI: Caçador do Inferno” (Hellraiser: Hellseeker, 2002), e também das partes seguintes, “Hellraiser: Deader” e “Hellraiser: Hellworld”, ambas com previsão de lançamento em 2004, sendo todos eles filmes produzidos diretamente para o mercado de vídeo.
O insano Dr. Vannacutt foi interpretado pelo ator Jeffrey Combs, que mesmo não dizendo uma única palavra no filme, aparecendo apenas em cenas de flashbacks e alucinações com suas experiências sangrentas nos pacientes do manicômio, conseguiu transmitir um perturbador sentimento de horror apenas com sua expressão facial e com as atrocidades cometidas tendo um bisturi na mão. Nascido em 1954 na California, ele é um rosto bastante conhecido no cinema fantástico a partir dos anos 80 em filmes como “Do Além” (86), “Aprisionados pelo Medo” (94), “Necronomicon: O Livro Proibido dos Mortos” (94) e “O Castelo Maldito” (95), todos baseados na obra de H. P. Lovecraft (1890-1937), além de “O Monstro Canibal” (88), “O Poço e o Pêndulo” (90), “A Fortaleza” (93), “Os Espíritos” (96), “Eu Ainda Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” (98) e “Medopontocombr” (2002), entre outros. Seu mais importante trabalho foi no clássico moderno de Stuart Gordon, “Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos” (85), como o Dr. Herbert West em sua busca incansável pela reanimação de cadáveres, numa história também baseada em Lovecraft, e que teve continuações em 1990, “A Noiva do Re-Animator” e 2003, “Re-Animator: Fase Terminal”, ambos de Brian Yuzna.
O ator Geoffrey Rush, que fez o papel do milionário Stephen Price, tem o sobrenome de seu personagem igual ao sobrenome do ator que fez o mesmo papel no original “A Casa dos Maus Espíritos”, o cultuado Vincent Price, e se repararem bem, por coincidência os atores até que tem algumas semelhanças físicas. Aliás, no filme original, o milionário Frederick Loren oferecia a quantia de US$ 10 mil para cada um dos convidados passarem uma noite numa casa assombrada, e na refilmagem de William Malone, essa quantia subiu para o incrível valor de US$ 1 milhão, cem vezes mais, resultado dos tempos modernos. O veterano ator americano Peter Graves, nascido em 1926, e muito conhecido pela série de TV “Missão: Impossível” (1966/73), apareceu no início do filme como ele mesmo apresentando um bizarro programa de TV sensacionalista que exibe casos insólitos e misteriosos chamado “Assustador, mas Verdadeiro!!”, onde ele descreve uma breve história do sanatório “Vannacutt” e as atrocidades cometidas em seu passado tenebroso, reconhecendo o insano Dr. Vannacutt como um dos maiores carniceiros da história. Aliás, Peter Graves fez o mesmo também na ficção científica de humor “Homens de Preto II” (2002).
Em determinado momento do filme, os protagonistas conversam entre si após descobrirem que não são os convidados originais para a festa, tentando encontrar uma explicação lógica para o estranho fato, e como uma resposta convincente não existe mesmo, nem para os roteiristas que preferiram passar a responsabilidade para a “casa” viva, a melhor saída utilizada foi mesmo citar a manjada frase sobre a existência de situações “além da imaginação”, lembrando a saudosa série de TV homônima dos anos 1960 criada por Rod Serling, que apresentava histórias insólitas e bizarras em seus episódios.
A campanha de marketing para a promoção de “A Casa da Colina” foi bem intensa, tanto que na exibição nos Estados Unidos, foram distribuídos US$ 1 milhão para os espectadores nos cinemas, através da distribuição junto com os ingressos de tickets para sorteio de prêmios em dinheiro. O orçamento da produção ficou em torno de US$ 19 milhões, uma cifra considerada até baixa quando comparada com a média de custo de outros filmes similares.
Observação: Em 2007 foi lançada uma seqüência intitulada “De Volta à Casa da Colina” (Return to House on Haunted Hill), dirigido pelo espanhol Víctor García.

“A Casa da Colina” (House on Haunted Hill, 1999) # 218 – data: 24/01/04 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 17/01/06)

A Casa da Colina (House on Haunted Hill, Estados Unidos, 1999). Dark Castle, Warner Bros. Duração: 96 minutos. Direção de William Malone. Roteiro de Dick Beebe, a partir de história de Robb White. Produção de Gilbert Adler, Joel Silver, Robert Zemeckis, Terry Castle e Ed Tapia. Produção Executiva de Dan Cracchiolo e Steve Richards. Música de Don Davis. Fotografia de Rick Bota. Edição de Anthony Adler. Desenho de Produção de David F. Klassen. Direção de Arte de Richard F. Mays. Efeitos Especiais de Robert Kurtzman e Gregory Nicotero. Elenco: Geoffrey Rush (Stephen H. Price), Famke Janssen (Evelyn Stockard-Price), Peter Gallagher (Dr. Donald W. Blackburn), Ali Larter (Sara Wolfe / Jennifer Jenzen), Taye Diggs (Eddie Baker), Chris Kattan (Watson Pritchett), Bridgette Wilson (Melissa Margaret Marr), Max Perlich (Carl Schecter), Jeffrey Combs (Dr. Richard Benjamin Vannacutt), Dick Beebe (enfermeiro), Slavitza Jovan (enfermeira), Lisa Loeb (repórter), James Marsters (operador de câmera), Jeannette Lewis (secretária de Price), Peter Graves (ele mesmo).