Desconhecidos (2003)


A distribuidora de vídeo VHS e DVD “Califórnia” tem lançado no Brasil alguns filmes produzidos na Nova Zelândia, terra do grande cineasta Peter Jackson, o homem por trás das câmeras da premiada trilogia de fantasia “O Senhor dos Anéis”, inspirada na obra literária de J. R. R. Tolkien.
Entre os títulos lançados no mercado em Março de 2004 estão “A Cidade Maldita” (The Locals), uma interessante história de fantasmas, numa grata surpresa em meio à avalanche de filmes de horror que são produzidos todos os anos ao redor do mundo, e também o obscuro “Desconhecidos” (Perfect Strangers), que traz um nome bastante conhecido no elenco, o talentoso ator irlandês Sam Neill, que esteve em vários filmes do cinema fantástico como “Jurassic Park” (93, de Steven Spielberg), “À Beira da Loucura” (95, de John Carpenter), “O Enigma do Horizonte” (97, de Paul W. S. Anderson), e “O Homem Bicentenário” (99, de Chris Columbus), entre outros.
Porém, assim como no nome original, que traduzindo de forma literal teríamos “Estranhos Perfeitos”, a melhor definição para esse filme que recebeu o nome brasileiro de “Desconhecidos” é “ESTRANHO”. Pois resumindo em poucas palavras é uma história totalmente bizarra de amor e insanidade, que não é recomendável para qualquer tipo de público.
Uma garçonete solitária, Melanie (Rachel Blake), encontra um homem misterioso num bar noturno (interpretado por Sam Neill e creditado apenas como “O Homem”). Ele a convida para ir até sua casa e ela aceita, sem pensar muito já que estava bêbada. O homem a leva até um cais onde está seu barco e convence Melanie a embarcar rumo a sua casa numa ilha. Alcoolizada e exausta, ela adormece e quando acorda eles estão em alto mar e próximos ao destino, onde a cabana rústica do homem fica no meio do mato numa ilha isolada. À princípio sedutor e charmoso, o misterioso homem demonstra depois sinais de alguém perturbado e confessa estar apaixonado pela mulher que trouxe consigo do bar na cidade. Começa então a surgir um clima crescente de tensão entre o casal, numa história de paixão diferente, com direito à assassinato, alucinação e loucura.
Uma cena em particular é bem perturbadora, quando um corte profundo na barriga de um dos personagens é costurado em meio a gritos de dor tão autênticos que nos faz imaginar como seria realmente uma situação trágica daquelas, isolado numa ilha, com o abdômen sangrando e tendo que fechar o ferimento sem anestesia e com recursos totalmente precários, com a dor evidenciando o quanto frágil é o corpo humano.
“Desconhecidos”, dirigido e escrito pela neozelandesa Gaylene Preston, é um filme “estranho”, com uma história pausada, sem ação, sem sangue, sem violência. É um thriller que começa até que bem, dando a idéia de uma mulher indefesa aprisionada e à mercê das ações de um homem misterioso com intenções imprevisíveis no meio de uma ilha isolada, e justamente onde poderia ser melhor explorada a desconfortável tortura psicológica da protagonista, a história muda seu enfoque para um completamente bizarro caso de amor e insanidade, perdendo o interesse gradativamente até chegar a um desfecho decepcionante.

“Desconhecidos” (Perfect Strangers, Nova Zelândia, 2003) # 232 – data: 29/03/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/05/06)