K-19: The Widowmaker (2002)


Após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, a humanidade continuou enfrentando um período de muita turbulência política entre as principais nações do planeta com o surgimento da chamada “Guerra Fria”, um conflito indireto principalmente entre as potências Estados Unidos e a antiga União Soviética, tendo como consequência uma constante ameaça de um confronto com armas nucleares que levaria certamente a uma Terceira Guerra Mundial e ao fim do mundo, já que em 1961 a URSS tinha um arsenal nuclear capaz de destruir o planeta duas vezes e os EUA possuíam bombas atômicas para dizimar a Terra dez vezes, e ambos continuavam a aumentar suas capacidades bélicas. Com o passar dos anos e a derrubada da república soviética em 1989, essa ameaça perdeu um pouco de intensidade com um acordo de desarmamento nuclear, embora continue assombrando a humanidade com o crescimento do terrorismo mundial.
O cinema procurou explorar também a temática da Guerra Fria em vários filmes interessantes destacando uma paródia de 1964, “Dr. Fantástico”, dirigida por Stanley Kubrick e com Peter Sellers e um filme catástrofe de 1983, “O Dia Seguinte”, de Nicholas Meyer. E agora foi produzido mais um filme retratando esse período conturbado da relação entre os países poderosos nos anos 60, “K-19: The Widowmaker”, que estreou nos cinemas brasileiros em 30/08/02. Dirigido por Kathryn Bigelow e com elenco principal formado por atores experientes como Harrison Ford e Liam Neeson, a história é um thriller de conspiração de guerra baseada em fatos reais, envolvendo um acidente com o submarino nuclear russo “K-19” em 1961 que poderia ter causado um conflito internacional de grandes proporções culminando até com uma guerra atômica. Esse acontecimento real foi ocultado por vinte e oito anos pelos russos, cujos marinheiros envolvidos na operação foram afastados de suas funções e proibidos de revelar a história, até que finalmente os fatos vieram à tona após o fim da União Soviética. Com uma caprichada produção de US$ 80 milhões de dólares, o filme não foi bem nas bilheterias americanas, fato facilmente explicado pelo roteiro contar a versão do incidente pela visão dos russos e exaltando o heroísmo desses marinheiros, não tendo personagens americanos na história.
Em “K-19: The Widowmaker”, o Capitão Alexei Vostrikov (Harrison Ford) assume o posto de comandante que era do Capitão Mikhail Polenin (Liam Neeson), com este passando a ser seu primeiro imediato, e juntos dirigem a tripulação de um submarino nuclear que ainda está em fase final de desenvolvimento. Tanto que a poderosa embarcação foi apelidada de “fazedor de viúvas” (daí o nome original do filme), pois antes mesmo de sair do porto dez homens envolvidos no projeto haviam morrido em acidentes, sem contar outros sete que morreram à bordo e mais vinte que faleceram depois devido a exposição à radiação. O objetivo de Vostrikov é o de treinar os marinheiros em situações de forte tensão testando suas resistências e reações sob grande pressão psicológica. Para isso, eles embarcam numa viagem para um exercício de teste que resulta com o disparo de um míssil bem sucedido. Após essa manobra arriscada, ele recebe outra missão militar e parte com o submarino para rastrear o território americano. Uma vez estacionado na costa dos Estados Unidos, próximo a uma base da OTAN entre Washington e New York, ocorre um problema técnico no reator principal causando um aumento exagerado da temperatura e permitindo a perigosa possibilidade de explosão dos mísseis nucleares à bordo, o que consequentemente daria início a uma fatal guerra atômica, pois explodiria também um destroyer americano que estava próximo ao submarino monitorando suas ações. Sem comunicação com a base russa em Moscou, o capitão Vostrikov e sua tripulação passam então a enfrentar o acidente de extrema gravidade tentando reparar a falha com um grande vazamento de radiação, e evitar uma guerra.
Filmes com submarinos são sempre interessantes com belas cenas aquáticas e momentos de tensão em missões militares, como por exemplo em “A Caçada ao Outubro Vermelho” (1990) com Sean Connery, Alec Baldwin, Scott Glenn, Sam Neill e James Earl Jones, e “U-571 – A Batalha no Atlântico” (2000) com Matthew McConaughey, Bill Paxton, Harvey Keitel e Jon Bon Jovi. Em “K-19” encontramos características similares com cenas submarinas muito bem produzidas, atores renomados como Harrison Ford (que também foi produtor executivo) e Liam Neeson, e uma trama de suspense e tensão envolvendo um acidente militar real que poderia ter mudado o rumo da história da humanidade. O filme procura explorar as ações heróicas dos tripulantes russos do K-19, indo contra os padrões de Hollywood que prefere sempre colocar os americanos como os melhores do mundo. Aliás, “K-19: The Widowmaker” passa uma mensagem em que o heroísmo russo não foi pelo Estado, que na verdade nem autorizou o resgate dos sobreviventes do submarino acidentado por outro de mesma bandeira, e sim foi por eles mesmos como uma família que tenta sobreviver num momento de caos. Após a exibição do filme, que tem qualidades e desperta grande interesse numa trama de conspiração governamental, duas questões importantes poderiam ser levantadas. Primeiro, que a guerra é irracional, mesmo quando não declarada e em atividade, pois as ações militares de demonstração de poder das nações para intimidar seus inimigos são tão absurdas quanto a guerra efetiva, tanto que um acidente nuclear quase põe fim à humanidade. Em segundo, é interessante analisar a possibilidade de outros eventos similares a este acidente real com o K-19, de estarem ainda ocultos até hoje. Ou que estão acontecendo nesse momento, colocando em risco o planeta. Pois sabemos da existência de conspirações governamentais (algo como a série de TV “Arquivo X” tanto explorou em suas histórias), cujas ações secretas procuram esconder a verdade da opinião pública. De qualquer forma, filmes como o “K-19: The Widowmaker” são importantes por retratar um pedaço de nossa história revelando a verdade e a gravidade de um acidente nuclear que para nossa sorte foi reparado, e talvez por servir de alerta para a humanidade refletir sobre suas ações bélicas atuais e futuras...

“K-19: The Widowmaker” (K-19: The Widowmaker, 2002) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/05/06)