A Mão do Diabo (2002)


O talentoso ator Bill Paxton (que esteve no excepcional suspense “Um Plano Simples”, 1999, de Sam Raimi) estreou na direção com um perturbador thriller de horror que trata de insanidade e o mal interior do Homem.
A Mão do Diabo” (Frailty) entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 08/11/02, com um roteiro assustador do estreante Brent Hanley contando a história de um “serial killer” que se denomina como “Mão de Deus”, e que está aterrorizando a costa leste do Texas com violentos assassinatos. Num escritório do FBI em Dallas, o agente que lidera as investigações, Wesley Doyle (Powers Boothe), recebe a visita inesperada de um misterioso homem que se identifica como sendo Fenton Meiks (Matthew McConaughey, visto em “Reino de Fogo” e curiosamente em “U-571 – A Batalha no Atlântico”, também ao lado de Bill Paxton), e que faz um relato estranho alegando saber a identidade do autor das mortes em série. Ele diz que trata-se de seu irmão mais novo, Adam Meiks (Levi Kreis), que matou as várias pessoas e depois suicidou-se, e que ele estava apenas seguindo uma orientação que recebeu quando criança de seu pai (Bill Paxton), que por sua vez dizia ter recebido uma suposta mensagem divina de um anjo que lhe conferia uma árdua missão: eliminar demônios que possuíam os corpos de seres humanos, pois o juízo final estava próximo.
Ao tocar com as mãos os corpos das pessoas com os demônios, o pai dos garotos conseguia sentir o “mal” neles, confirmando a necessidade de “destruí-los”. Fenton então conta ao agente Doyle passagens de sua conturbada infância através de vários “flashbacks”, onde em 1979 ele vivia com seu pai viúvo e o irmão na pequena cidade de Thurman, no interior dos Estados Unidos. Os jovens meninos Fenton, de 12 anos, (Matt O’Leary, de “Inimigo em Casa”) e Adam, de 9 anos, (Jeremy Sumpter), são então surpreendidos pelo pai no meio de uma noite, onde ele revela que todos eles foram encarregados de matar demônios, pois “nenhuma alma está salva” (como diz uma das frases de divulgação do filme). Enquanto Adam se entusiasma com a nova missão da família com seu pai executando os “demônios” com o auxílio de um pesado machado, o irmão mais velho Fenton cria uma resistência para as atrocidades e acredita na insanidade do pai.
“A Mão do Diabo” teve seu título nacional escolhido de forma equivocada, pois seria melhor algo como “Fragilidade”, numa tradução literal do nome original, pois segundo os produtores o título foi justamente escolhido por tratar da “fragilidade da percepção humana” (se bem que no início da produção o filme iria se chamar “God’s Hand” e com a entrada de Bill Paxton no projeto passou para o definitivo “Frailty”, bem melhor aliás).
O filme é um excelente thriller que investe mais na sugestão, no horror psicológico e na perturbação interior dos personagens, para contar sua história de loucura e maldade, apostando bem menos na exibição de sangue propriamente dito e trazendo elementos que lembram o clima de suspense característico dos melhores filmes de Alfred Hitchcock. Podemos também notar similaridades com outros diversos filmes do mesmo estilo como por exemplo “O Iluminado” (1980), que tem um paralelo entre um insano e bem mais nervoso Jack Nicholson completamente perturbado e portando um machado, e o personagem de Bill Paxton; ou “Psicose” (1960), com um não menos louco Anthony Perkins como o lendário maníaco Norman Bates, ou ainda “A Inocente Face do Terror” (1972), trazendo dois irmãos com personalidades opostas.
Os personagens de Fenton e Adam tiveram uma terrível experiência de violência em sua infância deixando marcas profundas na condução de seus destinos e de suas interpretações sobre fé e loucura, além dos conceitos básicos do “bem” e do “mal”. O roteiro é muito interessante apresentando um clima sombrio e opressor envolvido em reviravoltas e surpresas, que mantém uma expectativa constante sobre o público à medida em que ocorrem os eventos. Filmado em apenas 37 dias e com um orçamento modesto de US$ 11 milhões, “A Mão do Diabo” é uma prova que um bom filme de horror não precisa de sangue e dinheiro com efeitos especiais, e mostra que Bill Paxton (que curiosamente iniciou sua carreira trabalhando na equipe de produção do lendário cineasta Roger Corman, o “Rei dos filmes B”) tem muito talento igualmente atrás das câmeras.

“A Mão do Diabo” (Frailty, 2002) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/05/06)