Fora de Controle (2002)


O experiente ator Samuel L. Jackson, que foi descoberto principalmente após sua participação no excelente drama urbano “Tempo de Violência” (Pulp Fiction, 1994), de Quentin Tarantino, é um dos mais atuantes e significativos profissionais de sua área na atualidade. Para mim, sua presença em qualquer filme já é motivo para tentar assistí-lo. Ao lado de Al Pacino, Robert DeNiro e Anthony Hopkins, são atores que despertam interesse e sustentam uma produção com seus nomes consagrados.
Em 04/10/02 estreou no Brasil outro filme com Jackson, “Fora de Controle” (Changing Lanes), um drama de paranóia urbana dirigido por Roger Michell a partir de uma história muito interessante de Chap Taylor. Dois homens muito ocupados com suas tarefas diárias acabam tendo um encontro desastroso quando seus carros se chocam lateralmente numa movimentada avenida de New York. São eles o advogado Gavin Banek (Ben Affleck), jovem arrogante com sua carreira em ascensão que trabalha para uma empresa suspeita, e Doyle Gipson (Samuel L. Jackson), um vendedor de uma companhia de seguros, alcoólatra e divorciado, que está tentando convencer sua ex-esposa, Valerie (Kim Staunton), a não se mudar com os dois filhos pequenos para uma cidade distante no Oregon. Ambos estão apressadamente indo em direção ao fórum. O advogado para participar de um caso envolvendo a disputa da direção de uma milionária fundação assistencial entre a neta e herdeira do falecido proprietário e sua firma de advocacia, comandada por seu sogro Delano (interpretado pelo cineasta Sydney Pollack). Já o vendedor de seguros Gipson está a caminho de uma audiência com um juiz para tentar reconciliação com a família, alegando que está comprando uma casa para todos. Ao se envolverem num acidente com seus carros, e na confusão entre troca de informações sobre seus seguros, Banek acaba deixando por engano nas mãos de Gipson uma pasta fundamental contendo um documento de procuração para o caso em que está trabalhando. O carro de Gipson ficou sem condições de trafegar e acabou chegando atrasado perdendo sua audiência por não receber assistência de Banek no acidente. Uma vez o advogado não obtendo sucesso ao tentar recuperar a pasta de volta, até o final do dia eles travam uma verdadeira luta sem escrúpulos evidenciando a selvageria da vida moderna e a falta de decência oculta nas pessoas ocupadas com a loucura de suas rotinas (lembrando outro filme similar, a paranóia urbana de “Um Dia de Fúria”, com Michael Douglas). Entre outras coisas, Banek pede ajuda a um poderoso “hacker” interpretado por Dylan Baker, para manipular o crédito de Gipson e levá-lo à falência, e este por sua vez, de temperamento instável, causa um acidente quase fatal com o carro do rival, mesmo sendo constantemente aconselhado de seus erros por um amigo, feito por William Hurt, pertencente a uma entidade de apoio aos alcoólatras. Sem contar que Banek ainda tem uma amante no trabalho, Michelle (Toni Collette), que foi descoberta pela passiva esposa Cynthia (Amanda Peet).
“Fora de Controle” tem um apropriado título nacional pois reflete exatamente o que aconteceu com seus protagonistas, onde repentinamente suas vidas desabam numa sucessão de eventos desastrosos e suas ações acabam perdendo o controle, com atitudes que evidenciam a loucura oculta em cidadãos comuns. Duas sequências interessantes envolvendo breves diálogos entre os personagens merecem destaque e registro. Uma foi entre o veterano chefe da firma de advocacia Delano e o jovem Banek, onde falam sobre as atitudes desonestas das pessoas em geral. O jovem pergunta então ao seu sogro o que ele faz para viver até o final de um dia normal, obtendo como resposta: “Tento fazer mais o bem do que o mal”. Ou seja, a maioria das pessoas fazem coisas boas e ruins o tempo todo, e o desafio está em tentar pender a balança para o lado bom. E a outra sequência curiosa foi o diálogo entre Gipson e seu amigo (William Hurt), onde este último diz que existem pessoas viciadas em drogas, outras em álcool, mas que Gipson é viciado em desastres, referindo-se a sua personalidade inconstante, sempre envolvido em confusão, fato que levou ao divórcio de sua esposa. Ambas as citações foram bem colocadas e servem para refletir...

“Fora de Controle” (Changing Lanes, 2002) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 19/05/06)