Escrito em Março de 1999 e publicado originalmente na edição 31 do fanzine “Juvenatrix”.
A Ficção Científica
é um gênero fascinante, seja na literatura, quadrinhos ou cinema. E é através
dos filmes que a FC torna-se ainda mais impressionante, devido em parte aos
fantásticos recursos tecnológicos que o cinema dispõe atualmente.
Desde as primeiras
décadas do século passado, com o mudo Metrópolis
(1926), de Fritz Lang, passando pelos nostálgicos clássicos dos anos 50 e 60
como O Dia em que a Terra Parou (51),
O Planeta Proibido (56), 2001: Uma Odisséia no Espaço (68) e O Planeta dos Macacos (68), e pelas
divertidas produções “B” com os inesquecíveis “monstros de olhos esbugalhados”
e a paranóia de invasão alienígena, chegando às décadas de 70 e 80 e o início
dos grandes efeitos especiais com Guerra
nas Estrelas (77) e Blade Runner
(82), e chegando aos anos 90, caracterizado por filmes fracos em roteiros muito
previsíveis, mas com muita diversão e entretenimento.
O Soldado do Futuro (Soldier, 1998),
dirigido por Paul W. S. Anderson, responsável também pelo ótimo O Enigma do Horizonte (97), estreou nos
cinemas brasileiros em 5 de fevereiro de 1999 e é um típico exemplo da onda de
filmes comerciais, com histórias já vistas antes, dessa vez explorando o
militarismo num futuro próximo com guerras absurdas, muita violência, mas
também com belas imagens e principalmente muita diversão.
Assim como no
também bélico Tropas Estelares (97),
de Paul Verhoeven, O Soldado do Futuro
mostra basicamente jovens soldados que se preparam para guerras (é curioso como
o ser humano não consegue entender que elas são o maior exemplo de sua
irracionalidade e quase sempre se mostra o futuro onde persistem as batalhas
sangrentas). A diferença é que desta vez o inimigo não é alienígena, como os
insetos gigantes da obra de Verhoeven, e sim os seus próprios semelhantes em
diferentes guerras ao longo dos anos, dentro do planeta e se estendendo ao
espaço sideral.
O filme mostra um
projeto secreto militar onde em 1996, alguns bebês do sexo masculino são
escolhidos numa maternidade para participarem de um rígido treinamento de
infantaria até completarem os 17 anos de idade, já no ano 2013. Eles tornam-se
soldados condicionados exclusivamente para guerrear e enfrentar as mais
diversas situações em campos de batalha.
Utilizando lavagem
cerebral durante todo o treinamento, obrigando os escolhidos, enquanto crianças
ainda, a presenciarem cenas de pura violência, como a luta mortal entre
cachorros e um javali selvagem, e através da eliminação simples dos mais fracos
fisicamente, o projeto do Exército tinha por objetivo formar soldados
obedientes e isentos de emoções para se obter o máximo de sucesso nos futuros e
inúmeros confrontos bélicos na Terra e em outros planetas. E para conseguir
isto, utilizava-se de mensagens subliminares, incutindo nas mentes dos soldados
a total obediência e disciplina ao Exército.
Após várias guerras
conquistadas, um soldado se sobressai pela sua performance no campo de batalha.
Ele é o sargento Todd, interpretado por Kurt Russell, de outros filmes de
ficção científica como Fuga de Nova York
(81), O Enigma de Outro Mundo (82) e Fuga de Los Angeles (97). Russell lembra
muito a truculência de atores como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e
Dolph Lundgren, num papel onde quase não fala e age como um robô programado para
matar. E é interessante o fato como vários atores acabaram se sobressaindo no
cinema atual e obtendo sucesso em suas carreiras interpretando personagens
quase mudos e “brucutus” como psicopatas, serial killers ou super soldados.
O projeto militar
de treinamento dos soldados teve muito êxito até aparecerem, mais de quarenta
anos de guerras depois, uma nova legião de super combatentes, agora criados por
manipulação genética do DNA, eliminando os eventuais defeitos e sendo soldados
ainda mais fortes e assassinos. O sargento Todd e seus companheiros acabam
sendo considerados obsoletos e são substituídos, com o sargento, após uma
derrota num confronto com um dos novos soldados (Jason Scott Lee), sendo
considerado supostamente morto e jogado num inexpressivo planeta de depósito de
lixo (naves, equipamento bélico ultrapassado e sucatas em geral).
Lá, ele reanima-se
e entra em contato com uma comunidade de seres humanos refugiados, que viviam
clandestinamente no planeta, após uma queda da nave que os transportava para
outro planeta mais saudável que a maltratada Terra.
Como a nova equipe
de soldados do futuro necessitava de exercícios militares, foi escolhido
obviamente, o pobre planeta depósito de lixo para eles descarregarem sua
artilharia, desprezando o fato da existência de civis inocentes no local. E
esta é a oportunidade para o sargento Todd sedento de vingança, combater
sozinho uma equipe de soldados fortemente armados, tornando-se um herói e
provando ainda sua superioridade perante os seus supostos substitutos
artificiais.
O ator Kurt Russell
faz muito bem a sua parte, sempre com um semblante sério e de soldado
programado para destruir o inimigo, não pensando ou sentindo nada, ou quase
nada, pois acaba confessando suas fraquezas para uma das refugiadas (Connie
Nielsen), com um sentimento de medo ao longo da trajetória de sua violenta
vida, aliado, é claro, à forte e tão respeitada disciplina e hierarquia
militar.
O Soldado do Futuro é o típico exemplo
do cinema de ficção científica atual, onde são privilegiados os efeitos
especiais, mesclados com muita ação e violência, em detrimento de melhores
roteiros e situações. É um gênero carente de bons filmes ao longo da década de
90, constatado pelas inúmeras refilmagens de antigos clássicos e
previsibilidade das produções, excetuando-se poucas obras como Os Dozes Macacos (95), Contato (97), Gattaca (97) e O Show de
Truman (98).
Mas, esse filme
cumpre a sua função de entreter o público e é diversão garantida com belas
imagens futuristas em uma boa sessão de cinema.
“O Soldado do Futuro”
(Soldier, 1998) – avaliação: 7 (de 0
a 10).
site: www.bocadoinferno.com.br /
blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado
em 26/01/06)
O Soldado do Futuro (Soldier, Estados Unidos / Inglaterra, 1998). Warner Brothers, Morgan
Creek , Impact Pictures. Duração: 100 minutos. Direção de Paul Anderson.
Roteiro de David Webb Peoples. Fotografia de David Tattersal. Produção de Jerry
Weintraub e Jeremy Bolt. Produção Executiva de James G. Robinson e R. J. Louis
Susan Ekins. Música de Joel McNeely. Edição de Martin Hunter. Desenho de
Produção de David L. Snyder. Com Kurt Russell, Jason Scott Lee, Connie Nielsen,
Michael Chiklis, Gary Busey.