Sempre é recomendável quando possível conferir filmes que são produzidos fora dos Estados Unidos, um país conhecido por representar o cinema comercial mais badalado do mundo, para entre outras razões, entrar em contato com produtos de outras culturas, como por exemplo os filmes feitos na Alemanha. Um deles, em especial, produzido em 2001, vale a pena conhecer por apresentar um tema sempre fascinante através da crítica social à verdadeira essência do ser humano. “A Experiência” (“Das Experiment”, o título original alemão, ou “The Experiment” na distribuição internacional), é um thriller interessante com mais de duas horas de duração, evidenciando o intenso grau de irracionalidade do homem, característica de sua natureza agressiva, quando é colocado em condições sob forte pressão psicológica, num eterno conflito interno sobre os conceitos de dominação e dominado.
O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Europa Filmes” (www.europafilmes.com.br) e conta a história de um motorista de táxi, Tarek Fahd (Moritz Bleibtreu), que decide participar de uma experiência científica de simulação de uma prisão ao ler um anúncio de jornal sobre o recrutamento de voluntários, que seriam pagos para servirem de guardas ou prisioneiros por quatorze dias numa penitenciária construída num laboratório de pesquisas, sendo monitorados com o auxílio de câmeras por uma equipe de cientistas durante as vinte e quatro horas do dia.
O responsável pelo experimento é o Professor Dr. Klaus Thon (Edgar Selge), auxiliado pela Dra. Jutta Grimm (Andrea Sawatzki) e o assistente Lars (Philipp Hochmair). Após passarem por uma etapa de entrevistas, um grupo de vinte voluntários é selecionado para fazer parte da experiência, sendo divididos entre oito guardas e doze prisioneiros. A equipe de guardas é formada por Berus (Justus von Dohnanyi), Kamps (Nicki von Tempelhoff), Eckert (Timo Dierkes), Bosch (Antoine Monot Jr.), Renzel (Lars Gartner), Glaser (Jacek Klimontko), Stock (Markus Klauk) e Amandy (Ralph Puttmann), os quais tem como missão a manutenção da ordem na prisão e a disciplina entre os prisioneiros. Já a equipe de presos é representada por números sendo formada por Tarek (“77”), o piloto militar Steinhoff (Christian Berkel) como “38”, o dono de lanchonete Schutte (Oliver Stokowski) como “82”, Joe (Wotan Wilke Mohring) como “69”, além de outros prisioneiros como “53” (Stephan Szasz), “40” (Polat Dal), “21” (Danny Richter), “15” (Ralf Muller), “74” (Markus Rudolf), “11” (Peter Fieseler), “86” (Thorsten Dersch), e “94” (Sven Grefer), os quais são divididos em grupos de três em quatro celas.
Algumas regras deveriam ser respeitadas durante a experiência, como os guardas chamarem os presos apenas por seus respectivos números de uniforme e não utilizarem violência para manter a ordem, e os prisioneiros por sua vez deveriam se dirigir aos guardas sempre com respeito e submissão não falando seus nomes diretamente. E todos poderiam desistir do projeto a qualquer momento, caso não suportassem as severas condições do jogo (os prisioneiros teriam seus direitos civis cancelados enquanto estivessem atrás das grades, por exemplo). Mas quem desistisse não receberia o pagamento anunciado, a principal motivação para participarem da experiência.
Enquanto isso, o foco da história é direcionado para o personagem Tarek, que aproveita a oportunidade da prisão simulada utilizando um óculos especial que serve de câmera, para vender depois uma matéria escrita ilustrada com fotos de forma não autorizada para a imprensa, na figura do chefe de redação Ziegler (André Jung). Ele conhece também, momentos antes de ingressar na experiência, e através de um acidente de trânsito, uma bela jovem chamada Dora (Maren Eggert), por quem se apaixona e que tem um papel importante no caos em que se transformaria a experiência científica.
No primeiro dia da simulação, todos acabam se divertindo e fazendo brincadeiras, pensando que ganhariam um dinheiro fácil depois de duas semanas de confinamento. Porém, logo no dia seguinte o ambiente começa a apresentar uma série de turbulências cada vez mais crescentes quando os líderes naturais de ambos os grupos opostos passam a se enfrentar. Berus torna-se o líder dos guardas, agindo com métodos de humilhação e prepotência que lembra o nazismo, e “77” lidera os prisioneiros através de um motim sem sucesso.
Paralelamente, os cientistas coletavam dados e informações na observação das condutas e reações das “cobaias”, quando colocadas em confinamento e sob fortes pressões psicológicas. Porém, o que eles não imaginavam é que em apenas cinco dias, depois de dois prisioneiros no hospital e um em profundo estado depressivo, a experiência perde completamente o controle e transforma-se numa guerra violenta com direito a mortes e espancamentos, enfatizando a fragilidade das relações humanas em condições hostis, e evidenciando o alto grau de selvageria característica da natureza de nossa espécie, num conflito cada vez mais intenso entre guardas e prisioneiros, envolvendo até os funcionários dos bastidores da experiência, culminando num desfecho trágico de consequências imprevisíveis.
Primeiramente, devemos ter cuidado para não confundir esse “A Experiência” com o filme de Ficção Científica de mesmo nome nacional, lançado em 1995, e que tem a bela Natasha Henstridge no elenco e o nome original de “Species” (inclusive tendo uma continuação três anos depois). O filme alemão foi dirigido por Oliver Hirschbiegel e baseado na novela “Black Box”, de Mario Giordano, que também colaborou com o roteiro juntamente com Don Bohlinger e Christoph Darnstadt. E a história foi inspirada numa experiência similar real conduzida em 1971 e conhecida como “Stanford Prison Experiment”.
A tagline promocional que está reproduzida na capa do DVD resume em poucas palavras um fato verdadeiro já comprovado numa infinidade de exemplos vindos da vida real da raça humana. “Homem: naturalmente agressivo. Cientificamente provocado.” Não precisamos nem citar as infindáveis guerras e conflitos armados que desfilaram e ainda permanecem em toda a história da humanidade, para exemplificar a natureza violenta do homem. Basta colocar algumas pessoas comuns num ambiente de confinamento, em condições desfavoráveis, que os conflitos de interesses, a arrogância e o instinto de poder e supremacia de uns sobre ou outros, sentimentos primitivos de uma espécie supostamente racional, para presenciarmos atos de selvageria típicos da humanidade. E esse tema é muito bem explorado num suspense perturbador crescente de tensão, e que ganha proporções imensas quando percebemos que os eventos da história refletem uma dura realidade do nosso mundo.
Como filme, “A Experiência” funciona muito bem mantendo o interesse por toda a longa projeção, convidando-nos a participar também daquele experimento científico, criando uma empatia com os personagens principais, o prisioneiro “77” e o guarda Berus, e nos colocando no meio de um caos perturbador. O único detalhe que pareceu uma falha no roteiro foi a incrível fragilidade da equipe científica que controlava a experiência, demonstrando pouca segurança na estrutura de um projeto com tamanha magnitude, passando uma idéia inverossímil nos bastidores. Mas nada que prejudique significativamente o filme, que merece o reconhecimento que tem atingido em vários festivais internacionais de cinema na Alemanha, Canadá e Estados Unidos, com muitos prêmios já conquistados.
“A Experiência” (Das Experiment, 2001) # 263 – data: 03/07/04 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 27/01/06)
“A Experiência” (Das Experiment / The Experiment, Alemanha, 2001). Duração: 124 minutos. Direção de Oliver Hirschbiegel. Roteiro de Don Bohlinger, Christoph Darnstadt e Mario Giordano, baseado no livro “Black Box”, de Mario Giordano. Produção de Marc Conrad, Norbert Preuss, Friedrich Wildfeuer e Benjamin Herrmann. Produção Executiva de Philip Evenkamp. Fotografia de Rainer Klausmann. Música de Alexander Bubenheim. Edição de Hans Funck. Desenho de Produção de Andrea Kessler. Elenco: Moritz Bleibtreu (Tarek Fahd), Christian Berkel (Steinhoff), Oliver Stokowski (Schutte), Wotan Wilke (Joe), Justus von Dohnanyi (Berus), Nicki von Tempelhoff (Kamps), Timo Dierkes (Eckert), Antoine Monot Jr. (Bosch), Edgar Selge (Prof. Dr. Klaus Thon), Andrea Sawatzki (Dra. Jutta Grimm), Philipp Hochmair (Lars), Maren Eggert (Dora), André Jung (Ziegler).
O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Europa Filmes” (www.europafilmes.com.br) e conta a história de um motorista de táxi, Tarek Fahd (Moritz Bleibtreu), que decide participar de uma experiência científica de simulação de uma prisão ao ler um anúncio de jornal sobre o recrutamento de voluntários, que seriam pagos para servirem de guardas ou prisioneiros por quatorze dias numa penitenciária construída num laboratório de pesquisas, sendo monitorados com o auxílio de câmeras por uma equipe de cientistas durante as vinte e quatro horas do dia.
O responsável pelo experimento é o Professor Dr. Klaus Thon (Edgar Selge), auxiliado pela Dra. Jutta Grimm (Andrea Sawatzki) e o assistente Lars (Philipp Hochmair). Após passarem por uma etapa de entrevistas, um grupo de vinte voluntários é selecionado para fazer parte da experiência, sendo divididos entre oito guardas e doze prisioneiros. A equipe de guardas é formada por Berus (Justus von Dohnanyi), Kamps (Nicki von Tempelhoff), Eckert (Timo Dierkes), Bosch (Antoine Monot Jr.), Renzel (Lars Gartner), Glaser (Jacek Klimontko), Stock (Markus Klauk) e Amandy (Ralph Puttmann), os quais tem como missão a manutenção da ordem na prisão e a disciplina entre os prisioneiros. Já a equipe de presos é representada por números sendo formada por Tarek (“77”), o piloto militar Steinhoff (Christian Berkel) como “38”, o dono de lanchonete Schutte (Oliver Stokowski) como “82”, Joe (Wotan Wilke Mohring) como “69”, além de outros prisioneiros como “53” (Stephan Szasz), “40” (Polat Dal), “21” (Danny Richter), “15” (Ralf Muller), “74” (Markus Rudolf), “11” (Peter Fieseler), “86” (Thorsten Dersch), e “94” (Sven Grefer), os quais são divididos em grupos de três em quatro celas.
Algumas regras deveriam ser respeitadas durante a experiência, como os guardas chamarem os presos apenas por seus respectivos números de uniforme e não utilizarem violência para manter a ordem, e os prisioneiros por sua vez deveriam se dirigir aos guardas sempre com respeito e submissão não falando seus nomes diretamente. E todos poderiam desistir do projeto a qualquer momento, caso não suportassem as severas condições do jogo (os prisioneiros teriam seus direitos civis cancelados enquanto estivessem atrás das grades, por exemplo). Mas quem desistisse não receberia o pagamento anunciado, a principal motivação para participarem da experiência.
Enquanto isso, o foco da história é direcionado para o personagem Tarek, que aproveita a oportunidade da prisão simulada utilizando um óculos especial que serve de câmera, para vender depois uma matéria escrita ilustrada com fotos de forma não autorizada para a imprensa, na figura do chefe de redação Ziegler (André Jung). Ele conhece também, momentos antes de ingressar na experiência, e através de um acidente de trânsito, uma bela jovem chamada Dora (Maren Eggert), por quem se apaixona e que tem um papel importante no caos em que se transformaria a experiência científica.
No primeiro dia da simulação, todos acabam se divertindo e fazendo brincadeiras, pensando que ganhariam um dinheiro fácil depois de duas semanas de confinamento. Porém, logo no dia seguinte o ambiente começa a apresentar uma série de turbulências cada vez mais crescentes quando os líderes naturais de ambos os grupos opostos passam a se enfrentar. Berus torna-se o líder dos guardas, agindo com métodos de humilhação e prepotência que lembra o nazismo, e “77” lidera os prisioneiros através de um motim sem sucesso.
Paralelamente, os cientistas coletavam dados e informações na observação das condutas e reações das “cobaias”, quando colocadas em confinamento e sob fortes pressões psicológicas. Porém, o que eles não imaginavam é que em apenas cinco dias, depois de dois prisioneiros no hospital e um em profundo estado depressivo, a experiência perde completamente o controle e transforma-se numa guerra violenta com direito a mortes e espancamentos, enfatizando a fragilidade das relações humanas em condições hostis, e evidenciando o alto grau de selvageria característica da natureza de nossa espécie, num conflito cada vez mais intenso entre guardas e prisioneiros, envolvendo até os funcionários dos bastidores da experiência, culminando num desfecho trágico de consequências imprevisíveis.
Primeiramente, devemos ter cuidado para não confundir esse “A Experiência” com o filme de Ficção Científica de mesmo nome nacional, lançado em 1995, e que tem a bela Natasha Henstridge no elenco e o nome original de “Species” (inclusive tendo uma continuação três anos depois). O filme alemão foi dirigido por Oliver Hirschbiegel e baseado na novela “Black Box”, de Mario Giordano, que também colaborou com o roteiro juntamente com Don Bohlinger e Christoph Darnstadt. E a história foi inspirada numa experiência similar real conduzida em 1971 e conhecida como “Stanford Prison Experiment”.
A tagline promocional que está reproduzida na capa do DVD resume em poucas palavras um fato verdadeiro já comprovado numa infinidade de exemplos vindos da vida real da raça humana. “Homem: naturalmente agressivo. Cientificamente provocado.” Não precisamos nem citar as infindáveis guerras e conflitos armados que desfilaram e ainda permanecem em toda a história da humanidade, para exemplificar a natureza violenta do homem. Basta colocar algumas pessoas comuns num ambiente de confinamento, em condições desfavoráveis, que os conflitos de interesses, a arrogância e o instinto de poder e supremacia de uns sobre ou outros, sentimentos primitivos de uma espécie supostamente racional, para presenciarmos atos de selvageria típicos da humanidade. E esse tema é muito bem explorado num suspense perturbador crescente de tensão, e que ganha proporções imensas quando percebemos que os eventos da história refletem uma dura realidade do nosso mundo.
Como filme, “A Experiência” funciona muito bem mantendo o interesse por toda a longa projeção, convidando-nos a participar também daquele experimento científico, criando uma empatia com os personagens principais, o prisioneiro “77” e o guarda Berus, e nos colocando no meio de um caos perturbador. O único detalhe que pareceu uma falha no roteiro foi a incrível fragilidade da equipe científica que controlava a experiência, demonstrando pouca segurança na estrutura de um projeto com tamanha magnitude, passando uma idéia inverossímil nos bastidores. Mas nada que prejudique significativamente o filme, que merece o reconhecimento que tem atingido em vários festivais internacionais de cinema na Alemanha, Canadá e Estados Unidos, com muitos prêmios já conquistados.
“A Experiência” (Das Experiment, 2001) # 263 – data: 03/07/04 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 27/01/06)
“A Experiência” (Das Experiment / The Experiment, Alemanha, 2001). Duração: 124 minutos. Direção de Oliver Hirschbiegel. Roteiro de Don Bohlinger, Christoph Darnstadt e Mario Giordano, baseado no livro “Black Box”, de Mario Giordano. Produção de Marc Conrad, Norbert Preuss, Friedrich Wildfeuer e Benjamin Herrmann. Produção Executiva de Philip Evenkamp. Fotografia de Rainer Klausmann. Música de Alexander Bubenheim. Edição de Hans Funck. Desenho de Produção de Andrea Kessler. Elenco: Moritz Bleibtreu (Tarek Fahd), Christian Berkel (Steinhoff), Oliver Stokowski (Schutte), Wotan Wilke (Joe), Justus von Dohnanyi (Berus), Nicki von Tempelhoff (Kamps), Timo Dierkes (Eckert), Antoine Monot Jr. (Bosch), Edgar Selge (Prof. Dr. Klaus Thon), Andrea Sawatzki (Dra. Jutta Grimm), Philipp Hochmair (Lars), Maren Eggert (Dora), André Jung (Ziegler).