Habitantes da Escuridão (They, 2002)



Uma estratégia de marketing que tem sido utilizada pelos executivos da indústria de cinema, no que diz respeito aos filmes de horror, é o lançamento de produções com o nome de Wes Craven em destaque, sendo enfatizado que o filme é uma apresentação do conhecido cineasta, responsável pelas franquias “A Hora do Pesadelo” e “Pânico”. Na verdade, atualmente isso não pode ser considerado exatamente um bom negócio, pois seus últimos trabalhos por trás das câmeras tem sido sofríveis de tão ruins e decepcionantes como “Amaldiçoados” (Cursed) e “Vôo Noturno” (Red Eye), que foram exibidos no segundo semestre de 2005 nos cinemas brasileiros. Infelizmente, o nome de Wes Craven, que já fez filmes perturbadores e significativos como “Aniversário Macabro” (72) e “Quadrilha de Sádicos” (77), não pode mais ser considerado garantia de qualidade, pois parece que o diretor está perdendo o talento conquistado em alguns ótimos filmes de seu currículo que hoje está desgastado.
Por isso que quando vejo o nome de Wes Craven entre os créditos de algum filme, fico preparado para mais alguma decepção. Porém, surpreendentemente isso não aconteceu com “Habitantes da Escuridão” (They, 2002), que tem seu nome como apresentação, apesar do tema básico da história já ser um grande clichê, explorando o medo instintivo do ser humano da escuridão, do desconhecido, sempre instigando a imaginação com a possibilidade da existência de criaturas escondidas e espreitando nossos movimentos.
A direção é de Robert Harmon (de “A Morte Pede Carona”, 85, e “Velozes e Mortais”, 2003), com algumas cenas adicionais dirigidas por Rick Bota (não creditado), e o roteiro é de Brendan William Hood, apesar de que apenas a ideia básica é de sua autoria, sendo que a história final foi escrita pelos produtores e várias outras pessoas envolvidas no projeto (o que também surpreende pois geralmente um roteiro manipulado por muita gente tende a perder a identidade).  

Uma bela estudante de psicologia, Julia Lund (a canadense Laura Regan, de “O Olho Que Tudo Vê”, 2002), repentinamente tem uma reviravolta em sua vida depois de testemunhar um incidente com um perturbado e angustiado amigo de infância, Billy Parks (Jon Abrahams, de “A Casa de Cera”, 2005). Ambos tinham em comum graves distúrbios quando crianças, sofrendo de horríveis pesadelos e terrores noturnos.
No funeral do amigo, Julia conhece outros colegas de Billy, Sam Burnside (Ethan Embry) e Terry Alba (a polonesa Dagmara Dominczyk), que coincidentemente também tinham os mesmos problemas quando crianças. Após consultarem as anotações que Billy fazia num caderno, evidenciando seu medo do escuro e denunciando a existência de criaturas que viviam num universo paralelo, escondidas na escuridão (“Eles”, do título original), o grupo de jovens começa a enfrentar um perigo ameaçador, ao descobrirem que estão “marcados” desde a infância.
Julia começa a ter visões assustadoras e seu maior desafio é separar a realidade de alucinação, lutando por sua vida e sendo auxiliada pelo namorado, o jovem paramédico Paul Loomis (Marc Blucas), e pelo psiquiatra Dr. Booth (Jay Brazeau). 

“Habitantes da Escuridão” demorou bastante para chegar ao Brasil, não passando pelos cinemas e indo diretamente para o mercado de vídeo, sendo lançado em DVD somente em Junho de 2005 pela “Europa”. É interessante notar como esse filme, que é bem melhor que “Amaldiçoados” e “Vôo Noturno”, por exemplo, chegue atrasado por aqui e sem passar na tela grande, quando as já citadas tranqueiras de Wes Craven estrearam rapidamente no país e ainda foram para os cinemas.
O filme aborda um tema já desgastado, mas que ainda assim desperta interesse. O medo da escuridão e a sugestão dos terríveis monstros ocultos nas sombras já haviam sido explorados em outros filmes como o apenas razoável “No Cair da Noite” (Darkness Falls, 2003) e o ótimo “A Sétima Vítima” (Darkness, 2002).
Entre os destaques de “Habitantes da Escuridão” temos as criaturas, nunca vistas claramente em detalhes, e apenas em lances rápidos nas trevas, num trabalho de criação do conhecido técnico Patrick Tatopoulos, o mesmo que projetou os terríveis monstros noturnos de “Eclipse Mortal” (Pitch Black, 2000). Outro ponto positivo e merecedor de registro foi o final não convencional e pessimista, fugindo daqueles tradicionais desfechos previsíveis e dispensáveis, os quais têm apenas o objetivo de colocar sorrisos de alívio nos espectadores.          

Habitantes da Escuridão” (They, Estados Unidos, 2002) # 344 – data: 14/10/05 – avaliação: 7,0
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 19/05/06)