A Batalha de Riddick (The Chronicles of Riddick, EUA, 2004)


Num determinado momento, um personagem diz para outro algo como: “Se você fosse o dono desse planeta e também do inferno, iria alugar o primeiro e ir viver no inferno”. A frase tem um efeito interessante pois o tal planeta, chamado de “Crematória”, possui uma variação de temperatura entre 370 graus Célsius positivos e 180 graus negativos. Mas, poderíamos utilizar o comentário de outra forma: “Se você assistiu Eclipse Mortal e ainda não viu A Batalha de Riddick, então fique com o primeiro e mande o outro para o inferno”.
Na verdade, deixando a brincadeira de lado e sendo menos radical, você pode assistir “A Batalha de Riddick” (The Chronicles of Riddick, 2004), que estreou nos cinemas brasileiros em 16/07/04, só não espere um filme no mesmo nível de seu antecessor, infinitamente superior, “Eclipse Mortal” (Pitch Black, 2000).

A história de “A Batalha de Riddick” se passa cinco anos após os eventos ocorridos no primeiro filme, onde um grupo de sobreviventes da queda de uma nave num planeta hostil tenta lutar por suas vidas contra monstros carnívoros alados noturnos, oriundos das profundezas do planeta e que vem à superfície somente há cada 22 anos. Para ajudá-los, eles tem que contar com a habilidade de um temido criminoso que tem o poder de enxergar no escuro, o anti-herói Richard Riddick.
Agora, Riddick (Vin Diesel, de “Velozes e Furiosos” e “Triplo X”) é um fugitivo que vive se escondendo de mercenários, liderados por Toombs (Nick Chinlund), que tentam capturá-lo em troca de recompensas. Seu destino acaba levando-o até o planeta “Helion Primeiro”, que está sendo invadido e dizimado por uma raça de seres sombrios conhecidos por “Necromongers”, um imenso exército de guerreiros conquistadores liderados pelo Lord Supremo (Colm Feore). Lá, ele descobre informações sobre sua origem através de Aereon (Judi Dench), um ser celestial na forma de uma sábia mulher da raça “Elemental”, e se vê obrigado a lutar contra os invasores para restabelecer o equilíbrio no Universo e salvar os vários mundos de serem subjugados pelo poder maléfico do “Subverso”, uma dimensão sombria que está assumindo o controle de tudo e de todos. Nesse empreitada, Riddick entrará em contato novamente com uma conhecida do passado, Kyra (Alexa Davalos), que está presa numa penitenciária subterrânea no planeta “Crematória”, e enfrentará um forte oponente no papel do comandante “necromonger” Vaako (Karl Urban, de “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres” e “O Retorno do Rei”), que também tem a intenção de ocupar o lugar do Lord Supremo, numa intenção influenciada pela esposa (Thandie Newton, de “Missão Impossível”).

Desde que vi o trailer de “A Batalha de Riddick” pela primeira vez nos cinemas, já imaginava que esse novo filme da franquia iria apresentar uma história totalmente diferente e bem menos atraente do que “Eclipse Mortal”, investindo muito mais num show de belas imagens e efeitos especiais e muito menos num roteiro coerente e interessante. A história até parece não pertencer ao mesmo universo ficcional de seu antecessor, de tanto que os filmes são diferentes. Existem poucas coisas em comum como vagas lembranças de alguns eventos do original e a presença dos atores Vin Diesel e Keith David repetindo seus papéis, com o último sendo o religioso Imam e Diesel fazendo o temido assassino Riddick, que tem a particularidade de enxergar no escuro através de seus olhos especiais.
O argumento básico é muito superficial e de pouco interesse, deixando muitas pontas soltas e detalhes importantes sem explicações satisfatórias, como por exemplo a respeito do misterioso “Subverso”, não se aprofundando num melhor desenvolvimento da história, preferindo enfatizar as cenas de ação e os belos efeitos visuais em detrimento de um melhor roteiro. Algumas cenas são exageradas demais como o salvamento meio impossível de Kyra numa montanha em Crematória, onde Riddick utiliza uma corda num estilo “Tarzã”, aliás, um recurso também utilizado à exaustão em “Van Helsing”, tornando as cenas mais ridículas do que divertidas. Outra sequência forçada demais envolve Riddick e um animal selvagem similar a um tigre, na prisão em Crematória, que também não convence e poderia ficar tranquilamente ausente do filme.
Resumindo em poucas palavras, “A Batalha de Riddick” é um filme de Ficção Científica com elementos de Horror com um orçamento milionário (algo em torno de 120 milhões de dólares, com filmagens realizadas no Canadá) e um roteiro descartável, lembrando por exemplo o mesmo caso de “A Reconquista” (Battlefield Earth, 2000), um filme similar produzido com muito dinheiro e belíssimos cenários gigantescos, mas com uma história constrangedora de tão ruim e cheia de clichês irritantes. Talvez até funcionaria melhor se fosse desvinculado de seu filme anterior, o excelente “Eclipse Mortal”, mas os produtores justamente aproveitaram a oportunidade de seu sucesso comercial e investiram num filme destacando Riddick (que até está no título), numa jogada de marketing tentando faturar em cima da imagem de um personagem que nem é tão carismático assim para receber tanto destaque, provando que para se obter lucros no cinema também é necessário investir numa boa história.
Curiosamente, mesmo apesar do filme estar sendo mal recebido pela crítica e público em geral, a franquia está crescendo bastante, tanto que já existe uma animação chamada “Dark Fury”, baseada no mesmo universo ficcional, e há a intenção de se produzir pelo menos mais dois filmes dentro da mitologia iniciada com “Eclipse Mortal”, completando uma trilogia com essas novas aventuras de Riddick, num fato já provado pelo desfecho exagerado de “A Batalha de Riddick”, filmado especialmente como gancho para uma sequência, que talvez seria melhor se nem fosse filmada...

“A Batalha de Riddick” (The Chronicles of Riddick, 2004) # 267 – data: 19/07/04 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
(postado em 30/01/06)

“A Batalha de Riddick” (The Chronicles of Riddick, Estados Unidos, 2004). Universal. Duração: 119 minutos. Direção de David Twohy. Roteiro de David Twohy, baseado em personagens criados por Jim Wheat e Ken Wheat. Produção de Vin Diesel e Scott Kroopf. Fotografia de Hugh Johnson. Música de Graeme Revell. Edição de Tracy Adams, Martin Hunter e Dennis Virkler. Desenho de Produção de Holger Gross. Direção de Arte de Kevin Ishioka, Mark W. Mansbridge e Sandi Tanaka. de Peter Knowlton. Elenco: Vin Diesel (Riddick), Colm Feore (Lorde Supremo), Thandie Newton (Dame Vaako), Judi Dench (Aereon), Karl Urban (Vaako), Alexa Davalos (Kyra), Nick Chinlund (Toombs), Keith David (Imam), Linus Roache, Mark Gordon, Roger R. Cross, Yorick van Wageningen. Site Oficial: www.thechroniclesofriddick.com