Os Outros (2001)


Em 02/11/01 entrou em cartaz nos cinemas o horror sobrenatural “Os Outros” (The Others / Los Otros), numa co-produção entre Espanha, França e Estados Unidos, com a americana Nicole Kidman encabeçando o elenco num filme que retorna com o velho e fascinante tema de “casa mal assombrada”.
Lembrando em alguns aspectos o excelente clássico “Os Inocentes” (1960), de Jack Clayton, o roteiro conta a história de uma jovem e recente viúva, Grace (Kidman), que perdeu seu marido lutando pela Inglaterra contra os alemães na Segunda Guerra Mundial, e que vai morar logo após o final da guerra em 1945 com seus dois filhos pequenos, uma menina e um menino, numa misteriosa e isolada casa numa ilha na costa da Inglaterra que se revela uma enorme mansão no melhor estilo gótico. Como seus filhos possuem uma rara doença que os impede de receber raios solares, que podem causá-los graves feridas no corpo e um sufocamento mortal, a casa está quase sempre fechada e mergulhada num ambiente sombrio e lúgubre, onde cada porta aberta obriga o fechamento com chave da anterior e os ambientes estão sempre repletos de grandes cortinas para impedir a entrada da luz natural.
Quando um grupo de três estranhos empregados é contratado para os serviços domésticos, um casal de idosos (o jardineiro Mr. Tuttle, interpretado por Eric Sykes, e a governanta Mrs. Mills, papel de Fionulla Flanagan), e uma jovem adolescente muda cozinheira (Lydia, interpretada por Elaine Cassidy), fatos estranhos passam a ocorrer, envolvendo assombrações e situações sobrenaturais, culminando numa revelação surpreendente.
É um dos melhores filmes de horror psicológico dos últimos tempos, retornando com a nostálgica e infalível idéia de um horror sugerido, à espreita, atrás da porta, numa história típica de mansão assombrada por fantasmas (ou pelos vivos...). Nicole Kidman está ótima como a mãe excessivamente religiosa e protetora de seus filhos, que ficou viúva por uma fatalidade do destino e terá que viver sozinha num enorme casarão antigo, revelando-se neurótica e permitindo mais tarde o desenvolvimento inevitável de sua insanidade.
A direção e o roteiro são do talentoso cineasta chileno Alejandro Amenábar e o filme se utiliza obviamente dos velhos clichês característicos do gênero, como uma mansão gótica, neblina espessa em meio a um bosque com árvores fantasmagóricas, portas que rangem e fecham sozinhas, vozes do além, ruídos estranhos nos outros aposentos, cemitério com lápides de pedra no jardim, piano que toca sozinho, porém tudo de forma bem colocada não deixando cair na banalidade e mantendo a atenção (ou tensão) do espectador.
Algumas cenas são memoráveis e grande exemplo de um horror clássico, como quando o misterioso trio de empregados tem sua real identidade descoberta pelas crianças da casa e são vistos caminhando vagarosamente na direção delas em meio à espessa neblina de uma noite de luar num enorme jardim macabro, ou quando num momento de alucinação de Grace, ela vê sua filha vestindo um véu de noiva branco brincar com uma marionete e a confunde com uma estranha velha que fala com a voz da criança, culminando num ataque de loucura da mãe contra a filha.
E o final é bem criativo, tentando fugir do convencional, procurando amarrar todas as situações da história numa surpresa muito interessante. É como diz a misteriosa governanta para sua patroa num momento em que esta está confusa mentalmente frente aos eventos assombrosos que estão ocorrendo: “Às vezes o mundo dos vivos se mistura com o mundo dos mortos...”.

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 17/11/04, pela TV Globo, às 22:30 horas na sessão “Cinema Especial”, que acontece às quartas-feiras em ocasiões especiais, quando não há a exibição de algum jogo de futebol.

“Os Outros” (The Others / Los Otros, Espanha / França / Estados Unidos, 2001) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/05/06)