Reino de Fogo (2002)


Os dragões são criaturas mitológicas fascinantes que sempre povoaram o imaginário das pessoas com os piores pesadelos. Seres enormes alados cuspidores de fogo, são tradicionais monstros habitantes do universo da fantasia medieval e quando tornam-se personagens do cinema, despertam inevitavelmente um interesse especial. Assim ocorreu com o divertido “Coração de Dragão” (Dragonheart, 1996), estrelado por Dennis Quaid e com a voz do dragão dublada por Sean Connery, e também com o fraco “Dungeons & Dragons” (2000), com Jeremy Irons e Bruce Payne, que tem uma história inexpressiva, porém repleta de dragões que são a grande atração do filme. E agora, novamente outra produção com temíveis dragões foi lançada com estréia nos cinemas brasileiros em 25/10/02: “Reino de Fogo” (Reign of Fire), uma boa fita de ação com elementos de horror.
Com direção de Rob Bowman (“Arquivo X – o Filme”) e elenco principal jovem formado por Christian Bale (“Psicopata Americano”) e Matthew McCounaghey (“Contato”), a história começa mostrando o jovem estudante de doze anos Quinn (Ben Thornton) e sua mãe Karen, uma engenheira projetista, num trabalho de escavação nos subterrâneos do metrô de Londres. Acidentalmente as máquinas descobrem uma caverna que guardava um poderoso dragão oculto em estado de hibernação. Uma vez despertando o monstro, pertencente a uma raça que sempre existiu, sendo inclusive responsável pelo extermínio dos dinossauros no passado, e que permanecia apenas adormecida, esse trágico acontecimento deu início a uma catástrofe que destruiu a civilização e permitiu o domínio do planeta pelos dragões. Passados vários anos, em 2020, a ação volta-se para uma Inglaterra destruída e completamente dominada por bestiais dragões voadores que obrigam grupos isolados de humanos a viverem escondidos. Quinn (mais velho, agora interpretado por Christian Bale) é o líder de uma dessas comunidades que vive num subterrâneo de um antigo castelo em ruínas na região montanhosa de Northumberland. Em meio ao caos e auxiliado por seu amigo e primeiro imediato no comando, Dave Creedy (Gerard Butler), e depois pelo garoto Jared Wilke (Scott Mouttier), Quinn tenta encontrar uma forma de derrotar os monstros e devolver a liberdade para seu povo. Para ajudá-lo, surge um grupo de militares americanos fortemente armados, com sua típica e quase insuportável arrogância peculiar. Eles são liderados pelo general Denton Van Zan (Matthew McCounaghey), que viajaram até a Inglaterra com seus tanques terrestres e um helicóptero pilotado pela bela Alex Jensen (Izabella Scorupco). O objetivo era encontrar e matar o dragão macho reprodutor e consequentemente exterminar os demais monstros da face da Terra e restaurar a ordem dominante para a humanidade.
Nós estamos acostumados a ver dragões em histórias ambientadas na Idade Média e é até curiosa a idéia de transportar a ação para os tempos atuais e mais ainda para um futuro próximo, num mundo pós apocalíptico destruído por monstros alados que instalaram seu “reino de fogo”. Porém, a base do roteiro nos remete à situações que já foram largamente vistas anteriormente em várias outras produções, onde monstros são acidentalmente despertados e vingam-se da humanidade destruindo tudo a sua volta. Essa era a premissa básica de dezenas de filmes baratos da década de 1950, onde animais pré-históricos ressurgiam de sua inatividade para enfrentar a humanidade (vale citar um em especial: “Gorgo”, produzido em 1960, onde um enorme monstro ataca Londres e causa pânico na população). E é claro que esses elementos fazem parte da fantasia do cinema, pois a existência de dragões num passado remoto e que despertaram possibilitando que sua prole domine o planeta é uma idéia típica da imaginação dos roteiristas do cinema de entretenimento. É difícil imaginar como a humanidade e seu alto grau de desenvolvimento tecnológico conseguiu permitir a submissão de nossa espécie inteligente para um dragão e seus descendentes, onde a própria raça humana ajudou a destruir o planeta ao tentar combater os monstros com armas nucleares.
“Reino de Fogo” tem características que lembram uma mistura do ambiente apocalíptico de “Mad Max” (1980) com a idéia de renascimento dos monstros de “Parque dos Dinossauros” (1993) ou “Godzilla” (1998), trazendo muita ação, aventura e dragões. Os destaques são justamente as cenas protagonizadas por essas fascinantes criaturas, que criadas digitalmente por modernos efeitos especiais, parecem assustadoramente reais, apesar que elas deveriam aparecer mais durante o filme. As belas imagens de uma Londres devastada, à margem do imponente rio Tâmisa, não por uma guerra fatal entre nações inimigas, mas pela ação das criaturas aladas cuspidoras de fogo num poderoso “napalm” natural, é outro momento de destaque. Como curiosidade temos uma cena interessante em homenagem à popular saga cinematográfica “Star Wars”, de George Lucas. Um detalhe que poderia ser melhor explorado na trama é como os dragões dominaram a raça humana, pois o filme optou em ambientar a história diretamente numa época onde o planeta já estava em ruínas e a humanidade vivia oprimida fugindo da tirania dos fictícios monstros voadores.
A dupla central de atores está bem com Christian Bale interpretando o típico mocinho herói, que luta bravamente contra os monstros para defender seus amigos, e com Matthew McCounaghey fazendo o militar frio com sede de vingança, alucinado para matar os dragões inimigos. O desfecho é previsível e bem inverossímil, no confronto final entre o dragão macho e uns poucos humanos heróis. Mas, apesar das falhas do roteiro, “Reino de Fogo” consegue cumprir seu objetivo de proporcionar divertimento apresentando um cenário interessante e devastador para a humanidade, numa luta de sobrevivência entre nossa espécie e dragões ferozes.

“Reino de Fogo” (Reign of Fire, 2002) – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/05/06)